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Com o intuito de discutir o uso da maconha no tratamento de pessoas atípicas e com doenças raras, a vereadora Elaine Cristina (Psol-PE) organiza uma audiência pública no Recife para explicar a temática através de uma ótica que vai além do recorte das violências e criminalidades. O encontro será realizado nesta terça-feira (28), a partir das 14h, no Plenarinho da Câmara Municipal da capital pernambucana. 

A parlamentar foi a segunda pessoa em Pernambuco a receber a autorização para plantar maconha em casa para produzir remédio para o seu filho, o João Pedro. O adolescente, de 13 anos, tem heminegalencefalia, que é uma rara malformação cerebral que envolve o crescimento, anormalmente maior, de um hemisfério cerebral.   

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A liminar, expedida em 2020 pela 36° Vara Federal do estado, fez com que as crises convulsivas e outros sintomas provocados pela doença diminuíssem através da permissão do tratamento com a maconha.  O evento na Câmara do Recife irá informar sobre o uso da maconha no tratamento das atipicidades, no controle de dores crônicas e no gerenciamento de sintomas debilitantes em pacientes com câncer e distúrbios neurológicos. Além disso, abordará o assunto em casos de inflamação, epilepsia refratária e no tratamento dos distúrbios de ansiedade e depressão. 

Atualmente, estudos estão sendo conduzidos para explorar o papel do óleo da maconha no tratamento de doenças neurodegenerativas, como a doença de alzheimer e a esclerose múltipla. Exemplo disso, são as pesquisas realizadas pelo Ambulatório Cannábico, no Serviço Integrado de Saúde (SIS), vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Claudia Rodrigues usou suas redes sociais, nesta quarta (25), para fazer um verdadeiro desabafo. No post, a atriz defendeu o uso da cannabis medicinal e revelou como o medicamento vem ajudando no seu tratamento de esclerose múltipla, uma doença degenerativa. 

Claudia vem fazendo o uso de canabidiol, um óleo extraído da planta, há um certo tempo. Segundo ela, o medicamento tem feito diferença na sua vida. “Vocês sabem que eu luto com a esclerose múltipla há mais de 20 anos e a medicina integrativa me ajudou muito nesse tempo todo. Eu uso a cannabis medicinal há um tempo e me ajuda muito e por isso quero compartilhar com vocês”.

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A atriz também frisou que a medicação não cura a doença, mas ajuda o paciente a ter um pouco mais de conforto e melhor qualidade de vida.  “É importante saberem que  a cannabis medicinal não trata a doença em si e também não evita a sua progressão mas ajuda na melhora do sono e na redução de tremores, nas náuseas e ansiedade".


 

Discutidos há cinco anos dentro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o plantio e a importação da maconha para uso medicinal e científico deve ser aprovado no fim de outubro, segundo o presidente do órgão, o médico William Dib. Ele estima que até 13 milhões de brasileiros, com diferentes doenças, podem se beneficiar da maconha medicinal e prevê ainda ganhos econômicos. Mas, em conversa com o Estado, evitou rebater críticas, como a do ministro da Cidadania, Osmar Terra, que sugeriu que a Anvisa deveria "fechar", caso a proposta de regulamentação fosse aprovada. Dib afirma ter recebido apoio do próprio governo, que na avaliação dele tem buscado se informar sobre os benefícios da regulamentação.

A consulta pública (sobre a maconha medicinal) foi aberta há 45 dias, com voto favorável do senhor. O que já deu para extrair das participações até agora?

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A esmagadora maioria das contribuições é a favor. Até porque a sociedade, como um todo, estava exigindo essa posição da agência, não só as famílias das pessoas que têm esperança que esse seja um tratamento possível para as patologias. O número de patologias para as quais a cannabis está sendo indicada vem aumentando aceleradamente na academia, na discussão intelectual, e os países estão se moldando a isso. Não seria justo a Anvisa não se abrir a essa decisão.

Quem ganha com a regulamentação do cultivo e da importação, além dos pacientes?

O serviço do SUS (Sistema Único de Saúde) não é pago por alguém, é pago pela sociedade como um todo. Isso beneficia a todos, e não só o usuário do medicamento, porque vai sobrar dinheiro, se conseguir reduzir esse preço. Tendo o produto, a oferta aqui, vai fazer com que não só o Judiciário economize em ações. O Ministério da Saúde vai comprar a preço competitivo. Todos poderão se beneficiar disso.

Vai ter propaganda? O remédio poderá ficar exposto nas farmácias?

Não. Porque vai seguir a portaria 344 (da própria Anvisa), que regulamenta produtos controlados. Não haverá propaganda de cannabis. Não será um remédio de acesso livre. Só poderá ser comprado com receita. Não há possibilidade de automedicação.

Além de alguns ministros do governo, como o Osmar Terra, não tem havido críticas diretas do presidente (da República, Jair Bolsonaro) à proposta...

A maioria está a favor, porque está lendo. Quando a classe médica diz que prescreve produto porque não tem alternativa, e mãe, pai, irmão vêm aqui "judicializar", o eu que tenho para responder a eles? A grande maioria está a favor porque é bom para a sociedade.

E quando o plantio e a importação estarão liberados?

A vontade da diretoria colegiada é que terminando a consulta pública, em 30 dias, a gente consegue absorver as recomendações boas, corrigir o que estiver errado e o que estiver possível. No primeiro dia após a publicação, as empresas já podem se habilitar (nesta terça-feira, 30, o Estado mostrou que 20 empresas estão interessadas no mercado de plantio de maconha para fins medicinais no País). Importar o produto pronto ou fazer o plantio. O mercado é quem vai dizer o tempo que vai levar para o plantio.

E a questão econômica

O governo não só vai economizar, mas vai recuperar um pedaço da economia. Os índices externos dos países que estão abrindo a comercialização são enormes. O governador de Nova York (Andrew Cuomo) liberou por questões econômicas (o Estado descriminalizou o uso recreativo de maconha esta semana). O Brasil ganhará em economia, em geração de emprego, em desenvolvimento econômico e tecnológico, vai produzir coisas melhores. Não é a economia de quanto custa o remédio. Isso é uma economia barata. E pode ser até que acabemos exportando. Pode ser que o produto produzido no Brasil passe a ter credibilidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A menos de um mês do fim da consulta pública sobre a liberação do cultivo de maconha para fins medicinais, 20 empresas nacionais e estrangeiras já procuraram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para manifestar interesse em cultivar a erva no País. Audiência pública para discutir a regulamentação está marcada para esta quarta-feira (31).

A reportagem apurou que empresas do Canadá, dos Estados Unidos e de Israel são as mais interessadas. Também desembarcaram no País, com o mesmo interesse, representantes de empresas da Austrália, do Uruguai e da Europa. A diferença dessas últimas é que elas pretendem investir por meio de parceiros locais.

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A Anvisa alega que, por sigilo, não pode informar nacionalidade ou qualquer detalhe adicional que identifique os potenciais investidores. Isso porque a agência não cuida de questões de mercado, apenas orienta como deve ocorrer o processo de legalização dessas empresas, a partir do momento em que o cultivo for liberado no Brasil, possivelmente a partir de 2020.

Apesar de a Anvisa colocar o tema em consulta, a liberação do plantio de maconha enfrenta resistência dentro do próprio governo. A reação é capitaneada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, que trabalha para que, ao fim da consulta pública, o tema seja enterrado.

Em entrevista ao site Jota semana passada, Terra disse que o governo poderia até mesmo encerrar as atividades da agência, caso a ideia vá adiante. "Os caras que querem liberar a maconha se escondem atrás do desespero das mães de pacientes", disse ele na entrevista.

Estima-se que, com a regulamentação aprovada pela Anvisa, o total de pacientes beneficiados pelos medicamentos à base de Cannabis, o princípio ativo da maconha, chegue a 3,9 milhões em três anos. Isso significa mercado potencial de R$ 4,7 bilhões ao ano, calcula a empresa de dados New Frontier em parceria com a startup brasileira The Green Hub.

A empresa atua no mercado de cannabis medicinal, com sede em São Paulo, e tem como clientes grandes empresas que querem entrar no ramo de medicamentos à base de maconha. CEO da The Green Hub, Marcel Grecco diz que o Brasil é, na América Latina, o País com maior potencial de mercado no ramo da maconha medicinal.

"A Colômbia está bem avançada, vai ser um dos principais exportadores, mas temos muito potencial, principalmente em um movimento em que a Anvisa dá esse passo fundamental para o Brasil não perder a vantagem competitiva. É a indústria mais promissora de todos os tempos, e a gente vê com bons olhos esse movimento da Anvisa", destaca Grecco.

Repercussão

Ao jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério da Agricultura disse não ter, "por ora, projeções sobre plantio, geração de renda e posição a respeito". O Ministério da Economia também foi procurado para se manifestar, mas não respondeu.

A abertura de duas consultas públicas para discutir a maconha medicinal foi aprovada por unanimidade, em 14 de junho, pela diretoria colegiada da Anvisa. Entre os pontos em debate está justamente o plantio. A previsão é de que as consultas terminem em 16 de agosto.

A Anvisa recebeu 590 manifestações de associações, profissionais de saúde, empresas e da população em geral. Desse total, só oito colaborações foram contrárias à legalização. Das 304 manifestações sobre registro de produtos a base de Cannabis, 67 foram feitas por profissionais de saúde. Na 2.ª consulta foram feitas 286 contribuições, 3 delas de pessoas jurídicas e 283 de pessoas físicas. Ainda sobre cultivo, contribuíram até agora 199 pessoas que se identificaram como cidadãos ou consumidores, 43 profissionais de saúde e 21 como pesquisadores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No que depender da vontade do governo, as famílias que defendem a regulamentação da maconha para uso medicinal não terão autorização para cultivar a Cannabis, planta que dá origem às substâncias utilizadas como medicamentos. Em audiência pública nesta terça-feira (9) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), o ministro da Cidadania, Osmar Terra, reforçou a política proibicionista e afirmou que a liberação do plantio vai “abrir as portas para o consumo generalizado de drogas”. Por outro lado, pais e mães de crianças que sofrem com uma série de doenças e condições como o autismo pedem que o Congresso autorize o cultivo da maconha.

A audiência foi convocada para debater uma sugestão popular que propõe a regulamentação da maconha medicinal no Brasil (SUG nº 6/2016). Hoje, plantar Cannabis é proibido e o uso de derivados da maconha, independentemente da finalidade, é dificultado pela legislação. Porém, algumas associações e familiares de pacientes conseguiram autorizações na Justiça para a produção do extrato de canabidiol.

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já permite o registro de medicamentos feitos com substâncias como canabidiol e tetrahidrocannabinol (THC), mas só um produto importado conseguiu essa autorização até o momento. A maioria dos pacientes que recebe prescrição médica de tratamentos com derivados da Cannabis tem que pedir uma liberação da Anvisa para importar o produto. O problema, porém, é o custo. Um tratamento por três meses chega a R$ 2 mil. Como saída, famílias apelam à Justiça — ou caem no mercado ilegal.

Ministro contrário

Contra a liberação, o ministro afirmou que a maconha é a porta de entrada para outras drogas e que 25% da população é muito vulnerável à dependência química. Osmar Terra afirmou que a regulamentação da maconha aumentou a violência e o número de acidentes no trânsito em vários países.

“Eu sei que aqui tem mães carinhosas preocupadas, que vão até o fim do mundo para salvar seus filhos e para aliviar o sofrimento dos seus filhos. Elas têm que ter um apoio necessário. Agora, eu poderia fazer uma reunião aqui com as mães que perderam os filhos para a droga, que são muito mais numerosas”, disse o ministro.

Osmar Terra apontou que cresceu o consumo de drogas por jovens em países que liberaram a maconha medicinal.

“Se abrir as portas do plantio, vai ter consumo generalizado. Se se não controla com a proibição, imagina controlar no detalhe? É o começo da legalização da maconha no Brasil”, afirmou.

Benefícios do THC

Na contramão, Rafael Evangelista, do Instituto de Pesquisas Científicas das Plantas (Aliança Verde), apresentou dados que contrariam o discurso do ministro. Segundo ele, não há evidências sobre o aumento do consumo de maconha em países que regulamentaram a Cannabis medicinal. Ele afirmou que o THC e vários componentes da maconha teriam benefícios medicinais, não apenas o canabidionol. Para Evangelista, a regulamentação tampouco abriria a porta para outras drogas.

“O contato com o mercado ilegal é que é a porta de entrada para drogas mais pesadas”, afirmou.

Ele e outros participantes da audiência defendem a aprovação do PLS 514/2017, que permite o cultivo e o preparo da Cannabis para uso medicinal. O texto, já aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), aguarda votação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

Uso terapêutico

O uso terapêutico de componentes dessas plantas segundo pais e mães de pacientes reduziu sintomas de doenças como convulsões, epilepsia e dores. O canabidiol é usado para o tratamento de outras doenças como a esclerose múltipla, Alzheimer, Parkinson, dores crônicas, entre outras.

Segundo Cidinha Carvalho, mãe de Clárian, de 16 anos, a qualidade de vida da família melhorou substancialmente depois que a menina começou a usar substâncias extraídas da maconha. Diagnosticada com síndrome de Dravet, Clárian tinha convulsões desde antes do primeiro ano de vida. Os ataques epilépticos aconteciam muitas vezes ao dia e duravam mais de uma hora e meia, fazendo com que ela tivesse paradas respiratórias. Desde 2014, quando a jovem começou a usar um óleo de canabidiol, as crises passaram a ser menos frequentes: uma ou duas crises por mês com duração de menos de um minuto. Para Cidinha, pais e mães não põem ser criminalizados por cuidar de seus filhos.

“A dor não pode esperar. Se eu tivesse esperado por uma regulamentação para poder cultivar para a minha filha, para poder dar um óleo para a minha filha, não sei se eu teria minha filha aqui hoje porque a síndrome dela tem risco de morte súbita. Se fosse seu filho você esperaria pela regulamentação?”, perguntou Cidinha, que é presidente da Cultive (Associação de Cannabis e Saúde), à comissão.

Consulta pública

Famílias que viram seus filhos melhorarem com o uso de substâncias derivadas da maconha também criticaram uma consulta pública da Anvisa sobre a proposta para liberação do cultivo e da produção da planta no país. A nova regra, segundo eles, prevê o plantio restrito a lugares fechados por empresas credenciadas, o que proibirá as associações e familiares de pacientes que conseguiram autorizações na Justiça de manipularem a planta. Para eles, a proposta da Anvisa deveria ser mais abrangente.

Norberto Fischer, que conseguiu autorização para importar Cannabis para a sua filha, Anny, lamentou que o ministro Osmar Terra tenha se posicionado publicamente nas redes sociais contra a consulta da Anvisa como um todo. Ele fez um apelo pela regulamentação e contou que antes do tratamento, sua filha tinha em média 60 convulsões semanais e ao menos duas vezes por mês ia parar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais.

“Eu acho que existe uma grande confusão também sobre os papéis e competências da Anvisa. A Anvisa tem competência de regulamentar o registro de produtos e o processo para poder fazer a venda de produtos. O autocultivo não é papel da Anvisa”, disse Fischer, que cobrou que o Congresso avance em uma regulamentação.

Pesquisas

Ao longo do debate, participantes apresentaram dados e pesquisas que confirmam ou colocam em xeque os benefícios medicinais da maconha. O médico Quirino Cordeiro Júnior, que é secretário de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, foi taxativo ao apontar que não há evidências científicas que referendem a liberação da Cannabis.

“Não há evidências científicas que comprovem que os canabinoides são seguros e eficazes no tratamento da epilepsia”, assinalou.

Mesma posição tem o representante da Associação Psiquiátrica da América Latina, Antônio Geraldo da Silva. Para ele o termo “maconha medicinal” é um risco pela “diminuição da percepção de risco da droga”.

“A maconha tem cerca de 500 substâncias dentro dela. Dessas 500 substâncias, existe o canabidiol. É perigoso liberar 500 substâncias para tentar atingir uma sem saber a dosagem, sem saber o efeito, sem saber se vai fazer bem”, disse.

Já a médica Carolina Nocetti, da Academia Internacional de Cannabis, afirmou que existe muita ignorância em relação ao tema. Ela ressaltou que desde os anos 1980 um grupo de pesquisa liderado pelo especialista em psicofarmacologia Elisaldo Carlini já comprovou os efeitos positivos da Cannabis no combate a doenças.

“As maiores provas não são a Anvisa nem o professor Carlini, mas as centenas de pacientes que chegam no meu consultório, de mães que me ligam e falam que agora conseguiram dormir quatro horas por noite ou da filha que o pai [com Doença de Alzheimer] lembrou o nome”, argumentou.

Senadores

A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) destacou que muitos países já regulamentaram o uso do canabidiol, mas a burocracia brasileira leva muitas famílias a importar o produto de forma ilegal. Ela relatou sua experiência com canadibiol, que de acordo com a senadora tem ajudado em dores musculares e no controle do corpo.

“Eu sou uma cidadã usuária que sabe o quanto é transformador na vida de outras pessoas. A gente não pode fechar essa porta”, defendeu.

Para o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), é preciso ouvir todos os lados do debate. Ele teme que interesses comerciais contaminem a discussão.

O senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) considera que é preciso buscar uma proposta equilibrada para evitar que a liberação do cultivo abra caminho para desvios de plantas para outras finalidades.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN), por sua vez, avalia que o Estado brasileiro não pode abrir mão de regulamentar o uso medicinal e garantir o acesso à população:

“Saúde é um direito e uma obrigação do Estado. Não deveria ser responsabilidade de uma mãe de uma criança pesquisar e plantar no seu quintal quando a responsabilidade é do Estado”, apontou.

*Da Agência Senado

 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai levar à consulta pública a proposta para liberação do cultivo e da produção de maconha no País para fins medicinais e científicos. A nova regra prevê o plantio restrito a lugares fechados por empresas credenciadas. Associações e familiares de pacientes que, hoje, têm autorizações na Justiça para a produção do extrato de canabidiol, ficariam proibidos de manipular a planta. A Anvisa espera aprovar a regulamentação ainda este ano, mas há resistência dentro do governo federal.

Atualmente, a agência já permite o registro de medicamentos feitos com substâncias como canabidiol e tetrahidrocannabinol (THC), mas só um produto importado conseguiu a regulamentação. A maioria dos pacientes que recebe prescrição médica de tratamentos com derivados da cannabis pede à Anvisa autorização para importar o produto. Até o fim de 2018, cerca de 6 mil pacientes conseguiram a liberação. O problema, porém, é custo. Um tratamento por três meses chega a R$ 2 mil.

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Dois pontos na proposta já são criticados. O primeiro é a restrição da produção para fins medicinais em ambientes fechados, o que pode elevar o custo. O outro é a restrição de produção a empresas.

Segundo o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Elisaldo Carlini, um dos maiores especialistas em entorpecentes do Brasil, a proposta inviabiliza a pesquisa. "Em ciência, é necessário controlar todo o processo, do plantio a produção do fármaco."

Para o médico e presidente da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal, Leandro Ramires, a restrição às empresas manteria o mercado informal de usuários de medicamentos à base de cannabis no País. Embora sejam cerca de 6 mil pessoas autorizadas a importar o medicamento, há estimativas de que mais de 60 mil fazem uso ilegal. "O processo regulatório vai deixar o preço de produção muito caro", diz.

"É importante que a regulamentação leve em consideração os pequenos empreendedores e, principalmente, associações que são, no fundo, os agentes que levaram a essa proposta de regulamentação", afirma Rodrigo Mesquita, representando a Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas. Já Carolina Nocetti, médica e consultora técnica em terapia canabinoide, lembra que a abertura para a discussão foi o primeiro passo em alguns Estados americanos.

A principal resistência à proposta deve vir de dentro do próprio governo. Em maio, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, afirmou que seria "irresponsável" por parte da Anvisa liberar o uso de maconha medicinal. Os grupos de trabalhos para a discussão foram formados em 2017, ainda sob a gestão do ex-presidente Michel Temer.

A reportagem apurou que há em curso no governo um movimento para retardar a aprovação da proposta. Capitaneada por Terra, a ideia é que o presidente Jair Bolsonaro indique um nome ligado à pasta para a vaga em aberto na diretoria da Anvisa. O indicado poderia barrar o andamento da proposta quando terminar a fase das audiências públicas, que vai durar 60 dias.

Exemplo

A consultora Elisabete Ferreira, de 39 anos, não aguentava mais apanhar da filha e ver a criança se agredindo. A menina, de 11 anos, foi diagnosticada com autismo quando tinha 4 anos e meio e apresentava episódios de agressividade.

"A gente não conseguia mais sair de casa. Eu vivia com marcas e já tinha até um espaço no guarda-roupa para o meu filho mais novo se esconder." No ano passado, ocorreu a indicação médica de um derivado de maconha. "Agora, ela é uma criança calma. Hoje, vejo um futuro para a minha filha. Consigo imaginar que ela vai frequentar a escola."

Modelo canadense

A proposta brasileira segue o modelo canadense e a produção não poderá ser ao ar livre. As diretrizes da Anvisa só autorizam o cultivo em ambientes fechados que tiverem sistema de segurança 24 horas e a edificação reforçada com sistema de dupla porta e paredes e dutos resistentes à invasão. As edificações não poderão ter nenhuma identificação.

A medida poderá inviabilizar financeiramente o pequeno produtor e empresas de startups, já que o custo para produção em plantio de áreas externas, em média, é de US$ 0,05 a grama; em áreas fechadas, o valor supera US$ 1, segundo empresas consultadas pela reportagem.

A normatização proposta pela Anvisa não prevê a necessidade de as empresas interessadas na produção de maconha pedirem autorização específica à Polícia Federal, mas, de acordo com a equipe técnica da agência, durante o processo de licenciamento, a Anvisa vai pedir um parecer da PF para que o órgão autorize o início da licença de produção.

Todos os registros terão a validade de dois anos, renováveis. Os responsáveis técnicos e administrativos também deverão apresentar atestado de antecedentes.

A venda e a entrega das plantas produzidas só poderá ser feita às instituições de pesquisa, fabricantes de insumos farmacêuticos e de medicamentos. As regras de comercialização impedem, por exemplo, que pessoas físicas tenham acesso à planta de maconha de maneira legal. A medida proíbe ainda que a planta seca seja vendida e entregue para farmácias de manipulação.

Até o momento, dez empresas privadas já mostraram interesse em produzir maconha no País, conforme a Anvisa. "Não há espaço para nenhum procedimento para que possa haver uso não medicinal desta substância", afirma o diretor-presidente da agência, William Dib. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A atriz Whoppy Goldberg, ativista pela descriminalização da maconha, resolveu levar o ativismo para o mundo dos negócios. Ela lançou, ao lado de Maya Elisabeth, empresária que trabalha no ramo de medicamentos à base da erva, produtos voltados para mulheres que sofrem com cólicas. As duas prometem aliviar dores e desconfortos menstruais com pomadas e óleos produzidos com a cannabis.

Em entrevista ao jornal americano USA Today, Whoppy deixou bem claro que os produtos não são para "quem quer ficar chapado", mas sim para quem precisa aliviar as dores menstruais durante a correria do dia a dia. "Fumar um baseado ajuda com a dor, mas você não pode trabalhar depois. Esse produto é para quem quer aliviar a dor sem problemas. Você pode carregar na bolsa e esfregar a loção na barriga e nas costas no trabalho, chegar em casa e colocar na banheira ou fazer chá, e esse tempo todo vai poder trabalhar sem problemas”, disse.

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São cinco variedades de cremes e óleos, produzidos com a  maconha medicinal, e que já estão à venda na Califórnia e no Colorado, estados americanos que legalizaram o uso. No Instagram dos produtos, algumas consumidoras já confirmaram a eficácia deles não só para as cólicas menstruais mas também para dores de pescoço e ombros. "Eu amo esse negócio, simplesmente esfrego na minha barriga e as cólicas somem"; "Funciona mesmo, nunca poderei dizer o quanto eu amo esse produto"; "Acordei com uma enxaqueca horrível e passei ele na minha testa e têmporas. Me senti super relaxada em minutos e consegui dormir como um bebê".

Na última terça-feira (27), uma comissão do Senado aprovou um projeto de lei autorizando o cultivo da cannabis sativa para uso pessoal terapêutico, desde que haja prescrição médica. A medida ainda vai passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), será votada no plenário do Senado e, depois, precisará ser apreciada na Câmara dos Deputados. Apesar disso, a decisão pode representar uma luz no fim do túnel daqueles que dependem da cannabis para ter qualidade de vida. De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), desde janeiro de 2015, quando o uso terapêutico de canabidiol foi autorizado, mais de 800 médicos prescreveram produtos derivados da maconha - chegando a um total de mais de 78 mil unidades importadas.

O uso da maconha na medicina não é novidade. Os primeiros registros são atribuídos ao imperador ShenNeng da China, que prescrevia chá de maconha para o tratamento da gota, reumatismo, malária e até para memória fraca em 2727 AC. Na Ásia, Oriente Médio e costa oriental da África, a maconha como remédio também já era utilizada antes mesmo de Jesus Cristo. Na comunidade científica mundial, o uso medicinal da cannabis ganhou interesse por volta dos anos 60, quando o Professor Raphael Mechoulam, de Israel, e outros pesquisadores descobriram que a ação dos fitocanabinóides, no Sistema Nervoso Central (SNC), se dava através de ligação específica com um receptor de membrana celular denominado CB1. Ele também constatou que apenas o THC é o responsável pela "lombra" da maconha. Anos mais tarde, em 1973, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descobriu efeitos anticonvulsivantes no canabidiol.

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Mas se em outros países o óleo rico em canabidiol é encontrado até em supermercados, no Brasil a maioria das pessoas precisam importar e o processo não é tão simples. Primeiro, é necessário obter uma autorização da Anvisa. O processo começa com uma consulta médica e prescrição do medicamento. Em seguida, o paciente se cadastra no site da Agência e o pedido é analisado pelo órgão. Autorização concedida, é necessário desembolsar de R$ 250, podendo chegar a até quase R$ 3 mil, sem contar as taxas de transporte e importação, para comprar o medicamento. Por fim, o paciente encaminha a permissão de entrada para a Receita Federal. Hoje, de acordo com a Anvisa, mais de 4 mil pessoas já têm a autorização para importação para uso próprio.

Tanto o preço quanto os entraves burocráticos muitas vezes afastam os pacientes. Para tentar agilizar e reduzir os custos do acesso aos medicamentos à base da maconha, surgiu em 2014 em João Pessoa, na Paraíba, a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace Esperança). Em 2017, a associação obteve na Justiça o direito ao cultivo da planta. É a única entidade que conquistou esse direito no país, mas não foi um caminho fácil. Primeiro, tentaram a autorização com a Anvisa, que negou. Recorreram, então, à Justiça. "Quando o pedido chegou na mão da juíza, ela viu que mais de cem pacientes estavam fazendo uso da substância e que estavam sem crise. Ela viu que a saúde do ser humano estava em primeiro lugar”, conta Luciano Lima, diretor executivo da Abrace.

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Atualmente, quase mil pacientes de todo o país são acolhidos pela Associação, que produz óleos e pomadas derivadas da cannabis. Luciano acredita que, muito além do papel de ajudar com os medicamentos, a associação tem auxiliado, também a quebrar o preconceito sobre a maconha. “Antigamente, as pessoas diziam: você tá dando maconha pro seu filho? tá louco? hoje, as pessoas já enxergam que as patologias estão sendo tratadas de uma forma que nenhum medicamento alopático trata e muita gente nos procura”, afirma. Para aumentar a produção e tentar atender de 10 a 15 mil pacientes, está tramitando na  Justiça um pedido de autorização de extensão do cultivo em Campina Grande, também na Paraíba, onde, segundo ele, tem um clima mais propício para o plantio.

Por dia, em média 30 garrafinhas com o óleo são produzidas na associação. O valor varia entre R$ 100 e R$ 200. Uma equipe composta por duas químicas e uma farmacêutica é responsável pela produção. Pacientes com epilepsia, fibromialgia, câncer, alzheimer e parkinson são os que mais procuram a associação na esperança de tentar diminuir os efeitos das doenças. Para conseguir ter acesso aos produtos, é preciso procurar o local pessoalmente ou através do site apresentando a prescrição médica. Em seguida, o paciente se associa à Abrace e paga uma anuidade de R$ 350, que ajuda a custear todos as despesas do local. Pessoas de baixa renda são isentas não só da taxa como também do pagamento do óleo. De acordo com a Abrace, atualmente 200 pacientes recebem o benefício.

Saiba mais sobre a cannabis medicinal:

Principais canabinóides

Tetra-hidrocanabinol (THC) é o principal componente da cannabis e é o principal agente que dá uma sensação de “alta” quando administrado. Os sentidos são intensificados e pode causar euforia e mais prazer. No entanto, se administrado numa dosagem correta, pode ser benéfico para ajustar os hábitos alimentares e de sono e amenizar, também, sintomas de algumas doenças como Mal de Parkinson, epilepsia e esclerose múltipla.

O canabidiol (CBD) é uma das 113 substâncias químicas canabinoides encontradas na Cannabis sativa e é responsável por aproximadamente 40% do extrato de cannabis. Tem a mesma fórmula química do THC; no entanto, o arranjo dos átomos é diferente para cada um. Por causa dessa ligeira variação, o THC cria um efeito psicoativo, enquanto o CBD não tem essa influência. Promove uma sensação de tranquilidade. Pode auxiliar no tratamento de epilepsias, por exemplo, e também é muito positiva na diminuição de efeitos colaterais de esclerose múltipla, autismo e do tratamento de câncer.

Diferença entre cannabis:

As plantas Sativa são conhecidas por esticar a alturas de até 6 metros quando cultivadas fora e tem períodos de vegetação de muito mais tempo - podendo levar de dez até 16 semanas para ficar totalmente maduras. Ela produzem um rendimento muito mais elevado que as estirpes indica e possuem uma porcentagem de THC maior do que a Indica. São particularmente eficazes no tratamento de problemas mentais e do comportamento, tais como o estresse, a ansiedade e a depressão.

As Cannabis Indica são curtas e robustas, chegando a cerca de 80 cm de altura, e tem tipicamente menor rendimento. Os efeitos produzido por linhagens de indica são muito relaxantes e são ideais para a dor crônica, espasmos musculares, ansiedade, náuseas, estimulação do apetite e privação do sono.

A Cannabis Ruderalis está acostumada ao clima mais frio e contém porcentagens mais baixas de THC. Pode ter até quatro metros de altura, cresce em qualquer lugar.

Fonte: Associação Brasileira de Cannabis Medicinal; Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace Esperança)

Uma quadrilha formada por adolescentes roubou uma loja de maconha medicinal em Colorado Springs, nos EUA, mas se deu mal. Usando um furgão, os criminosos invadiram a loja e encheram um outro carro com o que eles achavam ser a erva e fugiram. O que eles não sabiam é que a maconha era, na verdade, orégano.

É que, segundo o jornal "The Gazette", nos mostruários da loja é usado orégano e não maconha. Segundo informações da loja Native Roots, a maconha fica guardada em um cofre e os bandidos não conseguiram chegar até o local.

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Os ladrões foram perseguidos e abandonaram o veículo. Eles fugiram a pé sem o produto do roubo e ainda estão foragidos. Desde 2014, a venda de maconha para fins recreativos e medicinais é legalizada no Colorado.

A comunidade médica deve romper paradigmas e avançar no uso da maconha em doenças como o câncer, além do uso da erva como paliativo para a dor, disse nesta quinta-feira (5), em Santiago do Chile, Javier Peraza, especialista espanhol em cannabis medicinal.

Em uma conferência da Fundação Daya, encarregada da maior plantação legal de cannabis na América Latina destinada ao uso medicinal, no Chile, Peraza, que é vice-presidente do Observatório Espanhol de Cannabis Medicinal, ressaltou os benefícios da planta e a necessidade de se avançar na regulação do seu cultivo.

"A cannabis não deveria ser utilizada como último recurso, mas como recurso inicial, porque estamos falando de uma substância muito pouco tóxica", disse o especialista à AFP. "Não existe nenhuma morte documentada por overdose de cannabis e hoje não existe nenhum medicamento do qual se possa dizer o mesmo", acrescentou.

Peraza reconheceu que o mundo vive uma "fase de conflito" em relação à maconha e que está passando de uma etapa na qual a planta era identificada com o vício em drogas para uma na qual o seu grande potencial terapêutico é reconhecido.

"Além de aliviar a dor, o cannabis tem um potencial muito importante como estimulante do apetite", e a perda de peso é um dos fatores fundamentais que encurta a sobrevivência, apontou o especialista, que considera que este efeito da planta é fundamental para tratamentos oncológicos e de Aids.

O médico destacou os avanços que vários países da região alcançaram nos últimos anos em relação ao uso medicinal da maconha, mas afirmou que "há um emaranhado econômico e de interesses que faz com que o avanço seja mais lento que o desejável".

A Fundação Daya lidera uma grande plantação de cannabis para uso medicinal em Quinamávida, 350 km ao sul de Santiago, onde foram semeadas 6.400 plantas de 16 variedades. A iniciativa acontece em meio a um forte debate no Chile pela descriminalização da maconha. Hoje, o consumo privado da erva é permitido mas a venda, ilegal.

A Geórgia legalizou o uso medicinal da maconha nesta quinta-feira, após a promulgação de uma lei pelo governador Nathan Deal - tornando-se o vigésimo quarto dos 50 estados americanos a autorizar a prática.

"A espera finalmente terminou para os pacientes que sentem dor", disse Deal em um pronunciamento feito após assinar a lei aprovada pelo Congresso da Geórgia (sudeste dos Estados Unidos) no final de março.

A legislação descrimina o porte de maconha em óleo de baixo teor da substância que altera o sistema nervoso central, o tetraidrocanabinol (THC), para tratar oito doenças como o câncer, a esclerose múltipla, o Parkinson ou a epilepsia.

O governador disse esperar a volta de 17 famílias para a Geórgia. Em um caso notório no ano passado, essas pessoas se mudaram para o Colorado, onde seus filhos doentes poderiam ter acesso à maconha medicinal.

"Podemos agora começar o processo de espera para trazer para casa nossos refugiados médicos", afirmou o deputado republicano Allen Peake, um dos promotores da medida.

A lei foi promulgada poucas semanas após os senadores americanos apresentarem um projeto de lei abrangente para permitir o uso de maconha medicinal em todo o país.

Embora cada vez mais Estados sejam adicionados à lista daqueles que permitem a maconha medicinal (24 mais a capital Washington), a lei federal ainda expõe os consumidores a investigações criminais e detenções por porte da droga.

"Minha família é militar. Sempre fui careta. Nunca vi maconha na minha vida. Se eu paro para pensar que eu dou três drogas para meu filho hoje ( Topiramato e o Depakene, e dou o Klobazam, um tarja preta), para um bebê de um ano e três meses, por que não posso dar o CBD? Se a luz no fim do túnel é essa e se o CBD dá na maconha, OK. A gente vai usar maconha. Se desse no abacaxi, a gente usava folha do abacaxi, mas não dá", diz Camila Guedes em cena do documentário Ilegal, que estreia nesta quinta-feira, 9, depois de ter suscitado debates e discussões não só sobre a legalização do uso medicinal de derivados da Cannabis Sativa (nome científico da maconha) como também sobre a luta de um grupo de pais contra a burocracia da política brasileira.

Isso porque o CBD é o canabidiol, substância derivada da maconha, que não possui efeito tóxico nem alucinógeno e se mostrou eficaz no tratamento de males como dor crônica, esclerose múltipla, Alzheimer, além de epilepsias refratárias e as ditas epilepsias catastróficas, como a síndrome de Dravet. A questão é que o canabidiol é proibido no Brasil e está na lista de substâncias proscritas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

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É a síndrome de Dravet, o mal com que nasceu o pequeno Gustavo, filho de Camila. Depois de tentar de tudo, o uso do CBD se mostrou o único tratamento possível. "A primeira vez que li sobre isso, vi como a viagem de uma mãe. Pensei: ‘ Nunca vou dar maconha para o meu filho.’ Depois que vi Ilegal, aquilo se tornou algo mais real, mais humano", declara Camila em cena de Ilegal, em referência ao curta que o jornalista Tarso Araújo e o documentarista Raphael Erichsen dirigiram antes do longa homônimo.

Foi ao ver, no curta, a luta de mães como Katiele Fischer para tratar as convulsões de sua filha Anny com canabidiol que Camila teve a dimensão exata de que seu drama era o mesmo de tantas outras. E é exatamente revelar a batalha dessas famílias para vencer a burocracia e o preconceito que a dupla diretores fazem a realizar Ilegal, que tem produção da paulistana 3Film em parceria com a revista Superinteressante.

"Começamos esta história em março, com o curta. E a repercussão foi muito maior do que a gente pensava. Muita gente se identificou, interessou. É preciso vencer o preconceito em torno do assunto. Por isso, além dos três curtas que realizamos, organizamos a campanha Repense (campanharepense.org), mergulhamos no projeto", conta Raphael.

Vale lembrar que o longa, que, assim como o curta, nasceu a partir de uma série de reportagens realizadas por Araújo para a revista Super Interessante, não é apenas um tratado sobre a legalização do uso medicinal e nem mesmo recreativo da maconha, mas sim uma metáfora muito contundente dos mecanismos lentos de mudança do Brasil e do quanto o preconceito ronda o assunto. "Fizemos o filme não para falar de maconha, mas de algo amplo, sobre a batalha destas mães, que enfrentam uma série de burocracias. É isso que o brasileiro encontra quando vai atrás de direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado", declara Tarso, autor de Almanaque das Drogas.

Muito pelo objetivo dos diretores, Ilegal não começa, como poderia se supor, com entrevistas com médicos e especialistas sobre o mecanismo de atuação do canabidiol e como Anny, de apenas cinco anos, passou de 60 convulsões por semana para praticamente nenhuma depois de começar a ser tratada com o CBD.

A primeira cena revela Katilene às voltas com ligações intermináveis para os Correios, tentando, em vão, falar com alguém que lhe explique onde foi parar sua encomenda de canabidiol. Ilegal e não catalogado pela Anvisa, o produto foi retido. Enquanto os pais tentam ter acesso ao CBD, as convulsões de Anny voltam.

Ao telefone, o tom robótico com que a atendente fala revela o abismo que há entre os que seguem a cartilha da burocracia e os que, como ela, veem seus filhos convulsionarem todos os dias. De um call center a outro, Katilene e seu marido, que, em meio a pesquisas sobre o que poderia ajudá-los a melhorar a qualidade de vida da filha, portadora de um caso raro de epilepsia, descobriram o CBD, chegam finalmente ao Congresso Nacional e a uma reunião da Anvisa.

Quem chega também é Margarete Brito, mãe de Sofia, que, além de ser uma das fundadoras da Appepi (Associação de Pais de Pessoas com Epilepsia de Difícil Controle), uniu-se a Katilene e Camila na batalha para sensibilizar deputados e órgãos oficiais pela inclusão do CBD entre as substâncias permitidas pela Anvisa.

Ainda que haja muito preconceito e desinformação sobre o assunto no Brasil, mesmo depois de ser difundido e legal em vários países, como os EUA, a Espanha e a Holanda, Tarso mantém o otimismo. "É importante falar disso na mídia. Mas, ao mesmo tempo, já percebemos que o Estado não está ligando muito para esta questão. Apesar do barulho, não sabemos se vai haver uma reação institucional seja por parte da Anvisa seja do Congresso. A perspectiva de sair algo progressista hoje é mínima em relação à política das drogas. Esta eleição aprofundou ainda mais o conservadorismo do Congresso. Não sei se dá para esperar muita coisa, mas sejamos otimistas. É preciso debater e lutar", declara o diretor. "É absurdo total negar o potencial medicinal da maconha em pleno século 21, com dezenas de testes sendo feitos nos EUA. É muito atraso. Precisamos avançar", acrescenta Tarso, que no dia 31, após sessão especial no Auditório do Ibirapuera, participa de debate sobre o poder do cinema como experiência de transformação social, como parte do encerramento da Mostra de Cinema de SP. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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