O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, defendeu, nesta quarta-feira (29) um "projeto único de poder" dos partidos aliados para a eleição presidencial de 2018 e antecipou a saída do PSDB da equipe ao afirmar que o partido não faz mais parte da base de apoio do governo. Padilha disse que o presidente Michel Temer não tem "pretensão" de disputar um segundo mandato e está à procura de um candidato para defender o seu legado.
Um dia depois de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin - pré-candidato do PSDB à Presidência -, pregar o desembarque dos tucanos, o ministro adotou tom mais contundente. "O PSDB não está mais na base de sustentação do governo", disse Padilha. "O partido tem os seus interesses políticos, que está procurando preservar. Nós vamos fazer de tudo para manter um caminhar conjunto, com um projeto único de poder para 2018. Mas o PSDB já disse que vai sair da base no dia 9", argumentou ele, em uma referência à data da convenção do partido.
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Ao ser questionado se não haveria constrangimento com a presença de três ministros do PSDB na Esplanada, Padilha disse que Temer pode manter auxiliares tucanos em sua "cota pessoal". Mais tarde, à saída de um almoço da Frente Parlamentar de Comércio, Serviços e Empreendedorismo, o presidente fez sinal de negativo quando repórteres lhe perguntaram se o PSDB estava fora do governo.
Alckmin deverá assumir o comando do PSDB na convenção marcada para 9 de dezembro, na tentativa de unificar o partido. Suas primeiras declarações, no entanto, causaram extremo desconforto no Planalto. O governador disse que, se dependesse dele, o partido nem teria entrado na equipe de Temer, como sempre afirmara.
Foi por esse motivo que Padilha decidiu também elevar o tom. "Governar é gerir sob tensão. A tensão é permanente", disse ele. O ministro, porém, combinou o jogo antes com Temer, que se reuniu nesta quarta no fim do dia com o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
A nova tática do governo em relação ao PSDB é conhecida como "morde e assopra", na qual o presidente aparece como o conciliador que articula uma "saída negociada" dos tucanos.
Até agora, apenas Bruno Araújo (PSDB) pediu demissão, entregando o comando do Ministério das Cidades, que passou para Alexandre Baldy, prestes a se filiar ao PP. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, permanecerá no cargo. O titular da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, tende a ser substituído pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS), mas pode ser deslocado para outra função. Luislinda Valois (Direitos Humanos) deixará o Executivo.
O governo tenta formar uma frente de centro-direita, integrada por partidos como PMDB, DEM, PP, PR, PSD e PTB, não apenas para aprovar a reforma da Previdência, mas também para se contrapor às possíveis candidaturas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do deputado Jair Bolsonaro (PSC). Questionado sobre a possibilidade de aliança entre o PMDB e o PSDB na eleição presidencial 2018, Padilha afirmou duas vezes que o partido de Alckmin não fazia mais parte da coalizão.
Logo depois, porém, o ministro tentou contemporizar. Questionado pelo jornal se estava descartando totalmente uma composição com os tucanos, ele respondeu que o governo não exclui ninguém "a priori" dessa frente. "Admitindo que o candidato do PSDB dissesse: Vamos defender por inteiro o legado do governo, abre-se aí uma possibilidade", afirmou.
O chefe da Casa Civil ainda lembrou a posição histórica dos tucanos em defesa de mudanças na Previdência. "E a gente conta que mantenha esses compromissos", insistiu.
Votos
Padilha também disse que o governo não cederá a novos pedidos de alterações na proposta de reforma, nem às reivindicadas pelos tucanos. O Planalto, hoje, não tem os 308 votos para aprovar na Câmara as mudanças na aposentadoria.
Diante da insistência dos jornalistas sobre a possibilidade de uma candidatura própria do PMDB, com Temer encabeçando a chapa, Padilha desconversou. O ministro afirmou que Temer tem conversado com todos os partidos da base sobre um projeto de desenvolvimento para o País. "Ele disse que não tem nenhuma pretensão em disputar eleição, mas, sim, de cumprir bem o seu mandato para colocar o Brasil nos trilhos."
Há, nos bastidores, uma articulação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que é filiado ao PSD e quer ser candidato à Presidência e procura apoio tanto de Temer como do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.