A espera acabou e o tablet Surface RT, da Microsoft, finalmente deixou de ser um grande mistério e se tornou um hardware “real”. Hoje já posso responder a muitas das perguntas que o mundo vem fazendo desde 18 de junho, quando a Microsoft anunciou o Surface RT, sua tentativa de chamar a atenção num mercado de tablets onde todos os olhos estão sobre os iPad, Kindle Fire e Nexus 7.
A primeira é quanto ao preço e disponibilidade: uma “quantidade limitada” de tablets já está disponível em pré-venda no site Surface.com. A versão com 32 GB de memória interna custa R$ 499, e se você quiser o pacote com uma capa Touch Cover (que inclui um teclado capacitivo) na cor preta irá pagar US$ 599. A versão de 64 GB do Surface RT sai por US$ 699, e o preço já inclui uma Touch Cover preta.
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Por mais US$ 119,99 você pode comprar uma Touch Cover avulsa nas cores preta, branca, magenta, ciano ou vermelha. E se você prefere uma capa com um teclado mecânico de verdade pode adquirir a Type Cover, que custa US$ 129,99. O Surface também estará disponível para compra direta em 26 de Outubro (o mesmo dia do lançamento do Windows 8) em todas as 27 Microsoft Stores nos EUA e Canada, mais 34 lojas “temporárias” que serão abertas para vender o produto na temporada de fim de ano.
Detalhe do suporte (pézinho) integrado, um dos destaques do Surface
É impossível evitar comparações entre o Surface RT e o novo iPad, então vamos direto ao ponto. Em termos de preço o tablet da Microsoft tem uma pequena vantagem: o modelo Wi-Fi de 32 GB do iPad custa US$ 599, US$ 100 a mais que o Surface RT equivalente. Além disso a tela widescreen do Surface RT é mais adequada para visualização de vídeo em HD, e mesmo com uma tela fisicamente maior o Surface RT consegue ter peso e espessura similar aos do novo iPad.
Aliás, agora é uma boa hora para relembrar a ficha técnica do Surface RT.
O que a Microsoft disse em Junho
Durante o anúncio aprendemos que o Surface RT usa um processador Nvidia Tegra 3 (o mesmo do tablet Nexus 7, da Google) e uma tela com uma tecnologia chamada “Optical Bonding”, que reduz os reflexos e melhora a legibilidade do texto. Ele tem 0,93 cm de espessura e pesa 675 gramas. O chassis é feito de “VaporMG”, uma liga de magnésio que é insanamente leve e ao mesmo tempo incrivelmente durável, mesmo quando moldada em peças que tem a espessura de um cartão de crédito.
Durante o anúncio original também ficamos sabendo que o Surface RT tem um apoio (Kickstand) integrado, pode ser combinado às já mencionadas capas com teclado integrado e inclui uma versão do Microsoft Office. O Surface RT é voltado ao mercado consumidor, mas estes três recursos também podem torná-lo atraente a executivos em viagem ou estudantes “entocados” em uma biblioteca.
Mas e a resolução da tela? O clock do processador, a quantidade de memória RAM e a capacidade da bateria? Vai ter 3G ou 4G? Teremos uma versão completa do Office ou uma “truncada” por causa das limitações do processador ARM? E quanto às capas Touch Cover e Type Cover, como elas realmente funcionam quando conectadas ao tablet? Estas eram perguntas sem resposta até ontem. Mas hoje eu tenho as respostas.
As novas informações
Nesta segunda-feira passei um dia no campus da Microsoft em Redmond, no estado de Washington, junto com outros 30 jornalistas de tecnologia, conhecendo os laboratórios de pesquisa e desenvolvimento da empresa e aprendendo mais sobre o aparelho que a Microsoft posiciona como não apenas mais um tablet, mas praticamente uma nova categoria de hardware.
Durante o tour pelo laboratório de pesquisas, vimos vários protótipos do Surface
Steven Sinofsky, presidente do divisão Windows na Microsoft, o descreve assim “Já usei um monte de tablets, e isso não é um tablet. Mas é o melhor tablet que já usei. E já usei um monte de notebooks, e isso não é um notebook. Mas é o melhor notebook que já usei”.
Sinofsky e sua equipe também esclareceram algumas dúvidas sobre o Surface RT. A tela, que anteriormente havia sido descrita apenas como “HD”, tem uma resolução de 1366 x 768 pixels com densidade de 148 pixels por polegada. A empresa não revela o clock do processador, mas diz que ele é acompanhado por 2 GB de RAM, e que a bateria tem uma capacidade de 35 Watts-Hora.
A bateria do novo iPad tem capacidade de 42.5 Watts-Hora, mas a Microsoft rapidamente aponta que ela tem de alimentar a famosa tela “Retina” do tablet, que consome muito mais energia. De fato, durante meu tempo no campus da Microsoft, os líderes da equipe do Surface RT mencionavam constantemente como seu tablet era um exemplo perfeito de concessões técnicas - e não estavam usando o termo “concessão” de forma pejorativa.
Steven Sinosky e Panos Panay apresentam o Surface aos jornalistas
“A perfeição é nosso objetivo, e ela vem como fruto de algumas concessões”, disse Panos Panay, gerente geral do projeto Surface. “Vem da tomada das decisões certas para as pessoas que irão usar nosso aparelho. Pegamos tudo o que temos - as pesquisas, o excelente hardware e nossa experiência em software - combinamos e aí tomamos as decisões necessárias para conseguir o aparelho que queríamos”.
Falando em concessões, há mais uma feita em nome de um bem maior: o Surface RT não terá modem 3G ou 4G integrado. Sinofsky menciona um estudo que afirma muitos iPads nunca saem "de casa", e questiona a necessidade da inclusão de um recurso que irá aumentar o preço mas será usado por poucos, embora não descarte a tecnologia para uma versão futura dos aparelhos.
Office no Windows RT
Todos os Surface RT virão com uma cópia do Microsoft Office Home and Student 2013 RT Preview, um pacote que inclui novas versões do Word, Excel, PowerPoint e OneNote feitas para tirar proveito dos recursos do Windows 8. A versão RT do Office na verdade roda no “modo desktop” do Surface RT. Não é um aplicativo com a “interface moderna” (antigamente chamada “Metro”), como diz a Microsoft, embora o design definitivamente reflita alguns dos elementos dela.
E note a palavra “Preview” no nome. Esta não é a versão final do Office for Surface RT. Segundo Sinofsky ela será instalada automaticamente via Windows Update quando estiver disponível, embora o executivo não se comprometa com qualquer data além de um “em breve”. Vale notar que nas especificações do Surface RT a referência ao Office traz uma nota de rodapé: “Alguns recursos e programas não são suportados. Veja http://office.com/OfficeRT”. No momento esta URL ainda não está disponível. Aproveitei a oportunidade e perguntei a Sinofsky sobre a experiência de uso do Office RT.
“Há coisas como a Ribbon, que tem controles mais espaçados para facilitar o toque”, disse ele. “Também trabalhamos muito no código-fonte do Office para que ele funcione bem com o teclado virtual. A interface no geral é mais limpa, para se tornar mais imersiva e refletir melhor a linguagem de design dos apps na Windows Store. Há menos barras e menus e mais conteúdo. No lado técnico, nós não só compilamos o programa para rodar em processadores ARM, mas também o otimizamos para que consuma menos energia”.
Uma breve sessão com a Touch Cover
Não tive uma chance de usar a versão RT do Office enquanto estive na Microsoft, mas consegui passar cerca de três minutos testando uma Touch Cover, conectada a um tablet funcional, em um dos laboratórios da empresa. Isso são três minutos a mais do que qualquer membro da imprensa teve com o produto durante o anúncio original em 18 de Junho.
É verdade que três minutos não são suficientes para formar uma opinião justa. E não sou um bom digitador, estou mais para “catador de milho” experiente. Ainda assim, imediatamente notei que posso digitar mais rápido na Touch Cover do que em um teclado virtual, e minha velocidade aumentou à medida em que me acostumei com o “toque” e a resposta tátil da capa, que não tem “teclas” de verdade.
A "Touch Cover" funciona como teclado e trackpad, e estará disponível em várias cores
Os problemas que tive foram todos relacionados à pressão dos dedos. Sem o feedback do movimento, às vezes toquei com leveza demais as “teclas” estampadas na capa (que com isso não eram registradas), e outras vezes toquei com força demais (causando erros bobos). Também tive problemas ao usar o trackpad integrado para movimentar o cursor. Ainda é cedo demais pra julgar, mas não posso esperar para comparar a Touch Cover com a Type Cover (que tem teclas mecânicas) em um cenário do mundo real com amplo tempo para os testes. E caso você esteja curioso, não vi uma única Type Cover sequer durante todo o período que passei na Microsoft.
De qualquer forma ambas as capas representam verdadeira inovação por parte da Microsoft, e demonstram a atenção aos detalhes em cada elemento da experiência com o Surface RT. O tablet não é nem um produto com um design simples, e não necessariamente um aparelho para pessoas que querem simplificidade. Mas tem muito potencial para produtividade, e será interessante ver se a curva de aprendizado relativamente íngreme do Windows 8 é um sacrifício pelo qual os usuários estarão dispostos a passar em nome da mobilidade.