Com a popularização da internet, novas linguagens surgem e moldam a maneira como a língua portuguesa é aplicada na sociedade. Atualmente, a linguagem visual está cada vez mais acentuada nos aplicativos de mensagens instantâneas, substituindo até mesmo as palavras. Em grande parte das conversas, comentários e postagens, são usados os memes, os gifs e as figurinhas como forma de comunicação.
Segundo a pesquisa “A influência da linguagem da internet na escrita formal: uma pesquisa com alunos do 9º ano na cidade de Tobias Barreto-Se”, publicada pela revista 'Cadernos de Estudos e Pesquisa na Educação Básica', da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as novas formas de escrita não são prejudiciais. “Essa nova maneira de grafar não perde seu sentido na construção do texto, pois, como afirma Marcuschi (2004), ‘não se trata de como se chegar a um texto ideal pelo emprego de formas, mas como se chega a um discurso significativo pelo uso adequado às práticas e a situação a que se destina’, explica o estudo.
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De acordo com professores, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode entrar no ritmo da internet e também usar de linguagens virtuais, em específico a não-verbal, nas questões aplicadas na prova. Portanto, é importante que os estudantes sempre associem os memes, figurinhas, gifs e demais formas de comunicação por imagens aos conceitos aprendidos de língua portuguesa ao longo do período escolar.
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A forma que a linguagem da internet pode ser cobrada no Enem
Segundo o professor de redação Eduardo Pereira, é essencial o trabalho da interpretação textual em cima da linguagem não-verbal. “Pode cair um meme ou até mesmo uma conversa no WhatsApp provocando o aluno na sua compreensão e acaba que isso envolve sintaxe, envolve conhecimento linguístico”, explica. Uma aposta de Eduardo Pereira é que a prova do Enem esteja alinhada com a linguagem da juventude. “Eu acredito que uma prova inteligente não vai passar a largo disso, não. Vai usar, sim, memes, figurinhas e essas linguagens mais digitais”, salienta.
O docente ainda alerta para outra tendência do Enem, que é o ato ilocucional. “Nada mais é do que o que alguém quis dizer quando disse aquilo. E eu acho que as questões do Enem têm caminhado muito nesse sentido. Os textos são propostos para os alunos, sejam os textos clássicos, os poemas, como também os memes que estão se apresentando cada vez mais presentes no cotidiano”.
O professor de linguagens e redação Felipe Rodrigues explica que a comunicação cômica e não-verbal é chamada de idioleto. “São grupos mínimos de linguagem e que não fazem parte da maioria da sociedade”, diz. Ainda de acordo com o educador, os idioletos podem estar inseridos em assuntos como variação linguística, figuras de linguagem e interpretação.
As novas perspectivas linguísticas, segundo Rodrigues, deixam as charges e os cartuns para trás, enquanto repaginam os textos por meio de memes. “Sem dúvida, faz parte de uma linguagem jovem, uma linguagem nova e que se implanta a todo momento, inclusive com a cultura dos gifs, que estão sendo trabalhados e tratados em outros contextos e de formas bem cômicas”, explica.
Exercícios são fundamentais para um melhor aprendizado
Eduardo Pereira explica que a melhor forma de ter bons resultados e saber desenvolver argumentos de acordo com o conteúdo apresentado é praticando. Segundo o professor, as pessoas lidam, atualmente, com textos bastantes opinativos, algumas vezes compostos apenas por imagens.
“Alguns alunos acham que se preparar para a redação do Enem é fazer uma redação inteira, com introdução, desenvolvimento e conclusão. Mas eu tenho uma dica muito boa que é quando você observar uma charge, um cartum ou até mesmo um meme, escreva um parágrafo para manifestar sua própria opinião sobre aquele evento. Com base naquele texto, ele vai conseguir expressar melhor no código escrito seu ponto de vista e vai praticar mais a linguagem”, opina.
Felipe Rodrigues acredita que a prática também é uma forma de aprendizado eficiente do contexto. “É importante que o aluno entenda a linguagem de diversas formas, seja ela mais ampla, como o dialeto, ou mesmo de grupos menores como os socioletos ou ainda os muito menores, que são os ideoletos”, explica.