O último domingo do mês de janeiro é lembrado todos os anos por celebrar o Dia Mundial de Combate a Hanseníase. Com isso, várias ações de conscientização e prevenção contra a doença foram realizadas em todo o país, além da oferta de oportunidades para que as pessoas pudessem fazer o exame de pele - já que essas medidas estão proporcionando uma diminuição considerável no número de casos da enfermidade no Brasil.
De acordo com dados da Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2011, o coeficiente de detecção de novos casos caiu em 15%. Entre menores de 15 anos, este percentual baixou 11%. Os dados preliminares mostram que, no ano passado, 30.298 casos novos foram detectados, um coeficiente de 15,88 casos novos por 100 mil habitantes. Até o ano 2015, a meta do ministério é diminuir para um o caso de hanseníase em um grupo de 10 mil habitantes.
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Caracterizada por ser uma enfermidade causada por uma bactéria (bacilo de Hansen - Mycobacterium leprae) que ataca a pele e os nervos periféricos, a hanseníase é uma das doenças mais antigas na historia da medicina. Sua transmissão não acontece de forma hereditária, apenas no contato com pessoas que estão com o parasita, mas sem realizar o tratamento - pois esses pacientes liberam o bacilo através do aparelho respiratório superior, ao espirrarem, tossirem, por secreções nasais e por gotículas da fala.
Segundo a médica Mecciene Mendes, dermatologista e representante da Sociedade Brasileira de Hansenologia Regional Norte-Nordeste, a transmissão da doença depende da predisposição da pessoa que está em contato com outra que tem o bacilo. “Nesse caso, o que vai prevalecer é a imunidade do paciente. Às vezes, entramos em contato com a bactéria, mas quando o nosso corpo está com todas as defesas organizadas não somos contaminados”, afirma.
“O contágio da hanseníase acontece, normalmente, quando as pessoas ficam por tempo prolongado em lugares fechados como, por exemplo, ambientes familiares e hospitalares ou locais de trabalhos. Lembrando que a contaminação só acontece quando o contato se dá com pessoas que possuem a bactéria, mas não estão fazendo o tratamento”, ressaltou a especialista.
A doença - Como a doença tem um período de encubação de dois a três anos no organismo humano (sem apresentar nenhum sintoma), muitas vezes as pessoas que estão contaminadas não percebem quando apresentam as primeiras manifestações da enfermidade. De início, a hanseníase se manifesta com pequenas manchas avermelhadas ou esbranquiçadas em qualquer parte do corpo e são facilmente confundidas com outros problemas de pele como, por exemplo, o conhecido Pano Branco.
Nesses locais, há uma diminuição ou perda total da sensibilidade da pele. Quanto mais grave a doença se torna, maiores são os comprometimentos no corpo causados por ela, principalmente nos nervos periféricos como os dedos, podendo também expandir para os cotovelos e joelhos. Caroços, inchaço, fraqueza muscular e dor nas articulações podem ser outros sintomas, além de deformações em partes do corpo.
Segundo Mecciene Mendes, “os casos que são diagnosticados em um estágio mais avançado, o tratamento com antibióticos acontece em um período de um ano. Se for descoberta na fase inicial, esse processo é feito apenas em seis meses. É bom também ressaltar que, em ambos os tratamentos, os pacientes continuam com suas vidas normalmente”. Ela disse ainda que todos os medicamentos são distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e agentes de saúde fazem o acompanhamento do tratamento do paciente.
A dermatologista afirma que para promover a cura da hanseníase de uma forma mais rápida é importante que ela seja descoberta precocemente e isso acontece na maioria das vezes em uma simples consulta medica. “90% dos diagnósticos de Hanseníase acontecem apenas com um exame clínico, justamente pelos sintomas característicos que a doença apresenta. Mas é possível que, em alguns casos, o médico solicite outros exames para a confirmação, como a baciloscopia (pesquisa de bactéria) e a biopsia”, alertou Meccine.
Contudo, o acompanhamento psicológico e o apoio familiar são extremantes importantes no tratamento da hanseníase. Por ser uma doença que, em casos mais comprometidos ocasionam deformidades em órgãos como nariz, boca, orelhas e em outras partes do corpo, o paciente pode ser vítima de preconceito. Por já ter sido chamada de “Lepra”, desde os tempos bíblicos até os anos 1960, os doentes ainda podem ser taxados como "merecedores de castigo divino" ou outros adjetivos pejorativos.
Este ano, o Brasil será o país sede da assinatura do apelo pelo fim do estigma e da discriminação contra as pessoas portadoras da hanseníase. A cerimônia de assinatura acontece nesta segunda-feira (30), na Associação Médica Brasileira, em São Paulo (SP).