Em 2003, o mundo enfrentou o ínicio de um problema gigantesco: o fungo Cordyceps contaminou alimentos vindos da América do Sul e, a partir de uma mutação, passou a transformar seres humanos em zumbis. Essa é a trama da série The Last Of Us que está recebendo telespectadores de todos os lugares do mundo, inclusive o Brasil.
Baseada em uma franquia de jogos eletrônicos, a série da HBO conta a história de Joel, personagem principal que perde sua filha para o fungo logo nos primeiros episódios, e Ellie, que já foi mordida por outros zumbis, mas é imune à doença, logo não sofre nenhuma mudança.
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Ambos os personagens passam os episódios fugindo do fungo, mas na vida real, não precisamos ter esta preocupação. Isso porque, apesar do Cordyceps existir de fato, ele não consegue infectar os humanos, apenas insetos e outros artrópodes. Leo Carrasco, professor de biologia, explicou um pouco mais sobre este fungo para o LeiaJá:
“O Cordyceps é um tipo de fungo específico parasitário de artrópodes e de, preferencialmente, dos insetos. Ele é um fungo que faz parte de uma classificação evolutiva importante, que é a classificação dos ascomicetos que são fungos mais representativos do ponto de vista percentual em todo o meio ambiente.”
O docente explica que o fungo sempre chamou atenção pela sua forma de agir ao fazer a endoparasitose dos insetos. O Cordyceps atacam, principalmente, as estruturas encefálicas do animal promovendo uma mudança drástica de comportamento por parte do inseto até a morte do hospedeiro.
“Ele ataca as estruturas nervosas do animal, tomando conta do seu metabolismo celular, especialmente o metabolismo do encéfalo desse organismo. O organismo começa a sofrer distúrbio de locomoção e mudanças de comportamento em relação aos seus hábitos naturais. Até que, depois de um certo tempo, o fungo acaba por gerar o óbito deste inseto. Então são fungos parasitários, fungos que se alimentam de matéria orgânica dentro do cérebro dos artrópodes de forma geral”, explica Carrasco.
Os fungos, em geral, fazem parte da classificação biológica do reino fungi e são bastante complexos. São organismos muito importantes para o meio ambiente como, por exemplo, o hábito de decomposição que eles efetivam junto com as bactérias. Algumas principais características contam com a variedade de organismos no reino fungi que podem ser uni ou multicelulares.
Este reino se classifica como seres heterotróficos, ou seja, que se alimentam preferencialmente de matéria orgânica para se nutrir, e fazem a reserva de glicogênio, que é um polissacarídeo encontrado, também, como reserva nutricional de animais. O fungo apresenta a parede celular de revestimento constituído pela quitina. Nos hábitos de vida, há fungos que são parasitas, fungos que são de vida livre, fungos que atuam na decomposição e fungos que são utilizados no meio industrial para comercialização.
Entre estes tipos, o Cordyceps se classifica como parasita e, popularmente, é conhecido como fungo zumbi por causar uma forte mudança no comportamento dos organismos que ele parasita. Essa fama deu a inspiração para The Last Of Us mostrar sua infecção nos humanos comparando com uma infecção zumbi e uma situação apocalíptica. Fora da dramaturgia, Leo Carrasco detalha como funciona essa consequência para o hospedeiro:
“Esse fungo é chamado de zumbi porque ele parasita principalmente o sistema nervoso dos insetos dos artrópodes. De forma muito constante, nós verificamos o ataque de formigas por parte desse fungo e ele acaba gerando um processo de comportamental de inseto e tal maneira que algumas formigas acabam se desvirtuando do comportamento natural da sua sociedade e querendo meio que gerar um certo canibalismo de outras formigas que estão próximas a ela. Só que isso não acontece de uma maneira tão rotineira. O que acontece de uma maneira mais eventual é o fungo gerar um distúrbio neurológico no animal e isso promove o óbito de inseto depois de um certo tempo”, comenta o professor.
O Cordyceps parasita, especialmente, o Filo Arthropoda, este que é o filo mais diversificado da natureza com mais de um milhão de espécies descritas, o que representa mais de 80% do Reino Animal. Apesar da sua quase exclusiva relação de parasita e hospedeiro com insetos, é realmente possível que um ser humano seja infectado tal qual acontece na telinha? A resposta é: não.
No meio científico, o professor Leo Carrasco explica que isso não pode chegar a acontecer à espécie humana por conta da temperatura corporal: “Os insetos apresentam a temperatura diferente da espécie humana e nós somos animais homeotérmicos, com a temperatura bastante elevada, por isso o fungo não consegue se adaptar ao nosso metabolismo.”
Aplicação no Enem
Com todas as informações sobre o Cordyceps, o docente também explica como essas questões podem ser abordadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em biologia, além de entender a diferença nos reinos do fundo, plantas, animais e bactérias, Carrasca exemplifica alguns pontos para se prestar atenção ao estudar.
“Em uma prova de vestibular, em relação aos fungos, pode ser cobrado a fermentação alcoólica, um processo de quebra de matéria orgânica na ausência do oxigênio, a quebra do açúcar para geração de etanol de comercialização, pão, cerveja, vinhos, uísques são fabricados a partir dessa fermentação alcoólica, efetivada pelo fungo Saccharomyces cerevisiae, conhecido popularmente como levedura da cerveja”, lembra o entrevistado.
“Outra pergunta bastante peculiar que poderia ser cobrada em prol do vestibular são as características dos fungos com relação ao seu hábito nutricional. Também há a questão da fabricação de antibióticos, onde existe um fungo Penicillium que, através de trabalhos de ordem genética, ele consegue ser utilizado na implementação de antibióticos bastante populares aqui no Brasil”, continua.
“Por último, eu acredito que uma questão chave é a importância ecológica dos fungos para o meio ambiente, sua importância na decomposição e na manutenção do equilíbrio ambiental através de um processo de limpeza que eles efetivam por meio do consumo de matéria orgânica morta”, finaliza o professor.