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 Ainda em clima de comemorações de final de ano, Gloria Maria compartilhou, no Instagram, uma foto com sua filhas ao lado de um papai noel e, os cabelos de Laura e Maria foram criticados por uma seguidora.

“Eu amo você, te admiro para caramba! Eu só gostaria muito que você incentivasse suas filhas a assumirem seu cabelo natural. Eu também demorei muitos anos, mas foi a coisa mais maravilhosa que já fiz para minha autoestima. Recomendo com empenho”, escreveu a seguidora.

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A jornalista não gostou da crítica e a fim de colocar um ponto final na situação, rebateu.

“Querida, você aprendeu a respeitar as pessoas? O que aconteceu com você e seu cabelo não é um problema nosso! Minhas filhas são livres para usar o cabelo da maneira que acharem mais bonito! A decisão é delas! Por favor, cuide do seu e da sua vida. As pessoas não são iguais. Respeite as diferenças! Cada vida é uma vida! Bom Ano Novo.”

Nos comentários da foto, os seguidores se dividaram. Alguns falaram que a resposta foi 'sem necessidade' e 'grosseira', no entanto, outras pessoas condenaram a atitude da fã em querer 'impor' como as filhas da jornalista devem usar os cabelos. 

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A filha de Kelly Key, Suzanna Freitas, revelou na última terça-feira (16), que fez a primeira progressiva capilar ainda criança. Ela contou em sua conta no Instagram, via stories, que alisou o cabelo quando tinha 5 anos e que na época sofria bullying por ter cabelo cacheado.

Suzanna fala que o feminismo não era tão propagado naquela época, que o padrão estabelecido pela sociedade exigia madeixas lisas e que ela não era incentivada a se aceitar e se sentir bonita. Ela também contou que os fãs da mãe a criticavam por conta do cabelo e faziam comentários como 'Caraca, Kelly, sua filha é horrorosa. Cuide do cabelo dessa garota.'

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A filha da cantora ainda disse que mesmo entendrndo agora que seu cabelo era bonito, não sente mais vontade de deixá-lo cacheado, mas que não queria ter se importado com isso tão cedo.

"Sendo que hoje eu consigo ver que meu cabelo era bonito, só que ninguém me falava isso, minha avó, minha mãe só. Já sofri bullying por causa disso, porque minhas amigas tinham todas cabelo liso, elas levavam escova para a escola, penteavam, continuava liso, quem tem cabelo cacheado sabe que ele só fica bom quando penteado depois do banho. Sofria bullying real, já fui chamada de poodle, essas coisas, e como minha avó já era dona de salão na época, fiz minha primeira progressiva.", afirma.

Por Lídia Dias

Progressiva, relaxamento, escova de rubi, escova de açúcar, definitiva. Todos esses, métodos químicos que mulheres utilizam para deixar os cabelos lisos. Atualmente, há um discurso mais forte sobre aceitação do cabelo natural. Em muitas mulheres, entretanto, esse discurso não encontra espaço para se propagar mesmo com os sacrifícios relacionados com o uso recorrente de tais procedimentos.

Esse cenário é apresentado na dissertação de mestrado em Administração de Bianca Ferreira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela entrevistou 22 pessoas, a maior parte do Recife, entre mulheres que fazem o procedimento de alisamento capilar e profissionais que aplicam o procedimento.

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Segundo a pesquisadora, o principal motivo alegado pelas mulheres para alisar o cabelo é o da autoestima. Elas não dizem ser afetadas pela pressão externa de ter que se enquadrar em um perfil de beleza, apesar de deixarem perceptível em suas falas o impacto da influência social em seu comportamento.

"Há elementos que denotam que há pressões, por exemplo no trabalho, como a mulher que diz que os clientes percebem quando ela está com o cabelo alisado. Uma diz que o namorado elogia quando ela está com o cabelo alisado, então óbvio que ela vai estar com o cabelo alisado para receber elogios", diz Bianca. Ela continua: "Eu acredito sim que elas se sintam melhores, mas elas se sentem melhores porque estão alcançando esses padrões".

Uma característica presente nessas mulheres é a idade com a qual começaram o alisamento. Uma média de 12 anos. "Algumas delas não se lembram como é o cabelo natural. Mais de uma entrevistada afirma que 'talvez se eu fosse criança hoje, com cabelo afro, com essa diversidade de produtos que existem e esse discurso forte de aceitação, eu não teria começado, mas agora que eu comecei eu não quero mais parar, porque não me reconheço mais", complementa a mestra em Administração.

As entrevistadas também rejeitam a ideia de que se sacrificam pelo procedimento. O conceito de sacrifício no consumo ainda seria muito novo e não absorvido por essas mulheres. Porém, elas mesmas elencam naturalmente exemplos de sacrifícios: danos à saúde (queda de cabelo, queimaduras, etc), longas horas no salão, gasto elevado, mau cheiro dos produtos. "Mas eu vou fazer o quê, não é?", questionou uma de forma resignada.

O aspecto das terminologias também é destacado na pesquisa. O tipo crespo ainda é lembrado como o 'ruim'. As pesquisadas dizem frases como "se o meu fosse cacheado eu pararia de fazer o procedimento, mas ele é crespo".

Quem percebeu desde jovem essa depreciação do cabelo foi Letícia Carvalho, 21 anos, idealizadora do movimento “Faça Amor, Não Faça Chapinha”. O que surgiu como uma simples fanpage hoje se tornou um grupo atuante na luta contra o racismo. Em 2013, quando a página foi criada, começou a receber fotos e relatos de mulheres que começavam a assumir o crespo. “Elas não tinham ninguém para falar sobre isso, não tinham espaço para falar sobre o próprio cabelo”, lembra a jovem.

Segundo Letícia, que quando menor usava chapinha, a sociedade é guiada por uma noção de estética que estabelece padrões de beleza. “Essa estética pode trazer consequências, desde sofrer bullying e ouvir piadinhas na escola a você ser agredido por um policial na rua. A estética negra é associada a violência, criminalidade, uso de drogas, falta de cuidados, sujeira, miséria”, cita.

Ainda conforme a jovem, a pressão pelo que ela chama de ‘embranquecimento’ persiste mesmo após o abandono dos alisamentos. “Mesmo eu tendo assumido o cabelo em 2009, ainda escuto de vizinhos, de pessoas que conheço: ‘você assumiu, mas dá um jeito nele’ ou ‘você não sente saudade do cabelo liso?’. Você assume o cabelo, mas tem que ser baixinho, com pouco volume, que fique parecido com liso ou encaixe europeu”.

Negras e brancas

Bianca Ferreira, durante sua pesquisa, se deparou com uma literatura internacional que dizia que os alisamentos capilares eram feitos apenas por mulheres negras. Ela notou que no Brasil isso é diferente.

"Devido a mistura de etnias, não só mulheres que se consideram negras tem cabelos crespos. Mas há uma diferença: mulheres negras afirmam que sabem que traem a identidade, mas fazem porque se sentem melhor. Enquanto as mulheres brancas dizem 'não, cabelo alisado sou eu, aquilo ali é quem eu represento'", destaca a autora do estudo.

De acordo com Letícia Carvalho, do “Faça Amor, Não Faça Chapinha”, a página no Facebook precisou passar por uma mudança e ser exclusiva para divulgação de cabelo de mulheres negras para reforçar o papel de combate ao racismo. “Mulheres brancas que postavam na página eram muito mais valorizadas do que as negras. A gente não queria reforçar outras ideias de páginas e youtubers do ‘cacho perfeito’. Era importante que a gente valorizasse o cabelo crespo, que é perseguido”, salienta.

Bella é uma garota de 8 anos que ficou famosa nas redes sociais por conta dos seus cachos. Emponderada desde cedo, a menina acumula mais de 70 mil seguidores no instagram justamente pelo seu cabelo cacheado. Mas uma atitude de sua madrasta transformou a autoestima da criança. É que a mulher cortou o cabelo de Bella e o alisou.

A história veio à tona após a mãe da garota relatar a situação nas redes sociais. Segundo Fernanda Tays, Bella foi à casa do pai na sexta-feira (29) com os cabelos lavados e penteados. No domingo (1º), a mulher recebeu uma ligação do ex-marido contando que a atual esposa cortou as "pontinhas" do cabelo da garota. "Ela cortou o cabelo dela mais da metade e alisou e quando ela molhar o cabelo vai encolher mais ainda", relatou a Fernanda. 

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O pai teria dito, ainda, que "cabelo cresce". Segundo Fernanda, Bella chegou em casa triste e com a autoestima baixa. Em fotos publicadas pela mãe, é possível ver a criança chorando com o cabelo liso. Outras imagens também mostram como era o cabelo da garota antes. Na semana passada, durante uma chamada de vídeo, a madrasta da garota teria mandado Bella prender o cabelo.

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Na última sexta (10), Lupita Nyong’o usou suas redes sociais para criticar a edição feita em suas fotos para a revista Grazia, na qual ela aparecia na capa do mês. Na imagem, a atriz aparecia com parte dos cabelos excluído da foto pelo photoshop e a outra parte alisada. segunda (13), após a repercussão, o fotografo An Le, responsável pelo ensaio e edições finalmente se pronunciou.

“Eu tirei um tempo para refletir na minha parte no incidente envolvendo Grazia e Nyong’o. Eu percebo agora que foi um erro incrivelmente monumental que eu fiz e eu gostaria de aproveitar para pedir desculpas a Nyong’o e a todos os outros que ofendi”, se desculpou.

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“Embora não fosse minha intenção ferir ninguém, posso ver agora que alterar a imagem de seu cabelo foi um ato incrivelmente prejudicial. Como imigrante que sou, é meu dever ser um defensor da representação da diversidade da beleza neste setor. Eu vou demonstrar ainda mais isso nos meus próximos trabalhos”, continuou o fotografo vietnamita em comunicado a imprensa, que agradeceu Lupita “por abordar esta questão tão importante”.

A revista Grazia também usou as redes sociais para falar sobre o assunto. Em uma publicação feita no Instagram a publicação pediu desculpas e garantiu estar comprometida em representar a diversidade. “Em nenhum momento fizemos qualquer pedido editorial ao fotógrafo para o cabelo de Lupita Nyong’o ser alterado na capa desta semana, nem alteramos nós mesmos. Mas pedimos desculpas por não ter nos certificado de que estávamos a par de todas as alterações que haviam sido feitas”, concluiu.

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