Tópicos | Dom Phillips

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu a Ordem de Rio Branco, em uma homenagem póstuma, ao indigenista brasileiro Bruno Pereira e ao jornalista britânico Dominic Phillips, assassinados em junho de 2022 durante viagem pelo Vale do Javari, no Estado do Amazonas. A homenagem aos ambientalistas consta de decreto publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (21).

Instituída no âmbito do Ministério das Relações Exteriores em 1963, a Ordem de Rio Branco tem o objetivo de "distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas" e, assim, "estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção". A comenda, criada em deferência ao Patrono da Diplomacia Brasileira, o Barão do Rio Branco, tem cinco graus: Grã-Cruz, Grande Oficial, Comendador, Oficial e Cavaleiro, além de uma medalha anexa à Ordem.

##RECOMENDA##

Os homenageados receberam a insígnia pela categoria de "comendador". A Ordem é dividida em dois quadros - ordinário e suplementar - o primeiro destinado a agraciar diplomatas brasileiros da ativa e o segundo, diplomatas aposentados e demais pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras.

Além do decreto dos ambientalistas, o Diário Oficial desta terça traz um série de outros que concedem a medalha a outras autoridades e instituições. Em um deles, Lula homenageia a própria mulher, a primeira-dama do País, Rosângela Lula da Silva, a Janja. No mesmo ato, também são condecoradas a segunda-dama, Maria Lúcia Ribeiro Alckmin, esposa do vice-presidente Geraldo Alckmin, as ministras Margareth Menezes (Cultura), Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão) e vários outros ministros do governo federal. Todos eles receberam a Ordem de Rio Branco no quadro suplementar no grau Grã-Cruz.

A sessão solene para homenagear o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, realizada nesta segunda-feira (19) na Câmara dos Deputados, foi marcada pela defesa da necessidade de proteger os que ainda estão na região próxima ao Vale do Javari, no Amazonas, com a conservação da floresta e a garantia dos direitos dos povos indígenas. Bruno e Dom foram assassinados em junho do ano passado, quando navegavam na região. 

Procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, Eliésio Marubo desabotoou a camisa durante a sessão para mostrar o colete à prova de balas que precisa usar para se proteger. “Eu não quero acreditar que, em um Estado Democrático de Direito, isso aqui seja normal [bate no colete]. Isso não é normal. Andar com segurança do lado não é normal. Não é para ser considerado normal”, lamentou.

##RECOMENDA##

A deputada Juliana Cardoso (PT-SP), que solicitou a sessão, disse que os povos indígenas já perderam muitas pessoas na defesa dos seus direitos e precisam ser cuidados. E citou Bruno e Dom. “Os legados deles vão continuar. Vão ecoar no mais alto tom não somente na Amazônia, mas em todo o nosso Brasil. A voz desta pauta, daqueles que lutam pela garantia dos direitos e da proteção territorial do nosso povo”. 

Em julho de 2022, o Ministério Público denunciou três pessoas pelos homicídios e ocultação de cadáveres. Em janeiro deste ano, a Polícia Federal apontou Ruben Dario Villar, conhecido como Colômbia, como o mandante dos crimes. Ele é suspeito de atuar com pesca ilegal no Vale do Javari. O Ministério dos Povos Indígenas criou um grupo de trabalho para promover a segurança na região. 

*Da Agência Câmara de Notícias

Um ano depois do assassinato do jornalista britânico Dom Phillips (1964-2022) e do indigenista brasileiro Bruno Pereira (1980-2022), a edição de 2023 da Feira do Livro abre os trabalhos nesta quarta-feira (7), com homenagens a ambos. Organizado pela Associação Quatro Cinco Um e pela Maré Produções, a Feira do Livro ocorre até o dia 11 de junho (domingo), na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo. 

Financiada com a Lei de Incentivo à Cultura, a entrada será gratuita para quem quiser acompanhar algumas das 94 tendas e 23 bancadas do evento ao longo dos cinco dias. Ao todo, serão 60 autoras e autores, e 144 expositores. Dentre eles, nomes conhecidos como o fotógrafo Bob Wolfenson, a professora Patrícia Hill Collins, o escritor Itamar Vieira Junior, e o também escritor Milton Hatoum.  

##RECOMENDA##

A sessão de abertura da feira, que entra em segunda edição, contará com a participação do líder Yanomami Davi Kopenawa, que lançará um livro em colaboração com Bruce Albert e com o jornalista britânico, correspondente do jornal The Guardian no Rio de Janeiro, Tom Phillips. O encerramento da feira do ano passado quando os autores que se apresentaram prestaram uma homenagem a Bruno e Dom, cujos corpos haviam sido descobertos pela polícia, no Vale do Javari, Amazonas. 

Um ano após os assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, no Vale do Javari, no Amazonas, seis cidades brasileiras fazem atos nesta segunda-feira (5), em memória das vítimas. Os atos ocorrem no Rio de Janeiro, Brasília, Campinas, Belém, Salvador e Atalaia do Norte (AM). Também haverá manifestação em Londres, na Inglaterra.

No Rio de Janeiro, o ato foi na Praia de Copacabana, na zona sul da cidade, e reuniu a viúva de Dom, Alessandra Sampaio, seus familiares e amigos do jornalista.

##RECOMENDA##

Alessandra Sampaio destacou que confia na Justiça brasileira para julgar os assassinos e mandantes do crime. Ela acredita que o julgamento seria um recado importante para as redes criminosas que atuam no Vale do Javari e em outras áreas da Amazônia. Ela também defendeu que é importante proteger as pessoas que vivem nesses territórios das organizações criminosas que atuam na Amazônia.

“Essa rede criminosa se aproveita da pobreza que existe na região, de uma falta de oportunidade de trabalho. Eles arregimentam pessoas para trabalhar no garimpo, para desmatar florestas. E quando a gente vai mudar isso? A gente vê isso desde sempre. Vai precisar morrer mais jornalista lá? Vai precisar morrer quantos indígenas? Quantos ativistas vão precisar ser mortos para se ter uma mudança real?”, cobrou Alessandra durante o ato, no Rio de Janeiro.

Vale do Javari

O líder indígena Beto Marubo, integrante da Organização Representativa dos Povos Indígenas da Terra do Vale do Javari (Univaja), também participou do ato no Rio de Janeiro.

Ele afirmou que, apesar da mudança de governo na esfera federal neste ano, nada mudou em relação à realidade daquela região.

“O governo brasileiro deve uma explicação para o mundo, e quais providências vão fazer a partir de agora. O que o Brasil vai fazer de fato? Não temos uma resposta oficial das autoridades ainda”, disse.

Segundo Marubo, durante a transição de governo foram apresentadas várias sugestões para melhorar a situação do Vale do Javari, mas até agora nenhuma dessas medidas foi adotada.

“O Estado brasileiro tem que ter responsabilidade e estar ciente de que uma ou duas instituições [sozinhas] não vão resolver o problema. Tem que ter uma atuação interagências, coordenada, com um planejamento técnico, em conjunto com Funai, Exército, Polícia Federal, Ibama e Força Nacional. Numa perspectiva de curto, médio e longo prazo”, defendeu.

Ele disse que as estruturas da Funai na região são muito precárias e a agência não tem hoje capacidade de enfrentar criminosos armados. “É preciso haver uma reestruturação dos equipamentos e infraestrutura na região. Não tem como enfrentar a situação no Vale do Javari com seu organograma totalmente desatualizado. É necessário regulamentar o poder de polícia da Funai. Como um órgão que detém a responsabilidade de proteger terras indígenas vai enfrentar pessoas armadas, por exemplo?”

Marubo também criticou a aprovação do Projeto de Lei do Marco Temporal para demarcação de terras indígenas (PL 490/07), pela Câmara dos Deputados.

“Esperamos que ela não venha a ser convalidada [pelo Senado], porque isso seria um retrocesso tremendo. É algo que vai afetar diretamente os povos indígenas isolados. Ela permite a usurpação das terras indígenas”, destacou.

Livro

Amigos e colegas jornalistas de Dom vão se reunir, a pedido de sua família, para concluir a livro do britânico. O projeto iniciou uma campanha de financiamento coletivo para levantar as 16 mil libras esterlinas (cerca de R$ 100 mil) necessárias para a conclusão do trabalho. Até a manhã desta segunda-feira, a campanha já tinha angariado cerca de 10,5 mil libras.

“Vamos imediatamente começar a enviar repórteres para sete locais remotos da bacia amazônica, que é 28 vezes maior que o Reino Unido. A maioria dos lugares onde precisar chegar só são acessíveis por barco, trilhas a pé que levam dias no meio da floresta ou pegando carona em um helicóptero”, informa o texto que anuncia a campanha.

“Os destruidores da Amazônia continuam extremamente poderosos e precisam ser responsabilizados por seus crimes”, alerta o documento.

Um ano

Bruno e Dom foram mortos em uma emboscada, quando o jornalista reunia informações para um livro que escrevia sobre a Amazônia. O livro Como Salvar a Amazônia buscava contar a história de defensores da floresta e dos direitos indígenas na floresta amazônica.

O indigenista foi morto com três tiros, sendo um deles pelas costas, sem qualquer possibilidade de defesa. Já Dom foi assassinado apenas por estar com Bruno, ou seja, para eliminar a testemunha do crime.

Três pessoas foram denunciadas à Justiça Federal por envolvimento no crime e na ocultação dos corpos: Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa Oliveira e Jefferson da Silva Lima. Eles alegaram legítima defesa, em depoimento à Justiça, em maio.

A Polícia Federal (PF) também indiciou outras pessoas, entre elas dois ex-dirigentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), por dolo eventual, ao não garantir a segurança de seus servidores na região.

A PF investiga ainda Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, que, suspeita-se, tenha sido o mandante do crime. Segundo a PF, a suspeita é que ele tenha planejado os assassinatos devido a desavenças com Bruno, já que o servidor licenciado da Funai atuava contra a pesca ilegal na região.

Um inquérito da PF contra a pesca ilegal também foi encerrado com o indiciamento de dez pessoas.

 

Conhecer e proteger alguém usando apenas os rastros que deixa pelo caminho - arcos, flechas, artefatos, vestígios de alimentos e itens de acampamentos provisórios. É dessa forma que trabalham indigenistas que se ocupam da defesa de povos em isolamento voluntário, como Bruno Pereira, que esteve à frente da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), e foi morto em junho de 2022, em uma emboscada que também custou a vida do jornalista britânico Dom Phillips, correspondente do The Guardian. Ambos pagaram o preço por denunciar crimes socioambientais praticados no Amazonas.

Um ano depois de os dois serem assassinados, restam, para muitas pessoas, dúvidas sobre as comunidades que buscavam proteger. Os povos isolados estão em maior número no Brasil do que em qualquer outro local no mundo, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, onde também vivem outros agrupamentos indígenas, inclusive alguns de recente contato.

##RECOMENDA##

O isolamento é, em geral, uma escolha dessas comunidades. Elas preferem manter distância de não indígenas, e até mesmo de outras etnias, por diversas razões. Um dos principais motivos é a recusa em manter uma ponte com o Estado e a existir em conformidade com a lógica do lucro, uma vez que, na maioria das vezes, já foram vítimas dessa situação, tendo experimentado matanças de seus pares. Há possibilidade de ter havido um trauma oriundo de outras vivências, como a de choque com outros povos. Como destaca um livro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Editora da Universidade Federal do Amazonas sobre o assunto, "a existência de grupos indígenas isolados, muitos enxotados de  suas  terras  e  em  busca  de  refúgio  em  lugares  de  acesso  muito difícil, alerta para o 'terrorismo do desenvolvimento', pensado em função de interesses externos, fora da Amazônia".

A obra do Cimi, de 2011, ressalta que o isolamento é mais comum na região amazônica por causa de suas características geográficas e ambientais. Contudo, outros locais, como o Cerrado brasileiro, o Gran Chaco, localizado entre o Paraguai e o Sul da Bolívia, e ilhas da Nova Guiné e do Sul da Índia também são lar de povos em isolamento voluntário.

Conforme esclarece o antropólogo Tiago Moreira, do Instituto Socioambiental (ISA), muitos povos deixam o isolamento para sinalizar que estão em apuros diante das ameaças à sua existência e ao seu modo de viver. O pedido de ajuda pode ocorrer mesmo que não seja de maneira explícita, e sim sutil. "Muitas vezes, esses povos têm contato intermitente, esporádico, com outros povos indígenas, por meio dos quais conseguem até ter acesso a instrumentos de metal, como facão, machado", afirma, em complemento à definição do que são os povos em isolamento voluntário.

O fundador do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), o antropólogo Gilberto Azanha, enfatiza que o número reduzido de rastros e indícios que os povos em isolamento voluntário deixam é proposital e calculado. "O que significa viver escondido? Viver escondido significa deixar pouca pista", diz ele, que atualmente é conselheiro consultivo do CTI. "São várias situações. Cada povo tem uma pequena história, profunda, sobre suas experiências de contato com outros, sejam os outros terríveis, como os agentes da nossa sociedade ocidental, sejam missionários, agentes da especulação imobiliária, madeireiros, e com outros povos indígenas da região, seu entorno. Todos construíram a sua, seja lá por que motivo. A gente só vai especular quando eles decidirem se apresentar e expor a sua história, por que se isolaram, por que passaram a viver escondidos. Isso a gente só pode especular."

O povo isolado que vive na TI Massaco, em Rondônia, diz Azanha, é um dos que têm demonstrado curiosidade de ver o que se passa em suas fronteiras. "Eles têm umas saídas, os especialistas costumam falar dos jovens, para observar o que se passa e nisso deixam algumas pistas que o pessoal da Funai acompanha e ativa um sistema de proteção mais eficaz nessas áreas onde têm aparecido, meio de repente."

Como não há, geralmente, uma comunicação verbal com os povos em isolamento, que poderia permitir maior entendimento sobre a cultura de cada, eles podem ser identificados a partir de seu ponto geográfico. Há nomes como "isolados do Alto Xeruã", "isolados do Rio Copaca/Uarini" e "isolados do Igarapé Lambança".

Alguns desses povos, explica Azanha, desenvolvem sofisticação em suas andanças e movimentos, tenho habilidades excepcionais, por exemplo, de caminhar na floresta à noite. Como o intuito é perambular despercebido, um deles até parou de fazer roçados, de abrir clareiras na mata e de construir casas mais permanentes.

Tiago Moreira comenta ainda que, nos anos 80, houve, em Rondônia ocorrências de povos isolados e de recentes contatos, que acabaram se deparando com pessoas que não pertenciam à sua comunidade e o resultado disso foi um elevado número de mortes. "A partir dos anos 80, também foi construída uma política de não contato, principalmente baseada no fato de que as experiências de aproximação eram desastrosas, as pessoas morriam, os grupos passavam por um processo de perda populacional muito grande. Então, a Funai, junto com os antropólogos, indigenistas, se reuniram para decidir o que fazer. Aí, foi indicada essa política de não contato e adotada uma série de protocolos, porque, eventualmente, esse contato teria que ser feito em caso de risco desse grupo [isolado].

Rede de proteção

O órgão que oficialmente faz o acompanhamento e registro dos povos em isolamento voluntário é a Funai. Contudo, outras organizações, como o Instituto Socioambiental (ISA), colaboram com essa função. A autarquia, afirma Tiago Moreira, busca vestígios e tenta manter distância segura desses povos". "É um trabalho muito minucioso e cuidadoso, porque encontrar os vestígios dessas populações na floresta é uma coisa realmente bastante difícil. E, ao mesmo tempo, não se pode ficar ali dando bobeira, porque pode-se encontrar com esses isolados. Já aconteceu, a gente perdeu um colega da Funai, o Rieli [Franciscato, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau]. Ele estava fazendo uma ação de proteção na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, porque os isolados estavam sendo vistos fora da terra indígena. Tinham aparecido em uma fazenda, uma chácara, algo assim, que fica no limite da terra indígena, e foi para lá, a fim de tentar entender a situação e ver esses vestígios, para saber por onde estavam andando. Acabou sendo flechado por esses isolados. É um trabalho que é feito a distância", diz o antropólogo, completando que quando a área ainda não é demarcada, há um empenho para, pelo menos, interditar o território, com o objetivo de preservá-la contra invasores e ameaças.

Segundo Moreira, no caso do ISA, o monitoramento é feito com a ajuda de satélites. "Nesse caso, tentando mais monitorar as pressões ao território do que propriamente se os isolados estão ali, porque, pelo satélite, é quase impossível acompanhar a presença deles. Então, a gente faz um monitoramento das ameaças, principalmente do desmatamento", esclarece.

Para o antropólogo do ISA, os maiores inimigos, atualmente, dos povos em isolamento voluntário são o garimpo e o desmatamento. Além disso, enfrentam o narcotráfico, fazendeiros, caçadores, posseiros, madeireiros e a especulação imobiliária.

Moreira lembra que, no interior da TI Yanomami, há povos com esse perfil. "O que a gente viu nos últimos quatro, cinco anos foi que houve um crescimento do desmatamento em terras indígenas sem precedentes e que boa parte dele foi em terras indígenas com a presença de povos isolados".

PL 490/2007

Outra entidade que forma a rede proteção é o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), criado, conforme conta uma de suas integrantes, Luisa Suriani, durante o governo Bolsonaro, como reação ao aumento da vulnerabilidade dos indígenas. Muitas pessoas que fazem parte do observatório, relata ela, deixaram outras atividades com que estavam envolvidas para se dedicar exclusivamente a ele, após a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips.

A mestranda em antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) diz que o Projeto de Lei (PL) 490/2007, aprovado na última terça-feira (30) na Câmara dos Deputados por 283 votos contra 155, contém trecho relacionado aos povos em isolamento que preocupa especialistas. O Artigo 29 da proposta, que trata do marco temporal na demarcação de terras indígenas, permite que haja contato com esses povos, "para intermediar ação estatal de utilidade pública". No último dia 26, o OPI e o Cimi já alertaram para esse aspecto, questionando o contato forçado e denunciando que, em nome de "suposto interesse público", grandes empreendimentos promoveram verdadeiros massacres, genocídios, como a construção de rodovias, hidrelétricas, projetos de mineração, colonização e agropecuária.

"Isso abala completamente a política do não contato, que é a da Funai. Ou seja, a gente respeita a autonomia dos povos isolados e entende que essa forma de viver é uma forma de recusar o contato direto. O Artigo 29 propõe uma coisa que vai contra a política do não contato, consolidada no Brasil, e impõe um problema muito grave", afirma Luisa.

Embora acredite que esteja em curso, pelo governo Lula, o que chama de "desintrusão da Funai", isto é, a troca de figuras com posição anti-indígena por indígenas e indigenistas com anos de carreira na autarquia, Luisa diz que a recuperação do desmonte, que se estende a limitações de orçamento, ainda provoca inquietude. "As frentes de Proteção Etnoambiental, que são bases da Funai por região e cuidam de registros de povos isolados, sofrem com falta de comida. Daqui a pouco, não vai ter comida para abastecer essas bases. É uma coisa muito elementar", afirma.

A noção de que poucas pessoas dominam conhecimentos sobre os povos em isolamento voluntário é uma percepção errônea, para a antropóloga. "No fim das contas, os verdadeiros especialistas são os próprios indígenas que compartilham os territórios com eles. Só que, durante muito tempo, a questão dos isolados ficou muito marcada como uma política da Funai. São dados muito sigilosos, até por essa questão de invasão. Então, há dificuldade de se acessar as informações justamente por causa da proteção desses dados. Muitas vezes, cria-se essa nebulosidade de que é algo que poucos sabem. Não, na verdade, quem está no campo, na base, que são os próprios indígenas, sabe disso muito bem. E acho que, dentro da antropologia, agora pensando em algo mais acadêmico, também para uma discussão política, é uma pauta que tem crescido, têm sido ampliado esses estudos mais antropológicos, sociológicos. Mas a expertise de fato é de quem está em campo, que são os próprios indígenas", defende a pesquisadora, para quem a devida remuneração e contratação dos indígenas que têm proximidade com os isolados deve ser uma prioridade da Funai.

A Agência Brasil procurou a Funai e o Ministério dos Povos Indígenas, mas não teve retorno até o fechamento desta matéria.

A Polícia Federal indiciou o ex-presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Marcelo Xavier por dolo eventual nos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, mortos em junho de 2022 em uma emboscada na região amazônica. O ex-vice-presidente da então Fundação Nacional do Índio Alcir Amaral Teixeira também foi indiciado.

Em nota, a Polícia Federal diz que Xavier e Teixeira tomaram conhecimento, em reunião da Funai no dia 9 de outubro de 2019, do “risco de vida dos servidores do órgão e não adotaram as providências necessárias para a proteção dos funcionários”. Bruno era funcionário da Funai e estava licenciado.

##RECOMENDA##

De acordo com a PF, por não tomarem providências, Marcelo Xavier e Alcir Teixeira “teriam assumido o risco do resultado de suas omissões, que culminou no duplo homicídio”.

Marcelo Xavier foi exonerado do comando da Funai em dezembro de 2022. Ele assumiu o cargo em julho de 2019.   

Caso Bruno e Dom

Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos nas proximidades da Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas. Eles articulavam um trabalho conjunto para denunciar crimes socioambientais na região do Vale do Javari, onde há a maior concentração de povos isolados e de contato recente do mundo.

Na Terra Indígena Vale do Javari, encontram-se 64 aldeias de 26 povos e cerca de 6,3 mil pessoas.  As autoridades policiais colocaram sob suspeita pelo menos oito pessoas, por possível participação nos homicídios e na ocultação dos cadáveres.

A Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) decidiu nesta semana anular depoimento de três acusados pelos assassinatos. Pela decisão, devem ser anulados e colhidos novamente os depoimentos dos réus Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa Oliveira e Jefferson da Silva Lima.

Em depoimentos da semana passada, os réus voltaram atrás na confissão que haviam feito à polícia e passaram a sustentar uma versão segundo a qual agiram em legítima defesa. Foi a primeira vez que os três se manifestaram perante o juiz.

No final de outubro de 2022, o suposto mandante do assassinato, Rubens Villar Pereira, foi posto em liberdade provisória após pagar fiança de R$ 15 mil.

A Agência Brasil tenta contato com os ex-dirigentes da Funai, indiciados pela Polícia Federal.

A Diretoria do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato será ocupada por Beatriz de Almeida Matos. Com a publicação no Diário Oficial dessa quinta-feira (16), a antropóloga entrou para o Ministério dos Povos Indígenas.  

Beatriz Matos é antropóloga e professora da Universidade Federal do Pará. Ela também já presidiu o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi). 

##RECOMENDA##

"É uma honra fazer parte desse Ministério. Aceitei o desafio com esperança, alegria e saudade. Vou com ele e vários parceiros para fazermos o que sonhamos juntos", escreveu nas redes sociais 

Ela foi casada e teve dois filhos com Bruno Pereira. O indigenista que foi executado em junho do ano passado junto com o jornalista britânico Dom Phillips, durante uma expedição no Vale do Javari. Em janeiro deste ano, a Polícia Federal apontou como mandante dos homicídios, Ruben Dario da Silva Villar, conhecido como "Colômbia", responsável por fornecer munição aos executores. 

A primeira-dama Michelle Bolsonaro será condecorada com a medalha Mérito Legislativo, nesta terça-feira (6), pela Câmara dos Deputados. A honra também será prestada ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista Dom Phillips, assassinados em junho deste ano no Vale do Javari, terra indígena no Amazonas. Outras 28 personalidades receberão a insígnia no evento. 

A medalha é concedida a autoridades, personalidades, entidades e instituições que tenham prestado serviços relevantes ao Poder Legislativo ou ao país. Além de Michelle, Bruno e Dom, também serão contemplados o ministro Marcelo Queiroga (Saúde), o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, o vice-presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e a presidente do Podemos, Renata Abreu e o padre Júlio Lancellotti. 

##RECOMENDA##

Será a quarta vez que a primeira-dama recebe a medalha do Congresso. Em dezembro de 2021, Michelle foi condecorada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com a medalha da Ordem de Rio Branco, em uma cerimônia realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília. Os feitos que levaram à decisão pela condecoração não foram justificados. 

Além dela, aliados políticos e ministros, como o da Saúde, Marcelo Queiroga, e o da Justiça, Anderson Torres, além do procurador-geral da República, Augusto Aras, também receberam a condecoração da Ordem de Rio Branco no último ano. 

Segundo consta no regulamento de entrega da medalha, o objetivo da homenagem da Ordem de Rio Branco é "galardoar as pessoas físicas, jurídicas, corporações militares ou instituições civis, nacionais ou estrangeiras que, pelos seus serviços ou méritos excepcionais, se tenham tornado merecedoras dessa distinção". 

 

Foi aprovado nesta quarta-feira (30) o parecer final da comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha a investigação do assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na região do Vale do Javari (AM). O documento pede a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar crimes praticados na região, entre outras medidas.

A relatora, deputada Vivi Reis (Psol-PA), destacou a “omissão planejada do governo em favor do crime organizado” e a falta de atuação de autoridades diante de "tragédia anunciada", referindo-se ao potencial de conflitos envolvendo diversos interesses na região.

##RECOMENDA##

A principal conclusão do texto é a necessidade de aprofundamento das investigações.  “Até o momento, não foi dada uma resposta adequada, e não vamos deixar que um tão repugnante crime caia no esquecimento. É preciso fazer justiça e honrar a memória de Bruno e Dom”, reforçou a parlamentar.  

Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram no 5 de junho. Ambos estavam recebendo ameaças de pessoas que atuam ilegalmente na região. Até o momento, Amarildo da Costa, Osney da Costa e Jefferson da Silva foram denunciados e presos pela participação no assassinato, mas ainda não foram ouvidos em juízo.

A relatora observa que a princípio a Polícia Federal negava a a existência de uma organização criminosa, baseando a investigação na atuação exclusiva dos três denunciados. No entanto, com pressão de indígenas e indigenistas, as investigações passaram a envolver outros delitos, como o tráfico de drogas.

“Está nítida a existência de associações que não financiam apenas a pesca ilegal, mas que também podem estar utilizando essa prática para lavagem de dinheiro proveniente de tráfico internacional de drogas”, ressaltou Vivi Reis.

No entanto, o parecer aponta um retrocesso no caso: no início de outubro, uma decisão da Justiça Federal no Amazonas concedeu ao suspeito apontado como mandante do crime, Rubens Villar Coelho, o "Colômbia", o direito de cumprir prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.  

A relatora reiterou que essa decisão intensificou o clima de tensão e medo na região. "A prisão do “Colômbia”  foi fruto do grito daqueles que não se conformaram com as conclusões precipitadas, daqueles que não aceitaram a afirmação do Ministro da Justiça de que se tratava de um caso isolado extremamente normal", frisou a deputada.

O relatório também pede a exoneração imediata do presidente da Funai, Marcelo Xavier da Silva, bem como a apuração, pelo Ministério Público Federal (MPF), de suposta ilicitude na conduta de Xavier e de outros gestores da fundação, que teriam atuado para viabilizar o garimpo e a pesca ilegal em territórios indígenas. 

"A manutenção de Marcelo Xavier na presidência é uma afronta aos servidores da Funai, aos colaboradores da União dos Povos Indígenas do Vala do Javari (Univaja) e de outras entidades indigenistas. É um ultraje a todos que se preocupam com a vida humana e com os povos indígenas da Amazônia", justifica a relatora.  O deputado José Ricardo (PT-AM), coordenador do colegiado, afirmou que o texto aprovado vai ser crucial para o novo governo, que assume em janeiro. 

“Todas essas medidas são muito importantes para que a gente cobre do próximo governo que realmente fortaleça todas as estruturas do Estado; além do ministério, temos todas as outras áreas que são importantes para atender aos povos indígenas”, defendeu o deputado. 

*Da Agência Câmara de Notícias

Pescadores ilegais que atuam na região remota da Amazônia onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram assassinados este ano ameaçaram de morte e abriram fogo contra um grupo de indígenas. É o que denunciaram nesta sexta-feira (18) organizações de direitos humanos.

O ataque é o mais recente episódio de violência no Vale do Javari, onde o brasileiro e o britânico foram mortos a tiros em junho, supostamente por um grupo de pescadores ilegais.

A região, próxima à fronteira com o Peru e a Colômbia, abriga a maior concentração de tribos isoladas do mundo, mas tem sido afetada por um aumento do desmatamento, da caça e da pesca clandestinos, além do tráfico de drogas.

A tribo Kanamari disse que cerca de 30 membros de sua comunidade estavam viajando em canoas em seu próprio território quando cruzaram com pescadores ilegais em barcos carregados de peixes e tartarugas.

Os pescadores tentaram suborná-los para que não os denunciassem por pesca predatória na reserva indígena, que é uma área protegida, informou a Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja) em um comunicado.

Segundo a Akavaja, quando uma líder indígena se negou, os pescadores a ameaçaram com uma arma de fogo.

“Por conta de atitudes assim que Bruno e Dom foram mortos pela nossa equipe e você será a próxima. Só não te matarei agora porque estamos na presença de muitas crianças”, teria dito um deles.

Os Kanamari relataram que os pescadores cortaram os cabos do motor de uma das embarcações indígenas e saíram a toda velocidade, atirando contra eles. Os tiros perfuraram tambores de gasolina dentro de uma das canoas.

Ocorrido em 9 de novembro, o incidente foi levado a conhecimento público esta semana. Os líderes indígenas dizem que pediram à polícia a abertura de uma investigação.

“A situação vivida pelos Kanamari demonstra que as investigações dos assassinatos de Bruno e Dom não podem ser consideradas encerradas”, declarou o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados (OPI) em nota.

“É uma indicação óbvia de que a violência voltou a escalar. O risco de novas mortes é concreto”, acrescentou.

Pereira, de 41 anos, e Phillips, de 57, estavam viajando pelo Vale do Javari em uma expedição de pesquisa para um livro quando foram emboscados e assassinados. Nove pessoas foram presas pelo caso.

Bruno Pereira já havia recebido ameaças de morte por seu trabalho em defesa da região e dos povos indígenas.

derechosjhb/msi/mel/dg/ic

A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, é uma das maiores riquezas naturais do planeta, pois encerra em si grande biodiversidade e tem importante papel até mesmo no clima, além de ser a casa de diversos grupos tradicionais indígenas. Fonte imensa de diversos tipos de recursos, a área é também alvo de interesses diversos, entre grupos econômicos e criminosos. O recente desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira reacendeu o alerta sobre a preservação e o cuidado de que a região necessita e que vem sendo deixado a segundo plano.

Com quase 7 milhões de quilômetros quadrados de área, a floresta amazônica se estende por nove países, sendo sua maior parte no Brasil. Um espaço tão grande vem sendo cada vez mais visado por grupos diversos, como o agronegócio e mesmo o narcotráfico. Outras forças também atuam na região e geram tensão e conflitos, os quais colocam em risco não só a biodiversidade local, mas também os povos originários indígenas, que veem suas terras cada vez mais ameaçadas.

O trabalho de Dom Phillips e Bruno Pereira era de investigar essas ameaças. Informações dão conta de que estavam tentando desvendar esquema de comércio ilegal de peixes, além de contrabando de drogas. Sumiram, e, até o momento em que escrevo este artigo, ainda não foram localizados. O caso, que já ganhou repercussão internacional, expõe uma dura realidade: a falta de proteção governamental sobre a Amazônia brasileira. Funai e órgãos ambientais vêm sendo sistematicamente enfraquecidos em nome de um “progresso” insustentável, cuja conta chegará no futuro. Com isso, o crime se estabelece com mais força na área, levando medo e destruição. Já passou da hora de uma ação mais enérgica e contundente. Defender nossas fronteiras e regular a exploração dos recursos naturais é obrigação com a vida do brasileiro. O que será de nós sem a floresta? O que será dos povos indígenas?

É claro que o desenvolvimento e o progresso são bem-vindos e necessários, pois não podemos permanecer estagnados. Eles não podem, no entanto, se estabelecer às custas da devastação e da morte. É possível incentivar setores produtivos, sem que se abram as portas para o desmatamento ou que se tomem as terras indígenas, por exemplo. É uma equação a ser cuidadosamente definida, com vistas a permitir um futuro sustentável e digno para todo o país. Esperemos que o trabalho de Dom e Bruno não seja em vão.

A Justiça Federal no Amazonas converteu em preventiva - sem data para acabar - as prisões de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado; Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos; e Jeferson da Silva Lima, conhecido Pelado da Dinha - os três principais investigados pelos assassinatos a tiros do indigenista Bruno Pereira e Dom Philips, na região do Vale do Javari, na Amazônia, no início de junho.

A informação foi prestada pela Polícia Federal, que também indicou que Rubens Villar Coelho, o ‘Colômbia’, também teve prisão preventiva decretada, após ser detido em flagrante por uso de documento falso nesta quinta-feira, 7. Ele é apontado e investigado como um dos financiadores da pesca ilegal em terras indígenas e tem ligação com Amarildo, o Pelado, que confessou o crime e indicou o local onde os corpos foram enterrados.

##RECOMENDA##

Segundo a corporação, os presos devem ser transferidos para Manaus, onde ‘permanecerão à disposição das autoridades policiais e da Justiça Federal’. A PF ainda investiga a suposta participação de mais cinco pessoas na ocultação dos corpos. Elas foram indiciadas, segundo informou a corporação em coletiva nesta sexta-feira, 8.

A conversão das prisões temporárias dos três principais investigados da chamada Operação Javari foi solicitada pela Polícia na quarta-feira, 6. O pedido foi analisado pela Justiça Federal, uma vez que a juíza Jacinta Silva dos Santos, da Comarca de Atalaia do Norte, no interior do Amazonas, declinou da competência do caso. A decisão atendeu um pedido do Ministério Público do Estado.

Ao analisar o relatório das investigações realizadas pelas Polícias Civil e Federal, a magistrada considerou que a motivação dos assassinatos de Bruno e Bom está diretamente ligada com os direitos indígenas, ‘cuja análise da matéria jurídica é de competência da Justiça Federal’, informou o Tribunal de Justiça do Amazonas.

Segundo a promotoria, a possível motivação do crime está ligada à defesa dos direitos indígenas decorrente da atuação do indigenista Bruno Araújo no combate a pesca ilegal dentro da reserva indígena do Vale do Javari.

A família do indigenista Bruno Pereira se manifestou por meio de uma nota durante o velório realizado, nesta sexta-feira (24), na Região Metropolitana do Recife. O texto escrito coletivamente foi lido pela cunhada dele, Thamy Rufino. Na nota, eles agradeceram pelo apoio e reverenciaram a memória do pernambucano.

--> Povos Xukuru de Pesqueira (PE) homenageiam Bruno Pereira

##RECOMENDA##

Extremamente emocionada, Thamy leu a nota para a imprensa presente no Cemitério Morada da Paz, em Paulista (PE). Ela falou sobre a dedicação e amor dele pela causa indígena e agradeceu o apoio daqueles que estiverem ao lado dele durante o que chamou de “missão”.

"Bruno tinha uma missão e iluminou sua causa. Durante toda a última semana, indígenas de todo o país fizeram rituais de passagem em homenagem a Bruno. Agradecemos a todos... Somos eternamente gratos", diz parte do texto.

A nota também exaltava a vida de Bruno adjetivando o indigenista como corajoso e fiel à causa indígena. Por fim, a família afirmou que que este está sendo um momento dedicado ao "amor e oração".

Bruno Pereira foi morto ao lado do jornalista inglês Dom Phillips, durante uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas. O crime aconteceu em 5 de junho, mas os corpos de ambos foram localizados somente 10 dias após o ocorrido. O inicial desaparecimento e as mortes dos pesquisadores tomaram proporção internacional e jogaram luz às situações de violência envolvendo indigenistas e membros dos povos originários na região da Amazônia.

O corpo de Bruno chegou ao Recife, capital pernambucana, na noite da última quinta (23), em um avião da Polícia Federal e foi levado em seguida ao cemitério onde acontece o velório. A cremação do corpo está prevista para as 15h no mesmo local. Momento deve ser restrito apenas aos parentes e amigos.

O velório do indigenista Bruno Pereira será na manhã desta sexta-feira (24), seguida pela cremação no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR). O pernambucano, de 41 anos, e o jornalista britânico Dom Phillips, de 57, foram mortos após desaparecer no Vale do Javari, no Amazonas.

O corpo vai aterrissar no Aeroporto Internacional dos Guararapes às 18h50 desta quinta (24). As homenagens começam às 9h de amanhã, na Sala de Velório Central, e serão concluídas às 15h. Bruno deixa a esposa e três filhos. A direção do cemitério disponibilizou uma página para que envio de mensagens e orações.

##RECOMENDA##

Natural do Recife, Bruno abandonou a faculdade de jornalismo aos 22 anos e foi para a Amazônia, onde se tornou uma referência na atuação em defesa das causas ambientais e dos povos originários. Ele assumiu cargos de coordenação na Fundação Nacional do Índio (Funai), mas foi exonerado em 2019.

LeiaJá Também
---> Indigenista desaparecido desafiava narcotráfico e garimpo
---> Funai: indigenistas anunciam greve e pedem mais segurança
---> ONU cobra reforço em buscas por indigenista e jornalista

A ONU, indígenas, ONGs e familiares manifestaram sua indignação com o assassinato na Amazônia brasileira de Dom Phillips e Bruno Pereira, crime que vincularam à impunidade que prevalece na região por incentivo do presidente Jair Bolsonaro, que sempre se mostrou favorável à exploração comercial das áreas protegidas.

Após dez dias de intensas buscas, a investigação sobre o desaparecimento de ambos deu um salto na quarta-feira com a confissão de um dos dois detidos, Amarildo da Costa de Oliveira, que conduziu a polícia ao local onde disse ter enterrado os corpos, próximo da cidade de Atalaia do Norte, na remota região do Vale do Javari, na fronteira com o Peru.

A Polícia Federal (PF) encontrou ali restos humanos, que chegaram na noite desta quinta-feira de avião em Brasília para sua identificação. Os resultados das análises serão divulgados na semana que vem.

O caso ainda tem diversos pontos a serem esclarecidos: o motivo do crime, as circunstâncias da morte, aparentemente com arma de fogo, o papel exato que tiveram os dois presos, Amarildo e seu irmão Oseney, e seus possíveis cúmplices e mandantes.

- "Ato brutal de violência" -

Phillips, de 57 anos, trabalhava em um livro sobre a preservação da Amazônia. Pereira atuava como seu guia nessa região onde vivem 26 povos indígenas, muitos deles isolados, e onde atuam traficantes de drogas, garimpeiros, pescadores e madeireiros ilegais.

O especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai) recebeu ameaças desses grupos por seu trabalho em defesa das terras indígenas.

Diante deste "ato brutal de violência", a ONU pediu ao Brasil para "acrescentar seus esforços para proteger os defensores dos direitos humanos e os povos indígenas" por parte de "atores estatais e não estatais", disse em Genebra o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.

A Amazônia está "à mercê da lei do mais forte, sob a qual a brutalidade é recorrente", lamentou a WWF nesta quinta-feira, expressando sua "indignação" pelo fracasso do Estado em proteger os "povos da floresta e seus defensores".

O desaparecimento de ambos reavivou as críticas a Bolsonaro, que desde que chegou ao poder em 2019 é acusado de incentivar invasões de terras indígenas com seu discurso a favor da exploração econômica da selva.

O Greenpeace afirmou que nos últimos três anos o Brasil se configurou como a terra da lei do "vale tudo", alimentada pelas "ações e omissões" do governo.

Em Bruxelas, sete líderes indígenas brasileiros denunciaram na sede da União Europeia o clima de violência e "impunidade" na Amazônia. Um deles, Dinamam Tuxa, declarou à AFP que "Bruno e Dom Phillips foram vítimas das políticas do governo".

A família de Phillips no Reino Unido disse ter "o coração partido" pelas mortes e agradeceu aos participantes das buscas, "especialmente os indígenas".

"Agora que os espíritos do Bruno estão passeando na floresta e espalhados na gente, nossa força é muito maior", escreveu no Twitter Beatriz Matos, esposa do indigenista.

- Bolsonaro reage no Twitter -

O presidente Bolsonaro reagiu às mortes de Pereira e Phillips nesta quinta-feira com uma curta mensagem no Twitter: "Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!".

Bolsonaro causou indignação nos últimos dias com várias declarações, quando disse que a incursão de Phillips e Pereira era uma "aventura não recomendada" e que o repórter britânico era "malvisto" na região amazônica por suas reportagens sobre atividades ilegais.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), cujos integrantes participaram ativamente das buscas, qualificou o assassinato como "crime político", já que ambos eram "defensores dos direitos humanos".

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que nos últimos anos o trabalho de jornalistas e ambientalistas tem servido para mostrar os "recordes" de crimes ambientais na Amazônia, assim como os assassinatos de ativistas e os cortes nos órgãos de controle ambiental.

No terreno, a Polícia Civil cumpriu três mandados de busca e apreensão, que terminaram sem detidos. As autoridades buscavam sem sucesso a embarcação em que Phillips e Pereira viajavam quando foram vistos pela última vez no rio Itaquaí indo em direção a Atalaia do Norte, confirmou um jornalista da AFP.

A imprensa afirma que haveria outros três suspeitos, entre eles um que possivelmente ordenou o crime, informação não confirmada oficialmente pela PF.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) emitiu nota de pesar pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, informado ontem pela Polícia Federal. Breve, o texto ignora a trajetória dos dois profissionais em defesa da Amazônia e, ainda, o papel considerado decisivo dos povos indígenas para as investigações. Só há enaltecimento ao trabalho da Polícia Federal e das Forças Armadas.

Bruno e Dom foram mortos na região do Vale do Javari, no Amazonas, por Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado. Ele confessou o crime. O indigenista e o jornalista tinham reconhecimento internacional na atuação em defesa dos povos indígenas e por denúncias contra o garimpo ilegal na região.

##RECOMENDA##

"O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) manifesta pesar pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, que estavam desaparecidos desde domingo (5), na região do Vale do Javari, no Amazonas. O MMFDH enaltece o trabalho realizado pela Polícia Federal e pelas Forças Armadas, que rapidamente elucidaram o caso", diz a pasta.

A nota veio uma hora depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) manifestar condolências aos familiares das vítimas. "Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!", escreveu o presidente. A postagem, no entanto, foi feita em resposta à nota de pesar emitida pela Funai sobre as mortes - não se tratou, portanto, de uma publicação à parte na rede social.

Na manhã desta quinta-feira (16), o presidente executivo do Sport, Yuri Romão, prestou suas condolências aos familiares e amigos do indigenista Bruno Pereira, assassinado na Amazônia (AM) ao lado do jornalista Dom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian.

[@#video#@]

##RECOMENDA##

“Quando um rubro-negro nos deixa, toda uma torcida lamenta. Meus sentimentos aos familiares e amigos do torcedor Bruno Pereira, Pernambucano de coração  e que foi brutalmente assassinado no Amazonas. Que sua chama em busca de conhecimento fique sempre acesa”, disse Yuri no Twitter.

Bruno Araújo Pereira nasceu e foi criado no Recife, deixando Pernambuco em meados dos anos 2000 para trabalhar na Amazônia. Ele era servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio). Apontado como um defensor dos povos indígenas, Bruno atuava na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiros. 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, anunciou nesta quarta-feira (15) que "remanescentes humanos foram encontrados" durante as buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, desaparecidos há mais de dez dias na Amazônia.

"Acabo de ser informado pela @policiafederal que 'remanescentes humanos foram encontrados no local onde estavam sendo feitas as escavações', publicou Torres no Twitter, pouco antes de uma coletiva de imprensa anunciada pela Polícia Federal para informar sobre os avanços do caso.

O anúncio ocorre depois que vários veículos locais reportaram que os dois suspeitos detidos por envolvimento no caso teriam dito à polícia que Phillips e Pereira foram assassinados e confessaram sua participação no crime.

As autoridades não confirmaram este dado até o momento.

Nesta quarta-feira, um dos suspeitos foi levado pela polícia ao local das buscas da cidade de Atalaia do Norte, onde estava detido, segundo imagens da TV local.

De acordo com a polícia, os suspeitos são Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos", detido na terça, e Amarildo da Costa de Oliveira, um pescador apelidado de "Pelado", que foi detido na semana passada.

Colaborador do jornal The Guardian, Phillips, de 57 anos, estava escrevendo um livro sobre a preservação ambiental na Amazônia.

Pereira, especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai), atuava como guia de Phillips nesta região perigosa e de difícil acesso do Vale do Javari, uma região estratégica para os narcotraficantes, na qual também atuam garimpeiros, pescadores e madeireiros ilegais.

Ambos foram vistos pela última vez no domingo, 5 de junho, enquanto navegavam pelo rio Itaquaí.

Após dez dias de buscas intensas, as autoridades haviam encontrado vestígios de sangue em uma embarcação do primeiro detido e material "aparentemente humano" que já estava sendo analisado em Brasília. Também foram encontrados objetos pessoais, como roupas e calçados.

O presidente Jair Bolsonaro havia dito esta semana que "vísceras humanas" haviam sido encontradas flutuando no rio, mas essa informação não foi confirmada pela Polícia Federal.

Após o desaparecimento, Bolsonaro qualificou a incursão de Phillips e Pereira como uma "aventura não recomendável" e, nesta quarta-feira, disse que o repórter era "malvisto" na região amazônia por seu trabalho informativo sobre atividades ilegais como o garimpo.

"Esse inglês, ele era malvisto na região porque ele fazia muita matéria contra garimpeiros, [sobre] a questão ambiental", disse o presidente durante uma entrevista nesta quarta ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube.

O desaparecimento de Phillips e Pereira gerou uma onda de solidariedade internacional e voltou a provocar críticas contra o governo Bolsonaro, acusado de incentivar as invasões de terras indígenas e sacrificar a preservação da Amazônia para sua exploração econômica.

Os irmãos Oseney da Costa de Oliveira e Amarildo da Costa de Oliveira confessaram ter matado e esquartejado o jornalista correspondente do The Guardian, Dom Phillips, e o indigenista Bruno Pereira, de acordo com a Band, que também informou que a Polícia Federal irá fazer uma entrevista coletiva às 17h desta quarta-feira (15), para detalhar o caso. 

Oseney, que foi preso na terça-feira (14), disse que ele e o irmão mataram o indigenista e o jornalista no último dia 5, após terem sido flagrados pescando ilegalmente. Bruno e Dom foram mortos, tiveram os corpos esquartejados, incendiados e foram levados para uma vala na terra indígena do Vale do Javari, na Amazônia. Já o outro irmão, Amarildo, mais conhecido como “pelado”, foi preso na semana passada.

##RECOMENDA##

Os irmãos estavam pescando pirarucu, quando foram alertados por Bruno e Dom, que estava fotografando. 

A família do jornalista britânico Dom Phillips divulgou, na manhã desta terça-feira (14), um comunicado com esclarecimentos sobre as informações que recebeu na segunda-feira (13), sobre a suposta descoberta dos corpos do repórter e do indigenista Bruno Pereira, desmentida pela Polícia Federal em seguida.

Assinado por irmãos, esposa, cunhados e sobrinhos de Phillips, o texto diz que a família recebeu uma ligação de Roberto Doring, da embaixada brasileira em Londres, às 8h30 da manhã da segunda-feira, no horário de Londres.

##RECOMENDA##

O ministro-conselheiro teria informado que dois corpos haviam sido encontrados, mas que ainda não havia identificação. O parecer foi compartilhado pela família com jornalistas da emissora Globonews. "No momento, às 8h30 do Reino Unido em 14 de junho, não temos atualização dessa informação e, para complicar nossa situação já angustiante, fomos informados de forma confiável que a Polícia Federal no Brasil está contradizendo isso", diz a nota.

"Só podemos esperar que, com o tempo, entendamos o que aconteceu", afirma o comunicado, divulgado em inglês.

A Polícia Federal divulgou nota negando a localização dos corpos. A corporação disse ter encontrado "materiais biológicos" que foram encaminhados para perícia, como já havia sido comunicado anteriormente. A expectativa é que o resultado da perícia desses materiais seja concluída ainda esta semana.

Vaquinha

Junto ao comunicado, a família de Phillips divulgou uma vaquinha para levantar fundos na ausência do jornalista. "Neste momento trágico, em que essas famílias têm tanto com que se preocupar, o dinheiro não deveria ser mais uma preocupação. Dom, Bruno (Pereira), Alê (Alessandra Sampaio, mulher de Dom), Beatriz (Matos, mulher de Bruno) e seus filhos precisam de nossa ajuda não só para pagar as contas, mas também para cobrir novos custos que vão surgindo à medida que continuam as buscas. Mesmo a menor doação é valiosa. Juntos podemos mostrar que essas almas corajosas não estão sozinhas e que estamos unidos por trás delas."

Leia a íntegra do comunicado

Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram durante uma viagem de pesquisa à região do Javari, na Amazônia brasileira, em 5 de junho de 2022.

Desde então, acompanhamos os desdobramentos, que incluem relatos de achados de objetos pessoais e roupas e agradecemos a todos que participaram da busca, mesmo sob condições difíceis.

Na manhã de segunda-feira, 13 de junho, por volta das 8h30, horário do Reino Unido, membros da família de Dom Phillips residentes no Reino Unido foram contatados por Roberto Doring, da Embaixada do Brasil em Londres, para saber de uma atualização que ele havia recebido de uma fonte oficial brasileira. Fomos informados por telefone que dois corpos haviam sido encontrados, mas que (por ser ainda de manhã cedo no Brasil) nenhuma identificação havia ocorrido.

Neste momento, às 8h30, horário do Reino Unido, em 14 de junho, não temos atualização para essa posição e, para complicar nossa situação já angustiante, fomos informados de forma confiável que a Polícia Federal no Brasil está contradizendo isso.

Só podemos esperar que na plenitude do tempo entendamos o que aconteceu.

Estamos optando por não dar entrevistas à mídia sobre a situação atual e oferecemos esta declaração com a esperança de que explique o que sabemos e mostre os desafios que enfrentamos para entender o que aconteceu.

No devido tempo, ofereceremos nossa perspectiva sobre as vidas corajosas e o trabalho importante desses homens notáveis. Por enquanto, a vida continua para os que ficaram para trás e chamamos a atenção para nosso financiamento coletivo de emergência.

Agradecemos às muitas pessoas que se juntaram a nós para instar as autoridades a intensificar as buscas, bem como àqueles que estenderam a mão com palavras de conforto.

Emitido pelos seguintes membros da família (ligação com Dom Phillips entre parênteses):

Sian Phillips (irmã)

Gareth Phillips (irmão)

Paul Sherwood (cunhado)

Helen Davies (cunhada)

Domonique Davies (sobrinha)

Rhiannon Davies (sobrinha)

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando