Após cerca de seis meses de trabalho, foi reinaugurado nesta quarta-feira o painel Do Descobrimento ao Ciclo do Café, da artista plástica Yara Tupinambá, na Galeria de Arte da Assembleia Legislativa de Minas. Criada em 1973, a obra, composta por 872 azulejos e tombada pelo patrimônio histórico e artístico municipal, teve de ser deslocada do local e restaurada para que pudesse, novamente, ser admirada pelo público.
O painel, com cenas da história brasileira desde o Descobrimento até o Ciclo do Café, foi instalado, originalmente, no espaço onde funcionava o restaurante da sede da Assembleia de Minas. Mas, com reformas no espaço, a obra terminou dentro de dois gabinetes parlamentares, separada por uma divisória de madeira, que foram instalados no antigo restaurante, fechado em 1996. "Pelejei contra isso. Mas que prestígio tem uma artista para falar que não pode ter gabinete em cima do painel?", indagou Yara.
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Agora, depois de 16 anos, as duas partes do trabalho foram reintegradas em um só painel, de 17 metros de comprimento por 2,48 de altura. Para isso, uma equipe do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor) da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da própria artista, fez um detalhado trabalho para retirar, restaurar e montar novamente os azulejos, que reproduzem cenas da história do País desde a chegada das caravelas à costa brasileira até o início do século 20, passando pela Escravidão, Guerra dos Emboabas e Inconfidência Mineira, entre outros períodos.
"Primeiro, teve uma análise prévia para verificar com que tipo de argamassa eles (azulejos) estavam afixados na parede. Em seguida, fizemos a remoção dos rejuntes e, depois, das próprias peças", afirmou a professora Alessandra Rosado, do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes da UFMG, que coordenou as atividades. "Foi um trabalho de alto risco porque não havia registro das intervenções que a obra já havia sofrido", acrescentou. Para reforçar a segurança, a obra foi instalada em uma espécie de painel de alumínio coberto de resina de fibra de vidro, apelidado de "colmeia de abelha", que não tem alterações como a dilatação pelo calor e facilita uma nova remoção, caso seja necessária.
O professor Luiz Souza, que também integrou a equipe de recuperação do painel, comparou o trabalho a uma cirurgia. "Teve o pré-operatório, que foi o diagnóstico, a própria operação e agora tem o pós-operatório, que é a documentação da obra", disse. Souza afirmou também que foi necessária a participação de uma equipe do Recife, especializada em ladrilhos, uma vez que não há tradição de arte neste tipo de material em Minas Gerais, onde o uso dessas peças só passou a ser difundido no início do século 20. "Os azulejos que chegavam de Portugal ao Rio de Janeiro eram trazidos no lombo de burro e a maior parte chegava quebrada. Há igrejas em que painéis de madeira simulam azulejos", observou.
No pré-lançamento da obra, que poderá ser visitada a partir de terça-feira (16), Yara comemorou o fato de ela voltar a ser acessível a todos. "Quando o painel foi feito, o restaurante era um espaço aberto ao público", lembrou. "Pelo menos, as paredes usadas para fazer os gabinetes era de madeira e a obra não estragou. Mas havia perdido todo o sentido", concluiu.