Era para ser um dia de diversão para dois garotos que empinavam pipa com os amigos. No entanto, o dia 16 de agosto vai ficar sempre na lembrança de duas famílias da Região Metropolitana do Recife (RMR) como um dia triste. Mais de 20 dias após a morte do estudante Rynderson, de 12 anos, que foi vítima de choque elétrico enquanto tentava pegar uma pipa em uma periferia da Região Metropolitana do Recife, o LeiaJá foi até a casa do pequeno David Renan, de 10 anos, que quase perdeu a sua visão após se ferir com o brinquedo na rua de sua residência. Os dois casos ocorreram com apenas 14 quilômetros de distância um do outro.
##RECOMENDA##Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
O incidente
Rynderson Edson Moura da Silva, de 12 anos, brincava com um amigo em uma rua da comunidade da Baixinha, no bairro de Santo Aleixo, em Jaboatão dos Guararapes, quando uma pipa caiu no terreno de uma casa.
Segundo testemunhas, para pegar a pipa, o garoto pulou o muro do imóvel, que estava interditado pela Defesa Civil do município por ter grades eletrificadas irregularmente. Quando o menino descia por uma dessas grades, levou o choque.
Na tarde daquela quarta-feira (16), os parentes ainda tentaram reanimar o garoto e o encaminharam para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Engenho Velho, porém Rynderson sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu.
O caso chamou atenção para os perigos oferecidos para crianças que, assim como o Rynderson, na busca de resgatar pipas que se desprendem de suas linhas, se arriscam ao entrar em imóveis abandonados ou que apresentam algum risco.
Susto
Naquele mesmo dia, a 14 quilômetros do local da morte de Rynderson, outra criança se acidentou com o brinquedo.
Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
O pequeno Renan David, de 10 anos, que reside com a sua família na comunidade do Prado, Zona Oeste do Recife, estava brincando com amigos na rua, quando a estrutura pontiaguda de uma pipa feriu o olho direito.
A sua mãe, a trabalhadora autônoma Suelle Barros, 37 anos, disse que o garoto, após se feri, entrou na residência e foi para o quarto. Ela disse que no primeiro momento ele, ainda muito assustado, não quis dizer o que tinha acontecido na rua.
“Ele estava na rua brincando quando mandei ele entrar para casa para dormir pois no outro dia tinha escola. Em seguida ele foi para cama. Achei estranho pois ele é muito elétrico e aceitou ir para a cama sem reclamar”, afirma a mãe do garoto que só soube do ocorrido com o menino, no outro dia através dos relatos de outras crianças do bairro.
Ela ainda conta que durante a madrugada, Renan acordou chorando e com o olho sangrando devido a lesão. O menino dizia que a visão estava embaçada.
Desesperada, optou em socorrê-lo para a Fundação Altino Ventura, unidade hospitalar referência em atendimento oftalmológico em Pernambuco. O garoto precisou passar por um procedimento cirúrgico devido o corte.
Mesmo com o susto, a mãe do garoto acredita que a situação não impedirá o menino de continuar brincando com seus amigos na rua, no entanto, ela afirma que os “cuidados serão desdobrados”.
“Nossos filhos não vão deixar de brincar, pois são crianças. Além disso, a pipa é uma brincadeira que todo menino gosta. Mas claro, as mães precisam ter mais cuidados. Eu não tive tanta atenção, mas a partir de agora a gente vai começar a prestar mais atenção no tipo da brincadeira do meu filho”, pontua, defendendo a tradição de empinar pipa que “é passada de pais para filhos”.
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O que fazer em situações parecidas?
Em caso como o do David Renan, os pais precisam tomar a mesma atitude de sua mãe: procurar a unidade hospitalar mais próxima da região. Já em situações em que a pipa fique presa em postes ou na fiação elétrica, os responsáveis devem orientar seus filhos em não tentar resgatar o brinquedo.
Em Pernambuco, apenas profissionais da Neoenergia Pernambuco estão devidamente autorizados e capacitados para se aproximar da rede elétrica. A distribuidora também adverte que é terminantemente proibido entrar em subestações de energia. O acesso a esses locais é restrito e extremamente perigoso.
Só no primeiro semestre deste ano, a empresa registrou 59 interrupções no fornecimento de energia elétrica provocadas por pipas em todo o Estado. Foram mais de 21 mil pessoas impactadas diretamente pela brincadeira. Sendo assim, para evitar que o fornecimento de energia seja descontinuado e que ocorram acidentes envolvendo a rede de distribuição, é essencial que a população esteja atenta às recomendações de segurança.
Dicas para prevenir acidentes com pipas:
- Se a pipa ficar presa nos fios elétricos, nunca tente retirá-las;
- Nunca use fios metálicos nem papel laminado para confeccionar a pipa, eles são como condutores de energia e podem causar choques fatais;
- Não use cerol. Além do risco de ferir ou mesmo matar, o cerol costuma cortar os fios;
- Não solte pipas em dias de chuva ou vento muito forte. Em caso de relâmpagos, recolha a pipa imediatamente.
- Não jogue objetos na rede de energia elétrica, como arames, correntes e cabos de aço, além de causar interrupções no fornecimento, há grande risco de provocar acidentes;
- Em caso de pipas presas em postes ou na fiação, as pessoas jamais devem tentar retirá-las.