O dia 4 de agosto de 2002 ficou eternizado na memória e corações dos torcedores do Paysandu que acompanharam, surpresos, a trajetória do time na última edição da Copa dos Campeões. O campeonato, naquela temporada, foi disputado em duas cidades: Belém e Fortaleza, com participação de 16 times.
O Papão chegou à final da competição e tinha pela frente o Cruzeiro. Na primeira partida, no Mangueirão, com mais de 53 mil torcedores – o sexto maior público da história do estádio -, os mineiros venceram por 2 a 1. Mas a derrota não acabou com as esperanças dos bicolores. No jogo de volta, no Castelão, em Fortaleza, o Papão reverteu a vantagem cruzeirense, vencendo por 4 a 3.
##RECOMENDA##
Nos pênaltis, o Paysandu converteu todas as cobranças, enquanto o Cruzeiro não acertou nenhuma. Vitória por 3 a 0. Título inédito e um dos mais importantes do clube. E, pela primeira vez na história, um time da região Norte do país disputaria a Libertadores da América.
Campanha
O Paysandu vivia um início de década primoroso. Era tricampeão paraense, havia conquistado uma Série B e a Copa Norte – que deu a vaga na Copa dos Campeões. Algumas contratações reforçaram o já tarimbado elenco. No entanto, o Papão teve muitos percalços na primeira fase, apesar de ter jogado todas as partidas no Mangueirão.
O Paysandu empatou por 1 a 1 na estreia contra o Corinthians. O jovem atacante Albertinho fez o gol bicolor já no segundo tempo. No segundo jogo, outro empate. Desta vez, 0 a 0 diante do Fluminense – em que o goleiro bicolor Marcão foi destaque.
A primeira vitória só veio na terceira partida, quando os bicolores superaram o Naútico por 3 a 2, com gols do lateral-direito Marcos, do atacante Vandick e do meia Jobson. Paysandu e Fluminense avançaram às quartas de final com a mesma pontuação, mas com o Papão em primeiro lugar pelos critérios de desempate.
Em partida marcada por expulsões, três pênaltis e gols nos acréscimos, o Papão sofreu para derrotar o Bahia por 2 a 1, no Mangueirão. O atacante Jajá colocou os mandantes na frente. Robson, que temporadas depois fez sucesso no Paysandu, empatou para os baianos. E, aos 46 minutos do segundo tempo, Jobson marcou o gol da vitória, de pênalti – ele já havia desperdiçado uma cobrança no jogo.
Na semifinal, o adversário foi o Palmeiras de Marcos, então campeão mundial pela Seleção Brasileira. Nenê abriu o placar para o Verdão. Mas, no segundo tempo, Vandick, Luis Carlos Trindade e Albertinho viraram o jogo para os bicolores.
Final
O Cruzeiro de Cris, Fábio Júnior e Jussié estava disposto a estragar a festa bicolor na final. E conseguiu parcialmente. Fábio Júnior colocou os cruzeirenses à frente no marcador no início da partida. Ainda no primeiro tempo, Sandro Goiano aproveitou rebote na entrada da área e chutou forte para empatar. A primeira etapa também ficou marcada pela polêmica. O Papão reclamou de dois pênaltis não marcados.
No segundo tempo, Joãozinho desempatou para os visitantes, que só não conseguiram ampliar graças a um dos melhores jogadores do Paysandu no campeonato, o goleiro Marcão. Apesar da superioridade mineira, os bicolores forçaram o jovem goleiro Jefferson, atual dono da camisa 1 do Botafogo, a participar diretamente de alguns lances. Até que, passado os 40 minutos do segundo tempo, Albertinho cavou uma falta dentro da área, e o árbitro marcou pênalti. O atacante cobrou, mas jogou a bola para fora.
Dia 4 de agosto. Paysandu e Cruzeiro se reencontravam em Fortaleza, no Castelão. Apesar do revés na primeira partida, os jogadores do Papão estavam mais relaxados, pelo fato da responsabilidade da conquista ter recaído mais sobre o Cruzeiro, segundo o Vandick. “A missão era redobrada. Mas digo que fomos até um pouco mais relaxados porque a gente sabia que a partir do momento em que o Cruzeiro venceu o jogo em Belém, mesmo jogando com um estádio totalmente torcendo contra eles, então a responsabilidade passou a ser deles”, disse o atacante. Mas, de acordo com ele, esse fator foi secundário. A competência, preparação e concentração do grupo prevaleceram.
A prova mais concreta disso ocorreu logo no início da decisão. O Cruzeiro saiu novamente na frente com Fábio Junior, logo aos sete minutos. A reação bicolor foi quase imediata. Vandick aproveitou rebote de Jefferson e empatou. Pouco tempo depois, o camisa 11 virou para o Paysandu. Ainda no primeiro tempo, Cris empatou para os mineiros, mas, outra vez, Vandick colocou o Papão em vantagem.
Os cinco gols no primeiro tempo eram o prelúdio do que vinha no segundo. Fábio Júnior, artilheiro da competição, voltou a empatar. O Paysandu precisava de mais um gol para se manter no páreo. E conseguiu, com Jóbson, de cabeça: 4 a 3 no placar. O ritmo da partida diminuiu e, para o Papão, levar a final para os pênaltis era o mínimo dos objetivos. E assim ficou o resultado no tempo normal.
Nas cobranças de pênalti, pelo lado cruzeirense, Ricardinho e Vander acertaram o travessão, enquanto Jussié parou nos pés de Marcão. No Paysandu, Jobson, Vélber e, por último, Luís Fernando, converteram as cobranças: 3 a 0. Os bicolores conquistavam a Copa dos Campeões.
Festa em Fortaleza e, principalmente, em Belém, que mais uma vez foi pintada de azul e branco, especialmente o “point” de comemorações de títulos na época: o Doca Boulevard.
[@#galeria#@]
Curiosidades
Autor de três gols na decisão e vice-artilheiro do campeonato, o camisa 11 Vandick revelou o que usou como espécie de “amuleto” naquele dia: a cocada. “A gente estava concentrado no hotel e, lógico, a nossa alimentação era diferente das dos outros hóspedes. E, quando eu ia subindo para o nosso apartamento, vi o Buffet dos outros hóspedes e tinha cocada como sobremesa, e eu adoro cocada. Encostei para pegar uma, mas nosso preparador físico vinha atrás e disse que não podia comer cocada porque tinha jogo no dia. Daí eu falei para ele ‘poxa, professor. Toda vez que como cocada eu faço gol’. Ele ficou rindo. Eu subi para o quarto. Quando estava lá ouvi alguém bater a porta. Era o Wellington Vero, nosso preparador físico, com um prato cheio de cocada. E disse ‘ agora vai lá e faz os gols’”, confessou Vandick.
Apesar de ter sido um dos grandes protagonistas da final, Vandick evita se colocar acima dos demais jogadores. Para ele, cada um teve a devida importância e trataram aquela decisão como o jogo da vida deles. “Não vejo que fui mais importante do que os atletas que estiveram ali. Cada um teve sua importância. Todos nós encaramos aquele jogo como o mais importante das nossas vidas. Porque seria um título inédito para o Paysandu. A união total do grupo foi fundamental para que a gente alcançasse êxito naquele jogo. Até hoje me emociono com as imagens e, até mesmo, por saber da grandeza que foi aquele título para cada um de nós e para esse grandioso clube que é o Papão da Curuzu”, concluiu.
Por Mateus Miranda.