Parentes, amigos e estudantes participaram na manhã desta segunda-feira (30) de um debate sobre a morte do advogado e defensor dos Direitos Humanos Manoel Matos, morto em janeiro de 2009, e cujo julgamento do caso está marcado para o dia 14 de abril. Mattos denunciava grupos de extermínio que atuavam na divisa entre Pernambuco e Paraíba. Este foi o primeiro caso de federalização de crime contra os direitos humanos. O encontro foi realizado no Auditório Capiba, na Faculdade Maurício de Nassau, localizada na área central do Recife.
O professor Manoel Moraes, organizador do evento, era amigo e militava com Mattos. De acordo com o docente, o objetivo do evento é lembrar a sociedade do caso. “Queremos mobilizar a sociedade, divulgar o julgamento que vai acontecer e conscientizar as pessoas. Este é o primeiro evento de uma jornada de atividades. Nos dias 9 e 10 de abril, faremos outros debates com a participação da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti”, destaca.
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Para a mãe da vítima, Nair Ávila, há uma expectativa positiva para o julgamento. “Eu estou com muita esperança depois que o caso foi federalizado, porque eu acredito que a Justiça Federal é isenta e com isso nós tenhamos justiça”, opina. Quatro pessoas serão julgadas como mandantes e executores crime. Os grupos de extermínio são suspeitos de terem pessoas ligadas à polícia.
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O caso - Manoel Mattos foi executado por dois homens em sua casa de praia em Pitimbu-PB, onde estava com amigos. O principal suspeito de ser o mandante do crime é o ex-policial militar Flávio Inácio Pereira, que havia sido citado por Manoel na CPI dos Grupos de Extermínio.
O advogado possuía um relatório com 200 casos de pessoas que haviam sido vítimas dos grupos de extermínio. Segundo o professor Manoel Moraes, após começar a trabalhar em Itambé, na Zona da Mata de Pernambuco, Mattos passou a notar que seus clientes eram mortos. “Para algumas pessoas era mais barato contratar um executor do que pagar os direitos trabalhistas”, comenta Moraes.
A Organização dos Estados Americanos constatou a necessidade da proteção ao ativista. Mattos passou a ser protegido pela Polícia Federal. “Ele visitava muitos clientes à noite. A Polícia Federal disse que para preservar sua vida, ele teria que voltar para casa às 17h. Mattos começou a se contrapor às decisões da Polícia Federal, que disse que não poderia continuar com a proteção”, detalha o professor. Manoel Moraes reforça que quem poderia revogar a ordem de proteção era o Estado, não a polícia.
O julgamento do caso foi adiado mais de uma vez. A própria família da vítima pedia que o júri não ocorresse na Paraíba, por causa do clima de intimidação existente entre os jurados. O pedido foi acatado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região.