Tópicos | Figurinhas do Enem

No momento em que desastres naturais e crimes ambientais atingem o Brasil, a exemplo dos recentes temporais no Rio de Janeiro e do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, o nome de Chico Mendes vem à tona como um dos grandes defensores na natureza, no País.

Tanto no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como em outros vestibulares, Chico Mendes é figurinha carimbada. Na edição de 2013 do vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), uma questão de Ciências Humanas trouxe o nome do seringueiro como base para responder à alternativa correta. Na proposição, o estudante deveria escolher uma entre a cinco possibilidades. Confira a questão abaixo:

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Segundo o professor de geografia Carlos Lima, a resposta correta é a letra “b”. “Uma das grandes lutas de Chico Mendes era contra a precariedade das relações de trabalho. A questão de Chico Mendes não era só de luta pelo meio ambiente, mas lutava também pela melhoria das condições de trabalho da floresta Amazônica, no setor extrativista, o primeiro setor da economia”, explicou.

Quem foi Chico Mendes

Nascido em 15 de dezembro de 1944, no Xapuri, cidade do Acre, Francisco Alves Mendes Filho foi um grande defensor na Amazônia. Ele era filhos de cearenses, que resolveram ir para a floresta em busca de uma vida melhor do que a do Nordeste, à época uma das regiões mais esquecidas pelo poder federal.

Como não havia escolas, Chico Mendes só foi alfabetizado aos 16 anos. Na sua infância e adolescência, acompanhou os pais nos seringais. Mendes entrou no Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia como forma de lutar contra o desmatamento que atingia os seringais e ameaçava as atividades dos trabalhadores.

No ano de 1976, Mendes foi um dos encabeçadores do “empate às derrubadas”: consistente em reunir as famílias dos seringueiros, na área de acampamento dos trabalhadores que atuavam no desflorestamento, e derrubar as barracas e parar as motosserras. Por conta disso, o líder do sindicato, Wilson Pinheiro, foi morto na sede da associação em 1980, na Brasileia.

Matriz ideológica

O grande legado de Chico Mendes para a história foram as Reservas Extrativistas (Resex), consistentes em áreas preservadas ecológica e culturalmente. A ideia das reservas é assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da área, por meio de agricultura de subsistência e pecuária com criação de animais de pequeno porte. 

As Resex são de domínio público, com concessão às populações extrativistas tradicionais. Entre anos de 1987 e 1988, Chico Mendes ganhou o 'Global 500', prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU), na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos. Esse feito o fez ser reconhecido no mundo inteiro.

Morte

Apesar de toda a repercussão de suas ações, Chico Mendes não obteve proteção por parte do Estado. O seringueiro e grande nome da defesa do meio ambiente foi morto em uma emboscada, nos fundos da sua própria residência, pelo grileiro Darly Alves, em 22 de novembro de 1988.

A reverberação da sua morte ganhou proporções nacionais e internacionais, o que refletiu na imprensa da época a necessidade de trazer a história e a luta do seringueiro à tona. Em 1990, os acusados pela morte de Chico Mendes foram julgados e condenados. O fato, segundo o Instituto Chico Mendes, foi histórico para a justiça rural do Brasil.

Abordagem nos vestibulares

De acordo com o professor Carlos Lima, Chico Mendes é um personagem fundamental  para o entendimento do homem com o meio ambiente na questão Amazônica. “Normalmente em vestibulares, quando se cita Chico Mendes, normalmente é citado aquele Chico que lutava pelos direitos do trabalhador nos seringais, aquele trabalhador que tinha salários precários e não conseguia manter uma qualidade de vida digna. Pode ser citado também o Chico Mendes que lutava pela melhoria na preservação na região Amazônica”, pontua o docente.

Nos relatos do seringueiro, segundo Lima, ele deixava clara a relação entre a qualidade do trabalhador e a preservação da floresta. “Então ele é uma das figuras das mais importantes da história do Brasil e é fundamental para a gente entender essa relação que existe entre o homem e o meio, onde ele pregava uma relação harmoniosa, de interdependência entre esses dois aspectos”, concluiu o professor Carlos Lima.

Polêmica

Recentemente, o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, teve sua fala repercutida nas redes sociais. Em entrevista a um programa de televisão, Salles disse: “Que diferença faz quem Chico Mendes nesse momento?”, quando questionado sobre sua relação com o seringueiro.

O líder da pasta revelou que desconhecia a história de Chico Mendes e apenas tinha escutado relatos sucintos sobre sua vida. “Do lado dos ambientalistas, mais ligado à esquerda, há um enaltecimento do Chico Mendes. As pessoas que são do ‘agro’, que são da região, dizem que o Chico Mendes não era isso que é contado”, posicionou-se.

Maria Gomes de Oliveira nasceu no dia 8 de março de 1911, na fazenda Malhada do Caiçara, onde hoje está localizada a cidade de Paulo Afonso, na Bahia. Impressionado por sua beleza, Virgulino Ferreira da Silva passou a chama-la de Maria Bonita. Em meados de 1930, a baiana entra para o cangaço, sendo a primeira mulher a fazer parte do bando de Lampião. Os feitos de Maria Bonita, Lampião e o cangaço, fazem parte da história brasileira, sobretudo da região Nordeste. Professores afirmam que a personagem, assim como tudo que a envolve, podem ser cobrados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).  

Na edição de 2017 do Enem, a prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias abordou, em uma questão, o traje usado por Maria Bonita durante sua vida no cangaço na década de 1930. Confira: 

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Ao comentar a questão, o professor de história Marylo Alex, destaca que a abordagem do Enem sobre Maria Bonita está relacionada aos feitos do cangaço e à maneira como as mulheres se comportavam fazendo parte do bando de Lampião. “A questão associando Maria Bonita a Zuzu Angel, no Enem 2017, falava sobre a questão estética do Nordeste, falava sobre a questão da figura da mulher forte, no caso a mulher nordestina. Também pode ser abordada a questão da ‘mulher macho, sim senhor’. Então, se vir a cair algo a respeito de Maria Bonita, seria associando a figura do cangaço a essa figura de uma mulher mais forte, com um caráter e com uma posição mais dominante ou preponderante. E talvez a questão da estética do cangaço em si, a estética do Nordeste, todo esse imagético, toda essa questão do uso do imaginário do Nordeste que se populariza com Luiz Gonzaga, com o próprio bando de lampião e o cangaço de uma forma geral”, pontua.  

Vida no Cangaço

Maria Bonita ingressa no cangaço em 1931, aos 20 anos. Na esteira do banditismo praticado pelo bando no Sertão nordestino, a cangaceira vive um amor com famoso e temido Lampião, chefe dos bandoleiros. Após a entrada de Maria Bonita no cangaço, outras mulheres também ingressaram no bando.

Marylo Alex afirma que a cangaceira teve um papel de liderança entre os cangaceiros, por ser esposa de Lampião. O historiador destaca que a figura da mulher no meio de um grupo formado por homens temidos em toda região, pode ser abordada pelo Enem.

“Maria Bonita em relação ao Enem, pode ser abordada em questão ao cangaço. A questão do cangaço no Nordeste e a figura da mulher no cangaço de certa forma começa a partir dela. Quando Maria Bonita ingressa no bando de lampião, outras mulheres vão acompanhar esse bando de bandoleiros, assaltantes e justiceiros. Elas começam acompanhar dando suporte. Ela acaba tendo um papel de liderança junto ao lampião, e é uma figura que no Nordeste cria toda essa imagem de mulher forte, de uma mulher com papel de liderança, sempre associando seu nome ao Lampião”, ressalta.

As cangaceiras que engravidavam ficavam escondidas durante a gestação por causa das batalhas sangrentas travadas pelos bandoleiros. Após o nascimento do bebê, entregavam a criança aos parentes e retornavam ao cangaço. Durante a sua vida ao lado de Lampião, Maria Bonita gerou Expedita de Oliveira Ferreira Nunes, nascida à sombra de um umbuzeiro, no meio da Caatinga, no estado de Sergipe. Estudiosos divergem quanto ao parentesco dos gêmeos Ananias Gomes de Oliveira e Arlindo Gomes de Oliveira, até então considerados filhos do casal.

Mulher e Cangaço

Para o professor de geografia Benedito Serafim, a trajetória de Maria Bonita evidencia a importância social da inserção da mulher no cangaço. “A importância de Maria Bonita dentro do cenário do banditismo de classes, que o cangaço brasileiro, é a inserção da mulher. (...) não tinha nenhuma mulher no bando de Lampião, a partir do momento em que Maria Bonita entra no bando, ele acaba autorizando os outros cangaceiros a terem esposas, isso é uma coisa que só se estabeleceu a partir dela”, diz.

O docente destaca que com a inserção das mulheres no bando, os cangaceiros começaram a ser mais cautelosos em relação às batalhas. “A cautela passa a ser maior com a inserção da mulher no cangaço. Uma coisa era você ter 30 ou 40 homens andando pelo Serão invadindo fazendas e cidades. Depois que eles têm esposas, eles começam ser mais cautelosos”.

Morte

Os desmandos de Maria Bonita e Lampião duraram oito anos, até que no dia 28 de julho de 1938, durante uma investida policial que atacou o esconderijo do bando, localizado em Grota do Angicos, Poço Redondo, no estado de Sergipe, Maria Bonita e Lampião foram encontrados e mortos, decapitados pelos agentes. Relatos afirmam que as cabeças das vítimas foram expostas em praça pública e os seus corpos deixados a céu aberto como comida de urubus.

 

Josué Apolônio de Castro nasceu no dia 5 de setembro de 1908 na cidade do Recife. Foi médico, professor, geógrafo, cientista social, político e escritor. Conhecido pelo ativismo no combate à fome, Josué de Castro foi eleito deputado federal por Pernambuco durante duas legislaturas, 1955 a 1959. Além disso, foi indicado três vezes ao prêmio Nobel, concorrendo para o Nobel de Medicina em 1954, e nos anos de 1963 e 1970 ao Nobel da Paz. Com uma vasta obra intelectual e social, professores afirmam que o autor é um dos personagens que podem ser abordados pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A professora de redação e língua portuguesa, Shênia Bezerra, destaca que a obra de Josué de Castro tem elementos que podem tanto ser abordados na prova de Linguagens, como servir de lastro para a redação do Enem. “Quando eu trabalho com meus alunos para redação e português sempre cito autores renomados. Josué de Castro nos dá uma base teórica muito ampla, tanto para a prova de linguagens como para redação. Ele tem uma importância muito grande na questão do subsídio geográfico na luta contra a fome e extrema pobreza, que o marcava”, pontua.

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Ainda segundo a docente, os estudantes devem compreender a abordagem cultural que o autor empregava nas suas obras. “O aluno também devem ficar atento na influência exercida por Josué de Castro, ele deu embasamento a artistas e demais autores, como por exemplo, Chico Science e João Cabral de Melo Neto. Os dois beberam da maneira bem Pernambucana como Josué escrevia. Um livro essencial que com certeza pode ser cobrado pelo Enem é ‘Geografia da Fome’. Todo estudante precisa ler essa obra”, ressaltou. 

Abordagem social

No ano de 1957, o ainda deputado Josué de Castro fundou a Associação Mundial de Luta contra a Fome (ASCOFAM), onde deu andamento ao trabalho de conscientização mundial sobre fome e miséria no Brasil. A professora de literatura Luciana Feitosa afirma que ao ler a obra do autor, o aluno deve fazer um paralelo com a realidade brasileira atual.

“Josué de Castro foi um médico que se dedicou às questões sociais, principalmente voltada para fome e outras questões sociais que tratam da desnutrição. O aluno precisa focar na obra dele, mais especificamente o livro ‘Geografia da Fome’, que pode cair no Enem, e fazer um paralelo com a realidade brasileira atual”, pontuou a docente.

Exílio

Após o regime militar de 1964, Josué de Castro teve seus direitos políticos cassados por dez anos e foi impedido de retornar ao Brasil. Escolheu a cidade de Paris, na França, para viver e continuar suas atividades intelectuais. Em 1965, fundou o Centro Internacional para Desenvolvimento, que dirigiu até o ano de 1973.

Além disso, o médico presidiu a Associação Médica Internacional para o Estudo das Condições de Vida e Saúde. Em 1969, o governo francês o indica para o cargo de professor estrangeiro associado ao Centro Universitário Experimental de Vincennes, onde o autor lecionou até a morte.   

Morte

Ao longo de sua estadia na França, o autor sempre escreveu sobre sua saudade do Brasil. Certa feita, em um de seus escritos, afirmou: “Não se morre apenas de infarto agudo no miocárdio ou de glomeronefrite crônica, se morre também de saudades”. À época, Josué aguardava a vinda de seu passaporte para retornar ao Brasil.

Josué de Castro morreu no dia 24 de setembro de 1973, na cidade de Paris, na França. Seu corpo foi sepultado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Até os dias atuais, a vida e obra do autor é objeto de estudo por teóricos, especialistas e professores, sendo um dos principais escritores brasileiros.

 

 

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Foi poeta, cronista, romancista, teatrólogo, contista e jornalista. Fundador da Academia Brasileira de Letras em 1897, Machado de Assis foi o primeiro presidente da Casa, a qual até hoje leva seu nome em homenagem. O escritor é conhecido como pai do Realismo na literatura brasileira e um dos maiores escritores do país. Mesmo com a maioria de suas obras escritas no século XIX, a biografia machadiana ainda é bastante atual e objeto de estudo por especialistas e professores de literatura, redação e língua portuguesa.

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Devido à grande notoriedade de sua vida e obra, o escritor é figurinha carimbada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na edição de 2014 do Enem, a prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias abordou em uma questão, a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrita por Machado de Assis no ano de 1881. Confira:

O professor de língua portuguesa Felipe Rodrigues, afirma que Machado de Assis foi um escritor completo, que detém uma gama de obras passando por diversos gêneros literários. O docente dividiu as obras machadianas em duas fases: a romântica e a realista. “Ele foi esteticamente realista sem deixar de ser romântico nas suas obras. Escreveu romances com o amor idealizado, com temas tradicionais do romancismo, como também, obras que traziam críticas ao sistema político vigente e às questões sociais nos temas realistas. Como exemplo, vale destacar que nos principais romances de sua autoria o autor retrata com ironia e pessimismo a realidade social, caracterizando assim o Realismo”, pontuou.

Principais Obras

Machado de Assis é um dos autores mais traduzidos do mundo. Suas obras mais famosas, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Dom Casmurro” e “Quincas Borba”, foram traduzidas para mais de dez línguas. Professores de língua portuguesa e especialistas em literatura afirmam que a obra machadiana tem elementos característicos que diferenciam Machado de Assis dos demais autores.

O professor de literatura Diogo Xavier afirma que as obras de Machado de Assis figuram entre as mais importantes da literatura brasileira. De acordo com o docente, os estudantes também precisam conhecer os principais romances escritos pelo autor. “Especialmente a tríade: Memórias Póstumas de Brás Cubas, que é o marco inicial do Realismo no Brasil; Dom Casmurro e Quincas Borba. Essas são as obras mais estudadas e mais comentadas de Machado de Assis. Também é importante que o aluno leia alguns contos mais conhecidos como “Missa do Galo” e “A Cartomante”, que podem ser cobradas pela prova”, pontuou.  

Características de linguagem

Ainda segundo Xavier, a linguagem empregada pelo autor é diferente da utilizada na época. “A linguagem de Machado é inovadora em relação a forma de interagir com o leitor, por que os narradores de Machado geralmente interagem com o leitor. Além disso, é uma linguagem permeada de ironia, esses são os traços mais marcantes de Machado”, destacou.

O educador ainda salienta que as questões do Enem que abordam a obra do autor “tanto cobram essa linguagem e essa crítica de Machado, como interpretação em si. Interpretação da cena, interpretação dos personagens”, concluiu.

Morte

Machado de Assis morreu em 1908 aos 69 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro, após complicações de saúde. O autor foi diagnosticado com câncer de língua e também sofria de epilepsia. Após a morte de sua esposa, Carolina Augusta Xavier de Novais, em 1904, Machado foi acometido por um forte quadro de depressão, o que agravou ainda mais seu frágil estado de saúde.

O Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Portal Domínio Público e o Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Linguística (Nupill) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) disponibiliza online e de forma gratuita para download, a obra completa de Machado de Assis. Além disso, o site também traz teses, dissertações acadêmicas e toda biografia do escritor. Uma ótima oportunidade para quem está se preparando para vestibular e quer aprofundar os estudos em um dos maiores ícones da literatura brasileira. Acesse o acervo aqui.

 

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir nasceu na França em janeiro de 1908, foi escritora, filósofa, professora e precursora da lutas das mulheres por direitos iguais. "Não se nasce mulher, torna-se mulher", uma das suas frases mais famosas, retirada do livro ‘O Segundo Sexo’, de 1949, foi trazida em uma questão do Enem de 2015, fazendo surgir uma discussão nas redes sociais sobre a importância do feminismo e de se entender as lutas femininas desde o século XX.

Muitos concordaram com a abordagem na prova, outros nem tanto. Na internet era possível ver opiniões de todos os tipos, sobretudo de mulheres, com demonstração de contentamento e alegria pelo contexto cobrado. Inclusive, após a questão do Enem, a página do Wikipedia que traz a biografia da filósofa sofreu uma série de ataques, passando de 250 acessos diários para 35 mil e 46 edições em quatro dias.

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A professora de filosofia Cristiane Pantoja faz uma reflexão sobre o motivo de algumas pessoas se incomodarem tanto com as obras de Beauvoir: “São homens que temem perder seu lugar, são mulheres que nem se percebem machistas. Simone se coloca em lugar de fala e vai de encontro ao machismo e conservadorismo estrutural, logo, afronta toda hierarquia e se afirma feminista e assim também é reconhecida”, diz.

Já o professor de Filosofia e Sociologia, Salviano Feitoza, completa que a discussão surge porque a escritora coloca em jogo as desigualdades como sendo algo de responsabilidade das pessoas. “Questiona-se as obras de Simone de Beauvoir porque elas vão de encontro a uma estrutura de pensamento que foi construído historicamente. Quando há uma problematização de que ser mulher não é algo que se nasce sabendo ser, isso vai de encontro a uma estrutura de pensamento que atribui às mulheres uma situação de inferioridade”, explica.

Simone de Beauvoir bebeu da água do existencialismo. Inclusive, o grande nome do existencialismo, Jean Paul Sartre, foi companheiro dela por muitos anos. Esta corrente filosófica diz que os Homens, ao decidirem sobre sua própria existência, criam a própria existência, sem influências externas, determinando por si só os rumos de sua vida, de suas escolhas e decisões. Isso ajuda a entender as lutas dela para que a sociedade se desse conta de que manter relações de desigualdades pela lógica da biologia não era honesto.

“Beauvoir começa a pensar de onde é que vem e quais estruturas que fazem com que permaneça essa diferença social entre homens e mulheres. Ela chega à conclusão, portanto, que não é nenhum fator biológico, psíquico, que determina a inferioridade da mulher em relação ao homem. Essa inferioridade existe. Ela é algo socialmente e culturalmente construído a partir de decisões e escolhas do ser humano. Não há nada genético. É completamente cultural”, comenta o professor João Pedro Holanda.

A autora é um dos grandes nomes do movimento que ficou conhecido como segunda onda feminista, que compreende os anos de 1960 até 1980. A diferença principal entre a primeira parte do movimento e esta, é que na fase anterior havia uma luta voltada para o reconhecimentos dos direitos políticos das mulheres.

Seu livro “O Segundo Sexo” aparece aqui como um marco do momento que traz além dos questionamentos da natureza biológica feminina, as obrigações atribuídas às mulheres, como o casamento, a maternidade, a submissão. “A humanidade é masculina, e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele; ela não é considerada um ser autônomo”, diz trecho de 1949.

O professor Salviano Feitoza aconselha que os estudantes que querem entender e estudar a obra da feminista procurem ler as obras dela, iniciando justamente pelo “Segundo Sexo”. “Não é um livro de leitura difícil. Algumas passagens do livro podem requerer algum conhecimento de filosofia, mas é algo que o professor pode auxiliar. Para o contato com a obra de qualquer outro pensador da filosofia, ideal é ler o que o próprio pensador escreveu, a partir da dificuldade que se apresente, aí deve-se procurar quem escreveu sobre, quem traz uma observação sobre as ideias deles”, aconselha Feitoza.

Sobre a obra de Simone ser cobrada em outras edições do Exame Nacional do Ensino Médio, Cristiane Pantoja mostra-se desconfiante, principalmente pelos posicionamentos do novo governo, que associa temas como feminismo e lutas sociais a ideologias corruptoras. “É aguardar as diretrizes e continuar a análise das políticas públicas. Sabemos que quem entende de política, entende de Enem, logo acredito que vários educadores não esperam temas revolucionários ou de empoderamento das minorias ou da mulher”, pondera.

Mesmo que ela fique de fora do Enem, a obra de Simone se mostra importante nos dias atuais. “Ela é uma filósofa que transcende os muros da vida acadêmica e se coloca a disposição das lutas sociais. E ela faz um alerta, que é possível mudar”, conclui o professor João Pedro.

Já Salviano Feitoza ressalta que a francesa para ele é um exemplo a ser seguido por todos que buscam coerência entre o que pensam e fazem. “Uma pensadora traz a partir do exemplo de vida dela, essa militância constante. Ela é uma pensadora fundamental para gente repensar a nossa própria posição no mundo em questões existenciais, como também os papéis sociais que a gente pode desempenhar para além do que a sociedade espera de nós”, finaliza o professor.

Simone de Beauvoir faleceu em decorrência de uma pneumonia, aos 78 anos, em 14 de abril de 1986. Seu corpo está enterrado em um cemitério na cidade de Paris, (cidade onde nasceu) justamente ao lado de seu amado Jean Paul Sartre. Sua luta se faz presente até os dias de hoje, sobretudo em um país no qual a taxa de feminicídio cresce a cada.

Sobre isso a professora Pantoja conclui que “quando se tem uma fêmea-feminista que se define e redefine como quiser, abraçando a autonomia de si, entendendo o machismo estruturado e despontando sobre ele, para luta no XXI, mais que Beauvoir, Simones, Marias, Cristianes, Marielles e Josicleides são mais que necessárias. Umas produzindo livros, outras lutando por uma legislação real, outras como propositoras de discussões e aprendizados e lutas”.

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