A vice-presidente dos EUA, o primeiro-ministro chinês e o ministro das Relações Exteriores russo participaram nesta quinta-feira (7) na Cúpula do Leste Asiático, na qual o presidente indonésio, anfitrião do evento, emitiu um alerta sobre as crescentes rivalidades entre as potências.
A reunião de 18 nações na capital indonésia, Jacarta, colocou a China e os Estados Unidos frente a frente um dia depois de o primeiro-ministro Li Qiang ter alertado que as grandes potências devem administrar as suas diferenças para evitar "uma nova Guerra Fria".
##RECOMENDA##As interações entre as duas delegações foram acompanhadas de perto devido ao risco de intensificação das tensões sobre Taiwan, aos laços com a Rússia e à rivalidade para ganhar influência no Pacífico.
"Peço aos líderes da Cúpula do Leste Asiático que façam deste um fórum para reforçar a cooperação e não para aguçar as rivalidades", disse o presidente indonésio, Joko Widodo, no seu discurso de abertura.
Na quarta-feira, tanto Li Qiang como a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, reuniram-se separadamente com os líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Nessa reunião, Harris destacou "a importância de defender o direito internacional no Mar da China Meridional", reivindicado quase inteiramente por Pequim em disputa com outros países costeiros.
A cúpula desta quinta-feira foi também a primeira reunião entre os líderes dos EUA e da Rússia em quase dois meses, após uma tensa reunião da ASEAN em julho, na qual o chefe da diplomacia de Moscou, Serguei Lavrov, recebeu repreensões dos seus homólogos ocidentais pela invasão da Ucrânia.
Lavrov falou nesta quinta-feira sobre os riscos de "militarizar o leste asiático" e acusou a Otan de "penetrar" na região, segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores russo.
Na véspera, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, anunciou uma nova ajuda à Ucrânia de 1 bilhão de dólares (4,9 bilhões de reais) durante uma visita a Kiev.
- "Inaceitável" -
Autoridades dos países da ASEAN, Índia, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Austrália também participaram da cúpula de Jacarta.
O presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, disse que qualquer tentativa unilateral de mudar o status quo no Mar da China Meridional é "inaceitável" e apelou a uma "ordem marítima baseada em regras" para administrar esta importante rota marítima, segundo o seu gabinete.
O presidente filipino, Ferdinand Marcos, instou os líderes a se oporem ao "uso perigoso da guarda costeira" e a quaisquer navios utilizados pelas autoridades chinesas, após vários incidentes envolvendo navios chineses nos últimos meses, de acordo com um discurso publicado pelo seu gabinete.
Mas a declaração conjunta da cúpula, vista pela AFP, omite qualquer menção ao Mar da China Meridional, em grande parte reivindicado pela China, ou à guerra na Ucrânia.
À margem da cúpula, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, reuniu-se com Li Qiang e confirmou que visitará Pequim este ano. O primeiro-ministro chinês disse a ele que o seu país estava disposto a retomar as trocas bilaterais.
Depois de anos de atritos sobre questões econômicas e políticas, a Austrália tem tentado colocar a sua relação com a China nos trilhos desde que o líder trabalhista chegou ao poder em 2022.
Mas, para além de reunir todos estes líderes, os especialistas não esperam que a cúpula ajude a resolver a vasta gama de disputas regionais e globais.
As grandes potências aproveitaram as negociações anteriores em Jacarta para traçar alianças e exercer pressão sobre o bloco de dez nações da ASEAN (Mianmar, Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã).