O recuo do dólar fez o brasileiro voltar a optar pelas tão sonhadas férias no exterior. Nas últimas semanas, cresceram as vendas de pacotes turísticos internacionais e houve até quem trocasse o destino da viagem: das praias do Nordeste para os Estados Unidos ou Caribe. Também as corretoras captaram essa corrida do brasileiro para aproveitar o bom momento do câmbio. Nas últimas três semanas, as cifras vendidas de dólar turismo chegaram a dobrar, relatam corretoras.
"Neste exato momento, 30% das nossas vendas são de pacotes internacionais e 70% de nacionais", diz Michael Barkoczy, presidente da Flytour Viagens. Ele lembra que em 2015, quando dólar passou de R$ 4, a fatia das viagens internacionais se reduziu para 10%, depois voltou para 20% e agora está em 30%, ainda dez pontos porcentuais abaixo do normal para companhia, que é 40% no total.
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O executivo ressalta que não foi apenas o recuo do câmbio que impulsionou as vendas neste momento, mas uma combinação de vários fatores, como os descontos dados pelas companhias aéreas e pelos hotéis.
"O preço do bilhete aéreo caiu muito. Em 40 anos no setor, nunca vi nada parecido", diz Valter Patriani, vice-presidente da CVC, a maior operadora de turismo do País. Passagem para a Flórida, nos EUA, que normalmente custava US$ 500, hoje está por US$ 250, exemplifica. Ele conta que desde março as vendas internacionais na CVC ficaram mais aquecidas e que estão sendo vendidos, nos últimos dias, mais pacotes internacionais do que nacionais.
Por conta das negociações favoráveis com companhias aéreas e hotéis, a CVC voltou com a campanha de dólar reduzido para alguns destinos, abaixo da cotação do câmbio turismo. Patriani explica que esse câmbio reduzido varia, pode estar a R$ 2,99 ou R$ 3,09, por exemplo, dependendo da negociação.
Foi exatamente o câmbio reduzido que fez o contador Leonardo Sabadim, de 32 anos, trocar o destino das férias de uma semana num resort, com a mulher e o filho, de Porto de Galinhas (PE) para Punta Cana, no Caribe. Por dez dias num hotel, com tudo incluído, ele iria gastar R$ 8,5 mil em Porto de Galinhas. O mesmo pacote em Punta Cana saiu por R$ 8.187. "Tinha optado por Porto de Galinhas porque achei que, com dólar a R$ 4, não seria viável ir para o exterior", diz ele, que embarca em novembro.
A analista de recursos humanos Tamires Amorim, de 28 anos, foi outra consumidora que trocou o destino da viagem. Inicialmente, ela programava ir em janeiro do ano que vem com o marido e um casal de amigos passar sete dias em Maceió (AL). Nesta semana bateu o martelo e comprou uma viagem para Las Vegas (EUA) para ficar o mesmo número de dias.
Pelo pacote para Las Vegas, ela e o marido vão gastar R$ 6,8 mil. Para Maceió (AL), o desembolso seria de R$ 6 mil. "A diferença que eu vou pagar para ir para Las Vegas é pouquíssima", diz ela que pela primeira vez fará uma viagem internacional.
Patriani, da CVC, frisa, que não necessariamente os preços de todos os pacotes internacionais estão menores em relação aos nacionais. Ele observa que a relação custo/benefício é melhor aos olhos do consumidor e isso ampliou as vendas.
Barkoczy, da Flytour, lembra que o perfil dos atuais compradores de pacotes internacionais também mudou. Por conta do ambiente de incertezas, eles estão mais cautelosos, compram pacotes com refeições e passeios incluídos e escolhem viagens por períodos mais curtos. Além disso, trocam roteiros de compras pelos destinos de diversão, explica.
Incertezas
Diante das incertezas políticas que respingam no câmbio, Tamires começou a comprar dólar para a viagem que fará em janeiro. Essa tendência de antecipação de compras da moeda estrangeira por parte de quem vai viajar já foi sentida pelas corretoras.
"Nas últimas três semanas dobrou as cifra vendida de câmbio turismo", conta Alexandre Fialho, diretor da Distribuidora de Câmbio Turismo Cotação. Nesse mesmo período, o valor da moeda americana caiu 5%.
Glaucy Lima, gestora de câmbio turismo da Fair Corretora, confirma o salto de 100% nas cifras comercializadas do dólar turismo da primeira para a segunda semana deste mês. "Dependendo do desfecho político, ninguém sabe o que vai acontecer na segunda, por isso houve antecipação de compra." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.