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Dois homens foram baleados e mortos em supostos confrontos com policiais militares durante a retomada da Operação Escudo, neste domingo, 28, no Guarujá, no litoral de São Paulo. Uma nova edição da operação está em andamento desde a sexta-feira, 26, depois que o soldado da Polícia Militar Marcelo Augusto da Silva foi assassinado a tiros na Via Anchieta, em Cubatão.

A primeira Operação Escudo aconteceu entre julho e setembro do ano passado, após o assassinato de um policial, e resultou na morte de 28 pessoas pela polícia; a Secretaria defende a legalidade da atuação policial na região. Dados divulgados pelo governo na sexta-feira, 26, mostraram que as mortes cometidas por policiais em serviço subiram 39,6% em 2023 na comparação com 2022.

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De acordo com a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), na madrugada de domingo, policiais militares realizavam patrulhamento na Vila Zilda, bairro da periferia do Guarujá, quando se depararam com duas motocicletas em alta velocidade.

Segundo a pasta, os condutores das motos estariam em atitudes suspeitas e, quando houve uma tentativa de abordagem, na Avenida Prefeito Raphael Vitiello, eles teriam feito disparos de arma de fogo na direção dos policiais. Os PMs revidaram, baleando os suspeitos.

Acionada, uma equipe do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) constatou a morte dos dois homens. Eles não tiveram a identidade divulgada.

Com a dupla, segundo o registro policial, foram apreendidos um revólver e uma pistola. O caso foi registrado na delegacia da Polícia Civil do Guarujá como mortes decorrente de intervenção policial e excludente de ilicitude, ou seja, os policiais teriam agido no cumprimento do dever.

A investigação será feita pelo setor de homicídios do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santos.

Na noite de sábado, 27, policiais do 2º Batalhão de Operações de Polícia (Baep) que participavam da Operação Escudo prenderam um suspeito e apreenderam grande quantidade de drogas em um apartamento, em São Vicente, na Baixada Santista.

Localizado na Cidade Náutica, o imóvel funcionava como entreposto para distribuição da droga, segundo a polícia. Os policiais apreenderam 15,6 kg de maconha, além de cocaína e crack, mais de R$ 11 mil em cédulas e um automóvel que seria usado para o tráfico.

Em nota, a SSP informou que desencadeou na sexta-feira, 26, a Operação Escudo na região do litoral sul paulista com o objetivo de prender os criminosos que assassinaram o soldado Marcelo Augusto da Silva, do 38º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, na madrugada do dia 26, em Cubatão.

"A operação conta com policiais do batalhão local, em apoio ao batalhão de choque", disse. Ainda não há um balanço da nova fase da operação.

O policial, de 28 anos, foi abordado por criminosos quando retornava de moto para São Paulo, após ter trabalhado na Operação Verão, que reforça o policiamento no litoral durante a alta temporada.

O crime aconteceu no trecho de Cubatão da Imigrantes. A polícia recolheu dez cápsulas de vários calibres espalhadas pelo asfalto. A moto do policial não foi levada, mas sua arma desapareceu. Na ocasião, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse que o crime não ficaria impune.

Conforme a SSP, as Operações Escudo são deflagradas todas as vezes nas quais criminosos atentam contra o Estado por meio de ataques a policiais. "Têm como objetivo restabelecer a ordem pública e a sensação de segurança na comunidade local, além de identificar e prender os responsáveis pelas ações criminosas contra agentes de segurança paulistas", afirmou.

Letalidade em alta

Reportagem do Estadão, com base em dados do Instituto Sou da Paz, mostrou que as mortes cometidas por policiais militares e civis em serviço cresceram 39,6% no Estado de São Paulo. Foram registrados 384 óbitos desse tipo, ante 275 no ano anterior. Em contrapartida, as mortes cujos autores eram agentes de segurança de folga recuaram 17,8%: redução de 146 para 120.

Em nota, a SSP-SP disse que "investe continuamente em treinamento e aquisição de equipamentos" para reduzir a letalidade. Também afirmou que ocorrências dessa natureza são "rigorosamente investigadas" e encaminhadas para análise do Ministério Público e da Justiça.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do homem preso por tráfico em São Vicente.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), prestaram homenagens nesta segunda-feira, 16, a policiais da Rota que participaram da Operação Escudo. A ação contra o crime organizado no litoral paulista foi deflagrada após o assassinato do soldado Patrick Reis, em 27 de julho, no Guarujá, e resultou na morte de 28 civis.

Elogiada pelas autoridades no evento, ela também foi alvo de críticas após suspeitas de execuções e prisões arbitrárias. Ao menos 11 relatos do tipo foram reunidos pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH).

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No evento desta segunda-feira, 16, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, negou qualquer irregularidade. O secretário, que é oficial da reserva da PM de São Paulo, disse que todas as ações na Baixada Santista foram realizadas "dentro dos limites da lei".

"Esses policiais aqui, muito deles voluntários, desceram para o litoral para combater o crime organizado. Infelizmente, 28 criminosos resistiram a prisão e foram neutralizados em operações legítimas", afirmou Derrite.

O governador do Estado, Tarcísio de Freitas, disse que ouve apelos da população por "Rota na rua" e que os paulistas acreditam na "excelência" do trabalho das forças de segurança pública. O governador e o comandante da PM, Cássio Araújo de Freitas, lembraram o soldado Reis em seus discursos. A viúva do militar esteve presente na tribuna.

Bolsonaro cumprimentou os policiais, acenou e tirou fotos com dezenas de apoiadores no evento, mas não quis discursar e nem falar com a imprensa. Em alguns momentos, distanciou-se de Tarcísio no pátio do 1° Batalhão e concentrou as atenções do público.

A cerimônia comemorou o 53° aniversário da Rota. Houve entrega de medalhas a dezenas de integrantes e também contou com a presença do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que tenta o apoio de Bolsonaro e Tarcísio na disputa pela reeleição à capital paulista no ano que vem.

A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou nesta terça-feira, 5, o fim da Operação Escudo na Baixada Santista. Desde o início da ação, em 28 de julho, a Polícia Militar matou 28 pessoas no litoral paulista.

Um dia antes, o soldado Patrick Bastos Reis, das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de elite da PM paulista, foi morto enquanto realizava patrulhamento na Vila Zilda, no Guarujá. Para prender os responsáveis pela morte do policial, foi deflagrada essa operação.

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O anúncio do fim da Operação Escudo, nesta terça-feira, ocorreu no mesmo dia em que foi publicada decisão do juiz Renato Augusto Pereira Maia, da 11ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, determinando que o governo Tarcísio de Freitas se manifeste, em até 72 horas, sobre o pedido para que todos policiais envolvidos na ação sejam obrigados a usar câmeras corporais.

Ação impetrada pela Defensoria Pública de São Paulo e Conectas Direitos Humanos requereu que, caso a eventual ordem para uso obrigatório das câmeras não fosse cumprida, a Justiça ordenasse ao governo que suspendesse imediatamente a ofensiva. Há relatos de que a operação teria feito uso excessivo das forças de segurança, com execuções e torturas, o que é negado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado.

Na segunda-feira, já havia sido publicada no Diário Oficial a troca no comando da Rota. Foi anunciada a promoção do tenente-coronel Leonardo Akira Takahashi no 1º Batalhão de Policiamento de Choque (BPChq) e a transferência de Rogério Nery Machado para o 4º BPChq.

Desde 28 de julho, 958 pessoas foram presas na Operação Escudo. Desse total, 382 eram procurados pela Justiça e estavam foragidas. No período, as forças de segurança apreenderam 117 armas e quase 1 tonelada de entorpecentes.

"Esperamos que novas operações não sejam necessárias, mas, caso se façam necessárias, caso o Estado seja afrontado, em qualquer ponto, operações como a Escudo serão desencadeadas", disse o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.

Relembre as operações policiais mais letais da história de São Paulo

- Carandiru (outubro, 1992): 111 pessoas morreram na intervenção policial na Casa de Detenção, localizada na zona norte de São Paulo. A ação foi feita para desmobilizar uma rebelião de presos. 30 anos depois, ninguém foi preso;

- Castelinho (março, 2002): uma ação da PM resultou na morte de 12 pessoas em uma praça de pedágio da Rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho. Os 53 policiais envolvidos foram absolvidos;

- Crimes de maio (maio, 2006): 505 civis e 59 agentes públicos foram mortos por arma de fogo em um intervalo de dez dias, segundo levantamento da Conectas Direitos Humanos em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Período foi marcado por escalada de violência do PCC;

- Morumbi (dezembro, 2017): Dez pessoas, suspeitas de integrar uma quadrilha de roubo a residências, morreram em um tiroteio com policiais civis no Jardim Guedala, região do Morumbi. Quatro policiais ficaram feridos por estilhaços;

- Guararema (abril, 2019): Onze suspeitos foram mortos pela polícia durante tentativa de assalto a dois bancos em Guararema, na região metropolitana de São Paulo.

Ao menos um terço das mortes de civis registradas na Operação Escudo envolveu policiais militares que não usavam câmeras corporais. Em seis dos 16 casos, não há imagens dos equipamentos, segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. As bodycams, que começaram a ser implementadas há três anos, estão presentes em metade dos batalhões no Estado. Entre eles, a Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), um dos batalhões de elite da PM.

Conforme dados oficiais, a Operação Escudo, deflagrada no fim de julho após o assassinato do policial da Rota Patrick Reis, reúne cerca de 600 policiais, de diferentes batalhões. A ação policial teve início no Guarujá, no litoral paulista, e depois se estendeu para Santos e Caraguatatuba, onde policiais foram alvo de disparos na última semana. A previsão é de que a operação dure pelo menos um mês.

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A secretaria afirma que, das 16 mortes por intervenção policial confirmadas oficialmente até aqui, dez tiveram envolvimento de agentes que usavam câmeras corporais. A pasta diz ter enviado imagens de sete desses casos para averiguação de órgãos de controle.

Logo após o início da Operação Escudo, que já é a mais letal do Estado pelo menos desde 2006, moradores relataram indícios de execuções por parte da Polícia Militar. Como mostrou o Estadão, uma família relata que uma das vítimas foi morta dentro de casa em Santos. Outra diz que um vendedor ambulante foi executado com nove tiros.

Diante dos relatos, a Defensoria Pública do Estado pediu, na última semana, o "fim imediato" da operação. Cobrou também o uso de câmeras corporais no uniforme de todos os PMs e civis envolvidos na operação. Os equipamentos passaram a ser uma demanda central para apurar as circunstâncias das mortes.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) afirmou que "já começou a receber as imagens das câmeras corporais dos agentes que atuaram no âmbito da Operação Escudo". O órgão não especificou quando o envio começou ou quais das 16 mortes por intervenção policial as gravações retratam.

"Os promotores designados pela Procuradoria-Geral de Justiça para apurar os desdobramentos da intervenção na Baixada Santista aguardam o envio de outros dados solicitados à corporação, que vem colaborando para o esclarecimento dos fatos", afirmou, em nota, o Ministério Público do Estado.

Já a Ouvidoria das Polícias do Estado, que tem tido papel central na coleta de denúncias de agressão, tortura e execução pela população, disse que ainda não recebeu as imagens. Na última semana, o órgão relatou que a Secretaria da Segurança dificultou o acesso a boletins de ocorrência. A pasta nega.

Rota foi um dos primeiros batalhões a adotar câmeras em SP

A instalação do Programa Olho Vivo foi montada em fases. "Começou em agosto de 2020, com o anúncio do então governador João Doria (então no PSDB). Naquele momento, pouco mais de 500 câmeras foram distribuídas, mas eram câmeras que a polícia já tinha", lembra Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em fevereiro do ano seguinte, o governo fechou contrato com a Axon, atual fornecedora, e expandiu o programa para 15 batalhões. "Um deles foi a Rota", diz a pesquisadora. Desde então, policiais do grupo de elite da PM passaram a contar com os equipamentos.

A pesquisadora destaca que o Estado foi pioneiro em adotar a gravação ininterrupta das imagens - em outros locais, a captação costuma ocorrer apenas quando o sistema é acionado por um agente ou uma central. O objetivo era depender menos de aspectos subjetivos.

"O policial só pode retirar a câmera quando vai se alimentar ou quando vai ao banheiro. De resto, ele tem de usar o tempo todo", disse Samira. "Não tem nenhum tipo de desculpa para que a Rota não utilizasse."

A pesquisadora afirma que a Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas), que também participa da Operação Escudo, é outro batalhão que recebeu os equipamentos. A Secretaria da Segurança Pública não informou, porém, quantos dos agentes atuando no Guarujá usaram as COPs durante as incursões.

Atualmente, 63 batalhões (quase metade do total) usam as COPs. Como reflexo disso, as mortes decorrentes da intervenção de agentes em serviço caíram 62,7% entre 2019 e 2022, segundo estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Unicef (fundo da ONU para a infância).

Em batalhões que já possuem a tecnologia, a queda chegou a 76,2%, mais do que o dobro da redução observada no resto da corporação (33,3%). Mais de 10 mil câmeras corporais já foram adquiridas pelo governo, segundo balanço mais recente.

A Operação Escudo chegou ao total de 160 prisões no sábado (5) de acordo com o balanço mais recente divulgado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo. Iniciada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no dia 28, em resposta ao assassinato do soldado Patrick Bastos Reis, da Rota, ela também resultou em 16 mortes e já é a mais letal do Estado desde 2006.

Nos nove dias desde que a operação começou na Baixada Santista, 134 suspeitos foram presos pela Polícia Militar e outros 26 pela Polícia Civil. Ao todo, quase 480 quilos de drogas ilícitas também foram apreendidas por agentes das duas corporações, além de 22 armas de fogo, entre pistolas e fuzis.

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Apenas no último sábado, a Polícia Militar prendeu 13 novos suspeitos, dos quais sete já estavam foragidos e eram procurados pela Justiça, segundo a SSP.

No mesmo dia, a Polícia Civil do Guarujá finalizou o inquérito sobre o assassinato do soldado da Rota e indiciou três pessoas pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio e associação ao tráfico de drogas.

Os três suspeitos de envolvimento na morte do policial estão presos desde a quarta-feira, 2, quando o último deles se entregou à Polícia Militar. Ele é apontado como irmão do homem responsável pelo disparo que matou Reis.

A Operação Escudo resultou também em uma série de denúncias de agressões e torturas, que ainda estão sendo apuradas. A quantidade de relatos chama a atenção de órgãos de controle.

Na última semana, a Defensoria Pública do Estado pediu o "fim imediato" da ação policial no Guarujá e que todos os agentes envolvidos nas 16 mortes de civis sejam temporariamente afastados.

A versão da SSP afirma que elas decorreram de conflitos e que os casos são investigados.

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