Black Mirror, uma das séries mais famosas do mundo, atualmente disponível na Netflix, voltou neste mês de junho com episódios inéditos. A obra de ficção científica tem a criação de Charlie Brooker e pinta um quadro distópico da relação da sociedade com a tecnologia. Contos satíricos e alegóricos ambientados em mundos futuros apresentam personagens que se tornaram vítimas da tecnologia que os cerca, ou têm uma obsessão doentia pela mídia.
Outros são metáforas extremas para um "apocalipse tecnológico" iminente, que poderia muito bem estar acontecendo nos dias atuais. A nova temporada, por exemplo, iniciou com um episódio sombrio sobre o uso da tecnologia deepfake e o poder dos internautas sobre os próprios direitos de imagem.
##RECOMENDA##
LeiaJá também
- - > ‘Deepfake: entenda tecnologia abordada em Black Mirror’
A coisa assustadora sobre Black Mirror é que, no que diz respeito à ficção científica, a série consegue ser verossímil. Todos os dias, novas tecnologias se desenvolvem e tecnologias existentes são atualizadas, potencialmente aproximando o mundo real das realidades macabras de Brooker. Conheça algumas das tecnologias vistas na série e que também são encontradas na vida real (descrição por episódio, contém spoilers).
USS Callister (episódio 1, temporada 4)
Robert Daly (Jesse Plemons) cria seu próprio mundo virtual povoado por clones digitais criados a partir do DNA de seus colegas de trabalho. Neste mundo virtual estilo Star Trek, ele governa seus clones virtuais presos com uma mão de ferro. Existem dois tipos de tecnologia em jogo neste episódio, ambos já existentes. A clonagem baseada em DNA está evoluindo a cada ano e embora a consciência ainda não tenha sido clonada, os cientistas já clonaram fisicamente uma ovelha (Dolly) e outros animais desde então.
A outra tecnologia que se destaca é o ambiente virtual imersivo. E em sentido amplo, isso existe em muitas formas atuais. No contexto do USS Callister em relação à tecnologia de hoje, os ambientes virtuais e os MMORPGs são atualmente um fenômeno global, com milhões de jogadores vivendo vidas imersivas completamente separadas do mundo real, em espaços que se tornam mais realistas a cada lançamento e que podem trocar informações pessoais com os players.
Rachel, Jack e Ashley Too (episódio 3, temporada 5)
A consciência da popstar Ashley (Miley Cyrus) é carregada em "Ashley Too", uma pequena versão robótica dela pertencente à fã adolescente Rachel (Angourie Rice). E Ashley Too, Rachel e sua irmã Jack (Madison Davenport) embarcam em uma missão de resgate para salvar a verdadeira Ashley, que foi colocada em coma induzido por sua tia.
Enquanto Ashley está em coma, seus captores usam o "Vocal Mimicry Software" para reproduzir sua voz cantada. No mundo real de hoje, tecnologias emergentes como "Deep Voice" afirmam ser capazes de clonar uma voz por amostragem de apenas 3,7 segundos de áudio. Mais tarde, uma simulação visual de Ashley é criada para uma performance, imitando suas características físicas e maneirismos. A tecnologia "Deepfake" já está fazendo isso em um nível um pouco mais rudimentar. O upload do cérebro ainda é ficção científica, mas organizações como a Carboncopies estão trabalhando nisso.
Quinze Milhões de Méritos (episódio 2, temporada 1)
Os Quinze Milhões de Méritos da primeira temporada apresentam algumas tecnologias que já estão por aí no mundo. Bing Madsen (Daniel Kaluuya) e todos os outros personagens consomem suas mídias e interagem por meio de telas touchless, que já apareceram em diversos dispositivos do mundo real. A comida que os personagens comem é "cultivada em uma placa de Petri", como mencionado por Swift (Isabella Laughland), e a produção cultivada a partir de células já está se tornando uma realidade, com muitas start-ups em fase de teste.
O episódio também mostra todos andando de bicicleta ergométrica para alimentar o mundo ao seu redor e ganhar seus "méritos" (a versão deste mundo do dinheiro). Esse é um conceito que está decolando devido a novas tecnologias ecologicamente corretas que usam a energia cinética gerada pelo homem para criar soluções elétricas sustentáveis.
Odiados Pela Nação (episódio 6, temporada 3)
Odiados pela nação se passa em um mundo onde a humanidade desenvolveu abelhas robóticas alimentadas por inteligência artificial para complementar a população decrescente de abelhas reais. Mas as abelhas são hackeadas e usadas como armas do crime.
Nos dias atuais, um grupo de cientistas da Delft University of Technology, na Holanda, pretende neutralizar nossa população de abelhas em declínio com o robótico "Delfly". O Delfly é um drone parecido com uma abelha, projetado para polinizar plantas e colheitas em benefício da inestimável indústria agrícola da Holanda. Não há nenhum sinal deles matando ninguém ainda.
Manda Quem Pode (episódio 3, temporada 3)
Kenny (Alex Lawther) e Hector (Jerome Flynn) são vítimas de um malware que sequestra suas webcams e faz com que um chantagista os envie em uma série de tarefas assustadoras sob a ameaça de que vídeos comprometedores deles sejam divulgados. A premissa é muito baseada na tecnologia atual e nos métodos de hacking que são frequentemente usados por chantagistas hoje.
Um incidente envolveu Cassidy Wolf, uma ex-Miss Teen USA, que foi vítima de um hacker de chantagem que usou malware para invadir o computador em seu quarto. O hacker ameaçou liberar imagens comprometedoras da rainha da beleza, a menos que ela tirasse a roupa para ele na câmera.
Toda a Sua História (episódio 3, temporada 1)
Liam Foxwell (Toby Kebbell) vive em uma sociedade na qual as pessoas têm "grãos" ou chips implantados atrás das orelhas. Os implantes registram tudo o que os usuários veem e ouvem, permitindo que eles "refaçam", reproduzindo suas memórias através dos olhos ou de um monitor.
O Neuralink proposto por Elon Musk interage diretamente com o cérebro humano através de uma série de pequenos sensores, implantados usando cirurgia micro-robótica "minimamente invasiva". O implante envia dados para um computador ou smartphone para diversas finalidades. Musk afirma que o Neuralink tem benefícios potencialmente de longo alcance para o avanço da medicina e o tratamento de doenças como o Parkinson, mas será que a humanidade está pronta para se tornar íntima com a tecnologia?