Estudo do Observatório do Clima, que será apresentado no sábado (6), na 20ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-20), em Lima, Peru, mostra que as emissões brasileiras atingiram 1,57 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente, em 2013. Isso representa um aumento de 7,8% em comparação ao ano anterior e constitui a maior quantidade de emissão desde 2008.
O estudo mostra as emissões, no Brasil, no período de 1970 a 2013. No ano passado, foram apresentados dados relativos ao período de 1990 a 2012. “No sábado, no evento paralelo à COP-20 que vai ser organizado pelo Observatório do Clima, mostraremos que de 2012 para 2013, o Brasil aumentou em 7,8% as suas emissões, que é um aumento em todos os setores. Aumentou na mudança da terra, no setor de energia, na agropecuária, nos resíduos, nos processos industriais. Em todos os setores da economia monitorados, o Brasil elevou suas emissões”, disse, hoje (3), à Agência Brasil, o coordenador-geral do Observatório do Clima, André Ferretti.
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O maior aumento das emissões entre 2012 e 2013, da ordem de 16%, ocorreu no desmatamento. Somando mudança da terra (desmatamento), energia e agropecuária, considerados os grandes vilões das emissões de gases poluentes, verifica-se que esses três setores respondem por quase 90% das emissões brasileiras, informou o ambientalista. Resíduos e processos industriais ocupam uma parcela ainda reduzida.
De acordo com o Observatório do Clima, em 2013, o setor de mudança da terra emitiu 542,5 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente. Em segundo lugar, ficou energia, com 473,5 de toneladas, seguindo-se a agropecuária, com 416,7 milhões de toneladas. Os processos industriais foram responsáveis pela emissão 86,5 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente e os resíduos, 48,7 de milhões de toneladas.
O objetivo do Observatório do Clima é fazer o monitoramento anual das emissões no Brasil, para que se tenha tempo hábil de identificar onde as emissões estão piorando, para que se possa ajustar políticas públicas que, eventualmente, não estejam resultando no esperado ou criar novas políticas para solucionar problemas que estejam sendo causados em alguns setores, disse Ferretti.
Segundo ele, o país está em uma situação complicada, em que todos os cinco setores monitorados mostram o aumento das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa. “O mundo precisa reduzir as emissões pela metade, pelo menos, nas próximas três décadas, para que a gente consiga tentar ainda estabilizar a temperatura em, no máximo, 2º [Celsius] acima da média que a gente tinha de temperatura do planeta, no início da revolução industrial”. Ferretti acrescentou que esse é um limiar que os cientistas alertam como algo que ainda traria grandes prejuízos, “como tem trazido”, mas que ainda é aceitável.
O coordenador do Observatório do Clima destacou que um aumento acima da magnitude de 2ºC em relação à temperatura no século 18 traria consequências muito severas que a espécie humana não vivenciou até hoje. “É um risco muito grande”, disse. Por isso, a expectativa dos ambientalistas é que os esforços globais sejam suficientes para que a temperatura não se eleve acima de 2ºC do que ocorria na Era pré-industrial. Informou que, atualmente, foi observado um aumento entre 0,8ºC e 0,9ºC. “Estamos chegando a quase 1ºC do que era na revolução industrial e já estamos tendo problemas nos últimos anos, como aumentos climáticos extremos, mais frequentes e mais intensos, causando perdas de vidas, inclusive, e prejuízos econômicos gigantescos no mundo todo”.
Ferretti lembrou que, segundo os cientistas, é prudente não ultrapassar o limiar de 2ºC, “porque seria mais barato trabalhar agora para reduzir as emissões”. André Ferretti viaja amanhã (4) para Lima, onde apresentará o estudo na COP-20, com o coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), o engenheiro florestal Tasso Azevedo.