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O Recife, capital de Pernambuco, é conhecido pela beleza de suas pontes. Elas dão tom único à paisagem do centro, atraindo turistas de todos os lugares do mundo pela sua poesia e colorido. Um desses cenários, no entanto, tornou-se triste nesta terça (24). A Ponte Santa Isabel, que vai da Rua da Aurora à Rua do Sol, virou morada temporária para diversas famílias carentes, que montaram verdadeiros ‘acampamentos’ em busca de doações para o seu Natal. 

Eles vieram de diversas localidades da Região Metropolitana do Recife. Todos têm moradia, mas aproveitam o dia ‘especial’ para tentar receber alimentos e brinquedos para as crianças. Muitos estão em família, é um grupo de cerca de 20 pessoas com idades que vão de seis a 60 anos. 

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Um tanto ressabiados, não querem falar sobre si mesmos, mas com um pouco de simpatia vão se abrindo. Dona Cristina e o filho, Roberto da Silva, ambos desempregados, vêm todos os anos para a Ponte Santa Isabel atrás de donativos. Eles são de Igarassu e chegaram às 7h, nesta terça (24), pretendendo voltar para casa no início da noite. Cristina diz que as doações este ano estão fracas mas que, ainda assim, vale a pena deslocar-se para tentar arrecadar algo. Ela já chegou a passar a madrugada na ponte e diz não temer violência mesmo estando tão exposta na rua: “Ninguém mexe não e aqui tem polícia a noite toda”, garante. 

Ao lado, Dona Ana, moradora de Camaragibe, também montou uma espécie de acampamento para passar o dia na Santa Isabel. Ela é outra que vem anualmente para o endereço e diz que as doações ajudam não só a ela, mas também a seus seis filhos, todos sem emprego. “Em casa a gente não tem o que comer, né? Aí eu venho”, diz a senhora de 58 anos que, desempregada, também não conseguiu ainda se aposentar. 

Com a aproximação de um carro, todo o grupo corre para pegar os donativos. Roberto grita dando ordens para que as mulheres e crianças não “avancem” no veículo, para não assustar os ‘benfeitores’. Dois rapazes desembarcam com sacolas de pão e formam uma roda com os moradores temporários da ponte para uma oração.  Após a prece, o grupo retoma seus lugares ao longo da Santa Isabel, no aguardo de que outras pessoas, tocadas pela atmosfera de solidariedade que se instala nessa época do ano, venham lhe prestar algum socorro na véspera de Natal. 

 

Garoto warao se alimenta em pé, em meio à desorganização do corredor de uma das casas. (Arthur Souza/LeiaJáImagens)

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Há pouco mais de um mês, a Rua da Glória, no Bairro da Boa Vista, Centro do Recife, se transformou em um inusitado reduto de indígenas da etnia Warao oriundos da zona rural da cidade de Tucupita, capital do estado venezuelano de Delta Amacuro, a 720km de Caracas.

Fugindo da grave crise econômica da Venezuela, responsável pela escassez de roupas, medicamentos e alimentos no país, cerca de setenta pessoas estão aglomeradas nas casas de número 480 e 485 e tentam se acostumar a uma rotina completamente diferente. Sem acomodações apropriadas ou mesmo colchões, crianças, mulheres e homens passam a maior parte do dia enfileirados no chão dos corredores estreitos dos imóveis, segurando crianças de colo nos braços. À tarde, quando o calor se torna insuportável, é preciso circular pela rua e vencer a timidez- que parece comum ao grupo- para ocupar algumas calçadas.

É pela manhã, contudo, que cerca de trinta adultos esmolam pelas ruas, com a árdua tarefa de pagar o aluguel de uma casas e garantir a alimentação dos demais. “Não estamos passando fome porque estamos pedindo dinheiro nos sinais. Saímos com os cartazes, com os quais mostramos que somos venezuelanos e precisamos de ajuda. Algumas pessoas contribuem, mas outras sempre dizem que aqui no Brasil não tem abrigo para nos receber e perguntam o porquê de a gente não estar estar trabalhando”, comenta Lorenzo*, que mora em uma das casas e veio para o Brasil há sete meses, com a esposa e os filhos. 

“Viemos em um grupo de oitocentas pessoas, mas um parte ficou em Manaus. Minha mulher e meu filho estão no Maranhão, tentando conseguir dinheiro para vir. As pessoas que ficaram lá estão tentando vir, pouco a pouco”, conta.

Além conviver com a saudade, Lorenzo ainda precisa lidar com a ausência de moradia fixa. “Estamos nesta casa (485) há um mês e eles (outros venezuelanos) na outra (480) há cerca de dez dias a mais que nós. Eles pagam R$ 400 reais, mas nós não pagamos aluguel nesta, o dono deixou a gente passar o mês aqui. Não sei para onde vamos depois disso, não temos dinheiro, queremos que a prefeitura nos ajude”, lamenta.

Em cartazes improvisados no isopor, levados aos sinais, venezuelanos se esforçam para pedir em português: "poderia me ajudar?". (Arthur Souza/LeiaJáImagens)

Falando em espanhol durante toda a entrevista, o warao lembra que, na Venezuela, ele e seu povo viviam da agricultura. “Minha ideia é ficar no Brasil e conseguir um emprego, mas ainda não sei como, porque não cresci na cidade e trabalhava como agricultor, então não tenho formação profissional. Além disso, eu não falo português”, lamenta.

Os problemas enfrentados por Lorenzo são os mesmos de praticamente todos os seus compatriotas instalados na Rua da Glória. A única exceção parece ser o professor Salvador*, que funcionou como uma espécie de interlocutor do grupo no primeiro diálogo oficial com o governo municipal, que se deu através de uma reunião com a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara do Recife, realizada no dia 14 de outubro.

Após muita insistência da reportagem, o professor aceitou trocar algumas palavras com a equipe do LeiaJá. Desconfiado, ele alegou que a entrevista não seria necessária já que outros jornalistas já haviam falado com ele e “nada foi feito”. “A prefeitura veio aqui pegou nossos nomes e documentos, mas não fez nada. Estamos esperando a resposta, não sei quando eles vão dar”, resume.

Adultos passam o tempo nas calçadas, onde também fogem do calor no interior das casas, na Rua da Glória. (Arthur Souza/LeiaJáImagens)

Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas Sobre Drogas e Direitos Humanos, órgão da prefeitura do Recife, confirmou que esteve no local em quatro ocasiões - a última delas no dia 21 de outubro - e cadastrou setenta imigrantes warao que estão residindo na Rua da Glória, dentre eles, 40 crianças e adolescentes, organizados em 15 núcleos familiares.

As informações coletadas foram reunidas com a intenção de traçar um perfil desta população e compreender suas necessidades, para, a partir delas, planejar ações. “Foram identificadas necessidades básicas - documentação moradia, saúde, educação e emprego. As equipes realizaram reunião com a Defensoria Pública da União para receber orientação sobre a regularização da documentação dos refugiados, bem como encontros com as secretarias municipais de Saúde, Educação e Trabalho, para discutir alternativas de atendimentos nessas áreas”, acrescenta o comunicado oficial.

Ainda de acordo com a prefeitura, as famílias instaladas na Rua da Glória chegaram ao Recife sem apoio oficial de governos e entidades assistenciais, na primeira semana de outubro.

Há cerca de dois anos, a maior parte do grupo entrou no Brasil, passando por Pacaraima (Roraima), Belém (PA), Fortaleza (CE) e Natal (RN). “Os imigrantes estão sendo acompanhados por Agentes Comunitários de Saúde e enfermeiros do Programa de Agentes Comunitários Boa Vista - que fica a 3 minutos distante da Rua da Glória. A Secretaria de Saúde do Recife realizou atendimentos médico e odontológico e fez vacinação de adultos e crianças. Os profissionais também começaram tratamento contra verminoses e pediculoses (piolhos). Houve ainda bloqueio contra varicela, já que uma criança teve a doença, conhecida como catapora”, acrescentou a prefeitura.

Segundo a Prefeitura, há 40 crianças warao na Rua da Glória. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

Na tarde da última terça (5), foi realizado um mutirão CADúnico/ Bolsa família com os warao. Ao contrário da primeira leva de imigrantes venezuelanos, contudo, os recém-chegados ainda não foram cadastrados na Agência do Trabalho. Segundo a Prefeitura, o aluguel social é uma alternativa para solucionar o problema de moradia do grupo, mas a possibilidade de sua aplicação ainda está sendo discutida com o Governo do Estado.

Crianças sem estudar

Segundo Pablo*, morador da casa de número 480, nenhuma das 40 crianças de origem warao que residem na Rua da Glória está matriculada em escolas. “Antes de alugarmos a casa, as crianças sofriam muito na rua. Elas precisam estudar, como toda criança, para que não percam nossa cultura nem deixem de aprender a daqui”, preocupa-se.

Para o vereador e membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Recife, Ivan Moraes (Psol), que participou da reunião do dia 14 com os Warao, o município não pode agir, para solucionar a demanda de educação dos jovens ou qualquer outra, até que analise bem os dados coletados durante o cadastramento realizado. “Muitos não têm documentos, não é uma coisa simples. Quais documentos essas crianças já possuem? Quais elas não têm? Com as informações coletadas, a Prefeitura irá avaliar se já temos programas sociais suficientes dentro da pauta do povo em situação de rua dentre outros ou criar um novo programa”, opina.

Moraes comentou ainda que, durante a reunião, parte do grupo manifestou interesse em solicitar o status de refugiado. “O que formalmente deveria ter sido feito quando eles entraram no país. Como eu tenho me posicionado: um grupo de pessoas, seres humanos, vieram bater na nossa cidade. Então, só por isso, eles têm o direito de terem seus direitos garantidos, não importa de onde sejam”, conclui.

Reunião na câmara foi o primeiro contato oficial dos warao com o governo municipal. (Divulgação/CâmaradoRecife)

No Brasil, o mecanismo do refúgio é regido pela Lei 9.474 de 1997, que estabelece os procedimentos para a determinação, cessação e perda da condição de refugiado, além dos direitos e deveres dos solicitantes. A Lei Brasileira de Refúgio considera como refugiado todo indivíduo que “ I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país”.

A presidente da Subcomissão de Direito dos Refugiados da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Pernambuco (OAB-PE), Emília Queiroz, frisa que poucas pessoas no Brasil são oficialmente refugiadas. “A solicitação desse tipo de visto se dá através da Polícia Federal (PF), mas pode durar anos e não gera um NIS (Número de Identificação Social), o que impede que essas pessoas sejam contratadas por empresas que exigem o número”, coloca. Por esta razão, muitos dos venezuelanos que chegaram ao Brasil preferem pedir o visto de residência. “Esse é temporário, diferentemente do status de refugiado”, completa Queiroz.

Donativos

Pablo acrescenta que o grupo está conseguindo arrecadar comida, mas tem a dieta prejudicada pela ausência de uma geladeira. "A gente tenta comprar frango, mas não temos onde guardar. Queríamos pedir às pessoas que puderem nos ajudar que tragam doações", pede. 

*nome fictício

A cidade de Eskilstuna, ao oeste de Estocolmo, transformou-se na primeira da Suécia a exigir o pagamento de uma licença para pedir dinheiro nas ruas. Agora é preciso solicitar uma permissão que custa 250 coroas suecas (cerca de R$ 100), válida por três meses, além de apresentar documento.

A cidade pretende reduzir o número de pedintes. (Com agências internacionais). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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"Solicita-se aos passageiros de não darem moedas aos pedintes, muito menos aos ciganos. Desçam na próxima estação. Vocês já encheram a paciência". A mensagem, lida em um alto-falante dentro de um trem na Itália, desencadeou uma polêmica no país nesta quarta-feira (8).

O incidente ocorreu na terça-feira (7), no trem regional "2653" da companhia Trenord, das 12h20 locais, que faz o trajeto entre Milão, Cremona e Mantona, no norte da Itália. A mensagem - lida dentro dos vagões por uma voz feminina e improviso - levou dezenas de passageiros a fazerem reclamações contra a companhia.

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    A Trenord, por sua vez, informou que foi instaurada uma investigação interna. De acordo com as primeiras informações, a mensagem teria sido veiculada por uma funcionária da companhia ferroviária.

"Agradecemos os clientes pelo aviso. O que ocorreu é grave e inqualificável, disse a empresa. A polêmica, também, chegou ao campo político quando o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, Matteo Salvini, defendeu a funcionária. "Em vez de se preocupar com as agressões aos passageiros e aos controladores, alguns se preocupam com as mensagens contra os 'molestadores'.... Viajar em segurança é uma prioridade!", escreveu Salvini no Twitter.

Da Ansa

O primeiro chamado é discreto. "Moço", fala baixinho. Se a atenção não vem, repete mais alto. "Moço! Me dá uma ajuda, pelo amor de Deus?!", diz o homem, a expressão aflita, os braços abertos como se estivesse perdido. Está no saguão do Terminal 2 de Cumbica, é perto do meio-dia. De camisa social, calça jeans e o cabelo curto, é aparentemente um passageiro. Empurra um carrinho com três malas - uma criança, não mais do que 4 anos, está sentada sobre elas. Na sua cola, uma mulher carrega outra menininha, ainda menor.

À reportagem, o homem confessa que se trata de encenação para conseguir dinheiro. O carrinho, as malas, a roupa em bom estado, tudo foi pensado para ser uma espécie de disfarce. Serve para que a família se misture ao público do aeroporto e ainda drible os vigias. "Ou então não me deixam circular", diz. "E se eu falar que estou desempregado, ninguém me ajuda."

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Aos passageiros, conta que acabou de chegar de viagem e está sem dinheiro. "Estou tentando voltar para Campinas", repete. Mesmo sem entrar em detalhes, convence muitos. "Por dia, dá para tirar uns R$ 200."

"Você quer saber a real mesmo, né? Sou de Salvador, estou aqui em São Paulo faz quatro meses", o homem começa. "Um pessoal da família me arrumou um emprego, mas o trabalho acabou. O aluguel é caro, fora cinco filhos e os netos. Aí, tem de pedir, né?", justifica. "A verdade é essa. Só não dou meu nome por que, aí, complica pro meu lado. 'É nóis'. Fica com Deus."

Ambulantes

Um rapaz magricelo, de óculos de grau e cabelo repartido para o lado, aborda um homem que lê na área de desembarque internacional. "Boa tarde, estou arrecadando dinheiro para uma missão na África e tenho esse livro aqui", diz, sacando um exemplar escondido em uma mochila. "É só dar quanto acha que vale e..." O homem interrompe, afirmando que está sem dinheiro. O rapaz rebate: "Pode ser no cartão".

Depois, consegue vender um livro para a professora Ana Laura de Abreu, de 26 anos, em um restaurante no Terminal 3. "Ele foi simpático. Quando a abordagem é exagerada, incomoda. Neste caso, não." A ela, contou que estuda Psicologia e precisa de dinheiro para o curso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um homem de camisa azul e boné entra no restaurante e aborda uma família que está acabando um lanche no Terminal 3 do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Sentado à mesa, um senhor esconde o celular que estava exposto. O pedinte continua. Conta que coleta material reciclável e faltou dinheiro para consertar a carroça. Segundos depois, dá as costas e, sem conseguir o trocado, sai à procura de outras pessoas.

Um dos presentes na cena, o advogado Valdir Lamera, de 60 anos, reprova a situação. "Em 40 minutos, já é o segundo que passa aqui", reclama. Na percepção dele e de outros frequentadores de Cumbica, o número de pedintes tem subido nas dependências do aeroporto. Como consequência, relatam aumento da sensação de insegurança.

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Para circular por Cumbica, os pedintes tomam cuidado para manter a aparência nos trinques e quase sempre carregam mochilas ou malas. Abordam passageiros principalmente em áreas de lanchonetes. Lá, também estão concentradas crianças que, em duplas, se oferecem para engraxar sapatos. Conseguem, às vezes, doações graúdas, de R$ 50 ou em dólar ou euro.

Ambulantes também oferecem seus produtos - de livro a carregador de celular - pelos saguões dos Terminais 1, 2 e 3. O comércio ilegal, entretanto, é mais frequente na parte externa do aeroporto, onde os vendedores usam carrinhos de bagagem para transportar isopor com água, café, refrigerante, cerveja e sanduíche natural.

A professora Ana Lúcia Ubeda, de 50 anos, que também está sentada à mesa, concorda quando Lamera diz que o assédio incomoda. "Tem cada vez mais gente pedindo. O problema é que você não tem como saber se a pessoa realmente precisa ou se é só uma desculpa." O advogado acrescenta: "E é só olhar em volta: não tem fiscalização".

A falta de funcionários de segurança também é uma das principais reclamações do gerente de logística Emilio Martinez, de 43 anos. No início do mês, ele foi buscar a mulher, que retornava em um voo noturno da Argentina, e chegou com três horas de antecedência em Cumbica. "Fui abordado por nove pedintes. São senhoras, crianças, adultos. Fiquei pasmo, nunca vi isso na minha vida", afirma o gerente, que frequenta o aeroporto desde os anos 1980 e fez uma reclamação formal à Ouvidoria.

Na queixa, Martinez descreve que uma senhora, ao ser abordada na fila de um café, pagou um lanche para um engraxate. "Tio, você pode dar o refrigerante?", perguntou o menino. O gerente desembolsou R$ 2 e foi se sentar. Ao ligar o computador, outro rapaz, aparentando ter menos de 18 anos, pediu um trocado para cortar o cabelo. "Se eu der dinheiro para todo mundo, fico sem", respondeu. Foi quando o adolescente subiu o tom. "Vocês que viajam para fora têm dinheiro", retrucou. "Fica esperto que meus amigos estão de olho."

"Me senti ameaçado", diz Martinez, que buscou ajuda no aeroporto, mas não encontrou. Na queixa à Ouvidoria, escreveu: "Quero deixar claro, aqui, minha indignação, pois já viajei para diversos países no mundo, e pela primeira vez em minha vida, em Guarulhos, vi a decadência dos serviços prestados".

Recebeu resposta da GRU Airport, que administra o aeroporto, em que a concessionária lamenta e diz que o espaço é "adequado e seguro para a permanência". Cita, ainda, o sistema de monitoramento de Cumbica, com câmeras que permitem "identificar e fazer, quando aplicável, a repressão adequada". "É desagradável ser abordado a todo o momento e, para mitigar essas situações, a Equipe GRU Airport de Segurança se empenha dentro da sua capacidade."

Segurança

"Pode colocar 50 mil câmeras que só vai filmar. Sem funcionário para ir lá e coibir, não adianta", diz José Carlos Domingos, diretor do Sindicato Nacional dos Aeroviários. Em fevereiro, a entidade denunciou a demissão de cerca de 180 funcionários do aeroporto - entre eles, profissionais de segurança. "Uma coisa está diretamente ligada à outra: com menos gente rodando, acaba não vendo tudo que acontece."

No Terminal 1, um segurança vigia o espaço, sentado em um posto de observação, sem notar um casal com mochila nas costas que pede esmola discretamente. "Ah, tem pedinte profissional, com carteirinha", diz, ao ser abordado pela reportagem. E a segurança não faz nada? "A gente já levou na delegacia do aeroporto, mas aí a polícia diz: 'Vê na Constituição se pedir é crime'. O que a gente pode fazer é colocar da porta pra fora." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O mesmo céu que abriga é o que expõe e deixa vulnerável. É com essa dualidade que vivem moradores de ruas e pedintes do Recife, precisando driblar as dificuldades nos dias de chuva, a insegurança iminente e as necessidades básicas sanitárias e alimentares, em meio ao cenário que os tornam invisíveis para alguns. 

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Pedindo, Maria Margarida e Maria José levam trocados e ganham donativos para manter filhos e netos. Através da boa vontade dos transeuntes, elas conseguem vencer a batalha da fome a cada dia, seja de porta em porta ou aos pés da Basílica da Penha, no Centro do Recife. 

Moradia não é um bem para todos que estão na rua. O viaduto é abrigo para muitos, nem sempre famílias, mas unidos pela mesma necessidade. Sem emprego e lugar para morar, Rosenildo Ferreira e Josenildo Alves, os “Nildos”, levam, além do mesmo apelido, outras coincidências: se amontoam junto com um grupo embaixo dessas estruturas e dividem o quase nada que possuem. 

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Dados

Os próprios moradores de rua sentem o aumento de pessoas ocupando praças, calçadas e se amparando embaixo de marquises. De acordo com o levantamento feito pela Prefeitura do Recife, mais de 800 pessoas vivem em situação de rua na capital pernambucana, segundo o último levantamento de 2016. 

Esses dados foram levantados a partir de uma abordagem a 1.200 pessoas, em horários diferentes, em todas as regiões da cidade. “Desse total, 659 disseram que dormem na rua todos os dias, 240 pessoas (20% dos entrevistados) dormem em casa diariamente (por isso não são considerados moradores de rua) e apenas passam o dia na rua (pedindo dinheiro, lavando carro ou vendendo algo, por exemplo) e 303 pessoas se recusaram a responder ao questionário”.

A PCR explica que, além das 659 pessoas, há 200 moradores de rua em oito das onze casas de acolhida da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Política sobre Drogas e Direitos Humanos da Prefeitura do Recife.

Centro POP

Segundo a Prefeitura, são atendidas cerca de 200 pessoas diferentes, mensalmente nos dois Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP). Este espaço visa atender as demandas emergenciais. “É o local onde as pessoas em situação de vulnerabilidade social podem ser incluídas no Cadastro Único, ter acesso à alimentação, higiene pessoal (banho), atendimento psicossocial e podem ser encaminhadas para acolhimento (se quiserem e se enquadrarem no perfil)”.

Há o Centro Pop Glória, localizado na Rua Bernardo Guimarães, n° 135, Santo Amaro. Próximo à biblioteca da Unicap. Telefones: 3355-3210/4254. Já o Centro Pop Neuza Gomes fica na Rua Doutor João Coimbra, n° 66, Madalena. Telefones: 3355-3063/4254.

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Todo mês de dezembro é tempo de migração. Dos bairros do Coque, Joana Bezerra, Santo Amaro, das comunidades de Olinda; os pequenos grupos familiares convergem ao Cais de Santa Rita, na área central do Recife, e se instalam. À espera das doações características do período natalino. Eles têm casas, têm onde morar, mas às vezes falta o básico nas vestimentas e na alimentação. “O povo passa de carro, xinga, manda ir trabalhar, chama de vagabundo. Se a gente está aqui, é porque precisa”.

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Ana Paula, 36 anos, foi quem primeiro falou com a equipe de reportagem. Não quis dizer sobrenome, nem tirar foto, mas a timidez ia embora quando se lembrava das afrontas sentidas na pele, na rua, “tratada como se fosse ladrão”. Confessou que frequenta anualmente o tradicional ponto de doação desde os 13 anos. Atualmente, está desempregada e sem receber o seguro. “A gente está aqui pra receber qualquer coisa. Quem sou eu pra exigir o que eu quero?”, comenta Ana Paula, grávida do décimo filho. Os outros nove acompanham a mãe no Cais.

Os “vagabundos” do Cais de Santa Rita – como são chamados por muitos – tiveram os pertences recolhidos pela Polícia, na última semana. “Sexta-feira (12) vieram aqui, não quiseram nem saber se tinha menino pequeno, já chegaram pegando nossas caixas, nossas coisas. Eu mesmo levei uma porrada nas costas (com um cassetete), porque subi no caminhão para pegar os sapatos novos que o marido comprou para os meninos”, narra Jéssica Maria de Lima, moradora de Santo Amaro. Prestou queixa e ameaçou chamar a imprensa. Os produtos foram devolvidos.

São cerca de 150 pessoas – a maioria desempregada - alojadas entre os antigos armazéns do Cais. Quase do mesmo tamanho dos caixotes, as crianças correm de um lado para o outro, sem parar, mas nunca em direção aos carros, na pista. “Eles já sabem que carro mata”, diz Jéssica. Quando chove, se abrigam com uma lona preta segura por pregos fincados nas paredes do armazém. Ana Paula, por exemplo, não dorme à noite. “Fico olhando os meninos enquanto eles dormem. Só durmo de manhã, ou depois do almoço”.

A única que autoriza uma fotografia é Maria da Penha da Cruz, mãe de Ana Paula, avó dos nove que perambulam pelo Cais. “É a delegada”, se intitula a senhora de 64 anos. Apesar da brincadeira, lamenta o modo como são tratados. “Na minha idade, se eu não precisasse, eu estaria em casa repousando, fazendo qualquer outra coisa”. Além das doações que costumam ser feitas à noite, os inquilinos temporários do Cais de Santa Rita lavam carros, catam lixo e pedem nos semáforos.

As mulheres garantem que os menores não fazem os serviços, mas a reportagem flagra o trabalho infantil nos sinais. Questionadas se levam as crianças para sensibilizar a população para as doações, negam. “Não temos com quem deixar. Todos da família, muitas vezes, estão aqui, então não tem parente para deixar as crianças”.

Às 18h30, um jovem passa e pergunta “que horas vai sair na tevê”. Jéssica explica que é “pela internet”. Despedem-se e torcem para que as doações aumentem, porque o ano está mais fraco do que o passado. Alguns saem para o outro lado do armazém. Um casal dorme, com um recém-nascido entre si. Falta uma semana para o Natal. 

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Quem visita o Morro da Conceição, Zona Norte do Recife, durante as festividades em homenagem a Santa, se depara com uma cena preocupante. Pessoas de diferentes idades se concentram por toda a ladeira e arredores da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em busca de ‘dinheiro’. O chamado ‘comércio das esmolas’ é figurinha carimbada na época de fim de ano.  

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Investindo na compaixão e solidariedade alheia, famílias inteiras deixam suas casas e passam a acampar em locais de grande circulação. Entre os dias 28 de novembro e 8 de dezembro, o cenário ficou exposto ao morro. Arrecadar uma moeda que seja de, aproximadamente, 900 mil visitantes, representa um acréscimo nas finanças. 

Mas a atitude é alvo de crítica de muitas pessoas. A estudante Viviane Nascimento não aprova a iniciativa dos ‘pedintes’. Segundo a jovem, muitas pessoas se aproveitam da situação e deixam suas casas em busca de ‘lucro fácil’. “Nem todo mundo que fica pedindo aqui, realmente precisa. Não acredito como as mães tiram seus filhos de casa para se expor a uma humilhação como essa. É lamentável, mas sabemos que muita gente se aproveita do momento de compaixão aflorado no povo”, disse, indignada.

No entanto, nem todo mundo pensa da mesma maneira. A dona de casa Maria das dores declarou não acreditar que as pessoas tenham coragem de ser ‘humilhadas’ sem necessidade. “Ninguém passaria por essa triste situação porque quer. É a necessidade que faz isso com as pessoas”, opinou.

Sem temer as adversidades, crianças, idosos, deficientes e enfermos estão concentrados sob sol forte ou chuva. Em jogo, um trocado qualquer que possa fazer as festas de fim de ano mais fartas.

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