A primeira presidente mulher do Brasil é também considerada uma gestora de gênio difícil e até rígido. Nascida em Belo Horizonte em 1947, Dilma Vana Rousseff (PT) é vista por correligionários como uma pessoa de pulso firme, mas nos bastidores a ‘firmeza’ é encarada como indelicadeza, teimosia e até atos grosseiros como um possível chute a um elevador, fato não confirmado até então. Por sua forma de agir, há até quem satirize seu jeito como a página no Facebook chamada de ‘Dilma Bolada’.
Por ter uma postura mais direta e decisória já circula no cenário político uma possível ruptura com o ex-presidente Lula (PT). Nos bastidores, interlocutores afirmam que a decisão de propor uma constituinte foi avaliada como 'barbeiragem’ pelo petista devido Dilma não ter ouvido o vice-presidente Michel Temer (PMDB) sobre o assunto. Outra hipótese levantada é referente à redução de ministério solicitado por Lula e não acatada por ela, que inclusive tem aumentado o número de pastas nos últimos meses.
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Em agosto de 2012, um fato curioso tornou-se público e questionável sobre a postura da chefe do executivo. Durante as negociações em torno do Código Florestal, a petista demonstrou irritação por exigir esclarecimentos das ministras do Meio Ambiente, Izabella Teixeira e Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Na época, ela disse não saber de um suposto acordo com a comissão mista que analisava o assunto.
A indagação chamou atenção após a presidente ter escrito um bilhete à mão e entregue às ministras por um funcionário do cerimonial, durante uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. No papel, a mensagem era direta e questionadora: "Por que os jornais estão dizendo que houve um acordo ontem no Congresso sobre o Código Florestal, e eu não sei de nada?". O registro do manuscrito foi feito pelo fotógrafo Belo Barata, da Agência Estado. A resposta, escrita por Izabella, negava qualquer acordo: “Não houve acordo com o governo”.
Na rede social, a presidente também não escapa. De forma irônica e por vezes humorada, o Facebook ‘Dilma Bolada’ cita a ‘delicadeza’ da petista. Porém, governistas analisam como uma postura afirmativa. “Ela é uma pessoa firme, não tem duas conversas e muitas vezes ela fala coisas que, na política normal, falaria para ficar calada, mas ela é muito direta e afirmativa eu acho isso uma virtude e um estilo próprio”, analisa o deputado federal Fernando Ferro (PT).
Para o parlamentar há quem compare ela com Lula, mas cada um tem seu jeito próprio. “Algumas pessoas acham que ela deveria ser como Lula. Lula é Lula e ela é ela. Ela tem estilo próprio e é bom que seja assim. Eu vejo isso como uma coisa positiva. Considero isso um mérito dela. Algumas pessoas acham que fazer política é ter a malemolência de tipo não me toque. Tem pessoas que são mais cuidadosas no sentido de evitar um enfrentamento direto e não ser mais incisivo. Ela tem um estilo muito próprio, afirmativo e corajoso e as pessoas tem que se acostumar com isso”, disse.
Ferro acredita não ver problemas na postura de Dilma e acha que não é necessário um modelo para fazer política. “Não tem que ter jogo de cintura, porque, às vezes, passa como malandragem e intolerância. Não vejo isso como nada demais. Criam um estereótipo da política”, soltou Ferro.
Já no dia a dia, os jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto já estão acostumados com o jeitão da presidente. "Ela é bem direta e diz o que tem que dizer, sem rodeios. Algumas vezes, ela interrompe um questionamento e já vai respondendo. E também não gosta de ficar repetindo algo que já explicou", diz o repórter, que trabalha em Brasília há dois anos. "Não diria que ela é grossa, ignorante. Esse é o jeito dela, que é bem semelhante ao da maioria dos políticos. O lado bom é que ela não é cínica, nem fica de insolação. Ela tem pulso firme e defende o governo. Se não fosse assim não seria respeitada", considera.
Outra repórter ressalta o modo de falar de Dilma. "Ela sempre usa aquele tom pesado, chamando o repórter de 'meu querido' antes de responder. Mas não acho que os repórteres hesitam em perguntar até porque esse é o nosso trabalho", diz. A crítica maior é para a assessoria de imprensa do Planalto, alvo de grande reclamação por não facilitar as coberturas da imprensa. "Eles adotam um modelo de trabalho que, na minha opinião, é uma extensão do modelo de trabalho da presidente". Ela conta que, no dia da chamada reunião de emergência, após os protestos em todo país, a piada na sala de imprensa era que os repórteres iriam protestar por uma assessoria "padrão Fifa". "Naquele dia, ninguém dava informação alguma. E, depois que o ministro Gilberto Carvalho deu depoimento, foi desautorizado. Ministro falar uma coisa em um dia e desmentir horas depois. De onde mais pode partir a ordem senão da presidente?", questiona.
Com a colaboração de Dulce Mesquista