Apego na fé e noite em claro. Esse foi o resumo da última noite para moradores do Alto do Marreco, próximo ao Brejo da Guabiraba, Região Metropolitana do Recife. Nesta quinta-feira (25), fortes chuvas foram registradas em diversos pontos e seguiu durante toda sexta-feira (26). Lá não foi diferente, mas com a água, o medo de que as barreiras desabassem. Lembranças recentes, como o acidente na região em 2019, reforçam o temor.
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Todos os moradores que conversaram com a reportagem do LeiaJá nesta sexta, tiveram uma coisa em comum, ‘ninguém dorme’ quando chove. Não que isso vá resolver algo, mas ao menos dará uma chance de reagir e salvar a família, como conta o casal Etiene e Josué.
Os cadeados e as portas ficam abertas para facilitar caso precisem sair com rapidez: “A gente fica com medo, como a gente mora em barreira, tenho medo, às vezes vou para casa da minha mãe quando chove muito”, conta Etiene Francisca. Ela ainda faz uma reclamação e cobra a presença do governo na região. Segundo o marido Josué a colocação de lonas, que traz alguma segurança, não é feita há meses. Resta então tomar os cuidados possíveis, como um piso de concreto colocado há um ano e muita fé.
Dona Maria Lúcia, mãe de Josué e que também mora na região, conta que ao longo dos 30 anos lá já sofreu alguns sustos e que inclusive parte da barreira da casa em que mora atualmente cedeu há alguns anos. Dormir, só à base de remédio e assim foi a última noite diante de tanta chuva “Me apego em Jesus”, diz.
Quem fica de ‘sentinela’ é o marido que pediu para ser identificado como Nilo e que mora há 50 anos no Alto do Marreco. “Eu não durmo não, quem dorme é ela, você aqui tá seguro e daqui a pouco já era. Eu vi o que aconteceu ali”, afirma apontando para a barreira vizinha que cedeu em 2019. “Desde ontem que eu tô assim, quando vejo o tempo mudar vou logo lá para fora”, ressalta. Até as escadas para acessar a casa dos moradores é arriscada e em alguns pontos chega a ter buracos.
Quem viu de perto o acidente de 2019 foi Andreia Oliveira. Ela lembra que acreditou na altura que sua laje, que chegou a rachar, havia cedido, tamanha proximidade com a barreira que desabou. Mas mesmo assim ela ainda segue morando com sua família, filhos e netos no mesmo ambiente e ela explica o porquê.
“Pediram para a gente sair daqui, mas vamos sair para onde?”, indaga. “A gente bota telha, bota isso, bota aquilo com medo que a água caia e emburaque, Compra o cano e bota o cano. O meu vai até a canaleta já com medo que perfure, caia e morra todo mundo”, completa. O medo de morrer também não permitiu que Andreia dormisse durante a noite chuvosa e ela ainda faz um apelo para que possa sair dali.
E pelo visto, os moradores do Alto do Marreco, de outras regiões com barreiras, terão mais uma noite agitada. A APAC informou no fim da tarde desta sexta que a previsão para este sábado (27) é de chuva moderada na RMR com alguns pontos de “chuvas fortes”.
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