Tópicos | Modernismo

A exposição “Místicos e Bárbaros: Corpo, Sabor e Fé” exalta a presença de artistas paraenses dentro do cenário da Semana de Arte Moderna de 1922. O evento, com visitação gratuita, foi organizado pelos colecionadores de obras de arte que são membros do Poder Judiciário paraense e ocorre até o dia 15 de janeiro de 2023, de segunda a sábado, de 8 às 15 horas, e no domingo, de 9 às 13 horas, no Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA), em Belém.

A Semana de Arte Moderna foi uma manifestação sócio-artístico-cultural realizada de 13 a 18 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, a fim de propor uma nova elaboração da arte nacional. Ao completar 100 anos, a Semana ainda representa um marco nas artes brasileiras.

##RECOMENDA##

Na exposição do TRE-PA, pinturas, esculturas e objetos com estilo modernista englobam os acervos pessoais de advogados e juristas, mostrando a presença regional dentro dos parâmetros artísticos nacionais. O nome da exposição é baseado no livro do poeta paraense Antônio Tavernard.

No Pará, apesar da intensa atividade literária, a realidade na década de 1920 era difícil. Pouco se explorou sobre a temática na região, por conta da distância e da desvalorização dos artistas locais.

Para o professor Paulo Nunes, doutor na área de Letras e pesquisador sobre a “Geração Peixe Frito”, grupo de escritores paraenses de grande influência no modernismo brasileiro, faltou reconhecimento ao trabalho desenvolvido no Estado. “Não tínhamos contato com São Paulo. Nosso Brasil era outro, ia praticamente até a Bahia. Norte e Nordeste, mais próximos, tinham mais o que aprender, trocar e dialogar. Nós, amazônidas, devido às nossas revistas culturais, como ‘A Semana’ e a ‘Belém Nova’, publicávamos autores sudestinos e sulistas, portanto os conhecíamos. Mas o contrário não ocorria. Quanto a desvalorizar e desconhecer o que nossos artistas produziam, até hoje, no geral, é importante deixar a Amazônia como locus do exótico, do primitivo: é um modo de nos desvalorizar”, disse o pesquisador.

Paulo Nunes destaca, também, a importância de dar palco às obras regionais, visto que existem pintores, escultores, escritores, entre outros, que possuem uma relevância histórica no mundo das artes a ser considerada. “É como se tivéssemos de ‘matar um leão por dia’ (desculpe a metáfora antiecológica). Espaço de valorização no eixo São Paulo/Rio de Janeiro é briga constante, como se precisássemos do aval do outro para sermos reconhecidos. Grandes autores, talvez eu esteja enganado, produzem sem se preocupar com o julgamento do outro; eles produzem o melhor que sabem... Veja os exemplos de Eneida, Dalcidio Jurandir, Max Martins, Bruno de Menezes, Lindanor Celina. Eles marcaram porque fizeram bem feito, para nos emocionar. Suas obras atravessaram o tempo”, explicou.

Por Giovanna Cunha (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

O Amazônia Fashion Week (AFW), a mais importante semana de moda do Norte do país, chega à sua 17ª edição com o retorno dos desfiles presenciais, depois de dois anos com a programação transmitida pelo YouTube. O evento será entre os dias 10 e 12 de novembro, em espaços da UNAMA - Universidade da Amazônia, Sesc Ver-o-Peso e Espaço São José Liberto, com o tema "Modernismos na Moda".

A abertura será nesta quinta-feira (10/11), às 18h30, no auditório David Mufarrej, na UNAMA (avenida Alcindo Cacela, 287), em Belém, com um desfile formado por 15 looks icônicos que marcaram a trajetória do AFW. Essa será também uma oportunidade para homenagear as criadoras e pioneiras da Associação de Costureiras e Artesãs da Amazônia (Costamazônia), organização que promove o evento.

##RECOMENDA##

Um desfile intitulado “Impressões Caleidoscópicas” apresentará looks resultantes de um processo criativo conjunto de toda a equipe de produção do AFW e pintados à mão pelos artistas plásticos Elieni Tenório, Emanuel Franco, Lara Dahas, Nin Matos, Rose Maiorana, Ruma de Albuquerque e Yuri Dahas. Exposição com o mesmo nome ficará em cartaz no Espaço Multiuso da Galeria Graça Landeira, também na UNAMA, até o dia 14 de novembro.

Na sexta-feira (11/11), oito marcas já consolidadas no mercado autoral da moda paraense apresentam suas coleções a partir das 18h30, no Sesc Ver-o-Peso. As marcas são: Amazônia Zen, Ludimila Heringer; Jalunalé; Lilia Lima, Madame Floresta, HB Design, Honni Gomes, Daniely Albuquerque e Costamazônia by Rosely Coelho. E, ainda, a artista plástica Elieni Tenório apresentará uma coleção de vestidos em crochê que foram tecidos durante o período de isolamento na pandemia.

No sábado (12/11), desfiles de 10 marcas de novos criadores encerram a programação, a partir das 17 horas, no Espaço São José Liberto. A noite contará também com a participação especial da Associação Educativa Rural e Artesanal da Vila de Joanes (AERAJ), no Marajó, que apresentará a coleção fruto do projeto "Nossa história cultural na aquarela da natureza", contemplado no edital Prêmio Preamar de Cultura em 2022, da Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult).

O tema desta edição, “Modernismos na Moda”, foi escolhido em alusão aos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, comemorados este ano. O modernismo foi um movimento que transitou da arquitetura à literatura, da pintura à filosofia, chegando à moda. A ideia fundamental foi a de criar algo novo, esquecer velhos conceitos e visões ultrapassadas, ir em busca de liberdade.

Impulsionados por um contexto histórico conturbado, no qual grandes transformações estavam em curso, os artistas e intelectuais modernistas passaram a repensar a maneira de produzir arte e literatura, passando a valorizar o pensamento crítico. O modernismo também ocorre em um cenário de conquistas tecnológicas, progresso da indústria, aprofundamento do sistema capitalista e das desigualdades.

“Na moda, mais do que a busca pelo novo, o modernismo resgata a origem e a essência da roupa, busca formas simples, materiais especiais, bem trabalhados e acabados. Mais do que uma tendência qualquer, o modernismo busca a função e real justificativa de cada roupa. No AFW, isso resultou em coleções que refletem uma moda nova, avante, fresh, que se faz na região amazônica”, explica Felicia Assmar Maia, coordenadora geral do AFW.

Felícia explica, ainda, que, neste momento, em que a economia se recupera dos drásticos efeitos da pandemia da covid-19, o AFW deve reforçar sua função de divulgar a moda na região amazônica, contribuindo para o fortalecimento do mercado para os produtos provenientes da indústria de moda local. Para Felicia, “esse cenário se torna propício para a geração de empregos por causa de iniciativas locais de novos investimentos na área de confecção, concorrendo para o desenvolvimento econômico da região”.

O evento também proporciona estágio para alunos dos cursos de Moda e Estética e Cosmética da UNAMA, que têm a oportunidade de adquirir vivência profissional na área de produção de moda.

Os resultados positivos das 16 edições do AFW, de 2007 a 2021 (três edições digitais, a última em novembro de 2021), e o crescimento da produção local através de micro e pequenos empreendedores impulsionam esse trabalho de divulgação da produção de moda local, para que esta, passando a ter credibilidade no setor econômico, possa conduzir à criação de um polo de moda na região, tendo como ponto de referência a cidade de Belém, no Estado do Pará.

A 17ª edição do AFW tem o patrocínio do SEBRAE e da UNAMA - Universidade da Amazônia, com e apoio do Espaço São José Liberto, KB Criando, Revelle Models e Sunshine Cabeleireiro.

Da Agecom UNAMA.

 

 

Hoje (16) é Dia Nacional do Repórter, uma ótima oportunidade para conhecer mais sobre uma das precursoras da profissão no Brasil: Eugênia Álvaro Moreyra. Ela  nasceu em 1899 e era neta do Barão de Pitangui.

Foi jornalista, atriz e diretora de teatro  De caráter incomum e violador, foi uma das pioneiras do feminismo e uma das líderes da campanha eleitoral no país. Ligada ao movimento modernista brasileiro e defensora de ideias comunistas, foi perseguida pelo governo Vargas e presa, acusada de participação na Intentona Comunista.  

##RECOMENDA##

Vestida de terno e gravata e chapéu de feltro, se apresentou na redação do jornal A Rua, à procura de uma vaga de jornalista. Aprovada pelo bom texto e ousadia, sua contratação provoca admiração na sociedade. Uma mulher exercer o jornalismo era tão incomum que criou até mesmo um termo para designar a função: "reportisa".

No auge da carreira, Eugênia conheceu o poeta Álvaro Moreyra, que frequentava os mesmos círculos intelectuais que ela. Casaram-se em 1914. Eugênia pôs o nome do marido como sobrenome e deixou a carreira jornalística. Participou com Álvaro da Semana de Arte Moderna de 1922, fundando com ele em 1927, o grupo Teatro de Brinquedo, cuja intenção era manifestar no teatro as ideias modernistas. 

Com a divisão do movimento modernista brasileiro, Eugênia passou a defender com Álvaro, Pagu e Oswald de Andrade posições de esquerda, participando ativamente da Alianla Nacional Libertadora, e sendo perseguida pelo governo Vargas. Por influência de Carlos Lacerda, Eugênia e Álvaro filiam-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).  

Em maio de 1935, ela integra o grupo de fundadoras da União Feminina do Brasil, organização promovida por mulheres simpatizantes do PCB. A casa dela se tornou ponto de encontro para Di Cavalcanti, Vinicius de Morais, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Jorge Amado.

Em novembro de 1935, após a Intentona Comunista, Eugênia é detida acusada de envolvimento com o PCB e a revolta. Permaneceu quatro meses na Casa de Detenção, onde dividiu cela com Olga Benário Prestes, Maria Werneck de Castro, entre outras. Foi solta por falta de provas em fevereiro de 1936.  

Retornando ao ativismo político, exerceu, uma campanha para a libertação do bebê de Olga Benário que nascera após a deportação da companheira de Luis Carlos Prestes para um campo de concentração na Alemanha nazista de Adolf Hitler. Entre 1936 e 1938, Eugênia foi presidente da Casa dos Artistas, o sindicato da classe teatral de São Paulo.  

Eleita para um novo mandato em fevereiro de 1939, foi impedida de assumir o cargo por Filinto Muller. Se candidatou para ser deputada federal constituinte nas eleições gerais de 1945, mas nenhuma mulher conseguiu representar os interesses femininos durante a elaboração da Constituiçao de 1946.

No dia 16 de junho de 1948, Eugênia estava em sua casa jogando cartas quando se sentiu mal. Morreu no quarto, ao lado dos filhos, com derrame cerebral. Seu sepultamento foi no Cemitério de São João Batista, no bairro de Botafogo. 

No depoimento publicado no jornal ‘Correio da Manhã’ após a morte de Eugênia, o escritor Oswaldo de Andrade afirmou que "o que se deve a ela será calculado um dia". A presença de Eugênia em setores masculinos, como político e sindical, tornou-se cada vez mais subestimada e, infelizmente, permanece uma personagem nos livros.

Por Camily Maciel

[@#galeria#@]

A convite da Faculdade de Letras da Universidade de Sevilla, na Espanha, o poeta e professor Paulo Nunes, do curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura (PPGCLC) da UNAMA - Universidade da Amazônia, vai proferir palestra, na quinta-feira (11), em homenagem ao centenário da Semana da Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, no Brasil, entre os dias 13 e 17 de fevereiro daquele ano. O objetivo é destacar a Amazônia, a partir das ações da Academia do Peixe Frito, movimento literário e cultural organizado por jovens escritores, jornalistas e artistas paraenses, em Belém, durante os anos de 1920 a 1950.

##RECOMENDA##

Para o professor, o destaque para a Academia do Peixe Frito na programação desmonta a falsa ideia de que a Amazônia é um lugar ilhado, isolado. “Mostrar parte de nossa literatura pulsante numa universidade europeia importa porque ajuda a superar os preconceitos para conosco”, afirma.

Paulo Nunes vai mostrar que desde o início do século XX os autores da nossa região, que se reuniam no Mercado de Ferro do Ver-o-Peso para falar de literatura, estão antenados com as indicações políticas, estéticas e sociais da humanidade. “Os nossos modernistas mostram, através das artes, com destaque à literatura, as reivindicações mais verdadeiras, como o respeito à diversidade de credos e às diferenças etnicorraciais”, acrescenta.

A palestra ainda pretende contribuir para o reconhecimento da Amazônia como um centro de produção cultural, não reconhecido nem mesmo pelos amazônidas. “As pesquisas realizadas nas universidades de toda a Amazônia brasileira constituem uma chance de mudarmos a ideia de uma ‘Amazônia invisível e exótica’”, diz.

O professor vai enfatizar a Academia do Peixe Frito como um grupo que, além de colocar a Amazônia na ponta de lança das inovações estéticas, propunha acabar com a saudade melancólica da Belle Époque, fazendo com que as vozes das periferias de Belém tivessem espaço em textos jornalísticos e literários.

“Em um tempo de excessiva europeização, parte significativa dos peixefritanos colocava em xeque as colonialidades. Bruno de Menezes (escritor e poeta paraense) tinha orgulho de ser preto, e reúne em torno de si um grupo afinado com a diversidade e a ‘nova beleza’”, ressalta.

As expectativas de Paulo Nunes para a sua participação são de divulgação das nossas culturas e de abrir mais espaços para o diálogo sobre a literatura da Amazônia na Europa.

Conheça mais sobre a Academia do Peixe Frito:

https://www.youtube.com/watch?v=QWhV5xpegPU

Por Isabella Cordeiro.

Faleceu neste domingo (26), no Hospital Santa Joana, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, a artista plástica pernambucana Tereza Costa Rêgo. Aos 91 anos, Tereza não resistiu a um Acidente Vascular Cerebral. A pintora sofreu o AVC na casa de sua filha, Tereza Rozovickwiat, e foi socorrida. A caminho do hospital, ela teve também uma parada cardíaca.

Nascida no Recife em 28 de abril de 1929, Tereza começou a estudar pintura aos 15 anos, na Escola de Belas Artes do Recife, onde conheceu nomes como Francisco Brennand e Aloísio Magalhães. Filha de uma família tradicional da aristocracia rural pernambucana, a artista teve uma educação bastante rígida, mas logo aprendeu a expressar seus sentimentos na arte, tendo sido vencedora de três prêmios do Museu do Estado e outro da Sociedade de Arte Moderna.

##RECOMENDA##

Em 1962, ela realizou sua primeira grande exposição, na Editora Nacional. Neste ano, aliás, ela se envolveu com Diógenes Arruda, dirigente do Partido Comunista, motivo que a levou a fugir do Recife, deixando para trás o primeiro marido. Tereza formou em história na Universidade de São Paulo (USP) e chegou a dar aulas de história para vestibulandos e a trabalhar como paisagista em um escritório de planejamento.

Em 1972, foi exilada pela ditadura militar para o Chile e, depois fugiu para Paris, onde passou seis anos, sempre na companhia de Arruda. Na Universidade Sorbonne, na França, fez doutorado em história, tendo o proletariado brasileiro como tema. O casal só retorna ao Brasil em 1979, quando Diógenes morre em decorrência de um ataque cardíaco.

Tereza, então, enfrenta o luto e se destaca na cena artística pernambucana. Em seu ateliê, em Olinda, continuou pintando até os últimos dias. Foi diretora do Museu Regional e, por 12 anos, do Museu do Estado de Pernambuco, tendo exposto seu trabalho em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, Paris e Cuba.

Em 2011, ela foi a homenageada do Carnaval do Recife.

O Modernismo é uma das escolas literárias mais importantes do Brasil. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um marco para o movimento, destacando artistas plásticas como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e escritores Oswald e Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, entre outros. Eles tinham como objetivo criar uma forma de expressão livre de influências estrangeiras e discutir a criação de uma identidade artística nacional.

“Representou a afirmação de novos ideais estéticos e preparou o terreno para uma arte e uma literatura adultas e, de fato, modernas como podem ser vistas hoje. Essas características fazem do movimento um dos mais importantes da literatura e consequentemente um dos mais cobrados no Enem”, disse a professora de Literatura, Suellen Oliveira

##RECOMENDA##

O movimento é dividido em três fases

A primeira fase é conhecida como “fase heroica”, com importância para obra dos autores que ficaram conhecidos como a tríade modernista: Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira. Eles seguiram os prepostos da Semana de 22 e buscavam uma literatura inovadora e distante das antigas escolas.

A segunda fase, a geração de 1930, tem uma característica diferente em relação aos antecessores. Mesmo buscando dar continuidade aos ideais apresentados, os artistas dessa era estavam preocupados com as questões sociais e utilizaram seus trabalhos como forma de denúncia das mazelas do Brasil. Fazem parte desta geração Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade.

A terceira e última fase, também chamada de pós-modernista ou geração de 45, tem como diferencial o uso da linguagem mais rebuscada, fugindo dos tons coloquiais e apostando na temática psicológica, sem fugir das denuncias sociais. Autores como Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Lygia Fagundes Telles e Guimarães Rosa pertencem a este grupo. Eles trouxeram de volta para os romances e poesias a rima e a métrica, influências parnasianas, simbolistas e um regionalismo universal.

Nas edições de 2009 a 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) o assunto representou mais de 30% das questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, segundo um estudo desenvolvido pelo Sistema de Ensino Poliedro. Para auxiliar os candidatos na preparação para a prova nesta reta final, o Vai Cair no Enem em parceria com o LeiaJá pediu ajuda aos professores Suellen Oliveira e Paulo Neto para montar o quiz abaixo sobre o Modernismo.

[@#video#@]

Após uma publicação nas redes sociais na manhã do último domingo (15), um grande debate foi levantado em torno da obra Abaporu, de Tarsila do Amaral. Um internauta postou uma foto da pintura, comparando-a à tela “Batalha de Avaí”, do paraibano Pedro Américo, que, para ele, deveria “representar o Brasil mundo afora”. Os usuários fizeram questão de lembrar o legado da artista e a importância de sua obra, o que deixou a hashtag "#Abaporu" nos trend-topics.

##RECOMENDA##

Obra 'Batalha de Avaí', de Pedro Américo

Tarsila do Amaral é considerada uma das principais personalidades do modernismo brasileiro. A obra em questão foi criada em 1928 para presentear o marido, Oswald de Andrade, que, impressionado com a obra, resolveu batizá-la de Abaporu, que significa “homem que come carne humana”, ou seja, antropófago. Posteriormente, Oswald, com o objetivo de fomentar a independência da cena artística brasileira da Europa, publicou o Manifesto Antropófago, que deu origem a o movimento do mesmo nome, um dos mais importantes da época. 

Segundo a professora de Linguagens Pâmela Soares, a ideia do termo antropofágico serve para ilustrar os artistas brasileiros deixando de “comer” o que era de fora, como as vanguardas européias. “Abaporu é uma representação daquilo que pode acrescentar algo à brasilidade da literatura nacional”, conta. 

Para o professor de Português Felipe Rodrigues, a relevância da obra pode ser observada no contexto modernista brasileiro. “Sua importância se dá pela retomada do ufanismo e aspectos integralmente nossos, na construção de uma arte revolucionária e ancestral”, disse o professor. Rodrigues também lembra que a obra de Tarsila é considerada ponto de partida para a retomada da arte nacional, através de aspectos inerentes ao povo.

A respeito da publicação nas redes, o professor reitera que não existem métodos de mensuração entre obras artísticas. “Perceber o modernismo, um movimento estritamente brasileiro, é entender que o Brasil produz arte e temos raízes, no Abaporu”, diz Felipe. A obra foi arrematada, em 1995, em Nova York, depois de passar por várias mãos, por US$ 1,35 milhão - o valor mais alto já pago por uma pintura brasileira. 

No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo Pâmela, a obra pode ser abordada com uma contextualização de movimentos nacionalistas e também quando estudamos a literatura. “A prova de Linguagens, por exemplo, trabalha essencialmente com textos modernos [...] Há a retomada dos textos clássicos como barroco, quinhentismo, romantismo, que são vistos a partir da ótica moderna. Então, a obra de Tarsila e o manifesto de Oswald dão visibilidade para esse movimento que é importante, até o hoje, para a identidade literária brasileira”, conclui. 

No início da década de 20, surge no Brasil uma movimentação de artistas, escritores, poetas, inquietos com o cenário político, econômico e em busca de renovação cultural. O objetivo era fazer uma quebra do estilo tradicional que era praticado nas obras até então. Nesse contexto, em fevereiro de 1922 é inaugurada em São Paulo a “Semana de Arte Moderna”, que reuniu no Teatro Municipal apresentações musicais, dança, recital de poesias, palestras, exposições de pinturas e esculturas, dando início ao modernismo. 

Tarsila do Amaral é um dos maiores nomes da Escola Modernista. Ela não estava presente na semana de 22, mas não deixou de fazer história no movimento. “Tarsila é uma figura célebre quando se fala de modernismo no Brasil, quando fala-se principalmente da questão pitoresca, da pintura, da arte”, diz o professor de literatura Felipe Rodrigues.

##RECOMENDA##

Ela foi uma das maiores entusiastas e atuou principalmente na primeira fase, considerada nacionalista, na busca por uma identidade brasileira na arte, mesmo tendo forte influência das vanguardas artísticas européias, como cubismo e futurismo. Tarsila nasceu em 1º de setembro de 1886, no Município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Ela tinha sete irmãos e morava com os pais em uma fazenda. Eles eram considerados uma família abastada na cidade e a pintora estudou em boas escolas de São Paulo, até ser mandada para concluir seus estudos em Barcelona, na Espanha. Foi lá que pintou o primeiro quadro, chamado ‘Sagrado Coração de Jesus’, em 1904, aos 18 anos.

Ao retornar para o Brasil, Tarsila se casa pela primeira vez com André Teixeira Pinto, pai de sua única filha, chamada Dulce. Alguns anos depois, a artista separa-se e começa a estudar artes. Iniciou com escultura, depois teve aulas de desenho e pintura no ateliê de Pedro Alexandrino, em 1918, tendo como colega a pintora Anita Malfati. Dois anos depois, Tarsila vai concluir seus estudos de artes na Academia Julian em Paris, na França. A amiga Anita Malfatti é a responsável por mantê-la atualizada do que estava acontecendo no Brasil naquela semana de 1922.

 

Em 1923, Tarsila do Amaral já namora com escritor Oswald de Andrade e em Paris conheceram muitos intelectuais e artistas da época. A um deles, Fernand Léger, mestre do cubismo, Tarsila apresentou sua tela ‘A negra’, deixando o artista impactado, tanto que ele acabou mostrando o quadro para seus alunos. A inspiração para pintura de uma mulher negra eram as amas de leite, que amamentavam e cuidavam das crianças dos senhores de engenho na época escravocrata do Brasil. Esta tela coloca Tarsila na história do modernismo brasileiro.

Depois de concluir sua formação, Tarsila volta ao Brasil para se juntar ao grupo modernista, que ficou conhecido como ‘grupo dos cinco’, que além dela e Oswald, incluia Anita Malfatti, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia.

Fase Pau Brasil

A inspiração para esta etapa das obras de Tarsila do Amaral foram as cores que ela via na infância, quando esteve em Minas Gerais. Os professores de artes que teve antes disso diziam-lhe que eram tons feios e caipiras e que ela não deveria utilizá-los em suas obras. No entanto, a artista livrou-se dessa visão intelectualista e jogou na tela ‘o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante’. As cores foram marcas de sua arte, bem como o tema da brasilidade, das paisagens rurais e urbanas, a fauna, a flora e o povo do Brasil. “Tarsila é uma representação de que o Brasil existe e pode existir em conjunto com uma diversidade cultural”, expressa o professor Felipe Rodrigues.

Em 1926, Tarsila faz sua primeira exposição individual em Paris. Seus quadros têm influência cubista, absorvida na escola francesa, e entre eles estão ‘Carnaval em Madureira’, ‘Morro da Favela’, ‘O Mamoeiro’ e ‘O Pescador’. Nessa fase, ela ainda fez uma série de desenhos que inspirou Oswald no livro de poesias ‘Pau Brasil’ e Cendrars no livro 'Feuilles de route – Le formose'.

“Ela vem de uma família privilegiada, de uma vivência com arte, de entender as artes, de ter suas próprias histórias. Quando volta de Paris junto com Oswald de Andrade, com quem se casa novamente, lança o movimento antropofágico”, comenta o professor Felipe.

Movimento Antropofágico

No início do ano de 1928, Tarsila presenteou seu marido, que fazia aniversário em janeiro, com um quadro. Quando Oswald ficou impressionado com a surpresa e disse que aquele era o melhor quadro que sua amada já havia feito.

O escritor mostrou a pintura ao seu amigo e escritor Raul Bopp, que ficou tão impressionado quanto. Eles acabaram chamando o quadro de ‘Abaporu’, que significa ‘homem que come carne humana, o antropófago’.

“O Abaporu ele tem essas coisas: a brasilidade, é quente, os tons que trazem esse aspecto. Foi nada mais que um personagem que ela lembrava dos sonhos, das suas vivências enquanto artista. O lançamento do movimento antropofágico traz essa vivência, claro que de pessoas privilegiadas, que tiveram um agregar de culturas diversas, e que na realidade vão dizer assim ‘olha além dessas culturas que eu já aprimorei, vamos ressaltar a cultura do Brasil, não vamos perder a essência’”, analisa Felipe Rodrigues.

A ideia era comer, engolir outras culturas, principalmente a européia, tão forte na época, e transformá-la em algo brasileiro. O lançamento do movimento foi em maio de 1928, através da publicação de um manifesto na revista de antropofagia, que diz em um dos trechos mais famosos: "Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago".

Nessa fase, Tarsila usa muitas cores fortes, bichos, formas e paisagens imaginárias. Outros quadros que pertencem ao movimento são ‘Sol Poente’, ‘A Lua’, ‘Cartão Postal’, ‘O Lago’ e ‘Antropofagia’.

Sua primeira exposição no Brasil foi em 1929. Tarsila recebeu críticas e elogios, no entanto, muitas pessoas não conseguiam compreender sua intenção artística. Nesse mesmo ano ocorre a queda da Bolsa de Nova York, afetando a economia do mundo e mudando a vida de Tarsila, já que seu pai perde seus bens, sua fazenda e ela ainda descobre que Oswald de Andrade a traiu com a estudante Patrícia Galvão, conhecida como Pagu.  

Pintura Social

 

Após a traição, que culminou no término de seu segundo casamento, Tarsila do Amaral começou a trabalhar como conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo e deu início a organização do catálogo do museu, mas acabou perdendo o cargo com a queda de Júlio Prestes e a chegada de Getúlio Vargas ao poder.

Em 1931, a pintora vendeu alguns de seus quadros e foi para antiga União Soviética, junto com seu novo companheiro, o médico Osório César. Em Moscow, com a ajuda do amigo Serge Romoff, a artista expôs suas obras e teve contato com a causa operária.

De volta ao Brasil, em 1933, Tarsila passou a se envolver com política e participou de reuniões do Partido Comunista Brasileiro, chegando ser presa. Depois de passar um mês na cadeia, a pintora resolveu ficar longe do assunto e terminou seu relacionamento com Osório, que fazia parte do movimento comunista.

Para analisar as obras de Tarsila do Amaral nessa fase, principalmente se for cobrada em uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou em qualquer outra prova, é preciso entender o que estava acontecendo no mundo e como ela enxergava isso por meio de sua arte. “Os alunos podem estudar Tarsila a partir de suas obras de arte, sua importância histórica, suas diversas impressões por diversos autores da literatura, que vão fazer impressões artísticas sobre cada arte que ela publicou e além disso pode ser cobrada diretamente a imagem em contexto histórico”, explica o professor de literatura Felipe Rodrigues.

Nesta mesma época, Tarsila pinta a tela ‘Operários’, considerada uma das primeiras obras de cunho social no país. Também fazem parte dessa fase os quadros ‘Segunda Classe’, ‘Orfanato’ e ‘Costureiras’.    Ainda na década de 30, a artista inicia um novo relacionamento com o escritor Luís Martins, vinte anos mais novo que ela, que durou 18 anos.

A pintora, que também fez esculturas, trabalhou como colunista nos Diários Associados do seu amigo Assis Chateaubriand, de 1936 até meados dos anos 50, quando voltou a usar as referências da época do Pau Brasil com a tela ‘Fazenda’, ‘Vilarejo com ponte e mamoeiro´, ´Povoação I´ e ´Porto I´.

Principais exposições

Tarsila do Amaral pintou mais de 250 telas, expondo suas obras e diversos países do mundo. Entre os destaques estão a participação na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, onde ganhou um prêmio. Também expôs na 2ª bienal e teve uma sala especial na 7ª edição do evento paulista. Já em 1964 participou da 32ª Bienal de Veneza, na Itália.

No ano de 1965, a pintora separa-se mais uma vez e passa a viver sozinha. Nesse mesmo ano, devido a dores na coluna, Tarsila passa por uma cirurgia, que foi mal sucedida, deixando-a paralítica. Posteriormente, sua filha acaba falecendo por complicações da diabetes. Os eventos trágicos na vida de Tarsila, que também perdeu a neta anos antes, a aproximam do espiritismo e de Chico Xavier. Ela passa a reverter a renda da venda de seus quadros para uma instituição administrada pelo médium.

Para Felipe Rodrigues, a obra da artista é importante pela forma como ela utilizou as referências culturais, a que teve acesso durante toda sua vida, sobretudo por sua formação na Europa, sem misturar, nem absorver, mas mesclando e mantendo os traços da identidade do Brasil na arte que fazia. “Tarsila foi fantástica”, conclui o Felipe Rodrigues

Em 17 de janeiro de 1973, aos 83 anos, Tarsila do Amaral morre, no Hospital de Beneficência Portuguesa, em São Paulo, ainda decorrência das complicações da cirurgia que enfrentou e acometida por uma forte depressão.

Imagens/Domínio público

Após o anúncio de que, no último sábado (3), aconteceria um evento recheado de atividades educativas com oficinas, palestras sobre a arquitetura modernista do Recife, participação de especialistas no assunto e um café da manhã coletivo dentro do terreno das duas casas modernistas da Avenida Conselheiro Rosa e Silva, no bairro das Graças, Zona Norte da cidade, os imóveis foram fechados. Ainda na sexta-feira (2) no horário da noite, homens começaram a instalar tapumes de alumínio cercando as residências. Um vigia também passou a fazer a segurança do local. “Não estou autorizado a deixar ninguém entrar. É a ordem que tenho”, disse à reportagem do LeiaJa.com, que esteve no local e acompanhou o cercamento das casas.

##RECOMENDA##

Do lado de fora, as pessoas que pretendiam ocupar os imóveis e participar do evento colaram vários cartazes que demonstravam insatisfação com os tapumes, a falta de acesso ao local e a omissão do poder público com as construções. “O tapume vai proteger o patrimônio histórico ou esconder a demolição?", dizia uma das mensagens. As casas modernistas, de número 625 e 639, foram consideradas Imóveis Especiais de Proteção (IEPs), de acordo com a Lei Municipal nº 16.284/1997, em dezembro de 2014. A legislação do Recife garante que os IEPs são edificações isoladas, de arquitetura significativa para o patrimônio histórico, artístico e cultural e devem ser preservados.

Mas, apesar do Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) ter aprovado a proteção municipal, as residências estão em ruínas. Em fevereiro de 2018, a situação é grave e não sobrou muito. Janelas roubadas, paredes e azulejos pichados, o teto é quase inexistente, muito lixo no que antes era um jardim na frente dos imóveis, banheiro depredados, pedaços das casas sendo vendidos em feiras e tudo que restou estava parcialmente ou completamente destruído.

[@#video#@]

Em setembro de 2017 a Justiça pernambucana determinou que o proprietário das casas modernistas, Leonardo Teti de Carvalho, fizesse a recuperação das duas edificações, incluindo o resgate das características originais das construções e impedisse a depredação das antigas moradias. Ele é réu nas duas ações de iniciativa da Procuradoria do Município do Recife, uma referente à edificação de número 625 e outra para a casa 639. Na época, o juiz Haroldo Carneiro Leão, da 8ª Vara da Fazenda Pública da Capital, determinou prazo de 30 dias para o cumprimento das medidas. Caso não cumprisse a decisão judicial, o réu teria de pagar uma multa diária no valor de R$ 2 mil.

As duas edificações geminadas estão desocupadas há meses e foram alvos de saques e vandalismo constante. Em poucas declarações, o atual proprietário do imóvel alega que a culpa da situação das casas não é dele, mas dos “vândalos.

[@#podcast#@]

Para Leonardo Cisneiros, integrante do grupo Direitos Urbanos e um dos organizadores do evento do último sábado (3), o discurso do proprietário visa a estratégia de deixar os imóveis completamente abandonados e após a destruição, poder ficar com o terreno. “As ações da Prefeitura ficaram em banho maria desde setembro do ano passado. Esse tempo todo e ele não apresentou um projeto. Foi colocado que a gestão pediria uma multa, mas tudo foi deixado de lado. O caso se agravou porque arrancaram mais um pedaço do telhado. A gente não sabe se foram tomadas providências e nem se a sentença será cumprida. Eles colocaram esse tapume para impedir nosso ato, mas de que forma isso ajuda na revitalização da casa?”, questionou Cisneiros.

As casas modernistas foram construídas em 1958, com o projeto do arquiteto Augusto Reynaldo. As residências misturam arte e arquitetura com painéis de azulejo (danificados com as pichações), paredes levemente inclinadas, móveis embutidos, varandas e pilotis, sistema de construção em que a edificação é sustentada por pilares no térreo. São diferentes tipos de esquadrias e argamassa pigmentada que representam características das construções modernas.

De acordo com Lívia Nóbrega, professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as casas em si já guardam várias qualidades que não são encontradas em outros exemplares na cidade. “Por exemplo, a questão da integração da obra de arte com a arquitetura no painel de azulejos no térreo, a questão da adaptação climática que foi uma coisa que os arquitetos modernos da arquitetura internacional. Percebemos o telhado cerâmico inclinado, espaços fluidos e vazados, as casas também não tem muros, mas sim um recuo. Escada de concreto bem leve com elementos de ferro, azulejos e desenhos característicos dessa época.  A gente vê esquadrias venezianas de madeira, elementos vazados, e isso representa uma sintonia com uma produção mundial, mas adaptada ao nosso contexto por conta do clima e material utilizado”, explicou.

Para ela, uma das questões é que a arquitetura moderna é mais recente, dos anos 1950, e não teve um tempo de maturação para que a sociedade a reconheça como patrimônio histórico e cultural. “Essa falta de cuidado acarreta na destruição muito rápida desses imóveis, antes mesmo de serem reconhecidos como parte de nossa arte”, contou. A professora também alerta que legalmente, o proprietário deve pagar a multa e recuperar todos os danos causados aos imóveis. “Ele tem que respeitar os registros, ser fiel ao que tinha antes, temos muitas imagens para que isso seja feito o mais parecido possível”, disse Lívia, que também é integrante do Comitê Internacional para Documentação e Conservação de Edifícios, Sítios e Bairros do Movimento Moderno (Docomomo Brasil).

Em risco, as casas modernistas são apenas parte do patrimônio modernista do Recife que se encontra vandalizado. Muitos foram destruídos e outros não recebem a importância devida. “Essa falta de valorização não é recente. É uma cultura antiga, mas chama muita atenção estarmos em 2018, em plena Rosa e Silva e acontecer esse tipo de coisa. Nós temos o Estatuto da Cidade que pode diminuir esses conflitos de quando um proprietário tem um imóvel e gostaria de mexer na estrutura. Existem possibilidades de diálogo com a gestão municipal para chegar em um acordo. Mas, na prática é tudo muito falho”, lamentou a pesquisadora da UFPE.

O Recife conta com 260 imóveis classificados como Especiais de Preservação. No ano em que a Lei foi sancionada, foram classificados de imediato 154 imóveis. De 1997 a 2012, apenas mais dois passaram a integrar essa lista. Entre 2013 e 2018, a gestão municipal classificou 104 imóveis, dentre eles a sede do Clube América, localizada na Estrada do Arraial, 3107, em Casa Amarela.

Procurada pela reportagem do LeiaJa.com, a Prefeitura do Recife informou que o proprietário dos imóveis foi acionado na Justiça, por meio da Procuradoria Geral do Município (PGM), pela descaracterização dos casarões de estilo modernista, sob a prerrogativa de que se tratam de Imóveis Especiais de Preservação (IEP). Sobre as obras de restauro, ficou acordada a realização de audiência, na presença da Justiça, que definirá a adoção das medidas necessárias para a intervenção, que é de inteira responsabilidade do proprietário dos imóveis em questão.

“Vale destacar que todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis foram tomadas pela Prefeitura do Recife, que conseguiu, em setembro do ano passado, duas decisões judiciais determinando a preservação dos imóveis, tendo também notificado o Ministério Público de Pernambuco para avaliação de possível ação criminal contra os proprietários”, diz um trecho da nota enviada pela gestão municipal.

Ainda de acordo com a PCR, ficou acordado que o proprietário colocaria tapumes no limite do lote após aprovação da Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC). O objetivo é salvaguardar os imóveis para a execução de obras de restauro, que caberá ao dono das casas, mediante apresentação de projeto à DPPC e à Dircon.

“É importante ressaltar também que compete ao proprietário a vigilância e conservação dos imóveis. O executivo municipal não tem poder de entrar na propriedade particular, nem de impedir a entrada de pessoas nela, restando as medidas administrativas e judiciais adotadas para salvaguardar o patrimônio cultural, que, mesmo quando particulares, são elementos de fundamental importância para o conjunto do histórico e cultural da cidade”, diz outro trecho da nota.

Por meio de nota, o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco se pronunciou e afirmou repudiar a destruição das casas modernistas da Avenida Rosa e Silva.

“O Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural de Pernambuco, órgão colegiado vinculado à Secretaria do Estado, manifesta Moção de Repúdio à destruição criminosa a qual vem sofrendo os imóveis números 625 e 629 da Avenida Conselheiro Rosa e Silva, na cidade do Recife.

Os referidos imóveis, projetados em 1958 pelo arquiteto Augusto Reynaldo e conhecidos como Casas Modernistas, se inseriram de forma marcante na paisagem recifense e, além de serem exemplares representativos da escola pernambucana de arquitetura moderna, são também importantes testemunhos de sua época e dos modos de vida a ela associados. Por esses, e tantos outros valores, as duas edificações foram consideradas em Imóveis Especiais de Preservação, pela Prefeitura do Recife, através do Decreto nº 28.823, de 20 de maio de 2015.

No entanto, esta ação não foi suficiente para evitar que os imóveis, ao longo desses três últimos anos, tenham sido sistematicamente degradados à olhos vistos e à revelia de uma legislação que os protege. Nos últimos meses foram retiradas quase todas as suas esquadrias e grades, sendo também destruídos e pichados bens artísticos integrados à arquitetura. No último dia 27 de janeiro, os telhados das duas edificações foram inteiramente removidos, deixando-as quase arruinadas e numa situação de total fragilidade à ação de intempéries.

Este Conselho, que defende uma gestão compartilhada entre o Governo e a sociedade civil na preservação do Patrimônio Cultural em Pernambuco, solicita informações à Prefeitura do Recife sobre as medidas tomadas objetivando preservar a integridade dos imóveis e repudia o descaso do proprietário dos imóveis, Sr. Leonardo Teti, no cumprimento das suas obrigações legais em zelar pela integridade dessas edificações, reconhecidas oficialmente como parte do patrimônio cultural recifense”.

*Vídeo e fotografia: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O ano era 1922. Vivia-se um momento importante para a concepção da cultura brasileira: uma época de grandes transformações na arte. Mudanças que seriam introjetadas no Brasil por um grupo de jovens artistas brasileiros, financiados pela elite cafeicultora paulista, que lutava por uma ruptura com a estética vigente.

Entre os dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, o Theatro Municipal de São Paulo realizou uma mostra que reuniu centenas de trabalhos artísticos, entre eles, a música de Villa-Lobos; o poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira (criador da poesia moderna brasileira, que causou reações adversas na sociedade); o discurso triunfalista de Menotti del Picchia; as esculturas de Brecheret; as pinturas de Anita Malfatti (acusada por Monteiro Lobato de expor quadros que retomavam a estética do pintor cubista Pablo Picasso). Além disso, o local foi cenário da exposição dos quadros de Di Cavalcanti, conhecido como "o pintor das mulatas".

A semana seria conhecida como o símbolo da renovação artística e promoveu uma grande revolução no panorama das artes plásticas brasileiras. Houve quem pagasse 186 mil reis para assistir aos festivais nos camarotes e frisas do Theatro Municipal.

Foi a partir de 1922 que o movimento Modernista ganhou espaço entre a sociedade intelectual da época e se tornou o principal assunto de discussões entre escultores, artistas plásticos e muitos escritores, por incluir em suas programações manifestações experimentais além de, também, as obras consideradas “do passado” pelos próprios modernistas.

O livro "A Semana que não terminou", do jornalista Marcos Augustos Gonçalvez, lançado na última sexta-feira pela Cia das Letras, explora bem essa rede de relações e a jornada dos que fizeram A Semana de Arte Moderna, reconstituindo passo a passo o evento, como também revela as contradições do movimento, como os encontros em 1921 no restaurante Trianon com magnatas (a elite cafeeira), jornalistas e escritores como Graça Aranha, que não faziam parte da geração modernista.

A Semana de Arte Moderna tinha a ideia de ruptura com o passado e, eao mesmo tempo, existia uma grande preocupação imediatista com a inserção na arte moderna internacional. Isso gerou uma forte polêmica entre os que defendiam um caminho próprio para a arte brasileira e os que acreditavam que o significado de moderno é "ser diferente" e essa diferença era representada pelo o que se criava fora do País.

Os debates intermináveis da Semana de Arte e suas consequências tiveram desdobramentos que afetam a cultura brasileira até hoje. Entre as discussões está a defesa ardorosa de Oswald de Andrade que considerava o modernismo algo “original e de diferente visão” e, em oposição a Oswald, o ataque ferrenho de Monteiro Lobato ao movimento, considerando a arte moderna como “caricatural e tipicamente europeia”, em que o escritor vinculou o modernismo a um “grau de perturbação mental”.

Nesse bate boca sem fim, o Modernismo foi construindo ao longo dos anos uma ideia de brasilidade, que em 1922 - durante os três dias da mostra -, não era sequer um esboço. Na verdade, os traços da cultura nacional foram sendo inseridos e, consequentemente, a valorização da tradição brasileira foi acontecendo.

Graças a essa teia de discussões foi possível o surgimento do "Manifesto Antropofágico", um manifesto literário escrito por Oswald de Andrade que reafirmava os valores estéticos da poesia brasileira, mas apregoando o uso de uma "língua literária não catequizada".

Passados exatos 90 anos da Semana que marcou todas as vertentes culturais do Brasil, é impossível não pensar no modernismo brasileiro sem associá-lo diretamente ao folclore de “Macunaíma” (1928) de Mário de Andrade, à antropofagia de Oswald de Andrade e às telas de Tarsila do Amaral, retomada posteriormente pelo Movimento Tropicalista de 1960. Sem esquecer das gerações seguintes, que foram agregando valores as fases do modernismo e contruibuindo para consolidar uma gama de análises estéticas e culturais no País.

Um grande exemplo é a poesia construtivista de João Cabral de Melo Neto e o Movimento Armorial, este último encabeçado pelo escritor Ariano Suassuna, que orienta todas as expressões artísticas – música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura – a criar uma arte erudita, porém popular.

É inegável a importância e os desdobramentos da Semana de Arte de 22. É que o evento, considerado um divisor de águas nas artes do País, mudou para sempre a forma do País se ver.

O jeito introspectivo, por vezes tímido e de olhar complacente, guardava um talento inconfundível que seria, mais tarde, reconhecido por todo o mundo. Este é o traço singular, de uma realidade fragmentada e realista, do pintor Cândido Portinari, que revolucionou as artes visuais no Brasil e fez de seus painéis e telas pontos de partida para retratar/denunciar questões sociais.

O gênio da pintura brasileira nasceu pobre, no interior São Paulo, na cidade de Brodowski, em 1903. Filho de imigrantes iltalianos, Portinari teve uma educação deficiente, sequer completou o ensino primário. Seu entrosamento com as tintas e os pincéis começou aos 14 anos, quando uma trupe de pintores e escultores italianos que atuavam na restauração de igrejas passava por sua cidade e resolveu recrutar o menino como ajudante.

Nesta mesma época, ele assistiu aos funerais de imigrantes nordestinos que, para fugirem da seca que assolava sua região, procuravam emprego nas fazendas do interior de São Paulo. Essas imagens ficaram na memória do pintor e, mais tarde, ganharam vida e cores em representações cubistas.

Decidido a aprimorar seus dons, o garoto que achava bonito o azul do mar, saiu de São Paulo e partiu para estudar na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Durante seus estudos chamou a atenção tanto de professores quanto da própria imprensa, o que o facilitou, aos 20 anos, a realizar diversas exposições, obtendo elogios em artigos de vários jornais.

Mas, mesmo com toda essa badalação, ele passa a se interessar por um movimento artístico que para a sua época era considerado marginal: o Modernismo. Pablo Picasso, de certa forma, impulsionou Cândido Portinari com o seu estilo cubista de pintar. É que Portinari percebeu na estética geométrica, que sugere a estrutura dos corpos e dos objetos, uma maneira de atrelar às temáticas sociais.

De fato, a influência do espanhol Picasso é inegável na vida do pintor brasileiro, assim como a preocupação social em suas obras. Telas que retratavam a vida dura de trabalhadores do campo e da cidade. Mas que, também, dialogava com a cultura brasileira e suas representações: o samba, o chorinho, a alegria, o carnaval e as festas do morro.

Modernista tardio, Portinari consolidou a renovação da arte brasileira e a tornou popular. Nenhum pintor brasileiro conseguiu a projeção que ele alcançou. Ele foi o primeiro artista modernista a ganhar uma premiação internacional com o quadro “Café”.

Encruzilhadas - Suas pinturas se aproximam também do surrealismo e dos pintores muralistas mexicanos, sem, contudo, se distanciar totalmente da arte figurativa e das tradições da pintura. O resultado dessa fusão de escolas e pintores é uma arte de característica moderna, que aposta em obras monumentais e em grandes painéis.

Em um de seus trabalhos, o artista foi convidado para colaborar com o novo edifício do Ministério da Educação, marco da arte moderna do País. No prédio de Oscar Niemayer e Lúcio Costa, ele fez painéis com temas infantis e baseados nos ciclos econômicos do Brasil.

O mais importante deles foi o mural “Guerra e Paz”, feita nos anos 1950, sob encomenda para presentear a sede das Nações Unidas em Nova York. Em 2010, uma reforma no prédio da ONU foi uma desculpa perfeita para que a obra voltasse a ser exposta no Rio, no Theatro Municipal, depois de muitos anos restrita ao público. Agora, ela será exposta no Memorial da América Latina, na Barra Funda, em São Paulo, de terça-feira (7) até 21 de abril, de terça a domingo, das 9h às 18h, com entrada gratuita.

Para Portinari, o amor pela arte era maior e mais importante do que sua própria saúde - o artista chegou ao ponto de desobedecer as ordens médicas e permanecer trabalhando freneticamente, mesmo após ter recebido o diagnóstico de uma grave intoxicação por chumbo (material presente nas tintas que usava).

Amante dos pincéis e da arte, ele não conseguiu parar de pintar e, já, nos últimos dias de sua vida, apesar de surdo e debilitado pelo veneno, realizou, em 1962, em Milão, na Itália, uma exposição de 200 telas. No mesmo ano, no dia 6 de fevereiro, o envenenamento por chumbo começa a tomar proporções fatais e tragicamente ele morre envenenado pelas mesmas tintas que o consagraram.

Conheça um pouco mais sobre a vida e obra do artista:

##RECOMENDA##

No período entre os dias 6 de fevereiro a 6 de março de 2012, estarão abertas as inscrições para o Prêmio Marta Rosseti Batista, destinado a melhor monografia inédita na área de história da arte e arquitetura.

A ação, promovida pela Universidade de São Paulo (USP), através do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), tem como pré-requisitos para concorrer ao prêmio monografias escritas a partir de 2007, em português e relacionadas com o modernismo no Brasil. As inscrições podem ser realizadas por meio do preenchimento do formulário, disponível no endereço eletrônico do IEB e são gratuitas.

De acordo com informações do edital do prêmio, dentre as formalidades exigidas nas monografias, os trabalhos devem ter, no mínimo, 150 páginas e, no máximo, 250, já contando com imagens anexadas e a bibliografia. A formatação deve seguir o seguinte padrão: Time New Roman, tamanho 12, espaçamento entre linhas de 1,5 e 6 pontos entre parágrafos, 2,5 nas margens superior e inferior, 3 cm nas margens esquerda e direita. Cada autor poderá inscrever quantas obras quiser para concorrer ao prêmio.

Após a inscrição, o candidato deverá enviar três cópias da monografia, junto ao próprio número de inscrição e cópia da ficha preenchida, impressa e assinada, anexada em envelope fechado. As documentações deverão ser enviadas para o Serviço de Difusão Cultural do IEB, que fica situado na Avenida Professora Melo Moraes, Travessa 8, nº 140, Cidade Universitária, São Paulo-SP, com o seguinte CEP: 05508-030. Obras realizadas por dois autores deverão ter assinatura de ambos.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando