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Estimulando o cuidado com a saúde sexual e desmentindo alguns mitos e preconceitos, o mês se inicia nesta sexta-feira (1) com a campanha do Dezembro Vermelho, que marca uma mobilização nacional na luta contra o vírus HIV, a Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Sendo assim, o LeiaJá entrevistou um biomédico para explicar sobre os avanços nos tratamentos das doenças e esclarecer as dúvidas de muitas pessoas sobre as diferenças entre HIV e AIDS.

Avanços

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Um relatório divulgado esse ano pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) aponta que o fim da doença é uma escolha política e financeira, e que os países e lideranças que estão seguindo esse caminho já percebem resultados promissores. Países como Botsuana, Ruanda e Zimbábue estão sendo considerados exemplos mundiais ao alcançarem as metas denominadas de "95-95-95". Isso significa que 95% das pessoas que vivem com HIV conhecem seu status sorológico, 95% estão em tratamento antirretroviral e outras 95%, que são acompanhadas por infectologistas, estão com a carga viral suprimida.

Mesmo ainda não alcançando essa meta, o Brasil tem números animadores. Dados apresentados na última quinta-feira (30) pelo Ministério da Saúde revelam que 1 milhão de pessoas viviam com HIV no país no ano passado. Desse total, 900 mil foram diagnosticadas, 731 mil das que têm diagnóstico estão em tratamento antirretroviral e 695 mil pessoas que estão em tratamento antirretroviral têm carga indetectável do vírus. Transformando esses números em porcentagens, o Brasil está com suas metas na casa de “88-83-95”, respectivamente.  

“Esses números animam, principalmente por saber que essa doença já matou muita gente nos anos 80. Ali as pessoas viviam amedrontadas, pois se a saúde sexual está doente, a saúde mental também fica afetada. Mas hoje é diferente. Claro que existem os perigos ocasionados pela doença, mas quem segue e respeita o tratamento, consegue viver muito bem”, afirma o biomédico Thiago Silva.

O especialista que trabalha em um laboratório de análises clínicas diz que “a decisão de se fazer o teste rápido é um passo muito importante para cuidar da saúde”.

“Vejo pacientes que vão fazer o teste rápido com um certo tipo de receio de que positive para o vírus. Mas é muito importante procurar um local de coleta. O medo precisa, urgentemente, ser substituído por precaução. Assim como o teste é muito importante, não deixe de usar preservativos”, afirmou.

Como o biomédico citou, o preservativo, ou camisinha, é o método mais conhecido, acessível e eficaz para se prevenir da infecção pela doença e outras infecções sexualmente transmissíveis, como a sífilis, a gonorreia e alguns tipos de hepatites. Os preservativos masculino e feminino são distribuídos gratuitamente em qualquer serviço público de saúde.

Thiago reforçou que a transmissão, em grande parte, ocorre através de uma relação sexual desprotegida, porém que existem também outras formas de se contaminar com a doença, como por exemplo, no compartilhamento de seringas contaminadas ou na transmissão vertical, que é quando a mãe passa o vírus para a criança durante a gestação, no momento do parto ou na amamentação, devido a falta de tratamento ou profilaxia.

PEP e PrEP

Com o avanço da ciência nos últimos anos, hoje é possível tanto controlar como prevenir a transmissão do HIV de diversas maneiras, muitas delas disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Um grande exemplo disso é o uso Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP).

A PEP é o uso de medicamentos antirretrovirais após um possível contato com a doença em situações como: violência sexual; relação sexual desprotegida, ou seja, sem o uso de camisinha; rompimento do preservativo e em casos de acidente ocupacional, que é quando a pessoa se fere com um instrumento perfurocortante ou quando tem um contato direto com um material biológico contaminado.

Para que a PEP seja efetiva, ela deve ser iniciada logo após a exposição de risco, respeitando um prazo de até 72 horas. Os medicamentos devem ser tomados por 28 dias. Mesmo com eficácia comprovada, os especialistas afirmam que a PEP não serve como substituta à camisinha.

Já a PrEP é o uso dos medicamentos antirretrovirais antes da exposição a doença. Ela reduz a probabilidade da pessoa se infectar com o vírus e é utilizada quando existe um alto risco de contrair o HIV. Os públicos prioritários para PrEP são as populações-chave, que são aquelas que concentram o maior número de casos de HIV no país: gays, pessoas trans, trabalhadores/as do sexo e parcerias sorodiferentes, que é quando uma pessoa está infectada pelo HIV e a outra não.

Diferença entre HIV e Aids

Questionado na entrevista sobre qual a diferença entre as doenças, o biomédico Thiago Silva afirmou que "o HIV é o vírus causador da Aids, pois ele ataca as células específicas do sistema imunológico, já a aids se apresenta no corpo do paciente em um estágio mais avançado da infecção pelo HIV". “Ter HIV não significa que a pessoa desenvolverá aids, pois hoje existem tratamentos para diminuir o impacto do vírus no corpo. Mas vale lembrar que a aids é uma doença causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, quando a falta de tratamento por longo tempo faz os sintomas avançarem de nível”.

O especialista explicou que a aids “ataca células específicas do sistema imunológico”, aquelas que são responsáveis em defender o organismo de outras doenças.

“Em um estágio avançado da infecção pelo HIV, o paciente apresenta vários sinais e sintomas, além de infecções como a pneumonias atípicas e doenças parasitárias. Alguns tipos de câncer também podem acometer o paciente. Isso acontece pois o HIV usa células do sistema imunológico para replicar outros vírus. Além disso, ele as destroem, tornando o organismo incapaz de lutar contra em série de infecções e doenças”. Completou.

 

A  Prefeitura do Recife está instalando equipamentos para distribuir gratuitamente preservativos em locais estratégicos e de grande circulação de pessoas na capital pernambucana. Segundo a gestão municipal, a iniciativa visa ampliar o acesso da população a camisinhas femininas e masculinas como forma de estimular a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

O ponto de partida desta campanha aconteceu com a implantação do primeiro dispositivo na manhã desta quarta-feira (13), no Mercado da Boa Vista, na área central da cidade. Neste mesmo dia, também foram contemplados com a instalação os Mercados Públicos dos bairros da Madalena e Encruzilhada.

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Em uma articulação promovida pelo setor de ISTs, HIV, Aids e Hepatites Virais, da Vigilância em Saúde do Recife, a ONG internacional AIDS Healthcare Foundation (AHF) financiou a produção e envio de dez totens, cada um deles com capacidade para dispensação de cerca de 7,2 mil camisinhas (femininas e masculinas). O município ficará responsável pela oferta e reabastecimento dos insumos nos dispositivos. 

No decorrer do mês de abril, outros pontos também vão receber os equipamentos, como o campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e outros mercados públicos, por meio de parceria com a Autarquia de Serviços Urbanos do Recife (Csurb).

"É importante trabalhar as questões de prevenção na sociedade porque dessa forma conseguimos diminuir os riscos de adoecimento desse público por causa de ISTs e frear a transmissão dessas doenças”, reforça o coordenador da Política de Prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis do Recife, Airles Ribeiro.

Prevenção

A Prefeitura do Recife oferece, na Rede Municipal de Saúde, serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento precoces para ISTs. Existem dois SAEs para as pessoas com HIV/Aids e seus parceiros: o primeiro, na Policlínica Lessa de Andrade, localizada na Madalena, com mais de dois mil pacientes cadastrados; e o segundo no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da Policlínica Gouveia de Barros, na Boa Vista, com capacidade para atender até 600 pessoas por mês.

Nestes locais atuam equipes multiprofissionais compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais e psicólogos. São disponibilizados aos pacientes assistência clínica e psicossocial, indicação de profilaxias primárias e secundárias para infecções oportunistas e sexualmente transmissíveis; indicação e manejo de terapia antirretroviral.

A Secretaria de Saúde (Sesau) do Recife oferta, de forma rotineira, testagem rápida no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da Policlínica Gouveia de Barros e também na Policlínica Salomão Kelner, em Água Fria. Além disso, a população pode se dirigir à unidade básica de saúde mais perto de casa, para saber a disponibilidades de testes rápidos para detecção de ISTs. O resultado sai em cerca de meia hora.

Em julho de 2021, também foi criado o programa “Vamos Prevenir”, que promove ações itinerantes para levar informações sobre prevenção combinada, testagem rápida e apresentação do trabalho da rede municipal de cuidados em relação às ISTs, HIV, Aids e hepatites virais. Desde então, foram realizadas 25 ações, com 1.176 pessoas testadas para sífilis, HIV e hepatites. Também já foram distribuídos 48.672 preservativos e 4.500 lubrificantes

A ampla divulgação de que a aids é uma doença que tem tratamento eficaz dá às pessoas, principalmente aos jovens, a falsa sensação de proteção e faz com que elas não se protejam corretamente contra essa e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A afirmação é da infectologista do Comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Tânia Vergara.

A especialista alerta que essa percepção de “pouco risco de morte” por aids é equivocada e não pode ser confundida com uma segurança de exposição indiscriminada ao vírus. “A cura da aids não é uma realidade ainda. E se não se trata corretamente essa doença, que tem um potencial alto de mortalidade, ela vai ocorrer. O desenvolvimento natural da doença sem controle é para a morte”.

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Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2007 a junho de 2016 foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 136.945 casos de infecção pelo HIV no Brasil. A maioria (52,3%) dos casos ocorre em pessoas na faixa etária de 20 a 34 anos. Nos últimos cinco anos, o Brasil tem registrado uma média anual de 41,1 mil casos de aids.

A infectologista da SBI explica que, embora os tratamentos para aids sejam eficazes, a pessoa infectada fica dependente do uso diário de medicação. “Então, é uma falsa noção de que se tratar ele vai ficar bem”, disse. Segundo Tânia Vergara, o tratamento exige acompanhamento médico regular e tem efeitos colaterais.

Sífilis e hepatites

A única forma segura e eficaz de se prevenir contra as ISTs é com o uso da camisinha, segundo a especialista, que ressalta que as pessoas lembram da aids, mas se esquecem de outras doenças como sífilis e hepatites virais. “Estamos em uma grande epidemia de sífilis há dois anos”, destacou. Segundo Tânia, mesmo contraindo a sífilis várias vezes, manifestada por feridas, corrimentos ou verrugas ano genitais, as pessoas continuam se expondo à infecção por não se protegerem.

No período de 2010 a junho de 2016 foram notificados no Sinan 227.663 casos de sífilis adquirida. Entre 2014 e 2015, houve um aumento de 32,7% nos registros da doença. Em 2015, o número total de casos notificados de sífilis adquirida no Brasil foi de 65.878. Naquele ano, observou-se que 55,6% desses casos eram da faixa etária de 20 a 39 anos.

Segundo Tânia Vergara, a desproteção também está relacionada à ideia de que o prazer é a coisa mais importante. “O sexo é muito ligado à emoção, tem muito instinto ligado a isso. E não aprendemos que linguagem usar para as pessoas entenderem [a importância da prevenção contra as ISTs]”, disse. Ao mesmo tempo, segundo ela, se fala muito pouco sobre sexualidade com os jovens. “Está cada vez mais na escura. Estamos precisando falar o que está acontecendo”, ressaltou.

No caso das hepatites virais, de 1999 a 2015, foram notificados no Sinan 514.678 casos confirmados no Brasil. Destes, 161.605 (31,4%) são referentes à hepatite A; 196.701 (38,2%) de hepatite B; 152.712 (29,7%) de hepatite C; e 3.660 (0,7%) de hepatite D.

No Brasil, a taxa de incidência da hepatite A foi maior nos anos de 2004 e 2005. A taxa de detecção das hepatites B e C apresenta tendência de aumento, sendo que a hepatite B apresentou maiores taxas em relação à hepatite C em todo o período. As menores taxas são observadas para a hepatite D.

Testes

A orientação da infectologista é que pessoas que não têm o hábito de usar preservativos nas relações sexuais façam exames regularmente para identificar eventuais infecções e impedir sua disseminação. “Mas o exame não é curativo. O exame só diagnostica a doença, não previne que se pegue. A importância do exame é para se tratar mais cedo e reduzir a cadeia de transmissão”, alerta.

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