O Kosovo vai às urnas neste domingo (3) para renovar as assembleias municipais, um teste para a implementação do acordo de normalização das relações entre Belgrado e Pristina, uma eleição acompanhada de perto pela União Europeia. O principal desafio nestas eleições organizadas por Pristina, será a participação dos sérvios do Kosovo, especialmente aqueles do norte que rejeitam qualquer autoridade.
Durante a campanha eleitoral, Belgrado pediu aos cerca de 40.000 sérvios que vivem na região norte do Kosovo, na fronteira com a Sérvia, onde são maioria e onde Pristina não exerce praticamente nenhum controle, para participarem da votação.
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Nesta região, no início da tarde, eram poucos os sérvios presentes nas assembleias de voto, que abriram às 6h (4h no horário de Brasília). "Votar hoje significa impedir que os albaneses se estabeleçam aqui", no norte do país, onde os sérvios são a maioria, afirmou Radomir Milic, um carpinteiro de 74 anos, depois de ter cumprido o seu dever eleitoral em Mitrovica.
"Eu amo o meu país e aqueles que amam seu país e querem salvá-lo devem votar", acrescentou Milovan Bojovic, de 75 anos, um general aposentado. Em Mitrovica, grupos hostis à eleição vaiavam e insultavam aqueles que tentavam votar. No entanto, nenhum incidente foi relatado.
A Sérvia, que pretende iniciar em breve as negociações de adesão à UE, incentiva pela primeira vez a participação da comunidade sérvia, já que o bom desenrolar da eleição é uma condição para a aproximação com Bruxelas. Para Belgrado, após a eleição os sérvios do Kosovo "vão obter uma confirmação internacional da existência de uma Associação dos Municípios sérvios".
Esta associação personificaria a autonomia prevista pela comunidade sérvia no Kosovo pelo acordo de Bruxelas, alcançado em abril entre Belgrado e Pristina, sob os auspícios da União Europeia. Ela substituirá as instituições do Estado sérvio no norte de Kosovo, cuja presença foi considerada ilegal por Pristina e a comunidade internacional.
De acordo com uma pesquisa realizada em outubro pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no norte do Kosovo 15,8% dos sérios garatiram que vão às urnas. Em contrapartida, 43,5% dos sérvios entrevistados estão decididos a boicotar as eleições, em resposta a uma campanha muito ativa de partidos nacionalistas.
O PNUD, no entanto, vê como "encorajador" o percentual de sérvios que desejam votar nas primeiras eleições organizadas por Pristina no norte. Durante a campanha eleitoral, Belgrado e Pristina acusaram mutuamente de manipular os eleitores, apesar de um acordo entre o primeiro-ministro do Kosovo, Hashim Thaci, e o seu homólogo sérvio, Ivica Dacic, para permitir que os deslocados durante o conflito no Kosovo (1998-1999) se registrassem como eleitores.
Ao todo, cerca de 1,7 milhão de eleitores estão aptos a escolher entre 102 partidos e associações que disputam o controle de 36 municípios em Kosovo.