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O Papa Francisco convocou para outubro de 2018 um sínodo, ou assembleia de bispos de todo o mundo, sobre os jovens e os novos modelos de vida, anunciou o Vaticano. Os bispos de todas as regiões do planeta se reunirão no Vaticano para debater sobre as mudanças que afetam a juventude, a fé e o "discernimento vocacional".

A decisão do pontífice foi adotada após consultas às conferências episcopais e depois de ouvir as observações dos padres sinodais nas assembleias passadas, dedicadas à família. A Igreja Católica deseja "acompanhar os jovens em seu caminho existencial até a maturidade", de maneira a enfrentar a crise de vocações que a afcta atualmente.

Em muitos países caiu o número de jovens que desejam ser padres ou dedicar-se à vida religiosa, um fenômeno que preocupa a hierarquia da Igreja Católica. Em outubro de 2014 e 2015, durante os dois sínodos dedicados à família, as divisões dentro da Igreja ante as mudanças sociais se tornaram evidentes.

Após as deliberações, o papa Francisco divulgou em abril sua segunda exortação apostólica, "Laetitia Amoris" ("A alegria do amor"), um documento que estabelece as diretrizes da Igreja sobre a família, o amor e o casamento.

O documento, fruto dos dois encontros, convida a integrar na vida da Igreja as "famílias feridas" e os "casados em segundas núpcias", um princípio que deverá ser aplicado caso por caso.

O Sínodo de Bispos sobre a Família votou com ampla maioria um documento final de 94 parágrafos, que propõe "a integração" na Igreja dos divorciados que voltarem a se casar, após a análise de "caso a caso".

O texto foi entregue ao papa Francisco, que o divulgou ao público imediatamente.

Os 270 "padres sinodais", entre bispos e cardeais, que representam os bispos de todo o mundo, aprovaram a suspensão de várias proibições aos divorciados que se casarem novamente, entre elas a de serem padrinhos de batismo e de casamento.

Os padres sinodais insistem, contudo, em que é necessário um "discernimento", um exame "caso a caso", para autorizar o acesso aos sacramentos, como a comunhão e a confissão.

Com isso, os bispos fizeram algum movimento no sentido de uma Igreja mais acolhedora com os casais que vivem juntos, com os homossexuais e com os católicos em situação irregular, ecoando o pedido do papa argentino a favor de uma instituição que pare de julgar e de condenar.

Três parágrafos tiveram um consenso menor - sobretudo, os de número 85 e 86, dedicados a temas bastante sensíveis para a Igreja Católica. Superando a maioria mínima necessária de dois terços (177), os parágrafos 85 e 86 estão entre os menos votados, com 178 votos a favor e 80 contra.

Nesses parágrafos, os bispos sinodais propõem que "os batizados que tiverem se divorciado e voltado a se casar civilmente sejam reintegrados à comunidade cristã, na medida do possível, evitando gerar escândalo". O texto não especifica se poderão realizar a comunhão.

"Os divorciados que voltarem a se casar não devem se sentir excomungados e podem viver e envelhecer como membros vivos da Igreja, sentindo-a como uma mãe que acolhe sempre", acrescenta o texto.

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, lembrou que se trata de propostas dirigidas ao papa, que decidirá se será necessário elaborar um documento papal sobre a família.

"Não se pode negar que, em algumas circunstâncias, a responsabilidade (da crise do casal) pode ser menor, ou anulada (...) As consequências de alguns atos não podem recair sobre todos por igual", defendem os prelados, ao se referirem aos divorciados.

No encerramento do sínodo, o papa Francisco elogiou a liberdade de expressão que reinou ao longo das três semanas de trabalho e criticou abertamente "os métodos não de todo benévolos" empregados pelos setores conservadores contra suas propostas de reforma.

"Um sínodo 'sem vencedores nem vencidos', por não oferecer saídas concretas", resumiu o diretor da Religião Digital, José M. Vidal, analisando a votação.

"Como faz sempre, a Igreja buscou a comunhão. [...] Mantém-se em critérios gerais e em orientações genéricas", completou Vidal.

Decepção para alguns

O espinhoso tema da homossexualidade foi abordado em apenas um parágrafo, no qual se reitera que a Igreja "respeita" os homossexuais, condena qualquer "discriminação injusta" e se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O restante desse parágrafo recomenda a Igreja a "acompanhar as famílias com um membro homossexual".

Para muitos dos presentes, tratar do tema da homossexualidade em uma reunião dedicada à família significou uma anomalia, enquanto para outros prelados, sobretudo africanos, o assunto continua sendo tabu.

"O que parece normal para um bispo de um continente pode ser estranho, quase um escândalo, para outro de outro continente", reconheceu o sumo pontífice.

Francisco decidiu convocar dois sínodos sucessivos sobre a família - um, em outubro de 2014, e o outro, em outubro de 2015 - para levar a Igreja a se atualizar frente às mudanças na sociedade moderna.

Na sexta-feira, em uma missa, o papa disse querer estimular a Igreja a "avaliar os tempos e a mudar com eles, permanecendo firme no Evangelho".

Sobre outro ponto importante, no Sínodo, os bispos reiteraram que a instituição aplicará "tolerância zero" em relação à pedofilia, comprometendo-se a colaborar "de forma estreita" com a Justiça.

O sínodo de bispos sobre a família votou com ampla maioria um documento final com 94 páragrafos, que propõe "a integração" na Igreja dos divorciados que voltarem a se casar, após a análise de "caso a caso".

Nos dois parágrafos dedicados a temas mais sensíveis, o consenso foi menor.

O texto foi entregue ao papa Francisco, que o divulgou ao público imediatamente.

Bispos de todo o mundo vão votar e entregar neste sábado ao Papa Francisco o relatório final de três semanas de debates sobre a família, cujo resultado pode decepcionar devido à falta de progressos sobre questões urgentes, como o divórcio e a homossexualidade.

Os 270 "padres sinodais", representando bispos de todo o mundo, escutarão primeiro a leitura do documento final após a incorporação das modificações exigidas da sexta-feira.

O texto, com cerca de 90 parágrafos numerados, deve ser adotado por uma maioria de dois terços. "É um texto moderado, aceitável para todos", adiantou na sexta-feira o cardeal indiano Oswald Gracias.

Para alguns bispos e cardeais da ala conservadora, trata-se de um documento "confuso", enquanto para outros, da ala progressista, o texto é "tímido". Os dois setores têm tido uma forte discussão sobre o acesso à comunhão dos divorciados novamente casados ​​civilmente, embora a maioria dos participantes comemoraram a discussão do assunto.

No total, 1.355 emendas foram apresentadas pelos 13 grupos linguísticos depois de quase um mês de deliberações, sinal de uma participação ativa. Um comitê de redação, composto por dez pessoas, escolhidas pelo papa, irá supervisionar o documento final para que leve em conta as diferentes almas da igreja católica atual.

Uma vez votado, o documento será apresentado ao Papa Francisco, que vai decidir como usar o texto: se vai publicá-lo ou usá-lo como base para um documento papal. O relatório é uma mensagem ou um conjunto de reflexões dirigidas ao papa "e não uma mensagem para o mundo", explicou um porta-voz.

Especialistas dizem que o papa deve usar o documento como base para sua futura exortação apostólica sobre a família.

O Papa Francisco acusou nesta quarta-feira (7) os políticos de não apoiarem a família, preferindo modelos chamados "inclusivos", mas "burocráticos" e "áridos". "Não reconhecem a família", lamentou Jorge Bergoglio diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no terceiro dia de um sínodo especificamente dedicado a este tema.

"A organização da vida comum sempre tropeça numa burocracia totalmente estranha para os laços humanos fundamentais" e os "usos sociais e políticos carregam sinais de deterioração - agressividade, vulgaridade, desprezo - que estão bem abaixo do nível de educação familiar, mesmo que mínimo", acusou.

Uma "robusta injeção de espírito familiar" na sociedade é necessária, recomendou o Papa, ressaltando que "o estilo das relações civis, econômicas, jurídicas, profissionais, cidadãs, parece muito racional, formal, organizado, mas também muito desidratado, árido, anônimo, e, por vezes, insuportável".

Este modelo "diz ser inclusivo em suas formas, mas abandona à solidão e descarta uma quantidade cada vez maior de pessoas". "As famílias sabem bem o que é a dignidade de se sentir filho ou filha, e não escravo ou estrangeiro, ou apenas um número em um cartão de identidade", observou.

O sínodo ou assembleia de bispos que será inaugurado no domingo (4) no Vaticano abordará os mesmos temas delicados que geraram, há um ano, uma forte controvérsia dentro da Igreja católica, uma batalha que marcará família católica do século XXI. A questão que mais agita os debates é a permissão de comunhão para os divorciados que se casam novamente ou que vivem uma nova união.

Este assunto suscita um debate de caráter teológico complexo, quase inexplicável para uma parte dos crentes, que não compreendem por que não se pode comungar nesta situação, como se o divorciado em uma nova união fosse um "adúltero" imperdoável. A chamada "indissolubilidade" do casamento divide a opinião de conservadores e progressistas, que chegaram a pedir modificações na doutrina para que esses católicos recebessem permissão à comunhão.

Com uma decisão astuta, o papa Francisco simplificou em setembro os procedimentos legais para a anulação do casamento e é possível que em alguns anos os casos se reduzam significativamente em todo o mundo.

Oferecer uma palavra oportuna aos casais católicos do mesmo sexo é um dos pontos em que os participantes concordaram no último sínodo. Mas, reconhecer o "valor moral" que existe entre esses casais ainda provoca discórdia. O sínodo vai condenar sem dúvida as leis que legalizam o casamento gay, bem como a chamada "teoria do gênero". Outro fenômeno muito atual que será abordado é o da família monoparental e a disseminação das barrigas de aluguel.

Uma das novidades do sínodo de 2014 foi o reconhecimento como um fenômeno muito comum entre os católicos, sobretudo entre os mais jovens, da convivência. Não é mais condenada. Há propostas para que haja um incentivo à convivência estável antes de um casamento católico, de maneira que o casal esteja consciente e certo de que se trata de uma união para sempre.

Há dois setores, muito mobilizados e identificáveis: os ultra-conservadores e os progressistas. Entre os dois sobrevive uma maioria com posições mais moderadas, matizadas segundo o assunto, com uma tendência em geral conservadora.

"O campo alemão", liderado pelos cardeais Walter Kasper e Rainhard Marx, tem o apoio de teólogos progressistas alemães, suíços, americanos. Prelados europeus, canadenses, australianos, asiáticos e latino-americanos se identificam com esse movimento. Outro grupo de prelados é hostil a qualquer mudança na doutrina, especialmente os do sul do planeta, como os africanos, apoiados pelos americanos, italianos e poloneses.

É uma batalha de alto nível entre os que defendem a mudança e aqueles que se opõem fortemente a ela. O papa Francisco deverá elaborar com base nos debates um documento papal, que geralmente não reflete a vontade da maioria. Assim foi com Paulo VI com o tema da pílula anticoncepcional em 1968. Enquanto o papa condenava seu uso em sua encíclica, a maioria dos católicos do mundo aderiu ao "cisma estendido" do cardeal Kasper

O que é um sínodo

O inventor do sínodo foi Paulo VI, há 40 anos, em 1965. Do grego, "caminhar juntos", a assembleia convida os bispos de todo o mundo a estudar os problemas da Igreja e aconselhar o papa. Não tem poder legislativo.

Este é um dos momentos mais democráticos introduzidos na instituição milenar, já que todos podem expressar livremente as suas opiniões. Enquanto decorre a portas fechadas, os jornalistas são informados por um porta-voz sobre as discussões. No final dos debates, o Papa, que costuma frequentar as reuniões, recebe um relatório, com base no qual faz uma exortação apostólica. Quarenta cardeais, 166 bispos, 22 de rito Oriental, 17 pares de leigos, 23 especialistas religiosos, 25 chefes de ministérios da Cúria (governo central) e representantes de outras confissões cristãs irão participar.

O papa Francisco inaugura neste domingo (4), no Vaticano, o segundo sínodo sobre a família, cujos debates, sobre temas espinhosos como o divórcio, o concubinato e a homossexualidade, marcarão seu pontificado.

De 4 a 25 de outubro, cerca de 400 cardeais e bispos, provenientes de todos os continentes, debaterão pela segunda vez em um ano sobre os desafios encarados pela família católica, em crise diante das mudanças da sociedade moderna. O novo sínodo será marcado pela revelação por parte de um monsenhor polonês sobre sua homossexualidade.

O padre Krysztof Olaf Charamsa resolveu assumir neste sábado sua orientação sexual e o fato de que possui um companheiro com o objetivo de, segundo ele, ajudar a Igreja a "abrir os olhos" para esta realidade.

"A Igreja está muito atrasada em relação aos conhecimentos que a humanidade alcançou", afirmou, assegurando que "não se pode esperar outros 50 anos" por uma mudança.

O episódio deverá tornar mais complicadas as discussões do sínodo. "A última palavra sobre todos estes temas é do Papa", esclareceu nesta sexta-feira em uma coletiva de imprensa o cardeal Lorenzo Baldissieri, secretário-geral do Sínodo. "Estamos no mar e há muitas turbulências", reconheceu.

Uma série de questionários enviados a pedido do Papa às dioceses de todo o mundo colocaram em evidência a distância entre a doutrina severa da Igreja e a prática dos fiéis.

O primeiro sínodo ou assembleia de bispos sobre a família, celebrado há um ano, revelou as profundas tensões e divergências que reinam dentro da Igreja católica, apesar de compartilhar uma série de conceitos básicos.

Os 360 "padres sinodais" convidados pelo Papa, desta vez sabiamente escolhidos entre conservadores e progressistas, debaterão sobre temas delicados, sem a obrigação de chegar a uma conclusão. Pela primeira vez 18 casais participarão dos debates, que deverão apresentar sua própria visão como leigos diretamente envolvidos.

Para o Papa de origem argentina, a família tradicional está vivendo uma crise profunda, que afeta o conjunto da sociedade e em particular a Igreja, de cujas diretrizes oficiais muitos fiéis se afastaram.

"A aliança entre o homem e a mulher é a resposta aos desafios do mundo atual, sendo, por sua vez, modelo da gestão sustentável da criação", afirmou na quarta-feira o Papa durante a audiência geral no Vaticano.

Francisco, que se apresenta como um religioso aberto ao diálogo, disposto a ouvir as partes, é um conservador em assuntos doutrinários. Embora tenha reconhecido recentemente que é justo e necessário que um casal se separe quando há violência, reiterou em seus quase três anos de pontificado a condenação ao aborto, ao casamento homossexual e à eutanásia, embora com um tom menos agressivo e reivindicativo em comparação com seus antecessores.

Choque de expectativas

O principal conflito que os bispos enfrentarão gira em torno dos divorciados que voltam a se casar. Para a Igreja o casamento é indissolúvel e não reconhece o divórcio civil, razão pela qual não permite que os católicos divorciados que voltam a se casar recebam a comunhão.

Livros, petições, simpósios de um lado e de outro pedem de um lado maior flexibilidade e do outro exigem a inviolabilidade da doutrina.

Uma petição lançada há vários dias na página Change.org, a pedido de vinte teólogos de todo o mundo, solicita ao Papa e ao Sínodo que autorize a comunhão aos divorciados que voltam a se casar. A petição já superou as dez mil assinaturas.

Reina um clima tenso, com príncipes da Igreja que se acusam mutuamente. Muitos temem que no decorrer deste ano tenha se constituído um núcleo duro, "dedicado mais a frear que a propor" reformas, afirmaram à AFP fontes religiosas.

No início de setembro, com um golpe astuto, o Papa simplificou o procedimento para a nulidade do casamento, que também será gratuito, resolvendo antecipadamente um dos problemas sobre o tapete.

A reforma democratizou o trâmite, mas não modificou os motivos que justificam as anulações, assunto que será abordado durante o sínodo.

Alguns setores progressistas manifestaram suas dúvidas sobre o resultado do sínodo e temem que o Papa das reformas e da renovação acabe por decepcioná-los. "Não entendo a estratégia do Papa. Por um lado encoraja o debate e por outro parece encerrá-lo", comentou recentemente um vaticanista americano.

Os grandes temas que fazem muitos católicos sofrerem, como a comunhão dos divorciados ou a discriminação dos casais com o mesmo sexo, podem cair no esquecimento. Francisco deverá elaborar, se assim decidir, um documento Papal que para muitos observadores marcará a direção que seu pontificado tomará.

O Papa dos pobres, das periferias, o pacificador da América por seu papel em Cuba, Estados Unidos e Colômbia, tem agora a tarefa de conciliar setores contrários dentro da mesma Igreja, além de oferecer perdão e misericórdia, como anunciou ao lançar o Jubileu ou Ano Santo a partir de 8 de dezembro deste ano.

O Papa Francisco abre no próximo domingo, no Vaticano, o segundo sínodo sobre a família, cujos debates, sobre temas espinhosos, como o divórcio, o concubinato e a homossexualidade, marcarão seu pontificado.

De 4 a 25 de outubro, cerca de 400 cardeais e bispos, provenientes de todos os continentes, debaterão pela segunda vez em um ano sobre os desafios encarados pela família católica, em crise diante das mudanças da sociedade moderna.

"A última palavra sobre todos estes temas é do Papa", esclareceu nesta sexta-feira em uma coletiva de imprensa o cardeal Lorenzo Baldissieri, secretário-geral do Sínodo. "Estamos no mar e há muitas turbulências", reconheceu.

Uma série de questionários enviados a pedido do Papa às dioceses de todo o mundo colocaram em evidência a distância entre a doutrina severa da Igreja e a prática dos fiéis.

O primeiro sínodo ou assembleia de bispos sobre a família, celebrado há um ano, revelou as profundas tensões e divergências que reinam dentro da Igreja católica, apesar de compartilhar uma série de conceitos básicos.

Os 360 "padres sinodais" convidados pelo Papa, desta vez sabiamente escolhidos entre conservadores e progressistas, debaterão sobre temas delicados, sem a obrigação de chegar a uma conclusão.

Pela primeira vez 18 casais participarão dos debates, que deverão apresentar sua própria visão como leigos diretamente envolvidos.

Para o Papa de origem argentina, a família tradicional está vivendo uma crise profunda, que afeta o conjunto da sociedade e em particular a Igreja, de cujas diretrizes oficiais muitos fiéis se afastaram.

"A aliança entre o homem e a mulher é a resposta aos desafios do mundo atual, sendo, por sua vez, modelo da gestão sustentável da criação", afirmou na quarta-feira o Papa durante a audiência geral no Vaticano.

Francisco, que se apresenta como um religioso aberto ao diálogo, disposto a ouvir as partes, é um conservador em assuntos doutrinários.

Embora tenha reconhecido recentemente que é justo e necessário que um casal se separe quando há violência, reiterou em seus quase três anos de pontificado a condenação ao aborto, ao casamento homossexual e à eutanásia, embora com um tom menos agressivo e reivindicativo em comparação com seus antecessores.

Choque de expectativas

O principal conflito que os bispos enfrentarão gira em torno dos divorciados que voltam a se casar.

Para a Igreja o casamento é indissolúvel e não reconhece o divórcio civil, razão pela qual não permite que os católicos divorciados que voltam a se casar recebam a comunhão.

Livros, petições, simpósios de um lado e de outro pedem de um lado maior flexibilidade e do outro exigem a inviolabilidade da doutrina.

Uma petição lançada há vários dias na página Change.org, a pedido de vinte teólogos de todo o mundo, solicita ao Papa e ao Sínodo que autorize a comunhão aos divorciados que voltam a se casar.

A petição já superou as dez mil assinaturas.

Reina um clima tenso, com príncipes da Igreja que se acusam mutuamente. Muitos temem que no decorrer deste ano tenha se constituído um núcleo duro, "dedicado mais a frear que a propor" reformas, afirmaram à AFP fontes religiosas.

No início de setembro, com um golpe astuto, o Papa simplificou o procedimento para a nulidade do casamento, que também será gratuito, resolvendo antecipadamente um dos problemas sobre o tapete.

A reforma democratizou o trâmite, mas não modificou os motivos que justificam as anulações, assunto que será abordado durante o sínodo. Alguns setores progressistas manifestaram suas dúvidas sobre o resultado do sínodo e temem que o Papa das reformas e da renovação acabe por decepcioná-los.

"Não entendo a estratégia do Papa. Por um lado encoraja o debate e por outro parece encerrá-lo", comentou recentemente um vaticanista americano. Os grandes temas que fazem muitos católicos sofrerem, como a comunhão dos divorciados ou a discriminação dos casais com o mesmo sexo, podem cair no esquecimento.

Francisco deverá elaborar, se assim decidir, um documento Papal que para muitos observadores marcará a direção que seu pontificado tomará.

O Papa dos pobres, das periferias, o pacificador da América por seu papel em Cuba, Estados Unidos e Colômbia, tem agora a tarefa de conciliar setores contrários dentro da mesma Igreja, além de oferecer perdão e misericórdia, como anunciou ao lançar o Jubileu ou Ano Santo a partir de 8 de dezembro deste ano.

Os quatro bispos eleitos nesta quinta-feira, 24, pela 53ª Assembleia Geral da CNBB para participar do Sínodo sobre a Família, em outubro, em Roma, vão propor que a Igreja discuta questões desafiadoras para a pastoral, como a situação dos casais divorciados que vivem uma segunda união e a acolhida aos homoafetivos. O bispo de Camaçari (BA), d. João Carlos Petrini, um dos delegados escolhidos, adiantou que esse não é o foco central, mas é um desafio que receberá atenção especial.

"Há uma expectativa de que o Sínodo dê uma resposta a essa questão, embora não se concentre nela", disse d. Petrini, até esta quinta presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, cargo agora ocupado pelo bispo de Osasco, d. João Bosco Barbosa de Sousa. O Sínodo, acrescentou d. Petrini, deverá buscar uma resposta com equilíbrio. Sob a orientação do papa Francisco, os participantes do encontro refletirão também sobre a educação dos filhos de pais separados e a das crianças adotadas por homossexuais que vivem uma união estável.

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Outro ponto a ser discutido é o acolhimento na comunidade de católicos divorciados que se casaram de novo. D. Petrini acredita que a Igreja venha a permitir que eles participem dos sacramentos, em circunstâncias especiais. "É possível que possam receber a eucaristia, com permissão do bispo, em alguns casos", observou d. Petrini.

O novo presidente da CNBB, d. Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, também eleito delegado ao Sínodo, afirmou ao Estado que a Igreja quer dar mais atenção aos casais em situação difícil. "Esperamos que, no Sínodo, possamos encontrar luz, para não só iluminar genericamente, mas oferecer orientação de ordem pastoral. É um tema que nos está preocupando e que preocupa a todos, como o papa Francisco admitiu claramente", disse d. Sérgio. A Igreja quer acolher a todos, acrescentou o arcebispo, sem que ninguém fique excluído, mas ao mesmo tempo procura oferecer, à luz do Evangelho, os valores que vêm da palavra de Deus, que devem orientar a conduta de todo mundo.

"Quem vai participar do Sínodo precisa expressar aquilo que é o sentir da Igreja local, do episcopado, da Igreja no Brasil", adverte. Por isso, a assembleia procurou identificar, nos últimos dias, em Aparecida, quais são os grandes temas que devam receber destaque. Os delegados vão compilar as pospostas dos temas que devam ser levantados em Roma, com sugestões de encaminhamentos pastorais. Eles vão analisar as respostas dadas a um questionário do Vaticano que foi enviado a todas as dioceses e paróquias.

Além do cardeal d. Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida, que será um dos presidentes nomeados por Francisco, participarão do Sínodo como delegados da CNBB o cardeal d. Odilo Scherer, de São Paulo, e o arcebispo de Mariana, d. Geraldo Lyrio Rocha. O papa poderá designar ainda outros brasileiros como seus convidados.

Apenas uma referência aos divorciados, nenhuma menção aos gays. A mensagem final da 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que se encerra neste domingo, 19, no Vaticano, após duas semanas de debates e reflexão sobre a família, exalta a beleza do matrimônio cristão e enumera as dificuldades que os casais enfrentam, sem entrar nas questões polêmicas que agitaram as discussões dos padres sinodais - cardeais e bispos vindos de todos os continentes. Somando-se os convidados, entre os quais 14 casais, foram 253 os participantes da reunião.

Ao falar da eucaristia dominical como encontro com Cristo e comunhão dos fiéis com Deus, o texto informa que o Sínodo refletiu sobre o acompanhamento pastoral e sobre o acesso aos sacramentos dos divorciados. Essa discussão dividiu o plenário: uma ala conservadora defendeu as regras atuais, de proibição da distribuição da comunhão aos casais em segunda união, enquanto os reformistas acenaram com a possibilidade de a Igreja permitir que os divorciados possam comungar.

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O fato de a mensagem não se referir à união de pessoas do mesmo sexo não significa que a questão será deixada de lado. O cardeal-arcebispo do Rio, d. Orani João Tempesta, um dos brasileiros participantes, disse à Rádio Vaticano que esse e outros temas serão aprofundados pelas dioceses para serem retomados, em outubro de 2015, na segunda etapa do Sínodo.

A mensagem divulgada neste sábado, 18, adverte para as crises que atingem o matrimônio cristão, como o enfraquecimento da fé e dos valores, o individualismo, "que dão origem a novas relações, novos casais, novas uniões e novos matrimônios, criando situações familiares complexas e problemáticas". O texto ressalta também a realidade das famílias pobres, das vítimas de violência e daquelas que são obrigadas a emigrar por causa de guerras e de perseguições. O Sínodo será encerrado no domingo, 19, com a celebração de uma missa solene na Praça de São Pedro pelo papa Francisco.

Pela primeira vez, o Vaticano sinaliza que a Igreja pretende "garantir um espaço de fraternidade em sua comunidade" aos gays e rever o veto à comunhão existente hoje para os divorciados. Em uma mudança clara, segundo teólogos, de tom, onde a condenação passa a dar lugar à conciliação e à acolhida, o texto diz que os homossexuais têm "dons e qualidades a oferecer" e que os católicos que se separaram não podem ser discriminados, mas convidados a participar da Eucaristia.

Ainda preliminar, o documento divulgado ontem resume os debates ocorridos ao longo do Sínodo da Família, encontro iniciado há uma semana com a participação de 200 bispos, e atende ao pedido feito pelo papa Francisco de discutir abertamente assuntos controversos para a Igreja. Ao mesmo em que acena com a mudança, o texto assinado pelo cardeal húngaro Péter Erdö, relator do Sínodo, reafirma a oposição ao casamento gay e ao uso de métodos contraceptivos, conforme definido pela encíclica Humanae Vitae.

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Os temas polêmicos tratados durante o encontro deverão ser levados às comunidades com uma série de questionamentos. Em relação aos homossexuais, a pergunta principal é como a Igreja deve aceitar o desafio de encontrar um espaço fraternal para eles sem abdicar da doutrina católica sobre família e matrimônio.

Se a conclusão for positiva, o acolhimento deve ser estendido às crianças que vivem com casais do mesmo sexo. Mas Erdö alerta que em primeiro lugar deve estar sempre as necessidades e os direitos das crianças.

Sobre a participação de casais gays na comunidade católica, o texto do cardeal Erdö - especialista em lei canônica - afirma que, "sem negar o problema moral ligado à união homossexual", é preciso tomar consciência de que há casos em que o sustento mútuo (desenvolvido dentro do relacionamento) até o sacrifício se constitui "um apoio valioso para a vida dos parceiros".

Para o padre José Oscar Beozzo, que também é historiador, a publicação indica que a Igreja pode assumir uma postura mais pastoral. "Há uma infinidade de situações em que se deve optar pela misericórdia, pelo acolhimento e pelo cuidado com as pessoas. É o que o papa tem nos ensinado. Temos de estar abertos a compreender o que está acontecendo e não simplesmente condenar", afirma.

Divórcio

Apesar de não estipular novas regras, ao menos por enquanto, o documento preliminar do Sínodo revela uma disposição da Igreja em alterar a forma de tratar católicos que se divorciaram. Entre as propostas em estudo está a descentralização dos processos de nulidade matrimonial. Hoje, a decisão final sobre esses casos é tomada por Roma e costuma demorar. A ideia agora, defendida por parte das autoridades, é delegar essa tarefa a bispos diocesanos, mais próximos dos envolvidos.

Uma das propostas analisadas diz que "seria necessário considerar a possibilidade de dar importância à fé dos noivos para determinar a validade do sacramento do matrimônio".

Além de acelerar a dissolução dos casamentos, evitando o divórcio, é cogitado também iniciar o acolhimento a casais que não são casados nem na Igreja nem na esfera cível e autorizar pessoas já separadas a voltar a receber a Eucaristia - hoje, ela é vetada aos divorciados. Em outra proposta, mesmo pessoas no segundo casamento poderiam ter essa chance, desde que acompanhadas de perto pela comunidade após cumprir uma etapa penitencial sob responsabilidade de um bispo.

"O que foi divulgado é quase um rascunho, mas revela avanços. A Igreja está propondo um formato novo, de acolhimento sem preconceito, tanto para o gay como para o divorciado. Nesse caso, a mudança deve ser grande. Há milhares de católicos divorciados aguardando por essa oportunidade. Afinal, não é possível fazer da comunhão um sacramento de desunião", diz o teólogo Fernando Altemeyer.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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