O novo coronavírus provocou mais de 30.000 mortes apenas na Europa, com a Espanha atingindo um novo recorde diário nesta quarta-feira (1), o que levou o planeta a enfrentar a pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, segundo a ONU.
Com 864 mortes nas últimas 24 horas, para um total de 9.053 vítimas fatais, e mais de 100.000 casos oficialmente declarados, a Espanha segue o trágico ritmo da Itália (12.428 mortos até terça-feira), os dois países europeus mais afetados pela COVID-19.
Em termos percentuais, que as autoridades espanholas estabelecem como um indicador de que a epidemia se estabiliza, o crescimento da mortalidade mantém sua paulatina desaceleração. Nas últimas 24 horas, alcançou 10,6%, contra os 27% registrados há uma semana.
Madri se mantém como a região da Espanha mais afetada pela epidemia, com pouco mais de 40% dos casos. Na Catalunha (nordeste), a doença segue em expansão, e a região registra mais pacientes em cuidado intensivo do que a capital.
Na Itália eram observadas longas filas diante de restaurantes populares, enquanto alguns supermercados foram alvos de saques, segundo a imprensa.
Mais 500.000 italianos precisam de ajuda para comer, que se unem aos 2,7 milhões que precisavam no ano passado, informou o Coldiretti, maior sindicato de agricultura do país.
"Normalmente servimos 152.525 pessoas. Agora temos 70.000 pedidos a mais", disse Roberto Tuorto à frente de um banco de alimentos.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump pediu aos compatriotas que se preparem para "os dias muito difíceis que nos esperam" e declarou que as próximas "serão duas semanas muito, muito dolorosas".
O número de mortes nos Estados Unidos pela COVID-19 superou 4.000 na madrugada de quarta-feira, um dado que dobrou em apenas três dias, de acordo com o balanço da Universidade Johns Hopkins.
Em todo o planeta, o coronavírus provocou mais de 43.000 vítimas fatais, com alguns países muito afetados, como o Irã, que registra mais de 3.000 óbitos.
Quase metade da população mundial está sob algum tipo de confinamento, enquanto os países buscam desesperadamente deter o avanço do vírus que já infectou mais de 865.000 pessoas no planeta desde que foi detectado em dezembro na China.
- As consequências econômicas -
O fechamento temporário de empresas e a paralisação da atividade econômica provocadas por tais medidas deixaram muitos trabalhadores sem renda e as consequências começam a ser percebidas nos países mais afetados.
Por exemplo, a indústria automobilística registrou uma queda histórica de mais de 70% no mercado francês.
A ansiedade pelo avanço da pandemia retornou nesta quarta-feira aos mercados, com perdas expressivas nas Bolsas europeias e asiáticas.
Enquanto Itália e Espanha devem estar próximas do pico de contágios após várias semanas de confinamento, o ponto máximo ainda não está próximo na América do Norte.
Estados Unidos registram quase 189.000 contágios, um número que dobrou em apenas cinco dias.
Integrantes da equipe especial de luta contra a pandemia do governo Trump divulgaram um prognóstico sombrio de entre 100.000 e 240.000 mortes no país nos próximos meses, caso as restrições atuais sejam respeitadas.
Nova York iniciou uma corrida contra o tempo para aumentar a capacidade de seus hospitais antes do pico da epidemia, esperado para acontecer dentro de sete a 21 dias, de acordo com o governador do estado, Andrew Cuomo.
Em Manhattan foram criados hospitais de campanha em um centro de convenções e em pleno Central Park. As autoridades planejam outra instalação similar no complexo esportivo de Flushing Meadows.
"É como uma zona de guerra", disse Donald Trump.
- "A humanidade está em jogo" -
Na América Latina, onde foram registrados quase 19.000 infectados e mais de 500 mortes, vários países decidiram prolongar as medidas, em uma tentativa de evitar o colapso dos sistemas de saúde.
Cuba anunciou o cancelamento do emblemático desfile do Dia do Trabalho em 1º de maio.
As turbulências econômicas e políticas provocadas pelo vírus representam um perigo real para a relativa paz que o mundo viveu nas últimas décadas, afirmou na terça-feira o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.
"É uma combinação, por um lado, de uma doença que é uma ameaça para todos no mundo, e em segundo lugar, porque tem um impacto econômico que provocará uma recessão sem precedentes no passado recente", disse Guterres.
"A humanidade está em jogo", advertiu.
"A combinação dos dois fatores e o risco de que contribua para uma crescente instabilidade, uma violência crescente e um conflito crescente é o que nos faz acreditar que esta é, de fato, a crise mais desafiadora que enfrentamos desde a Segunda Guerra Mundial", explicou.
Os ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G20, que se reuniram na terça-feira por videoconferência, prometeram ajudar os países mais pobres a suportar o fardo da dívida e a ajudar os mercados emergentes.
Na semana passada, os líderes deste grupo de países mais ricos e emergentes anunciaram que injetariam 5 trilhões de dólares na economia global para dissipar os temores de uma recessão.
- Casos assintomáticos na China -
Em Wuhan, a cidade em que a pandemia teve origem, as medidas de confinamento começaram a ser retiradas progressivamente e os primeiros passos ao ar livre de seus habitantes têm como principal motivação homenagear os mortos.
Paralelamente, a China anunciou nesta quarta-feira 1.367 casos assintomáticos de coronavírus, que se somam aos 81.554 contágios registrados, ao publicar pela primeira vez o número de pessoas atualmente positivas mas sem manifestar febre e tosse características da COVID-19.
Ao mesmo tempo, a escassez derivada da pandemia provocou protestos em alguns países pobres, por exemplo na África.
"Na Nigéria, quando você trabalha já passa fome. Imagine quando não pode trabalhar", resumiu Samuel Agber, que trabalha com reparos de aparelhos de ar condicionado.
"Que nos importa este vírus, se temos filhos e netos para alimentar", criticou uma idosa em Port Elizabeth (África do Sul).