Além de 700 mil quilos de picanha, 80 mil garrafas de cerveja e milhares de litros de leite condensado pagos com impostos do contribuinte, ao longo de 2020, as Forças Armadas complementaram o cardápio com outras regalias. Mesmo com a crise econômica agravada pela pandemia, de acordo com dados oficiais levantados por 10 deputados do PSB, as refeições da Segurança Nacional também incluíam lombo de bacalhau, uísque 12 anos e conhaque.
"É um poço sem fundo. Quanto mais investigamos, mais absurdos e irregularidades encontramos. Se não bastasse o governo comprar picanha e cerveja, ainda tem o corte mais caro do bacalhau, uísque e conhaque com indícios de superfaturamento", afirmou o deputado Elias Vaz de Andrade (PSB-GO) ao Estadão.
##RECOMENDA##
Ele e os demais representantes da sigla enviaram uma representação para que o procurador-geral da República, Augusto Aras, investigue os altos investimentos. O Tribunal de Contas da União (TCU) também será acionado e uma CPI pode ser instaurada para apurar o processo de aquisição.
"É uma casa portuguesa, com certeza"
O levantamento oficial do Painel de Preços do Ministério da Economia informa que, durante o ano passado, foi aprovada a compra de 140 mil quilos de lombo de bacalhau e 9,7 mil quilos de filé do peixe já salgado. Só o comando da Aeronáutica solicitou 500 mil quilos de lombo pelo preço do quilo a R$ 150.
Além da indigesta herança portuguesa aos cofres públicos, aparentemente, as Forças Armadas têm as bebidas alcoólicas como insumo fundamental em suas operações. O 38º Batalhão de Infantaria adquiriu 10 garrafas de uísque Ballantine's, mas não rendeu-se aos rótulos mais 'jovens' e instituiu que as garrafas tivessem 12 anos de cura. O valor proposto para cada unidade foi de R4 144,13.
Sem paladar para Ballantine's 12 anos, a Marinha preferiu solicitar 15 garrafas de Johnnie Walker Black Label, que possui o mesmo tempo de envelhecimento. O valor de cada garrafa foi de R$ 164,18.
Já que nem todas as ações necessitam de uísque, o Batalhão Naval da Marinha foi mais humilde e aprovou a compra de 660 garrafas de conhaque dos rótulos "Presidente" e "Palhinha", com valor individual de R$ 27,06.
Mesmo com as licitações aprovadas, o Ministério da Defesa classificou como um "grande equívoco" apresentar o valor total dos processos de compra homologados como valores efetivamente gastos. "É imprescindível que se faça essa segmentação adequada, quando se faz a totalização dos valores, interpretação e principalmente a divulgação pública destes dados, de modo a evitar a desinformação", posicionou-se em nota.