Há cerca de dois meses, Janguiê Diniz me comunicou que, depois de cumprir todas as exigências do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde, o projeto para abertura do Curso de Medicina no Centro Universitário Mauricio de Nassau - UNINASSAU, no Recife, havia sido aprovado, por sinal com excelente nota, restando apenas a autorização final para que pudesse promover vestibular e iniciar a primeira turma, ainda no segundo semestre deste ano. Ao final da conversa, perguntou seu eu o ajudaria nesse novo desafio.
Disse-lhe que, independentemente das minhas possibilidades e, portanto, da minha resposta, aquilo soava para mim como uma boa notícia, pois, embora a abertura de novos cursos de medicina no Brasil fosse tema polêmico, visto com alguma antipatia e talvez com certo preconceito pelas entidades médicas, quem teve a oportunidade de discuti-lo comigo nas universidades, na Academia Pernambucana de Medicina, no Conselho Regional de Medicina ou mesmo nas rodas informais, sabe que tenho sido enfaticamente a favor, sem deixar de reconhecer a importância do controle de qualidade desses novos cursos. A favor porque a população está carente de médicos, problema que se agrava a cada dia, principalmente em especialidades críticas, como anestesia, pediatria, terapia intensiva, ortopedia, neurocirurgia e tantas outras.
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Essa carência de médicos decorre, de um lado, do aumento relativamente pequeno do número de vagas de medicina nas universidades nas últimas décadas e, do outro, do crescimento populacional, da maior longevidade, do desenvolvimento econômico e, consequentemente, do extraordinário processo de inclusão social porque passa o País, aumentando imensamente o número de pessoas com acesso ao sistema de saúde, tanto público como privado. A propósito, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, existem hoje no Brasil 17,6 médicos para cada 10 mil habitantes, enquanto na Europa essa proporção é duas vezes maior. Em Pernambuco, há apenas 12,6 médicos para cada 10 mil habitantes. Imaginem como ficará essa situação quando toda a população tiver assistência médica de qualidade, se o País não aumentar proporcionalmente o número de profissionais de saúde.
Para atender a essa demanda crescente, novos hospitais e serviços estão sendo criados, mas faltam médicos para preenchê-los. Isso é particularmente grave no nosso Estado, cuja capital tornou-se um grande polo médico, com demanda de leitos e serviços de saúde muito além da esperada ao se considerar apenas a população do Estado. Isso porque há muita gente que vem de outros estados para se tratar em Recife. Como exemplo, na nossa Unidade de Transplante de Fígado, que atua nos hospitais Oswaldo Cruz e Jayme da Fonte, onde são realizados onze transplantes por mês, mais de 60% dos pacientes são procedentes de outros estados.
Para atenuar emergencialmente esse problema, o governo resolveu facilitar a revalidação de diplomas de médicos formados em outros países, mas, evidentemente, isso está longe de ser a solução ideal.
E não é, inclusive, porque há um imenso e contínuo contingente de jovens brasileiros que concluem curso médio de qualidade e que sonham com a oportunidade de estudar medicina, mas que, mesmo tendo boa base para serem alunos de medicina, sobram nos vestibulares, vítimas de uma concorrência brutal, onde a diferença de décimos na média final pode significar a diferença entre a aprovação de poucos e a frustração de centenas.
Com tudo isso em mente, preveni a Janguiê que, a par da boa notícia, a UNINASSAU estava diante de um grande desafio, pois o curso de medicina era diferente de todos os outros, a começar pelo nível diferenciado do corpo discente, submetido a um vestibular rigoroso, da necessidade de um corpo docente altamente qualificado, de um projeto pedagógico moderno, de equipamentos adequados para o ensino das disciplinas básicas e de uma boa rede de hospitais conveniados para o ensino prático das disciplinas avançadas e do internato. Ao ouvir o que já havia sido feito e o que se planejava, fiquei curioso e fui conhecer o projeto.
Depois de visitas e reuniões com diretores e consultores, fiquei convencido da seriedade e da qualidade do empreendimento, bem como da imensa contribuição que dará a Pernambuco. Meus colegas do meio médico, das universidades e especialmente das entidades (CREMEPE, AMP e SIMEPE) estão convidados a conhecê-lo.
* Cláudio Lacerda é Coordenador do Curso Médico da UNINASSAU