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Neste domingo (8) é comemorado o Dia Internacional da Mulher e será disputado, pela sétima rodada do Campeonato Paraense, o clássico entre Remo e Paysandu, o Re x Pa. A data marca a luta das mulheres pela conquista do seu espaço e liberdade para frequentar diversos locais sozinhas, inclusive estádios de futebol, como torcedoras ou profissionais.
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Predominantemente masculino e preconceituoso, o futebol surgiu marcado pelo machismo. No dia 14 de abril de 1941, o Decreto-Lei 3199/ art.54 determinava que as mulheres eram proibidas de praticar diversos esportes. Somente no início dos anos 2000 elas começaram a frequentar, mais assiduamente, as partidas de futebol.
Profissionalmente, a situação também só vem se modificando há pouco tempo. A radialista esportiva Paula Marrocos destacou a importância da participação da mulher no esporte. "Eu hoje tenho muito orgulho do espaço que eu conquistei, de ser uma inspiração para outras meninas, de dar essa representatividade. Pois a mulher pode estar realmente onde ela quiser, e que isso não vire um clichê e seja em si um fato na nossa sociedade", disse.
Paula ressaltou o aumento da visibilidade da figura feminina no futebol. "Hoje em dia a gente já consegue ver mais mulheres no esporte, por isso me sinto representada quando eu vejo uma apresentadora, uma comentarista, uma repórter, participando de uma transmissão comentando a respeito de um jogo e falando em programas esportivos", assinalou.
A radialista falou sobre os comentários machistas que ouviu após a narração da final do Campeonato Feminino de Futebol 2019. "Logo após eu realizar a narração, junto com a Karen Sena e a Lauany Challiê, recebi muitos comentários na internet a respeito desse evento, dizendo que nós não tínhamos capacidade, que estávamos ali só pra atender uma cota. Foi a primeira transmissão totalmente feminina pela rádio no Norte e Nordeste do país. Foi um momento muito importante para a gente. Eu tive a oportunidade de estrear como narradora de futebol. Tive muitos pontos positivos e alguns negativos", avaliou.
Apesar do machismo, Paula Marrocos continua lutando por um lugar para a mulher no esporte. “Que nós não sejamos cotas, mas que sejamos de fato tratadas como profissionais, e que esse espaço seja nosso não porque a gente tá chegando para ocupar, mas porque ele está ali para ser ocupado por pessoas competentes", destacou.
Para a radialista, levantar a bandeira da defesa das mulheres é fundamental para mudar a realidade. "Tenho certeza também que tenho muito apoio de minhas colegas de trabalho, de outras empresas, como a Mari Malato e a Tayná Martinez da CBN (Rádio CBN Amazônia). São pessoas que eu admiro e viraram referências para mim", disse.
Paula também aponta a importância de ter que se firmar nesse meio. "A resposta para todo esse machismo dentro do esporte é você ter conteúdo e lutar para conseguir mostrar para as pessoas que você está ali porque de fato você entende, porque você conhece", afirmou.
Bianca Mesquita, jogadora da equipe feminina do Clube do Remo, ressaltou quais foram as maiores dificuldades enfrentadas ao entrar no mundo do futebol no Estado. "O futebol feminino aqui no Pará não é muito valorizado. As barreiras são grandes por sermos mulheres, com o machismo e o preconceito, então é muito difícil. Não temos grandes oportunidades como os homens têm. É muito complicado você receber uma proposta de um clube grande para fora, ter um contrato assim como em um time masculino. Sem falar que não temos ajuda de nada, nem patrocínio ou qualquer outra coisa. Estamos no clube por amor", contou a jogadora.
Aline Costa, técnica da equipe feminina do Paysandu Sport Club, reclamou da falta de auxílio para as mulheres do futebol feminino paraense. "Nossa maior dificuldade é a falta de estrutura e apoio com as nossas atletas", afirmou. "Um grande exemplo desse descaso pode ser observado no campeonato de futebol feminino de 2019, no qual a atleta bicolor Dan fraturou a sua clavícula no estádio e teve que ser levada para o hospital por um carro de aplicativo, devido à falta de auxílio médico na partida. No dia também não houve presença de policiamento."
Arbitragem
Outra figura importante no Pará é a nova bandeirinha do quadro da FIFA, Bárbara Loiola. Ela contou que no esporte paraense há inúmeras dificuldades, principalmente a baixa visibilidade. "Dificuldades temos em todos os lugares, não só aqui como em outros Estados. Claro que há mais visibilidade no Rio de Janeiro e São Paulo devido aos jogos e aos times de lá. Mas eu acredito que um excelente trabalho dentro do campo vai fazer você ser vista", observou.
A torcedora remista Caroline Gomes, secretária da torcida Barra Brava Camisa 33 e atuante na diretoria da banda do clube, revelou suas dificuldades sendo uma mulher na torcida. "O primeiro impasse que eu tive foi dentro de casa, pelo fato de não deixarem eu ir para os jogos por eu ser mulher. Depois que aceitaram que eu iria, começou a questão da roupa. Queriam que eu sempre fosse com roupas maiores, nada muito curto, nem apertado. E quando você vai sozinha de ônibus, ao entrar você já se vê rodeada de aproximadamente uns 30 homens, e nenhum tem o mínimo do respeito, de que qualquer comentário pode te fazer sentir mal e oprimida. Ao chegar no estádio continua a mesma coisa. Escutamos muitas piadinhas e muitos comentários machistas", destacou.
Na opinião de Caroline, as pessoas precisam entender que o esporte não é majoritariamente masculino. "É um espaço de visibilidade para todos, e todas as mulheres devem ter a total liberdade de ir para onde quiserem, para o jogo que quiserem e com a roupa que quiserem, pois já passou mais do que da hora de nós começarmos a andar livremente sem ter que se sentir oprimida em qualquer maneira", afirmou.
A torcedora bicolor Williane Coelho, colunista desportiva no blog nacional MEC (Mulheres em Campo), falou sobre o que significa para ela ser uma mulher dentro do esporte. "Eu sinto, além da realização pessoal, uma responsabilidade, por ocupar um lugar de fala que não é só meu. O que eu falo tem peso para as mulheres em geral", disse.
"Falar que se sente representada seria diminuir o tamanho do machismo no futebol, porque você colocar três ou quatro mulheres em um programa esportivo não é representatividade, é você tentar sanar um problema da sociedade. Ainda existe um caminho longo para trazer as mulheres dentro do campo", disse Williane, ao ser questionada sobre a representatividade feminina no futebol.
Mesmo com todo preconceito e a falta de reconhecimento, as mulheres continuam lutando por igualdade na sociedade. Neste domingo não será diferente. Centenas de torcedoras de Clube do Remo e Paysandu Sport Club estarão no estádio do Mangueirão, às 16 horas, seja para torcer ou trabalhar. Elas vão acompanhar o clássico de número 753. Os clubes estão programando homenagens para as mulheres.
Reportagem de Beatriz Reis, Karoline Lima, Sabrina Avelar e Yasmin Seraphico.