Maria Gomes de Oliveira nasceu no dia 8 de março de 1911, na fazenda Malhada do Caiçara, onde hoje está localizada a cidade de Paulo Afonso, na Bahia. Impressionado por sua beleza, Virgulino Ferreira da Silva passou a chama-la de Maria Bonita. Em meados de 1930, a baiana entra para o cangaço, sendo a primeira mulher a fazer parte do bando de Lampião. Os feitos de Maria Bonita, Lampião e o cangaço, fazem parte da história brasileira, sobretudo da região Nordeste. Professores afirmam que a personagem, assim como tudo que a envolve, podem ser cobrados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Na edição de 2017 do Enem, a prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias abordou, em uma questão, o traje usado por Maria Bonita durante sua vida no cangaço na década de 1930. Confira:
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Ao comentar a questão, o professor de história Marylo Alex, destaca que a abordagem do Enem sobre Maria Bonita está relacionada aos feitos do cangaço e à maneira como as mulheres se comportavam fazendo parte do bando de Lampião. “A questão associando Maria Bonita a Zuzu Angel, no Enem 2017, falava sobre a questão estética do Nordeste, falava sobre a questão da figura da mulher forte, no caso a mulher nordestina. Também pode ser abordada a questão da ‘mulher macho, sim senhor’. Então, se vir a cair algo a respeito de Maria Bonita, seria associando a figura do cangaço a essa figura de uma mulher mais forte, com um caráter e com uma posição mais dominante ou preponderante. E talvez a questão da estética do cangaço em si, a estética do Nordeste, todo esse imagético, toda essa questão do uso do imaginário do Nordeste que se populariza com Luiz Gonzaga, com o próprio bando de lampião e o cangaço de uma forma geral”, pontua.
Vida no Cangaço
Maria Bonita ingressa no cangaço em 1931, aos 20 anos. Na esteira do banditismo praticado pelo bando no Sertão nordestino, a cangaceira vive um amor com famoso e temido Lampião, chefe dos bandoleiros. Após a entrada de Maria Bonita no cangaço, outras mulheres também ingressaram no bando.
Marylo Alex afirma que a cangaceira teve um papel de liderança entre os cangaceiros, por ser esposa de Lampião. O historiador destaca que a figura da mulher no meio de um grupo formado por homens temidos em toda região, pode ser abordada pelo Enem.
“Maria Bonita em relação ao Enem, pode ser abordada em questão ao cangaço. A questão do cangaço no Nordeste e a figura da mulher no cangaço de certa forma começa a partir dela. Quando Maria Bonita ingressa no bando de lampião, outras mulheres vão acompanhar esse bando de bandoleiros, assaltantes e justiceiros. Elas começam acompanhar dando suporte. Ela acaba tendo um papel de liderança junto ao lampião, e é uma figura que no Nordeste cria toda essa imagem de mulher forte, de uma mulher com papel de liderança, sempre associando seu nome ao Lampião”, ressalta.
As cangaceiras que engravidavam ficavam escondidas durante a gestação por causa das batalhas sangrentas travadas pelos bandoleiros. Após o nascimento do bebê, entregavam a criança aos parentes e retornavam ao cangaço. Durante a sua vida ao lado de Lampião, Maria Bonita gerou Expedita de Oliveira Ferreira Nunes, nascida à sombra de um umbuzeiro, no meio da Caatinga, no estado de Sergipe. Estudiosos divergem quanto ao parentesco dos gêmeos Ananias Gomes de Oliveira e Arlindo Gomes de Oliveira, até então considerados filhos do casal.
Mulher e Cangaço
Para o professor de geografia Benedito Serafim, a trajetória de Maria Bonita evidencia a importância social da inserção da mulher no cangaço. “A importância de Maria Bonita dentro do cenário do banditismo de classes, que o cangaço brasileiro, é a inserção da mulher. (...) não tinha nenhuma mulher no bando de Lampião, a partir do momento em que Maria Bonita entra no bando, ele acaba autorizando os outros cangaceiros a terem esposas, isso é uma coisa que só se estabeleceu a partir dela”, diz.
O docente destaca que com a inserção das mulheres no bando, os cangaceiros começaram a ser mais cautelosos em relação às batalhas. “A cautela passa a ser maior com a inserção da mulher no cangaço. Uma coisa era você ter 30 ou 40 homens andando pelo Serão invadindo fazendas e cidades. Depois que eles têm esposas, eles começam ser mais cautelosos”.
Morte
Os desmandos de Maria Bonita e Lampião duraram oito anos, até que no dia 28 de julho de 1938, durante uma investida policial que atacou o esconderijo do bando, localizado em Grota do Angicos, Poço Redondo, no estado de Sergipe, Maria Bonita e Lampião foram encontrados e mortos, decapitados pelos agentes. Relatos afirmam que as cabeças das vítimas foram expostas em praça pública e os seus corpos deixados a céu aberto como comida de urubus.