Se nas últimas edições dos Jogos Olímpicos o protagonismo do evento ficou com dois homens, Michael Phelps e Usain Bolt, desta vez o bastão deve ir para duas mulheres: Katie Ledecky, da natação, e Simone Biles, da ginástica artística. Ambas devem ampliar suas coleções de medalhas olímpicas e sair de Tóquio como as maiores atletas da Olimpíada. Além disso, a tenista japonesa Naomi Osaka é a maior estrela da delegação dos anfitriões dos Jogos. Essa troca de reinado se dá em um momento favorável às mulheres no esporte.
No Japão, a participação feminina será recorde na quantidade e proporção de atletas e mostra um caminho sem volta para a igualdade de gêneros no esporte. E isso só foi possível porque o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu diminuir as vagas masculinas e ampliar a oferta de modalidades para as mulheres.
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Do contingente de quase 11 mil atletas, 48,8% do total são mulheres, enquanto os homens representam 51,2%. A previsão é que na próxima edição dos Jogos, em Paris, em 2024, as vagas sejam divididas pela metade, levando a uma participação recorde das mulheres nos Jogos. E até por isso o fato de as grandes estrelas em Tóquio serem mulheres aumenta essa expectativa pela igualdade.
"Isso é incrível e acho que podemos crescer ainda mais. Eu sou de uma modalidade que quase não é praticada por mulheres no Brasil e meu objetivo é inspirar outras garotas. Quero poder olhar para trás e ver que ajudei outras atletas a chegarem longe", comenta Ana Sátila, atleta brasileira da canoagem slalom. "As mulheres podem fazer muita história nesta edição", continua.
Se nos Jogos do Rio-2016 a ginasta Simone Biles, dos Estados Unidos, já chocou o mundo ao ganhar quatro medalhas de ouro e uma de bronze, em Tóquio ela tem tudo para superar esse feito e sair da Olimpíada como o grande nome do evento. A expectativa em torno dela é tão grande que a ginástica artística foi incluída como evento de alta demanda, como a cerimônia de abertura ou final masculina do basquete, por exemplo.
Quem também deve sair gigante dos Jogos é a nadadora Katie Ledecky, dos Estados Unidos. No Rio, em 2016, ela subiu cinco vezes ao pódio, sendo quatro vezes no lugar mais alto. Agora no Japão, ela tem tudo para no mínimo igualar sua marca e aumentar a quantidade de conquistas na sua carreira. Será a grande estrela na piscina do Centro Aquático.
Já Naomi Osaka é vista no Japão como um fenômeno do esporte ao se tornar a primeira atleta do país a ganhar um torneio Grand Slam de simples, quando faturou o US Open de 2018 - feito que repetiria em 2020. Dona também dos títulos do Aberto da Austrália (2019 e 2021), ela faz tanto sucesso no Japão que tem até a sua própria linha de bonecas Barbie. Para os Jogos Olímpicos, é forte candidato ao ouro.
Esse protagonismo feminino nos Jogos está motivando campanhas nas redes sociais para ampliar as notícias sobre mulheres no esporte. A Vivo, empresa de telefonia, criou o projeto "4%", numa referência a dados na Unesco que apontam que apenas 4% das notícias esportivas no mundo são sobre mulheres. Para ampliar essa visibilidade, a companhia criou um bot no Twitter, o @4porcento_bot. "Quando marcado por um usuário ao ver tweets sobre o universo esportivo masculino, responderá à publicação com uma sugestão de matéria sobre o esporte feminino produzida por perfis especializados", diz.
O movimento "JogueComElas" está tentando reverter essa situação e a partir disso inspirar novas atletas a seguirem os passos de Biles e Ledecky, por exemplo. Na delegação brasileira, o número de mulheres também é recorde para uma edição realizada fora do País. Algo bem diferente do que ocorreu décadas atrás, nos Jogos de 1964, também disputados em Tóquio.
Na ocasião, Aida dos Santos era a única mulher na delegação brasileira junto com outros 67 homens. Para piorar, sua situação era inferior a de todos os outros. "Tenho lembranças boas por participar de uma Olimpíada, mas tristes porque estava sozinha na delegação em Tóquio, sem técnico, sem ninguém da minha modalidade, sem material para competir. Chorei muito", contou ao Estadão em entrevista no final do ano.
Na disputa, Aida se machucou e contou com a ajuda de uma atleta de Cuba, que lhe ajudou com um médico de sua delegação. Recuperada, ela ficou na quarta colocação no salto em altura, melhor resultado do Brasil na modalidade por mais de 30 anos. Se ela tivesse tido o mínimo apoio, talvez tivesse conquistado a medalha. A história de superação da atleta virou documentário e ela até ganhou este ano da Centauro o "uniforme que nunca existiu", confeccionado especialmente para ela.
Bruna Takahashi, atleta do tênis de mesa do Brasil, vê a história de Aida como inspiração. "A gente sempre teve potencial, mas não enxergavam isso. A gente pode e tem sim força. A Simone Biles mostrou isso, agora só se fala das medalhas que ela ganhou. Na época da Aida as coisas não eram fáceis, imagina se ela tivesse tido a oportunidade que nós temos hoje", diz.
A trajetória de Aida dos Santos serve de inspiração hoje para as 142 mulheres do Time Brasil que representarão o País em Tóquio. E também mostra que as novas estrelas femininas dos Jogos chegaram até aqui pelas portas que foram abertas pelas gerações passadas, geralmente tendo de passar por cima de preconceitos e machismos. Agora, é hora delas ocuparem o Olimpo das estrelas e brilharem.