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Em 2022, o Brasil tinha 67,758 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza, o equivalente a uma fatia de 31,6% da população sobrevivendo com menos de R$ 21,23 por dia, segundo os dados da Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 6.

O contingente de miseráveis correspondia a 5,9% da população do País, estimada em 214.106 milhões de pessoas: 12,653 milhões de brasileiros estavam em situação de pobreza extrema, sobrevivendo com menos de R$ 6,67 por dia.

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Embora o número de pessoas em situação de vulnerabilidade seja elevado, houve redução relevante em relação a 2021, graças à retomada, em ano eleitoral, da distribuição de recursos pelo então governo via programas de transferências de renda e também à melhora do mercado de trabalho, passado o choque inicial provocado pela pandemia de covid-19.

Na passagem de 2021 para 2022, 10,3 milhões de pessoas deixaram de viver em situação de pobreza. No mesmo período, o contingente sobrevivendo em situação de extrema pobreza diminuiu em cerca de 6,5 milhões de pessoas. Ou seja, entre 2021 e 2022, a fatia da população brasileira sobrevivendo na extrema pobreza caiu de 9,0% para 5,9%, enquanto a parcela vivendo em situação de pobreza diminuiu de 36,7%para 31,6%.

Sem os pagamentos de benefícios de programas sociais, a proporção de pobres subiria 12%, alcançando uma fatia de 35,4% da população brasileira em 2022, enquanto a parcela de miseráveis seria 80% maior, abrangendo 10,6% dos habitantes do Brasil.

Os programas sociais respondiam por 67,0% do rendimento domiciliar das pessoas em situação de extrema pobreza em 2022, enquanto a renda obtida do trabalho correspondia a apenas 27,4% do rendimento deste grupo. Nos domicílios considerados pobres, os benefícios de programas sociais representavam 20,5% dos rendimentos, e a renda do trabalho, 63,1%.

Pelos critérios dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e recomendações do Banco Mundial, a pobreza extrema é caracterizada por uma renda familiar per capita disponível inferior a US$ 2,15 por dia, o equivalente a um rendimento médio mensal de R$ 200 por pessoa em 2022, na conversão pelo método de Paridade de Poder de Compra (PPC) - que não leva em conta a cotação da taxa de câmbio de mercado, mas o valor necessário para comprar a mesma quantidade de bens e serviços no mercado interno de cada país em comparação com o mercado nos Estados Unidos.

Já a população que vive abaixo da linha de pobreza é aquela com renda disponível de US$ 6,85 por dia, o equivalente a R$ 637 mensais por pessoa em 2022. A série histórica da pesquisa do IBGE, que usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), teve início em 2012.

Crianças

Em 2022, a proporção de crianças menores de 14 anos de idade abaixo da linha de pobreza foi de 49,1%. A proporção de crianças brasileiras vivendo em situação de pobreza extrema foi de 10,0% em 2022.

No grupo etário de 15 a 29 anos, 34,9% viviam na pobreza, e 6,3% estavam em situação de miséria. Por outro lado, na população idosa, com 60 anos ou mais, 14,8% viviam em situação de pobreza, e 2,3% sobreviviam na extrema pobreza.

"As aposentadorias e pensões têm um peso extremamente significativo na redução da pobreza e da extrema pobreza", justificou o pesquisador do IBGE André Simões.

Raça

Além da faixa etária, a questão racial também indica vulnerabilidade. Entre os brasileiros pretos e pardos, 40,0% viviam em situação de pobreza em 2022, praticamente o dobro da proporção de brancos (21,0%) nessa situação.

No grupo de negros, 7,7% estavam sobrevivendo em condição de pobreza extrema, enquanto que entre os brancos essa incidência era reduzida a menos da metade, havia 3,5% de miseráveis no grupo de brancos.

"O arranjo domiciliar formado por mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos concentrou a maior incidência de pobreza: 72,2% dos moradores desses arranjos eram pobres e 22,6% eram extremamente pobres", frisou o IBGE.

Regiões

Mais da metade dos miseráveis do País moravam na região Nordeste, 54,6%. Outros 23,8% moravam no Sudeste; 11,9% eram da região Norte; 6,0% do Sul; e 3,7% do Centro-Oeste.

Quanto à população vivendo em situação de pobreza, 43,5% estavam no Nordeste; 30,7%, no Sudeste; 12,8%, no Norte; 7,7%, no Sul; e 5,3%, no Centro-Oeste.

Na passagem de 2021 para 2022, todas as regiões registraram reduções na proporção de habitantes vivendo tanto na pobreza quanto na miséria. O recuo na pobreza foi maior no Centro-Oeste, queda de 7,3 pontos porcentuais, para um total de 21,3% da população local vivendo nessa situação.

"O Centro-Oeste registrou a maior queda na pobreza em 2022, porque o mercado de trabalho da região Centro-Oeste foi bem dinâmico em 2022. A massa de rendimento cresceu bastante. Provavelmente isso está relacionado às atividades da agroindústria, e provavelmente teve efeito na redução da pobreza", disse Simões.

A região Nordeste ainda tinha mais da metade de seus habitantes (51,0%) em situação de pobreza em 2022. No Norte, 46,2% dos moradores eram pobres.

"Norte e Nordeste registraram as maiores quedas na extrema pobreza em 2022", lembrou Simões.

O contingente de miseráveis no Nordeste diminuiu 5,8 pontos porcentuais em 2022, para um total de 11,8% da população local sobrevivendo na extrema pobreza. No Norte, a fatia de miseráveis caiu 5,9 pontos porcentuais, para 8,0% dos moradores locais vivendo em situação de extrema pobreza.

"Os domicílios mais vulneráveis, eles têm peso maior dos benefícios sociais", explicou o técnico do IBGE.

Renda

O IBGE lembrou que o rendimento médio domiciliar per capita no País subiu 6,9% em 2022, para R$ 1.586. Apesar da melhora, o avanço não recuperou as perdas ocorridas nos anos de 2020 e de 2021, permanecendo 4,9% abaixo do patamar pré-pandemia, de 2019.

Na passagem de 2021 para 2022, o rendimento médio domiciliar per capita das pessoas pretas ou pardas aumentou 11,8%, para R$ 1.163, enquanto o das pessoas brancas avançou 3,5%, para R$ 2.118. Porém, os negros ganharam cerca de metade da renda dos brancos ao longo de toda a série da pesquisa, iniciada em 2012, o que evidencia a manutenção de uma desigualdade estrutural.

Em 2022, com a expansão do emprego e a expansão nos programas de transferências de renda, houve aumento no rendimento domiciliar per capita em todas as faixas de renda, especialmente entre os mais pobres: entre os 10% com menores rendimentos, a renda média per capita cresceu 59,2%, embora ainda somasse apenas R$ 163 mensais por pessoa, cerca de R$ 5,43 diários. Na faixa seguinte, que engloba os de 10% a 20% mais pobres, a renda avançou 22,9% em 2022, para R$ 379 mensais, cerca de R$ 12,63 por dia por pessoa. Já entre os 10% mais ricos, a renda per capita aumentou 1,9%, para R$ 6.448 mensais.

De 2005 a 2015, o número de pessoas que moram sozinhas aumentou no País de 10,4% para 14,6%, especialmente a partir dos 50 anos, mostra a Síntese de Indicadores Sociais, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga nesta sexta-feira (2). Nesta faixa etária, a proporção de arranjos unipessoais subiu de 57,3% para 63,7% no período. Este crescimento se deu na esteira do envelhecimento da população.

As mulheres, maioria entre os idosos, eram 50,3% entre as pessoas que vivem em arranjos unipessoais, os homens, 49,7%. No total, 15,7% das pessoas que têm mais de 60 anos não têm companhia em casa. O número médio de moradores dos domicílios no País era de 2,87 pessoas em 2015, frente a 3,20 em 2005.

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A chamada "geração canguru", pessoas de 25 a 34 anos que continuam morando com os pais, parece não mudar suas escolhas diante do cenário socioeconômico do País, segundo o IBGE. Em 2004, representavam 21,7% dessa população; em 2015, 25,3%. São pessoas mais escolarizadas e que trabalham, em sua maioria, mas que estendem a permanência com a família por ainda estarem concluindo os estudos, por acomodação ao padrão de vida dos pais ou por dependência emocional deles.

A pesquisa do IBGE traz também dados sobre as condições dos domicílios brasileiros. Entre os alugados, a proporção de imóveis em que o aluguel consumia 30% ou mais da renda domiciliar mensal ficou em 5,7% em 2015, ante 3,9% em 2005.

A Síntese é feita pelo IBGE desde 1998. Esta edição utilizou números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 e do Censo de 2010, entre outras publicações, e trouxe dados relativos a demografia, famílias, educação, trabalho, distribuição de renda e domicílios. O objetivo da síntese é traçar um perfil das condições de vida da população.

O Brasil ainda tem 44,3% das crianças e adolescentes até 14 anos de idade crescendo em residências sem esgotamento sanitário ou fossa séptica. Ou seja, quase metade das crianças brasileiras nessa faixa etária vive em condição de maior exposição ao risco de doenças, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2015 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira, 4.

O abastecimento de água de rede não chega a 18% das crianças de 0 a 14 anos, enquanto a coleta de lixo ainda não atende a 13,6% delas. O total de crianças e adolescentes dessa idade que vivem sob as três formas de saneamento inadequado simultaneamente - sem esgoto, sem água nem coleta de lixo - é de 9,6%, segundo os dados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2014.

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De acordo com o IBGE, quando as três formas de saneamento (água, esgoto e lixo) são inadequadas no domicílio, há maior exposição dos moradores ao risco de doenças, especialmente as crianças. "Ainda há uma quantidade bastante alta de crianças exportas a essas condições inadequadas no domicílio", disse Cintia Simões Agostinho, pesquisadora da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

Em relação ao ano anterior, houve ligeiro avanço nas condições de saneamento no total do País. Mas alguns Estados registraram piora. No Maranhão, a proporção de crianças dessa idade em domicílios sem esgoto sanitário passou de 91,2% em 2013 para 92,3% em 2014.

Outros Estados com alta incidência de crianças vivendo sob essas condições foram Piauí (93,8%), Pará (91,3%) e Amapá (89,6%). São Paulo registrou a menor ocorrência de crianças nessas condições, mas houve aumento significativo no período de um ano: a fatia de 7,6% de crianças de 0 a 14 anos sem esgoto em 2013 subiu para 10,0% em 2014.

Segundo a pesquisa, o Brasil tinha ainda 1,8 milhão de domicílios particulares sem banheiro ou sanitário de uso exclusivo em 2014: 634 mil em áreas urbanas e 1,2 milhão em áreas rurais. Os Estados com menor proporção de residências com banheiro de uso exclusivo foram Acre (82,7%), Maranhão (83,6%) e Piauí (85,8%).

O País tem cada vez mais cidadãos de cor preta ou parda, mas a desigualdade racial ainda diminui a passos lentos. Apesar dos avanços recentes no aumento da escolaridade, o nível de instrução da população preta ou parda permanece aquém da registrada pela população branca uma década atrás.

Na passagem de 2013 para 2014, mais brasileiros se declararam de cor ou raça preta ou parda: essa fatia da população cresceu de 52,9% para 53,6%, enquanto a fatia dos que se declararam brancos encolheu de 46,3% para 45,5%, segundo a Síntese de Indicadores Sociais 2015 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, apenas 52,6% da população negra ou parda de 20 a 22 anos conseguiu concluir ao menos o ensino médio, contra uma fatia de 71,7% da população branca. Apesar da melhora ao longo dos anos, o patamar de pretos e pardos com pelo menos o nível médio completo ainda é bastante inferior ao da população branca que possuía esse mesmo grau de escolaridade (57,9%) uma década atrás, em 2004.

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O mesmo fenômeno ocorre entre os estudantes de 18 a 24 anos que frequentam o ensino superior. Entre os pretos e pardos nessa faixa etária, 45,5% estão no ensino superior, uma evolução ante a fatia de 40,7% registrada em 2013. Entretanto, o montante ainda é menor do que a proporção de brancos que possuía esse grau de instrução em 2004 (47,2%). Em 2014, 71,4% da população branca nessa faixa etária frequentava o ensino superior.

"Em dez anos, eles (pretos e pardos) ainda não alcançaram o que a população branca tinha em 2004", confirmou Cristiane Soares, pesquisadora da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

A desigualdade racial se repete também na distribuição de rendimentos. Na população mais pobre - os 10% que recebiam os menores rendimentos no País em 2014 -, 76% eram pretos ou pardos. Entre aqueles do 1% dos mais ricos, que recebiam os maiores rendimentos, apenas 17,4% eram pretos ou pardos.

A participação de jovens na fecundidade do País vem diminuindo, mas a maternidade na adolescência permanece alta para padrões internacionais. Em 2004, o Brasil contabilizava 78,8 filhos nascidos vivos a cada mil mulheres de 15 a 19 anos. Em 2014, a cada grupo de mil jovens dessa idade respondia por 60,5 filhos, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2015 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira, 4. A participação dessas mães adolescentes na fecundidade total do País caiu de 18,4% para 17,4% em dez anos.

"A fecundidade entre as jovens de 15 a 19 anos ainda se manteve bastante elevada. O resultado é compatível com outros países da América Latina, mas ainda é muito superior ao de outros países mais desenvolvidos", avaliou Cíntia Simões Agostinho, pesquisadora da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

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O perfil da maternidade na adolescência está relacionado a pouca escolarização e baixa inserção no mercado de trabalho. A mãe adolescente é predominantemente preta ou parda (69% das meninas com filho), não completou o ensino médio (85,4%), se dedica a afazeres domésticos (92,5%) e não estuda nem trabalha (59,7%).

"Quando a mulher tem filho muito jovem, isso influencia nos indicadores. As que não tinham filhos eram mais escolarizadas", apontou Cíntia.

A taxa de fecundidade como um todo no País vem diminuindo ao longo dos anos. Em 2014, essa taxa era de 1,74 filho por mulher, contra 2,14 filhos em 2004, uma queda de 18,6% em dez anos. Os únicos Estados com taxa de fecundidade acima da reposição populacional do País (de 2,10 filhos por mulher) foram Acre (2,52 filhos por mulher), Amapá (2,34), Amazonas (2,32), Roraima (2,27), Maranhão (2,22) e Pará (2,15).

A redução na taxa de fecundidade resulta no encolhimento na fatia de jovens na população. A proporção de jovens de 0 a 14 anos diminuiu de 22,3% em 2013 para 21,6% em 2014. Ao mesmo tempo, a população de 60 anos ou mais aumentou de 13,1% em 2013 para 13,7% em 2014.

Em 2030, a faixa etária mais jovem somará 17,6% da população, enquanto a mais velha responderá por 18,6%. Em 2060, a tendência se acentuará: os mais jovens, de 0 a 14 anos, serão apenas 13,0% da população, enquanto os mais velhos, de 60 anos ou mais, serão 33,7%, mais de um terço do total de brasileiros, de acordo com as projeções feitas pelo IBGE.

A população de jovens no País conhecidos como "nem-nem-nem" - que não estudam, não trabalham e não procuram emprego - diminuiu no último ano. A proporção de pessoas de 15 a 29 anos nessa condição caiu de 15% em 2013 para 13,9% em 2014, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2015 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Também recuou o porcentual que se dedica somente aos estudos, de 22,7% para 22,5%. Os dados coincidem com uma deterioração do mercado de trabalho, com aumento na fila do desemprego, redução da formalidade e perda de fôlego na renda do trabalhador, de acordo com os dados da própria Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad).

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Em 2014, o Brasil ainda tinha 1 em cada 5 jovens sem estudar nem trabalhar. Grande parte morava nas regiões Norte ou Nordeste (45,6%), era do sexo feminino (69,2%), tinha baixa escolaridade (média de 8,7 anos de estudo), além de declarar ser de cor preta ou parda (62,9%). Entre as mulheres nessa faixa etária de 15 a 29 anos que não trabalhavam nem estudavam, 58,1% tinham ao menos um filho nascido vivo.

Por outro lado, aumentou o nível da ocupação entre os idosos, ou seja, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais que estão trabalhando. A fatia de homens ocupados nessa faixa etária subiu de 40,3% em 2013 para 41,9% em 2014, enquanto entre as mulheres esse contingente de trabalhadoras cresceu de 17,1% para 18,9%.

"Da mesma forma como está havendo um aumento da esperança de vida, há esperança qualitativa. Muitos idosos ainda estão plenamente aptos a trabalhar", afirmou André Simões, pesquisador da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.

Na última década, o salário proveniente do trabalho perdeu peso no rendimento dos brasileiros mais pobres, graças aos programas de transferência de renda. No entanto, o benefício não serviu como estímulo para que se deixasse de trabalhar. Pelo contrário, a taxa de ocupação dessa população até aumentou.

Para medir o impacto da transferência de renda sobre o mercado de trabalho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) separou os dados das famílias com renda per capita de até um quarto de salário mínimo e renda de um quarto a meio salário mínimo. "Como são famílias de rendimento muito baixo, a gente acha que são beneficiárias de programas de transferência de renda e complementação de renda", afirmou Bárbara Cobo, pesquisadora do IBGE.

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Nas famílias com renda per capita de até um quarto de salário mínimo, a renda proveniente do trabalho representava 78,5% do que essas famílias ganhavam em 2002 e passou a representar 58,5% em 2012. Ao mesmo tempo, a participação de outras fontes de renda aumentou, de 14,3% em 2002 para 36,3% em 2012. Em paralelo, a taxa de ocupação dessa fatia da população cresceu de 76,9% para 78,2%. "As políticas de transferência de renda não levam a esse 'desincentivo' ao trabalho. As pessoas continuam trabalhando", observa Bárbara.

Na faixa de renda per capita que vai de um quarto de salário mínimo a meio salário mínimo, o movimento se repetiu: a participação do trabalho na renda das famílias saiu de 78,3% para 72,3% em 2012, enquanto a fatia da renda obtida por outras fontes subiu de 6,5% para 12,9%. O rendimento médio teve aumento em todas as camadas da população no País entre 2004 e 2012, mas foi maior justamente na base da pirâmide, nas faixas com rendimento mais baixo.

Na última década, o País teve avanços importantes na educação infantil, mas terá de fazer um esforço extra para cumprir, até 2016, a obrigatoriedade de todas as crianças na escola a partir dos 4 anos - e não dos 6 anos atuais. Entre 2002 e 2012, a proporção de crianças de 4 e 5 anos que estão na escola subiu de 56,7% para 78,2%. No entanto, a meta é de universalização da educação nesta faixa etária, o que significa aumentar a taxa em mais de 20 pontos porcentuais em apenas quatro anos. Em 2012, havia cerca de 1 milhão de crianças de 4 e 5 anos fora da escola e 4,5 milhões matriculadas.

Os indicadores sociais mostram o abismo no acesso à educação infantil entre ricos e pobres e entre escolas públicas e privadas. Por outro lado, destaca aspectos culturais que fazem o Rio Grande do Sul, um dos Estados de maior renda do País, ter baixa taxa de acesso das crianças à escola.

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Entre os 20% mais ricos da população, 92,% das crianças de 4 e 5 anos vão à escola, proporção que cai para 71,2% nos 20% mais pobres. O Nordeste tem a maior taxa de crianças nesta faixa etária matriculadas (84%) e o Norte, o pior resultado (63%). Uma herança europeia de manter as crianças junto à família por maior tempo faz com que o Rio Grande do Sul tenha apenas 62% das crianças de 4 e 5 anos na escola.

"Não é só a oferta de escolas que determina a presença das crianças. O Sul é uma das regiões mais ricas do País, mas há uma tradição de adiar a entrada das crianças na escola. Este é um debate que terá de ser feito: onde a criança está melhor, em casa ou na escola? Há uma conclusão de que é na escola e até 2016 todas as crianças a partir de 4 anos terão de estar matriculadas", diz a presidente do IBGE, Wasmália Bivar.

Também no ensino médio o Brasil terá de melhorar o desempenho para atingir a meta do Plano Nacional de Educação. Apenas 54% dos jovens de 15 a 17 anos estão no ensino médio, e a meta é chegar a 85% até 2020. A redução da proporção de jovens que não estudam é lenta: entre 2002 e 2012, caiu de 18,5% para 15,8%.

Raça

A desigualdade racial na educação é outro fator de preocupação. O acesso das crianças de 6 a 14 anos ao ensino fundamental é de mais de 92% tanto entre brancos quanto entre negros e pardos, mas diferenças começam a aparecer entre os jovens. Na população branca de 15 a 17 anos, 63% estão no ensino médio, enquanto entre negros e pardos, são 47,8%. Entre os jovens de 18 a 24 anos que estão na universidade: 22% entre os brancos e 9,6% entre negros e pardos.

O Brasil tem que correr para cumprir as metas do Plano Nacional de Educação no que se refere à frequência à escola das crianças de 0 a 5 anos. A proporção de crianças de 4 e 5 anos que estudam subiu de 56,7% para 78,2% em dez anos (entre 2002 e 2012), mas a meta é universalizar a educação nesta faixa etária até 2016, apontou a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE.

Ainda há quase 22% de crianças para serem levadas à escola. Na faixa de até três anos de idade, 21,2% das crianças estão nas creches e escolas. O Brasil tem que chegar a 50% até 2020. Os dados mostram que também será necessário melhorar as condições das escolas públicas. Os indicadores sociais apontam que menos da metade (47,2%) dos alunos matriculados na pré-escola, na rede pública, frequentam estabelecimentos com parque infantil, proporção que sobe para 85,5% na rede particular.

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Também no ensino médio o Brasil terá de melhorar o desempenho para atingir a meta do Plano Nacional de Educação. Apenas 54% dos jovens de 15 a 17 anos estão no ensino médio, e a meta é chegar a 85% até 2020. A redução da proporção de jovens que não estudam é lenta: entre 2002 e 2012, caiu de 18,5% para 15,8%.

Uma população de 9,6 milhões de jovens de 15 a 29 anos que não estudam nem trabalham, formada principalmente por mulheres, muitas delas com filhos, é motivo de preocupação quando se observam as condições de vida da população, mostra estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta sexta-feira. A Síntese de Indicadores Sociais 2013, com dados de 2012, mostra que um em cada cinco brasileiros (19,6%) nesta faixa etária não trabalhava nem frequentava escola. Na faixa de 18 a 24 anos, o índice é ainda mais preocupante, de quase um quarto (23,4%).

"Não significa que são encostados ou que são um bando, mas é um fator preocupante porque não é possível que pessoas desta idade não estudem nem trabalhem", diz a técnica do IBGE Ana Saboia. Segundo Ana, os dados não permitem apontar as razões para número tão significativo da chamada "geração nem-nem" (nem estuda nem trabalha), mas, com relação às mulheres a necessidade de cuidar dos filhos é um fator que contribui para não terem atividades produtivas. A proporção de jovens que não vão à escola e não têm emprego se mantém estável, com pequena redução nos últimos dez anos: em 2002, eram 20,2% da população nesta faixa etária.

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Os indicadores mostram que 70,3% dos jovens que não trabalham e não estudam são mulheres. Dessas jovens que não têm atividade produtiva, 58,4% tinham pelo menos um filho. A maior parte dos jovens "nem-nem" (38,6%) tem ensino médio completo, ou seja, deveria ter seguido para um curso superior ou ingressado no mercado de trabalho. No outro extremo, um porcentual também alto, de 32,4%, nem sequer completou o ensino fundamental.

O Nordeste é a região com maior proporção de jovens que não estudam nem trabalham, em todas as faixas etárias estudadas. Na faixa de 18 a 24 anos, Alagoas tem nada menos que 35,2% da população que não estuda nem trabalha. Na região metropolitana de Recife, o índice também é preocupante: 31,8% dos jovens de 18 a 24 anos não têm atividade produtiva.

Geração canguru

No estudo sobre a composição das famílias no País, o IBGE constatou que é crescente a proporção de adultos (25 a 34 anos) que, embora tenham algum tipo de renda, continuam a viver com os pais, formando a chamada "geração canguru". Um em cada quatro jovens nesta idade (24,3%) ainda vivia com os pais em 2012, segundo a Síntese de Indicadores Socais. Em 2002, esse índice era de 20,5%, ou um em cada cinco jovens.

O fenômeno da geração canguru ocorre com mais frequência em famílias de renda mais alta e na região Sudeste. Entre os que optaram por continuar a viver com os pais, 60% são homens e 40% mulheres. Em geral, são ocupados e têm alta escolaridade. Segundo técnicos do IBGE, uma combinação de fatores pode levar ao adiamento da decisão de deixar as casas dos pais - os motivos vão de questões financeiras a emocionais.

Embora tenham renda própria, os jovens decidem continuar com os pais para economizar nos gastos com a casa e investir em estudos e aprimoramento profissional. Também existe, segundo a técnica do IBGE Ana Saboia, uma tendência de amadurecimento mais tardio entre os jovens. A preocupação em dar mais assistência aos pais e a decisão de casar mais tarde também pesam no crescimento da geração canguru.

A pesquisa foi organizada pela Articulação Regional Amazônica (ARA) e divulgada durante o encontro Cenários e Perspectivas da Pan-Amazônia, organizado pelo Fórum Amazônia Sustentável.

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio propõem metas para melhorar indicadores de pobreza, educação, saúde, desigualdade de gênero, mortalidade infantil e materna e de meio ambiente. Estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000, os ODM têm metas a serem cumpridas até 2015.

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Desde a década de 1990, a Amazônia registrou melhoria na maioria dos indicadores, mas os avanços não foram significativos e ainda deixam os índices regionais abaixo das médias nacionais. Dos oito objetivos estabelecidos até 2015, apenas um já foi alcançado na parte amazônica de todos países analisados no estudo: a eliminação da desigualdade de escolaridade entre homens e mulheres.

“Faltam poucos anos para o prazo estabelecido pela ONU para o cumprimento das Metas do Milênio e ainda há muito trabalho para que sejam cumpridas na Amazônia. Há muita diferença de resultados entre os países que compõem a Amazônia, assim como variações internas”, diz o relatório.

Com Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 330 bilhões, a região abriga desigualdades e desafios que dificultam a superação da pobreza, uma das principais metas da ONU. De acordo com o estudo, cerca da metade da população que vive na região amazônica desses países encontra-se abaixo da linha de pobreza, com situação crítica no Equador e na Bolívia.

“A Amazônia é sempre a parte mais pobre de cada país porque é uma região que tem padrão de desenvolvimento baseado ainda na extração de recursos naturais, com grande impacto ambiental associado. E os modelos de agregação de valor em uma economia mais intensiva são ainda incipientes. Se desmata e continua pobre, a solução não é desmatar para gerar riqueza”, avaliou o coordenador nacional da pesquisa, Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

O Brasil é citado como o único país da região que já cumpriu a meta de reduzir pela metade a proporção da população que sofre de fome. O país tem, por exemplo, taxa de desnutrição infantil de 4%, bem abaixo da média dos países latino-americanos (10%). O Peru e a Bolívia ainda registram taxas altas, com mais de 20% de crianças desnutridas.

A falta de saneamento e baixas taxas de emprego formal também estão entre os obstáculos para a redução da pobreza na Pan-Amazônia, segundo o trabalho.  Os índices de desemprego na região são baixos, mas a informalidade é alta. De acordo com o levantamento, mais da metade da população amazônica economicamente ativa trabalham no mercado informal, sem benefícios e direitos sociais.

“Também persistem problemas sérios como o trabalho infantil e o trabalho forçado”, aponta o relatório. Só no Brasil, mais de 15 mil pessoas foram resgatadas de trabalho análogo à escravidão entre 2003 e 2009 em regiões rurais da Amazônia,  segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) citados no documento.

As taxas de mortalidade materna e infantil – que permanecem altas em alguns países –, a grande ocorrência de doenças como a malária e a tuberculose e o aumento da propagação da aids também rebaixam os indicadores da Pan-Amazônia e distanciam a região do cumprimento dos ODM relacionados à saúde. De acordo com o levantamento da ARA, a mortalidade infantil caiu em todos os países amazônicos, mas não o suficiente para ser reduzida em dois terços até 2015, como previsto nas metas do milênio, com exceção da Venezuela.

Em relação aos indicadores de educação, todos os países avaliados conseguiram aumentar a taxa de matrícula na educação básica, que alcança 90% das crianças em idade escolar.  No entanto, mais de dois terços das crianças que ingressam na escola estão fora da idade adequada. Na Amazônia brasileira, por exemplo, 26% dos estudantes da educação básica em 2008 tinham idade superior à recomendada para a série, segundo dados apresentados na pesquisa.

Além da distorção idade-série, a evasão escolar também compromete melhores resultados nos indicadores educacionais da região. “Ainda que o crescimento da taxa de matrícula seja um avanço importante, os países precisam aumentar esforços e investimentos para que os estudantes completem o ciclo escolar”, destaca o documento.

Os indicadores ambientais na região mostram avanços na criação de unidades de conservação e no reconhecimento de terras indígenas. No entanto, o desmatamento ainda ameaça a floresta e a biodiversidade. O Brasil é apontado como responsável por 72% do desmate anual da Amazônia, seguido pela Venezuela (12,5%) e pelo Peru (4,7%). Os autores reconhecem, no entanto, que a participação brasileira pode estar superestimada pela falta de dados de outros países. “Nem todos os países amazônicos têm um sistema de monitoramento anual do desmatamento”, diz o texto. Até o fim de 2011, a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg) deve divulgar mapas mais atualizados da floresta, com indicadores de desmatamento, exploração de gás e óleo e outras pressões.

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