Há quase 300 anos, em 1728, um anúncio da Gazeta de Boston, nos Estados Unidos, veiculava aulas de taquigrafia por correspondência. De acordo com os registros históricos na literatura, provavelmente esse curso foi o primeiro a ser realizado a distância. Segundo o estudioso Lobo Neto (1995), o responsável pelas aulas foi o professor Cauleb Phillips: "Toda pessoa da região, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa várias lições semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston", dizia parte do anúncio.
Cem anos depois, em 1833, um anúncio publicado na Suécia já se referia ao ensino por correspondência, e na Inglaterra, em 1840, Isaac Pitman sintetizou os princípios da taquigrafia em cartões postais que trocava com seus alunos. Em 1856, em Berlim, Charles Toussaint e Gustav Langenscheidt fundaram a primeira escola por correspondência destinada ao ensino de línguas. Em 1891, a administração da Universidade de Wisconsin aceitou a proposta de seus professores para organizar cursos por correspondência nos serviços de extensão universitária.
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Após as décadas de 1960 e 1970, o ensino a distância, embora tenha mantido os materiais escritos como base, passou a incorporar também o áudio e o videocassete, as transmissões de rádio e televisão, o videotexto, o computador e, mais recentemente, a tecnologia como um todo. Atualmente, a Educação a Distância ficou popularmente conhecida como EAD, utilizando dos ambientes interativos para se fortalecer cada dia mais no setor da educacional. Fóruns de discussão, chat, blogs, plataformas virtuais, vídeo, redes sociais e uma série de espaços acadêmicos na web foram criados para serem armazenados e acessados em tempos diferentes sem perder a interatividade.
De acordo com dados do Censo da Educação Superior de 2016, o mais recente, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), enquanto o ensino presencial teve queda anual de 0,08% nas matrículas, o ensino a distância (EAD) teve expansão de 7,2%. Ainda de acordo com o estudo, há 1.473 cursos superiores a distância no país, com um crescimento de 10% ao ano, desde 2010. Atualmente, são mais de 1,3 milhão de estudantes matriculados na modalidade, com expansão de 50% entre 2010 e 2015.
Na EAD, as mensalidades geralmente são mais baratas que os cursos presenciais, e é possível atender a um número maior de estudantes. A modalidade também possui relevância social por permitir o acesso daqueles que têm dificuldades em se inserir no ensino superior. Pessoas que não têm condições de pagar uma mensalidade muito alta, moram distantes das universidades, tem indisponibilidade de tempo, também são o público-alvo das instituições.
De acordo com dados das pesquisas feitas pela consultoria Educa Insights, a previsão é que os cursos a distância ultrapassem o número de 9,2 milhões de estudantes até 2026. Um dos motivos desse maior interesse é flexibilidade que o método permite, muitas vezes com o apoio da tecnologia.
Segundo o pesquisador Lars Janér, diretor da Instructure para América Latina, os provedores brasileiros de cursos que não oferecem ensino a distância estão perdendo e muito. “Os dados sugerem que eles poderiam estar aumentando o número de alunos que possuem, suas receitas e qualificando a maneira como ensinam profissionais interessados em continuar aprendendo. Alguns podem se preocupar com o fato de os profissionais mais antigos preferirem técnicas de aprendizado tradicionais, mas nossa pesquisa sugere que muitos prefeririam se envolver com tecnologias de ensino a distância”, afirmou em entrevista à revista Exame.
Nesse contexto de novas tecnologias e modernização do ensino, a performance do professor, antes só em sala de aula, também teve que passar por mudanças. O profissional para conseguir se manter no mercado das principais instituições de ensino do país buscaram alternativas para melhorar o engajamento e ultrapassar desafios e barreiras da nova modalidade a distância.
"O ambiente virutal é o futuro", aponta o professor Fernando Salvino - Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens
Fernando Salvino, 30, professor do Grupo Ser Educacional, recebeu há dois anos o convite para participar da seleção de professores no projeto de Educação a Distância da instituição e foi aprovado. Habituado ao modelo tradicional das salas de aula, o professor teve de enfrentar barreiras e alguns desafios para alavancar a carreira. “No início foi meio impactante porque é uma mudança disruptiva, uma vez que estamos acostumados a trabalhar diretamente com os alunos em salas de aulas e seguir um padrão que já temos desde o início da educação moderna e tradicional. Mas, não podemos esquecer que vivemos uma série de revoluções e estamos na era pós-digital e por isso há essa necessidade de engajamento dos docentes para trabalhar cada vez mais com a Internet”, contou Salvino.
Para o professor de ciências contábeis, a educação a distância não é uma mudança apenas para os alunos. A adaptação do professor também precisa estar na pauta do projeto das instituições que investem no segmento. “Hoje nós temos uma mudança de comportamento. A minha geração tinha a figura do professor como o indivíduo que trazia o conhecimento e na época, o acesso à internet era limitado. Atualmente, o cenário é diferente. Temos alunos que têm acesso à informação 24 horas a partir de uma telefone e um pacote de dados. O professor se tornou mais um curador do conhecimento, porque o acesso à rede é muito grande e as informações são amplas. Mas ainda existe a necessidade dessa curadoria, que é onde o profissional faz o direcionamento do aluno para que ele tenha o conhecimento mais precioso e correto e não se perca no tornado de informações”, complementou.
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A flexibilidade dos dias de estudo e dos horários na EAD é uma vantagem para os alunos, mas pode transformar-se em desvantagem caso falte disciplina por parte do educando. Uma das principais problemáticas a serem superadas pela modalidade é a evasão dos estudantes durante o curso. De acordo com o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), 33,7% dos alunos abandonaram uma graduação EAD em 2015 – taxa que é 22,8% maior que a dos cursos presenciais.
O Censo EAD Brasil, divulgado pela Abed, listou quatro fatores fundamentais que estimulam essa desistência. Falta de tempo; questões financeiras; falta de adaptação à modalidade EAD ou à metodologia do curso e escolha errada.
A Educação a Distância foi conceituada no Brasil por meio do citado Decreto nº 5.622 (Brasil, 2005):
Art. 1º: Para os fins deste Decreto, caracteriza a Educação a Distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.
De acordo com dados das pesquisas feitas pela consultoria Educa Insights, a previsão é que os cursos a distância ultrapassem o número de 9,2 milhões de estudantes até 2026 - Foto: Divulgação/QueroBolsa
Para entender as perspectivas de futuro do modelo a distância no Brasil, o LeiaJa.com entrevistou Flávio Murilo de Gouvêa, diretor acadêmico de EAD do grupo Estácio.
Como enxergas o EAD no Brasil hoje?
O EAD, apesar de não seguir o formato tradicional, já se apresenta como uma opção de ensino e aprendizagem há muito tempo. Já temos 12 anos de experiência nessa desafiadora metodologia. A EAD hoje aponta para uma solução, capaz de aliar dois pontos. Qualidade e baixo preço, porque nesse aspecto é acessível a vários jovens de baixa renda que conseguem chegar à universidade atualmente. É socialmente acessível e também consegue oferecer educação a milhares de municípios onde o ensino presencial não seria capaz de chegar. Chegamos nessas cidades e ofertamos a um preço justo nossas aulas.
Atualmente, os profissionais de educação estão preparados para o EAD?
Eles estão se preparando rápido e de forma ampla, é uma mudança importante na metodologia de ensino a forma como a EAD se caracteriza. É claro que não tem o contato direto em sala de aula, mas o aluno assiste a uma aula como se estivesse em um local coletivo. É um modelo de internet em que a gente disponibiliza um objeto de aprendizagem e o aluno vai se apropriando desse conteúdo para concretizar seu sonho. As instituições de ensino devem se apresentar como um local de aprendizado, não só de ensino. A gente entende que todo mundo aprende ao seu tempo e a sua forma. Existem várias formas de aprender e para isso é preciso que tenham vários modelos de aprendizagem. Procuramos ofertar a maior quantidade possível de formas diferentes para entregar o mesmo conteúdo. Cabe ao aluno escolher a melhor metodologia, podendo ser por áudio, vídeo, respostas de questões, entre outras. Os professores terão que ser mais multifacetados, naturalmente. O papel dele é colocar o seu conhecimento no sistema da acadêmico, através do ambiente virtual de aprendizagem, e uma única aula pode ser vista por mais de 100 mil pessoas.
Quais os desafios do EAD?
O principal desafio é que a experiência é um pouco solitária, é o aluno enfrentando a si próprio. Ele tem que ter uma autodisciplina muito forte. O que temos feito é investido em polos de ensino para que os alunos possam trocar experiências pessoalmente com outros. A gente entende que é preciso o contato para o aprendizado. Por isso, investimos no modelo em que o aluno precisa ir ao polo pelo menos uma vez por semana para participar de atividades em grupo com os colegas de turma e um tutor presencial. Isso faz com que o aluno crie laços sociais e permaneça estudando. Um problema é que a gente ainda sofre algumas barreiras em vários cursos de saúde. O pessoal resiste muito à educação a distância e é natural, faz parte da evolução dos aspectos educacionais e naturalmente da tecnologia. Se pararmos para pensar, os hospitais fazem o exame presencialmente, mas quem vai fazer o laudo está a quilômetros de distância. Aos poucos a modalidade vai ganhando mais espaço. Todos nós tivemos a experiência presencial, então há dificuldades em entender a distância
Como estão as políticas governamentais e a legislação em EAD no Brasil?
A EAD tem pouca regulamentação comparativamente com o ensino presencial. Quando não há regulação a gente impõe limites mais rígidos. Em 2017, as instituições ganharam liberdade de criação de polos de educação a distância. A estácio tem conceito “quatro”, então podemos ofertar 250 polos por ano. Em 2018, pretendemos fechar o ano com 600 polos no Brasil inteiro. A gente já está avançando muito nas engenharias. O MEC hoje permite laboratórios de simulações virtuais e isso vai fazer com que alunos tenham perto de sua casa a oportunidade de crescer profissionalmente com um bom curso de educação superior.