Mulheres estão alcançando o protagonismo dentro de diversos campos artísticos, de diversas formas, e elas ainda têm muito a conquistar. Na literatura, a MC e poeta Shaira Mana Josy criou o projeto de competição Slam Dandaras do Norte, do qual participam mulheres que se expressam por meio da poesia, do hip hop, do rap, do grafite e também da fotografia.
A artista conta que, por vir do movimento do hip hop, especificamente do rap (rhythm and poetry, ou ritmo e poesia), percebeu que escrever e declamar poesias potencializava o trabalho delas e se tornou uma necessidade. “Na poesia podemos expressar nossas inquietações, revoltas e mandamos mensagens com temas diversos, principalmente pelo fato de não ser uma poesia qualquer, e sim a poesia marginal ou periférica”, diz.
##RECOMENDA##Shaira acrescenta que na poesia cabe tudo e todos param para ouvir, refletindo sobre o que ouvem. Elas notaram uma explosão de saraus poéticos, a inclusão de poetas em eventos musicais e uma procura considerável pela arte e pela escrita delas nas academias.
Segundo Shaira, o Slam Dandaras do Norte abriu as portas para uma nova era de empoderamento feminino, já que até 2021 o projeto era exclusivo para as mulheres. “Conquistamos o respeito até das pessoas que já trabalhavam com a literatura mais tradicional”, complementa.
Para que a arte local seja mais valorizada, Shaira defende políticas públicas permanentes que possibilitem o acesso a editais que fomentam a arte e a desburocratização destes. “Na maioria das vezes puxamos do nosso bolso para comprar equipamentos como caixa amplificada, microfone, criar a identidade visual e divulgar o slam”, relata.
Shaira releva que o movimento já passou por momentos difíceis, com assédio e ataques machistas durante algumas apresentações. “Muitas coisas que abordamos ferem o orgulho da sociedade conservadora, racista, que tenta esconder seus preconceitos, e tentar nos calar é a solução”, aponta a artista.
Shaira fala sobre a influência que a arte delas tem em outras mulheres, que na poesia se identificam de alguma forma, expressam o desejo de participar do slam (do inglês slam poetry, uma competição poética) ou querem mostrar as próprias escritas. “No início é sofrido porque elas têm medo, mas aos poucos vão ganhando confiança, sentindo-se acolhidas no Dandaras do Norte, e quando menos esperamos, já estão declamando, cantando e publicando suas escritas”, conta.
A artista reafirma o propósito do slam de ser um espaço de proteção, incentivo e de fortalecimento das mulheres através da escrita poética. “Esse espaço já está demarcado e quando se ouve falar do Slam Dandaras do Norte, já se compreende a presença feminina e sua importância no processo de fortalecimento da arte produzida por mulheres”, conclui.
Veja, aqui, documentário sobre as Dandaras do Norte.
Por Carolina Albuquerque, Even Oliveira, Isabella Cordeiro e Karoline Lima (sob orientação e acompanhamento de Antonio Carlos Pimentel).