Para celebrar os 90 anos do Museu do Estado (Mepe), a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), em parceria com a Secult-PE/ Fundarpe lança o livro Tempo Tríbio - Museu do Estado de Pernambuco - 1930-2020, juntamente com uma grandiosa exposição, cuja curadoria do antropólogo Raul Lody e da historiadora Maria Eduarda Marques.
Com informações inéditas sobre o equipamento cultural e seu acervo, o livro traz uma rica oferta de fotos, com peças que há décadas não eram mostradas ao público, além de uma cronologia dos diretores que já passaram pelo museu, conhecido por representar em seu acervo a multiculturalidade pernambucana. Os lançamentos do livro e da exposição acontecem dia 26, das 19h às 22h, apenas para autoridades e convidados. No dia 27 será aberto ao público.
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“Tempo Tríbio celebra os 90 anos de trajetória do Museu do Estado de Pernambuco fazendo o que é mais importante para uma instituição artística e histórica dessa proporção: a reflexão crítica sobre a sua trajetória e seu acervo, apontando caminhos recentes e visões estéticas e antropológicas diversas. É um livro que olha para o passado e para o contemporâneo a fim de revelar também a riqueza da produção cultural e artística pernambucana ao longo da história”, declara o editor da Cepe, Diogo Guedes.
Com textos de Lody, Maria Eduarda, dos historiadores Pablo Lucena e André Soares, da escritora e jornalista Marileide Alves, e do antropólogo Renato Athias, o livro é organizado pelo jornalista, escritor e crítico Júlio Cavani. A obra resgata os bastidores da criação do museu no contexto político-cultural da época, entre as décadas de 1920 e 1940,a partir de imersão realizada pelos pesquisadores na reserva técnica localizada no Espaço Cícero Dias, prédio anexo ao palacete da Avenida Rui Barbosa.
Júlio destaca ainda obras pouco conhecidas presentes no livro como a máscara mortuária de Agamenon Magalhães. "O Museu do Estado de Pernambuco, como o nome sugere, é a instituição que oficialmente reúne referências sobre o que seria uma identidade cultural pernambucana. É uma atribuição complexa, que estará sempre em transformação e merece estar em constante discussão e reavaliação, já que a cultura não é algo estático”, reflete Júlio.
Lody ressalta a importância do Mepe na busca de uma representação que vá além do épico, da hierarquização, de uma história oficial que atesta o poder dos sistemas sociais e econômicos. “Sem dúvida, um dos mais notáveis capitais simbólicos do museu é o de interpretar e comunicar as identidades dentro das suas multiculturalidades”, explica o museólogo, que atenta para o museu como local de educação. “Vê-se o museu como o lugar da legitimação. Se está no museu é bom, ou se está no museu tem importância. Isso faz com que a natureza do museu seja a de um lugar não só de apreciação, mas de um lugar de educação. Deve-se educar patrimonialmente. Ter um entendimento de que um testemunho representado por um utensílio de cozinha traz uma significativa carga de conhecimento histórico, de presença étnica e de função”, escreve Lody.
Instalado inicialmente na cúpula do Palácio da Justiça, e inaugurado em 7 de setembro de 1930, o Mepe iniciou seu percurso na vanguarda dos museus da época ao não se concentrar apenas nos artefatos da cultura erudita das classes dominantes, como explica a historiadora Maria Eduarda. “O museu também conservou os objetos oriundos das camadas populares, tradicionalmente excluídos dos museus oficiais de então”, afirma a historiadora.
O conceito partiu dos ideais antropológicos e sociológicos defendidos por Gilberto Freyre, figura importante na criação do Mepe, que via o passado da sociedade como um todo como objeto de estudo e de preservação cultural, não apenas nos registros dos grandes acontecimentos. E também enxergava que o método para o estudo da cultura material é apreendido no cotidiano.
Não se sabe o momento exato em que se pensou em construir um museu pernambucano. No entanto, segundo o historiador André Soares, é possível identificar as motivações. Uma delas foi o movimento contrário à demolição de construções centenárias como a Matriz do Corpo Santo e o Arco da Conceição. “A preocupação de impedir a fuga de objetos tidos como importantes, sob o ponto de vista material, foi sem dúvida uma das justificativas para a construção do museu”, completa Soares.
O livro revela ainda uma coleção de 307 peças de cultos afro-brasileiros, “um forte testemunho da presença e da ação do elemento africano na construção pluricultural do povo pernambucano”, diz o historiador Pablo Lucena . Tais objetos vindos dos terreiros do Recife e de sua periferia urbana chegaram a ser apreendidos no período de 1938 a 1940, durante o regime do Estado Novo. Em 1940, eles passaram a integrar o acervo. Atualmente, das 307 peças, 86 estão em exposição. “Abrigando essa exposição, o museu aponta caminhos para o público buscar compreender o quanto as religiões de matrizes africanas podem colaborar com a transformação social, por meio de sua relação com a natureza, e diversos terreiros de Xangô que funcionavam em Pernambuco na década de 1930”, avalia a jornalista e escritora Marileide Alves, que foi finalista do Prêmio Jabuti em 2019 pelo livro Povo Xambá Resiste, lançado pela Cepe Editora.
Já o antropólogo Renato Athias enfatiza a coleção de 54 povos indígenas, composta por 846 peças. “Talvez já tenha chegado a hora de provocar os museus no Brasil a pensar seriamente em projetos que visem o repatriamento e a devolução de objetos indígenas que se encontrem em museus públicos e privados. O debate em torno disso nos permite aprimorar tais projetos de colaborações entre os povos indígenas”, sugere.
EXPOSIÇÃO
Batizada com o mesmo título do livro, a exposição comemorativa dos 90 anos do Mepe é dividida em três partes que são linhas temporais, sendo uma política, uma cultural e outra histórica. Destaque para a seção que exibe os diretores que passaram pelo museu e a contribuição de cada um para a formação do acervo. Sem falar nas obras de artistas desde Telles Júnior, primeiro a ser exibido na década de 1930, até Gil Vicente, Lana Bandeira, Paulo Bruscky e contemporâneos como Rodrigo Braga e Lourival Cuquinha, muitos dos quais foram revelados e consagrados pelo Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, promovido pelo Mepe.
Serviço:
Lançamento do livro Tempo Tríbio - Museu do Estado de Pernambuco - 1930-2020 (Cepe Editora)
Quando: 26 de agosto
Horário: 19h às 22h
Onde: Museu do Estado de Pernambuco (Mepe)
Preço: R$ 90
O livro será comercializado nas lojas físicas da Cepe e no site www.cepe.com.br/lojacepe