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Nove anos transformando a vida de crianças e adolescentes da comunidade do Coque. Fundada em 2006, a Orquestra Criança Cidadã é uma iniciativa de inclusão social através da música clássica, que atende cerca de 330 crianças e adolescentes. Um projeto que passou por altos e baixos, mas permanece firme com a esperança de conquistar cada vez mais espaço na vida de jovens de baixa renda. “A oportunidade precisa ser dada a todos, principalmente aqueles cuja vida não proporcionou boas chances. Em três ocasiões distintas, o projeto quase fechou as portas. Mas conseguimos vencer as dificuldades, pois a esperança e o sonho não morreram”, comentou João Targino, coordenador geral da Orquestra, durante a cerimônia de apresentação.
##RECOMENDA##Para celebrar o nono aniversário, a Orquestra Criança Cidadã promoveu um concerto gratuito, na noite desta quinta-feira (30). No palco do Teatro Luiz Mendonça, em Boa viagem, 93 componentes, entre alunos, professores e músicos convidados, além do maestro Nilson Galvão. Responsável pela condução do espetáculo, o coordenador musical ressaltou o orgulho de poder compartilhar dos sonhos destes jovens. “É extremamente gratificante poder acompanhar o crescimento desses meninos. O amadurecimento musical deles é notável. Se fizermos um comparativo entre os músicos de 2014 e 2015 é possível perceber que não são os mesmos artistas. Se puder definir o que estou sentindo em uma única palavra, pode ter certeza que é orgulho”, declarou Nilson Galvão.
Com todos os ingressos esgotados, cerca de 700 pessoas acompanharam o concerto. No repertório, a orquestra apresentou canções como As Bodas de Fígaro, Tico-Tico no Fubá e I Lamento. De acordo com o maestro, as obras não foram escolhidas de modo aleatório. “Todas as músicas apresentadas no concerto contam um pouco da nossa história. Um momento especial como esse pede canções que marcaram a nossa trajetória”.
Integrante da primeira turma da Orquestra Criança Cidadã, Rebeka Muniz, de 19 anos, acompanhou todas as conquistas e obstáculos enfrentados pelo projeto ao longo desses anos. A jovem viu muitos colegas desistirem, mas manteve vivo o sonho, enxergando na música a possibilidade de ter um futuro melhor. “É uma vitória chegar até aqui. Muitas pessoas imaginaram que o projeto não duraria mais que cinco anos. Alguns amigos decidiram não levar o curso adiante, mas eu encontrei minha vocação. Agradeço a Deus e ao projeto, pois a partir dele pude descobrir o que queria fazer da minha vida”, comentou a violinista, ressaltando que conseguiu entrar na faculdade de música e pretende lecionar.
Entre os músicos mais novos no concerto desta noite, Luhan Lucena, de 12 anos, viu no projeto um mundo de oportunidade. O menino descobriu a paixão pela música muito cedo e pretende seguir os passos de grandes nomes da música erudita, como Mozart. Luhan conheceu o trabalho da Orquestra aos cinco anos de idade e em mais da metade da sua vida a música fez parte da sua rotina, proporcionando oportunidades antes inimagináveis. “Tocar na Orquestra é muito bom. A gente aprende uma nova possibilidade de se viver, de se sustentar. Também temos a chance de viajar, conhecer novas culturas. Sempre gostei de música, sei que é com isso que eu quero viver”, frisou o garoto.
Na plateia, dezenas de familiares dos jovens que integram o projeto fizeram questão de comparecer. A satisfação de vê-los no palco trilhando novos passos desperta uma emoção ainda maior em famílias humildes, que não tiveram grandes oportunidades. “É muita emoção ver minha filha no palco. Sem o projeto, acho que não teríamos essa oportunidade, porque o lugar que a gente mora é muito marginalizado. Existe muito preconceito com quem mora no Coque. Mas a Orquestra tá abrindo novos caminhos não só para minha filha, mas para todos os meninos que estão lá”, desabafou Cláudia Simone da Silva.
Visivelmente emocionada, Maria das Graças de Oliveira disse que faltou muito pouco para deixar o choro escapar. “Quando vi meu neto lá em cima (do palco), quase chorei de emoção. Nunca pensei em ver uma pessoa da minha família tocando bonito desse jeito. Ítalo é o nosso orgulho”, comemorou.
Expectativa da Orquestra para 2015 - 2016
2014 foi um ano de conquistas para os alunos e gestores da Orquestra Criança Cidadã. Com o apoio do BNDES, o grupo realizou sua primeira turnê brasileira, passando por estados como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Outro fato marcante do ano passado foi a viagem ao continente europeu, onde o grupo teve a oportunidade de tocar na Itália e em Portugal. No Vaticano, os integrantes da orquestra realizaram um concerto privado para o Papa Francisco, autoridade máxima do catolicismo. “Tocar para o Papa foi uma experiência fantástica. Ainda menino vi um concerto de Natal, apresentado no Vaticano pela Filarmônica de Berlim. Pensei: 'Um dia estarei lá!' e Deus nos permitiu isso”, revelou o maestro.
De acordo com Nilson Galvão, a Orquestra Criança Cidadã vai manter a estratégia de ampliar a circulação. No roteiro, apresentações pelo interior de Pernambuco, Região Nordeste e concertos na França e em Israel. “A meta até 2016 é fazer pelo menos 20 concertos fora da cidade. Queremos circular mais pelo Nordeste e Pernambuco, mas sem deixar as oportunidades de lado. Já estamos planejando novos concertos internacionais, que devem ser realizados em Paris e Jerusalém”, adiantou o maestro, enfatizando que a orquestra também irá focar no crescimento artístico dos alunos.
“Ouso dizer que o projeto é tudo para esses meninos. Existe um divisor de águas na vida destas crianças: antes e depois da Orquestra Criança Cidadã. Com a ajuda dos nossos parceiros, ajudamos a transformar a história dessa garotada e não vai parar por aqui. Vamos batalhar para que os sonhos deles possam se concretizar”, concluiu Nilson Galvão.