Intensos combates entre as forças do regime sírio e combatentes jihadistas e rebeldes na província de Idlib, no noroeste do país, deixaram 39 mortos entre a noite de quarta e a madrugada desta quinta-feira (16), de acordo com uma ONG, o que parece encerrar uma trégua anunciada por Moscou.
Marcados por ataques aéreos, tiros de artilharia e combates terrestres, esses confrontos acontecem no dia seguinte à morte de 18 civis em bombardeios lançados pela aviação do regime na cidade de Idlib.
Eles violam a trégua anunciada em 9 de janeiro por Moscou, grande aliado do governo Bashar al-Assad, uma iniciativa confirmada pela Turquia - patrocinadora de certos grupos rebeldes - e que deveria ter começado no domingo.
"Os combates começaram por volta da meia-noite de quarta-feira ao sul da cidade de Maaret al-Nooman, junto com bombardeios, apesar da trégua russo-turca", disse à AFP o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.
O governo e seus aliados assumiram o controle de dois vilarejos no caminho de Maaret al-Nooman e agora estão a sete quilômetros desta cidade estratégica, completou o OSDH.
Dos 39 mortos, 22 combatiam nas fileiras de grupos jihadistas e rebeldes que se opõem ao regime sírio. A maioria deles fazia parte do Hayat Tahrir al-Sham (HTS, antiga facção síria da Al-Qaeda), de acordo com o OSDH.
Os outros 17 combatentes eram membros do Exército do regime e de milícias aliadas, disse Rahman.
- "Sem lugar para ir" -
Os ataques aéreos do regime mataram 18 civis na quarta-feira na cidade de Idlib, cuja província ainda foge ao controle de Damasco, segundo balanço do OSDH.
Jornalistas da AFP no local viram cenas de caos após os ataques, que destruíram vários edifícios em uma área industrial. Em meio aos escombros, sírios tentavam encontrar possíveis vítimas.
Os bombardeios pulverizaram várias oficinas, incluindo mecânicas, e entre as vítimas havia motoristas, presos em seus veículos.
À frente de uma dessas oficinas, Mustapha sobreviveu, mas seu negócio foi reduzido a pó. Quatro de seus funcionários morreram. "Este não é o bairro que deixei há apenas dois minutos", lamentou, com o rosto banhado em lágrimas.
Os ataques e os combates à noite parecem enterrar o cessar-fogo.
"Vivemos aqui sem saber se a trégua é real, ou se existe apenas na mídia. No terreno, não há trégua. As pessoas têm medo, os mercados estão desertos", resumiu, em conversa com a AFP, Sari Bitar, um engenheiro de 32 anos que vive em Idlib.
"Como todo o mundo aqui, não posso ficar em uma área onde o regime, as forças russas e as milícias iranianas vão avançar", confidenciou. "A única preocupação é que não temos para onde ir", completou.
Composta em grande parte pela província de mesmo nome e de segmentos das províncias vizinhas de Aleppo e Latakia, a região de Idlib já foi palco de uma grande ofensiva entre abril e agosto. Nela, milhares de pessoas morreram, e mais de 400.000 tiveram de fugir.
O regime, que agora controla mais de 70% do território, afirma que está determinado a reconquistar essa província, dominada pelos extremistas do HTS.
Outros grupos jihadistas e rebeldes estão presentes na região, que abriga cerca de três milhões de pessoas. Metade foi deslocada de outras regiões recuperadas por Damasco.
Deflagrado pela repressão a protestos pró-democracia por Damasco, o conflito na Síria deixou mais de 380.000 mortos, incluindo mais de 115.000 civis e milhões de deslocados e refugiados.
O Crescente Vermelho Curdo disse na terça-feira que mais de 500 pessoas, principalmente crianças, morreram na Síria em 2019 no campo de Al-Hol. Nesse local, vivem milhares de pessoas deslocadas.