Ainda que alimentada pela evolução das políticas públicas de incentivo dos últimos anos, a inovação no Brasil sofre uma série de obstáculos. No entanto, embora o País esteja longe de ter um ambiente de processos inovadores como o de outros mercados emergentes, como China, Índia ou Coreia do Sul, por aqui algumas grandes empresas brasileiras se destacam por investirem fortemente em pesquisa e desenvolvimento.
Já faz algum tempo que essas companhias fazem parte de um grupo seleto que desenvolve ideias em relação a processos, produtos ou serviços. E nos últimos anos, à essa elite de inovadores juntaram-se algumas multinacionais, que passaram a investir em P&D em suas subsidiárias locais, inserindo o Brasil em suas estratégias globais de inovação.
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O Bradesco possui uma área chamada Departamento de Pesquisa e Inovação Tecnológica (Dpit), que possui interação importante com todas as áreas e tem a missão de buscar inovação e trazer o que tem de mais moderno. São cerca de cem pessoas com a missão de prospectar, dentro e fora do País, as novidades tecnológicas. Essa “busca” do Dpit inclui convênios com entidades nacionais e internacionais.
No Brasil, o banco possui inúmeros acordos com instituições de pesquisa, como o CPqD; o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) e Universidade de São Paulo (USP). Entre as entidades conveniadas fora do País está o Massachusetts Institute of Technology (MIT).
O vice-presidente executivo do Bradesco, Laércio Albino Cezar, cita o sistema biométrico, implementado para substituir o uso de senha nos caixas eletrônicos. “O departamento identificou no Japão um sistema inovador no Banco UFJ [um dos maiores do país]. A área deparou-se com uma biometria que não era conhecida no ocidente e decidimos trazê-la para o Brasil”, diz o executivo.
Outro exemplo foi a parceria com a Samsung, para o primeiro aplicativo financeiro acessado via TV conectada. Lançado em meados de junho, permite aos clientes consultar informações de conta corrente, como saldo, investimentos e demonstrativo das movimentações. “A Samsung tinha a tecnologia e procurava um parceiro do setor financeiro e nossa equipe de pesquisa identificou a oportunidade. Três semanas após o lançamento, tivemos mais de 2 mil downloads.”
“O Bradesco foi precursor em inúmeras iniciativas em débito automático e cobrança eletrônica, em 1976. Lançamos o primeiro ATM, em 1982. Fomos o quinto do mundo e o primeiro no Brasil a oferecer o internet banking, em 1996”, afirma.
Nos últimos anos, o setor de petróleo e gás ganhou peso no que se refere à inovação. Nesse caso, a Petrobras é a protagonista. Os investimentos em P&D da estatal devem atingir 1,2 bilhão de dólares em 2011. “Esses gastos nos coloca entre as quatro maiores no setor de petróleo e gás no mundo. Do total, 60% são dedicados à exploração de óleo e gás, 25% em petroquímica , 10% em sustentabilidade, e 5% em energias renováveis e biocombustíveis”, informa o gerente-executivo do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) da Petrobras, Carlos Tadeu Fraga. O executivo informa que a Petrobras já registrou 3,5 mil patentes, das quais 1,3 mil no Brasil e o restante no exterior.
A exploração de reservas de óleo na chamada camada pré-sal tem impulsionado os investimentos em tecnologia. “O pré-sal é resultado de um esforço de pesquisa de tecnologias desenvolvidas que nos permitiram enxergar camadas de rocha abaixo dessa de sal”, diz o executivo. Segundo ele, foram técnicas sísmicas de imagem em profundidade, semelhantes a uma ultrassonografia, que possibilitaram à empresa ter uma imagem abaixo da superfície do sal. “Foi um grande salto tecnológico e o segundo salto foi perfurar e, agora, há grandes oportunidades de inovação.”
Para avançar tecnologicamente, a empresa tem acordos com cerca de cem universidades e centros de pesquisa, baseados no modelo de redes temáticas. “Escolhemos 50 temas e identificamos quais são os atores. Investimos neles para desenvolver centros de pesquisas e envolver nossos fornecedores. Entre os parceiros da empresa estão GE, Mannesmann do Brasil, Confab, IBM, Usiminas e Siemens. São dezenas de acordos de cooperação, de construção de centros tecnológicos.
Temos alguns programas que podem mudar radicalmente o processo de exploração”, diz Fraga.
Na parceria com a Siemens, por exemplo, o objetivo é desenvolver tecnologias para uso submarino. “Uma das fortes tendências atuais é tecnologia submarina para equipamentos e processos. Você passa a realizar atividades que atualmente são realizadas na superfície levando-as para o fundo do mar”, informa o diretor de Tecnologia e Inovação da Siemens, Ronald Dauscha.
Eleita em 2011, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a companhia que melhor administra e incentiva iniciativas de inovação entre as empresas de médio e grande portes no setor industrial do País, a Siemens está entre as multinacionais que incrementaram sua área de inovação no Brasil. Mantém seis centros de pesquisa, com destaque especial para soluções e produtos para o setor de energia. Recentemente, anunciou a instalação de um centro de P&D, voltado para o setor de petróleo e gás. A unidade será instalada no Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, e receberá investimentos de cerca de 50 milhões de dólares.
Já no setor de agronegócios, vale destacar a ETH Bioenergia. Fundada em 2007, já nasceu dentro do conceito inovador. Segundo o diretor de Inovação e Tecnologia da empresa, Carlos Eduardo Calmanovici, um dos focos da ETH é o desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar mais adequadas às áreas em que a empresa está atuando. “O Brasil tem um histórico de grande variedade de cana, mas muito focado no estado de São Paulo. A ETH está crescendo em áreas de fronteira, em solos mal-utilizados. Estamos identificando tipos de cana-de-açúcar adaptadas a essas regiões.”
Com esse objetivo, a ETH fez parcerias com institutos de pesquisa como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC). A ETH também possui um programa para melhoramento do processo de fermentação de etanol, que é desenvolvido em parceria com institutos de pesquisa e universidades, como a Unicamp. As pesquisas com leveduras mais robustas podem elevar em 1,5% a 2% a produção de etanol para a mesma quantidade de cana de açúcar.
Outra empresa que investe fortemente em inovação é a Braskem, gigante petroquímica brasileira. A empresa gasta anualmente cerca de 60 milhões de dólares em P&D. “A inovação faz parte da nossa estratégia de médio e longo prazo”, informa o diretor da área de inovação da companhia, Carlos Cassinelli.
Segundo ele, as pesquisas estão voltadas para competitividade da empresa, redução de custos de processamentos, redução de consumo de energia e otimização de processos. A inovação também está voltada para produtos como o plástico verde, feito a partir do etanol. A empresa tem parcerias com inúmeras universidades como a Universidade Federal de São Carlos, Unicamp e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de institutos de pesquisas fora do País.