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O Brasil será representado nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang-2018, na Coreia do Sul, por uma delegação formada por nove atletas e mais um reserva. Em relação à última edição do evento, disputada em Sochi-2014, o Time Brasil encolheu. Na ocasião, o País teve 13 atletas na disputa.

A delegação brasileira será formada por Isadora Williams (patinação artística), Edson Bindilatti, Odirlei Pessoni, Rafael Souza, Edson Martins e o reserva Erick Vianna (bobsled), Michel Macedo (esqui alpino), Jaqueline Mourão e Victor Santos (esqui cross-country) e Isabel Clark (snowboard).

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"Estamos muito contentes com a dedicação dos atletas e suas respectivas comissões técnicas multidisciplinares da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) e da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), que culminou com a classificação de nove atletas de cinco modalidades esportivas", disse Stefano Arnhold, presidente da CBDN e chefe da missão brasileira em Pyeongchang-2018.

"Tivemos a inédita classificação do trenó masculino de dois no bobsled e teremos uma delegação que combina a experiência de atletas consagradas como a Isabel Clark, que vai para sua quarta disputa olímpica, e Jaqueline Mourão, indo para sua sexta disputa, com a juventude de novatos como o Michel Macedo e o Victor Santos. Na patinação artística, Isadora Williams chega a sua segunda edição olímpica, enquanto Edson Bindilatti, piloto do bobsled, vai para sua quarta participação, tendo feito parte da equipe desde de Salt Lake City 2002", complementou Arnhold.

A delegação brasileira utilizará as duas Vilas Olímpicas dos Jogos: Gangneung, na costa, e Pyeongchang, na montanha. A 23.ª edição de Jogos Olímpicos de Inverno será realizada de 9 a 25 de fevereiro.

Novo presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Paulo Wanderley Teixeira era vice de Carlos Arthur Nuzman, que renunciou este mês para se defender de participação em suposto esquema de compra de votos para o Rio de Janeiro sediar os Jogos Olímpicos do ano passado. A passagem de bastão não teve nenhuma pompa, já que se resumiu a uma transmissão automática assim que Nuzman assinou a sua carta de renúncia de dentro da prisão - ele agora está em liberdade.

Com a decisão da Justiça de proibir o ex-cartola de se comunicar com qualquer membro do COB, Paulo Wanderley tem caminho aberto para modificar a estrutura montada por Nuzman ao longo de 22 anos de presidência. Ao assumir a entidade este mês, ele elogiou o antecessor, mas em seus primeiros dias já dá mostras de que algumas coisas vão mudar.

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Ao Estado, o novo presidente disse que "não sabe se o COB gasta muito", mas está trabalhando em corte de custos. O mais vistoso será a mudança da sede da entidade de um prédio exclusivo na Barra da Tijuca para o Parque Aquático Maria Lenk, junto ao Parque Olímpico. A economia será próxima de R$ 4,5 milhões/ano.

O corte de custos deverá atingir todas as áreas, inclusive um dos principais eventos organizados pela entidade: o Prêmio Brasil Olímpico. O COB chegou a cogitar o fim da premiação, que acontece anualmente desde o início do século, mas decidiu mantê-la com alguns ajustes. "Vamos fazer de uma forma mais realista", assegurou Paulo Wanderley, informando ainda que ela acontecerá em março do próximo ano.

O dirigente também revelou que irá fazer mudanças no quadro de pessoal da entidade. "Fatalmente, em função do que está sendo posto, poderá haver, sim, algumas mudanças. Mas não é pra já", sustentou. "Provavelmente no mês que vem já teremos alguma coisa".

Sobre o diretor executivo de Esportes, Agberto Guimarães, Paulo Wanderley elogiou o trabalho, mas fez uma ressalva: "o Agberto é um dos grandes quadros profissionais do comitê olímpico, é um patrimônio do esporte nacional. Mas carta-branca não tem pra ninguém".

O senhor assumiu o COB em meio a uma investigação, com o Nuzman preso e com a Polícia Federal fazendo buscas na sede do comitê. Como encontrou o ambiente?

Eu já estava dentro do COB, mas naquele dia, especificamente, não. Evidentemente que uma notícia dessas não é do agrado de absolutamente ninguém. Mas o que eu constatei é que aquilo que o COB sabe fazer melhor, que é fomentar o esporte, tratar o esporte como ele tem que ser tratado, estava funcionando. Não parou de funcionar nada. Os projetos que estavam em andamento continuaram à frente, aquilo que estava chegando de demanda continuou a ser atendido. Sua atividade básica e precípua não sofreu nenhum tipo de interrupção ou continuidade. Essa foi minha visão. A gente observa o esporte.

O senhor já conseguiu se inteirar de tudo o que está acontecendo aqui?

Desde que assumi a vice-presidência, eu vinha numa postura de entender o funcionamento. A organização é grande, tem 100 anos, mais de 100 anos. Eu vinha de uma estrutura grande de confederação, uma das maiores do País, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), e tinha uma noção. O que acontece lá acontece aqui também, são os mesmos objetivos, só que aqui o volume é muito maior. Eu vinha fazendo o trabalho de relacionamento com as confederações, e brincando com o pessoal aqui eu dizia 'hoje eu quero ler uma página do manual'. Quando você recebe um equipamento novo, para aprender tem que ler o manual. Eu vinha lendo o manual com o tempo que me era dado, já vinha atuando nesse sentido. Eu não tinha poder decisório, mas (buscava) o conhecimento que era necessário. Estou ainda nesse processo, adiantado, acelerado, mas estou nesse processo ainda.

E dentro desse processo, o que o senhor percebeu que tem que ser seu principal foco de preocupação?

Está dentro daquilo que eu já defini que são as palavrinhas-chaves a se tratar. A transparência, e acho que isso já está sendo feito. A gente tem procurado pessoas, órgãos, instituições, para tratar e demonstrar o que estamos fazendo. As pessoas não sabem o que a gente faz. As próprias instituições esportivas não têm noção do trabalho desta organização aqui, do que ela produz. Todo mundo liga só a imagem à competição, Olimpíada, Jogos Pan-Americanos, mas não, tem trabalho interno, trabalho de preparação de técnico, de atleta. Transparência tem que ser jogada para fora em todos os níveis. Mérito, ou meritocracia, tem que trabalhar com esse objetivo, de valorizar quem busca o conhecimento, quem está atrás do resultado. A gente está com essa visão de premiar a conquista de seus propósitos, e isso foi mostrado na última exposição que nós fizemos (plano de distribuição de recursos da Lei Agnelo-Piva, apresentado na terça-feira). E controle de gastos e otimização de recursos. É nessa linha que estamos andando, já estamos implementando, já está funcionando.

Transparência, mérito e austeridade. Desses três, o que o senhor considera que é o mais difícil?

Eles caminham juntos. Não adianta você ter austeridade se você não está se comunicando, se você não sabe o que se está fazendo. A pessoa tem que saber. O mérito é implícito do esporte. O que o comitê olímpico trata? É de alto-rendimento, resultado. Tem que ter meta, tem que ter resultado. As três são interligadas e interdependentes. O que hoje se procura mais, se exige mais, que é mais visível, é a transparência.

O COB gasta muito?

Não sei isso ainda, tenho que estudar melhor pra dizer isso pra você. Gastar muito é relativo. O que é gastar muito para uma federação, para um governo? Tem resultado? De repente o que ele gasta é muito numericamente, mas os resultados justificam.

Na apresentação sobre os planos para distribuição dos recursos da Lei Agnelo-Piva do próximo ano, uma rubrica previa investimento menor, justamente aquela que trata dos gastos do próprio COB. Como reduzir o custeio?

Na austeridade. Vamos gastar dentro do que é possível. Vou lhe dar um exemplo, uma informação que ainda não demos publicamente, que é o PBO (Prêmio Brasil Olímpico). Um exemplo dessa questão de austeridade, de controle interno, é o PBO. É um evento que ocorre há 16 anos, de premiação do mérito dos atletas, e nós estamos dentro de um dilema. Vamos cortar a hora de o atleta receber os seus louros fora das quadras, dos tatames? É difícil, mas podemos gastar esse orçamento? Não, não podemos. Aí veio o consenso, dentro da questão da austeridade: vamos fazer, mas dentro da nossa realidade atual. Vai ser feito, sim, vai acontecer, mas de uma forma mais realista.

Vai ser ainda este ano?

Não, vai ser em março do ano que vem.

Como aconteceu este ano...

Exato, e acho que é uma coisa bem razoável, porque você termina o ano completo. Você pode estar em dezembro (mês em que tradicionalmente acontecia a premiação) com competições ainda acontecendo. Como tudo acontece, o ano fiscal é de janeiro a dezembro, eu acho razoável nós pensarmos em manter esta data de março. Este está definido que vai ser em março dentro dessas condições.

A mudança da sede do COB para o Maria Lenk já era prevista ou foi ideia do senhor?

Não, foi dentro do plano de austeridade.

Tem ideia de quanto vão economizar?

Em torno de R$ 4,5 milhões por ano. Envolve não só questão de aluguel, mas tem também serviços, a manutenção aqui é muito maior, segurança, enfim, tem algumas rubricas paralelas. O montante é uma economia saudável, necessária sob o ponto de vista de custo. E também tem que estar junto com o esporte, não cabe mais a administração estar aqui, apartada. Lá já está funcionando.

A intenção é mudar quando?

É aquela coisa: você tem a ideia, tem a vontade, mas não é só em função disso. O projeto já está finalizado, faltam ajustes, quem fica aonde, em que posição. Tem uma parte de obras, tem que fazer alguns ajustes, mas não tem nada de construção grande, não vamos botar abaixo e construir nada. Vamos utilizar e otimizar o que a gente já tem. Esse projeto de execução, planejamento, mudanças e obras, está se prevendo, a partir do momento que assinar o contrato, em torno de nove meses. É um parto.

Metade do ano que vem, segundo semestre...

É, segundo semestre do ano que vem. Não pode passar disso.

O senhor pretende manter todos os diretores e gerentes do COB?

Olha... Fatalmente, em função do que está sendo proposto, poderá, sim, haver algumas mudanças. Mas não é pra já.

"Não é pra já" tem um prazo?

Pra já seria este mês, não vai acontecer nada assim. Provavelmente mês que vem já tenha alguma coisa nesse sentido. O que eu observo é que os profissionais atuantes, específicos de cada área, são extremamente competentes e capazes. São compromissados realmente. Tem que ter uma análise muito fria, mas é necessário. O corte, quando vem, não dá pra dizer 'esta área sim, esta não'. Mas eu realmente não pensei em pessoas nem pra trazer, nem pra tirar.

Isso inclui a diretoria ligada diretamente ao esporte?

Pode, pode chegar. Diretoria, gerentes, funcionários, colaboradores. Não é uma visão focal, ela é ampla, de 360 graus.

O senhor deu carta branca ao Agberto Guimarães? Considerando, claro, que ele não seja um dos previstos para mudança...

O Agberto é um dos grandes quadros profissionais do comitê olímpico, é um patrimônio do esporte brasileiro pelo que ele fez pessoalmente pelo esporte e pelo que ele fez na trajetória de administrador esportivo. Carta branca não tem pra ninguém.

O senhor estabeleceu metas para o esporte?

Não, ainda não. Tenho que conversar com eles que estão fazendo o esporte, mas estão implícitas algumas coisas dentro daquelas palavrinhas mágicas que a gente tem falado. Materialmente, ainda não.

Quando o senhor diz que "carta branca não tem pra ninguém", o quê, por exemplo, não está autorizado a se fazer de maneira total?

Talvez o termo "carta branca não tem pra ninguém", ou tem para algumas pessoas, não seja a resposta apropriada, porque ainda falta conhecimento de tudo. Dentro do esporte, primeiro que não são eles que escalam as equipes. São os atletas que conquistam o direito de participar. "Ah, a equipe tal não vai". Não vou falar uma coisa dessas, porque foi o atleta que conquistou e as confederações que nos entregam as equipes delas. Nós damos condições e oportunidades. Talvez a resposta seja muito mais dependente da pergunta de o que é dar ou não carta branca. Só sei dizer o seguinte: não vai passar nada que eu não saiba - não vai passar nada que eu não saiba humanamente.

Como deverá ser a participação do Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2019?

Isso eu tenho que perguntar à assessoria responsável pela área, o planejamento estratégico, esportivo, mas com certeza vou perguntar.

Mas certamente será diferente da última edição, não? Agora tem uma questão de classificação olímpica e de redução de custos.

Cada modalidade tem uma especificidade. Tem entidades nacionais que obedecem à classificação dirigida por suas similares internacionais, que exige participação nesse ou naquele evento. Tem outras que vão direto. Diferente vai ser, com certeza, não tem como ser igual.

Voltando um pouco na questão da gestão, por que a decisão de encurtar o prazo de 90 para 45 dias para a elaboração do estatuto?

Talvez porque eu queira, de uma forma bastante pragmática, resolver a situação. Foi feita uma proposta de 90 dias, mas vamos fazer em 45 porque eu já milito há muito tempo nessa área e sei que é possível fazer. Vai ter que se fazer um esforço concentrado, e está sendo feito, as pessoas estão se reunindo, discutindo. A gente precisa não só pensar em fazer, em mudar. Tem que mudar, e o quanto antes melhor. Temos que dar respostas o mais rápido possível.

Um novo estatuto ainda este ano também é uma forma de sinalizar ao Comitê Olímpico Internacional (COI) de que está havendo uma mudança na questão da governança e, assim, agilizar o fim da suspensão imposta ao COB?

Essa atualização - na verdade eu não sei nem o termo adequado, se é um novo estatuto, uma atualização, uma reforma -, passa, sim, por uma necessidade de demonstrar ao COI que nós estamos caminhando no sentido da transparência, das boas práticas de governança, tudo que está se exigindo mais do esporte hoje.

A suspensão cai ainda este ano?

Pela minha vontade ela cairia amanhã, mas não vai depender de mim, depende do executivo do COI. O que eu posso dizer é que estamos em contato e estamos bastante avançados.

Na opinião do senhor, qualquer pessoa deveria ter o direito de concorrer à presidência do COB?

Isso é motivo de propostas no reformado, revitalizado estatuto. Me fizeram uma pergunta recentemente sobre qual minha opinião a respeito, e eu disse o seguinte: a composição da comissão (de reforma do estatuto) foi indicação, aprovação e eleição. Há pessoas assessorando. Eu não queria dar opinião, porque qualquer opinião que eu der poderia direcionar uma linha de ação, e eu não quero interferir nesse estudo. Eu confio nas pessoas que foram eleitas pra isso.

Mas o senhor já disse, por exemplo, que considera que as condições impostas hoje para se inscrever uma chapa devam ser menos duras...

Sim, nisso eu concordo. Menos tempo, menos pessoas indicando a chapa - eram dez confederações e seis meses de antecedência. Eu já demonstrei na prática, é só pesquisar o estatuto lá na confederação (CBJ). O atletismo tem um estatuto supermoderno. Não é padrão, e se foi vai ter que mudar.

Vamos ter uma eleição para vice?

Sim, tem que ter. De acordo com o atual estatuto, a "x" tempo do término do mandato não seria necessário, mas é início de mandato e é necessário fazer uma eleição.

O senhor comandou a CBJ por 16 anos e conhece seus pares de outras confederações. Eles são abertos a mudanças?

Posso dizer que, na atualidade, há uma sensibilidade para mudanças. Eu já vinha conversando com eles há algum tempo sobre a necessidade de se ajustar à modernidade administrativa. Posso dizer que há uma simpatia da maioria deles nesse sentido, mas não posso afirmar que este ou aquele ou quantos são favoráveis a mudanças. No geral, o ambiente é propício.

O que fará o senhor ter o sentimento de dever cumprido ao final do mandato?

O mesmo sentimento que eu não consegui na Confederação Brasileira de Judô: tornar autossustentável. Consegui fazê-la mais equilibrada, não dependente na sua totalidade de recursos públicos, não dependente exclusivamente de um patrocinador. Foram avanços substanciais, mas é muito difícil conseguir, por toda a conjuntura do País. Não me sinto frustrado. Vão acontecer melhorias.

A Justiça Federal no Rio de Janeiro aceitou no início da noite desta quinta-feira a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra Carlos Arthur Nuzman (presidente licenciado do Rio-2016 e ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil), Sérgio Cabral (ex-governador do Rio de Janeiro), Leonardo Gryner (ex-diretor do COB e do Rio-2016), Arthur César de Menezes Soares Filho (empresário conhecido como "rei Arthur"), Lamine Diack e Papa Massata Diack (dirigente esportivo africano e seu filho, respectivamente).

Com isso, os seis acusados se tornam réus no processo resultante das investigações que apuraram suposto esquema de compra de votos para o Rio sediar os Jogos Olímpicos do ano passado e posterior superfaturamento de obras necessárias para o evento.

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A denúncia foi recebida pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Nuzman, que está preso desde o dia 5 e teve um habeas corpus concedido nesta quinta-feira pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, vai responder pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Cabral será processado por corrupção passiva, enquanto Gryner vai responder por corrupção passiva e organização criminosa. Papa e Lamine Diack serão processados por corrupção passiva, e Soares Filho vai responder por corrupção ativa.

Na denúncia apresentada na quarta-feira e aceita nesta quinta, o MPF pede reparação aos cofres públicos no valor de R$ 1 bilhão por danos morais, além de ressarcimento de R$ 6,34 milhões por danos materiais.

DEFESA - Nélio Machado, um dos advogados de Carlos Arthur Nuzman, disse na quarta-feira que a denúncia apresentada pelo MPF é "fruto de mera criação mental" e que o dirigente "paga pelo sucesso e não pelo fracasso". Na peça, os procuradores equiparam Nuzman e Leonardo Gryner a funcionários públicos, uma vez que tanto o COB quanto o Rio-2016 receberam e eram gestores de verbas públicas.

Segundo o MPF, "por delegação", ambos exerciam uma atividade típica de Estado: o desporto. "Para fugir do vazio acusatório, criaram uma situação esdrúxula de funcionário público que não é funcionário público. A situação do Carlos Arthur Nuzman, e até mesmo dos senegaleses, está apontada como corrupção passiva. Isso não passa no exame de qualquer tipo de análise jurídica séria que se possa fazer sobre essa imputação", criticou Machado.

Já o advogado de Sérgio Cabral, Rodrigo Roca, disse na quarta-feira que a denúncia é "um acinte, um desmerecimento, não só ao ex-governador Sérgio Cabral, como à vitória consagradora do Rio, ao País e aos membros do COI". "O Rio foi eleito com uma diferença de 40 votos com relação à segunda candidata, Madri. Pela versão do MPF, seriam todos corruptos. Não tenho dúvidas de que em pouco tempo conseguiremos desmontar essa invencionice e mostrar que os verdadeiros criminosos continuam gozando das benesses legais que conseguiram com suas histórias fantasiosas", afirmou.

O Estado ainda não conseguiu contato com as defesas de Gryner e Soares Filho.

Dois dos principais cartolas do esporte brasileiro - Ricardo Teixeira e Carlos Arthur Nuzman - tinham algo em comum: usavam o mesmo doleiro para fazer seus pagamentos secretos na Suíça e em outras contas sigilosas.

Em sua denúncia contra Nuzman, o Ministério Público Federal revela que o operador Willy Kraus foi usado para realizar pagamentos para Lamine Diack, o homem que teria vendido os votos africanos para o Rio-2016, em troca de US$ 2 milhões.

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A informação foi colhida inicialmente pelo Ministério Público Francês que identificou o depósito "realizado por Willy Kraus à empresa Pamodzi, em um total de US$ 250 mil". A Pamodzi era a empresa do filho de Lamine, Papa Diack, e que tinha a incumbência de pressionar Nuzman e sua secretária para que os pagamentos fossem realizados.

Pelo levantamento dos investigadores, diversos pagamentos foram encontrados entre Kraus e Diack. "Dois desses depósitos coincidem exatamente com os valores e períodos apontados na mensagem encaminhada em 6 de janeiro de 2010 por Papa Diack a Maria Celestre Pedroso (secretária de Nuzman)", disse o MPF. Nessas mensagens, ele deixava claro que o pagamento precisava ser feito e que outros "amigos" que tinham fechado um "compromisso em Copenhague" estavam aguardando.

A mensagem seria uma evidência de que os pagamentos ocorreram em troca de votos africanos para a escolha do Rio, realizada em outubro de 2009, em Copenhague.

No dia 22 de dezembro de 2009, Kraus usaria uma conta secreta no Banco Cantonal de Aarau, na Suíça, para transferir o dinheiro a uma conta no Senegal, de Diack. Outros dois depósitos foram realizados em 2010.

Em dezembro de 2015, o Estado revelou com exclusividade que Kraus era o doleiro também sob investigação pelo FBI por ser a pessoa que fazia pagamentos a Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, nas investigações sobre a compra de votos para a Copa de 2022, no Catar.

A reportagem mostrou como o FBI havia identificado contas controladas por Teixeira em pelo menos três bancos na Suíça: UBS, Banca del Gottardo e BSI, comprado pelo banco brasileiro BTG Pactual.

Em apenas duas destas contas, um total de US$ 800 mil foram transferidos de contas nos Estados Unidos para a Suíça, envolvendo a Somerton, empresa controlada pelo também brasileiro José Margulies. Ele é suspeito de agir como testa de ferro para o empresário J. Hawilla e realizar os pagamentos de propinas para dirigentes do futebol mundial. A empresa de fachada de Hawilla, portanto, também teria abastecido as contas suíças de Teixeira.

A suspeita do FBI é de que Teixeira usaria um nome de fachada para não ter sua identidade revelada. Mas aparecia como beneficiário das contas. O "laranja" seria Willy Kraus, dono da Kraus Corretora de Câmbio, no centro do Rio de Janeiro.

Numa das transações suspeitas, o FBI registrou como a empresa Blue Marina, com contas nos EUA, pediu para transferir seus ativos para a Suíça. No dia 25 de setembro de 2008, a conta em território americano foi fechado e o dinheiro enviado a uma conta de Kraus, na Banca del Gottardo. O valor transferido era de US$ 478,2 mil.

Outro nome registrado pelos americanos era a da sociedade Summerton, usada também pelo dirigente. Para o FBI, Teixeira mantinha o "efetivo controle" sobre essas contas. Os investigadores apontam que acreditam que Kraus "permitia que Teixeira usasse suas contas como forma de esconder sua verdadeira fonte".

Os documentos oficiais do FBI obtidos pelo Estado revelam que Teixeira teria passado mais de uma década recebendo propinas em contas em Zurique, a mesma cidade da sede da Fifa e para onde o dirigente viajava com frequência para reuniões da entidade, para eventos do mundo do futebol e mesmo para defender a candidatura do Brasil para receber a Copa de 2014. Mas era na mesma cidade, segundo o delator, que também ficava sua conta secreta.

Segundo o FBI, Teixeira teria recebido mais de 20 milhões de francos suíços (cerca de US$ 20 milhões) entre 1992 e 2000. Os depósitos, porém, continuaram mesmo depois.

O presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), Eric Maleson, disse aos procuradores do Ministério Público Francês que o Rio de Janeiro "praticamente não possuía condições de sediar a Olimpíada". A declaração foi reproduzia na denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio, nesta quarta-feira, contra o ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman.

Maleson afirma que a constatação foi feita a partir de um ranking divulgado, em março de 2008, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), com a avaliação de cada cidade concorrente para sediar a Olimpíada de 2016, levando em consideração diversos aspectos, como infraestrutura e apoio dos governos. Nesta lista, Tóquio ficou em primeiro lugar, com 8.3, Madrid ficou com 8.1, Chicago com 7.0, Doha com 6.9 e Rio de Janeiro com 6.4, na quinta colocação.

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Em seu depoimento, Maleson afirma que "diante desse resultado, ficou evidente para a comunidade internacional que a disputa final seria entre Tóquio e Madri, as duas primeiras colocadas e que o Rio de Janeiro, em razão dessa nota, praticamente não possuía condições de sediar a Olimpíada, em razão do curto espaço de tempo que teria para reverter sua colocação, já que as eleições finais seriam realizadas em outubro de 2009", diz o trecho, reproduzido pelo MPF do Rio.

O testemunho de Maleson também indica ter havido ajustes e efetivo pagamento a membros africanos do COI para escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016. Ele declarou que "era muito comum, em conversas de bastidores travadas no âmbito do CO-Rio (Comitê Organizador do Rio-2016), serem tratados assuntos relacionados à compra de votos dos dirigentes africanos que participariam da futura eleição".

Nuzman foi denunciado pelo MPF do Rio, nesta quarta-feira, pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Já o seu braço direito e diretor de marketing do COB, Leonardo Gryner, foi denunciado por corrupção passiva e organização criminosa.

O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), foi denunciado por corrupção passiva e, o empresário Arthur Soares, conhecido como "Rei Arthur", por corrupção ativa. Papa Massata Diack e Lamine Diack, membros do COI (Comitê Olímpico Internacional), também foram denunciados por participação no esquema. Ela foi encaminhada nesta manhã ao juiz da 7º Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, responsável por julgar os processos relacionados à Lava Jato no Rio.

A denúncia do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF) contra o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, nesta quarta-feira, pediu a reparação por danos morais no valor de R$ 1 bilhão e materiais no valor de R$ 6,34 milhões. O MPF denunciou Nuzman pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O seu braço direito e diretor de marketing do COB, Leonardo Gryner, foi denunciado por corrupção passiva e organização criminosa.

Já o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), foi denunciado por corrupção passiva e o empresário Arthur Soares, conhecido como "Rei Arthur", por corrupção ativa. Papa Massata Diack e Lamine Diack, membros do COI (Comitê Olímpico Internacional), foram denunciados por corrupção passiva.

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De acordo com a denúncia, Cabral, Nuzman e Leonardo Gryner solicitaram diretamente a Arthur Soares e aceitaram promessa de vantagem indevida aos senegaleses Papa Diack e Lamine Diack, no valor de US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,3 milhões) para garantir votos para o Rio de Janeiro na eleição da cidade-sede para os Jogos Olímpicos de 2016, o que, segundo o MPF, configura corrupção passiva.

A denúncia equipara Nuzman e Gryner a funcionários públicos, uma vez que tanto o COB quanto o Comitê Organizador dos Jogos receberam e eram gestores de verbas públicas e exerciam, por delegação, uma atividade típica de Estado: o desporto. O MPF também citou a Lei Pelé (Lei nº 9.615/98), que determina que compete ao COB representar o país em eventos olímpicos, pan-americanos e outros de igual natureza.

"A despeito de tratar-se de uma 'pessoa jurídica de direito privado', o Comitê Olímpico do Brasil, por meio de seus dirigentes, representa a República Federativa do Brasil em eventos esportivos internacionais, recebe verba pública (que representa a maior parte de seu orçamento) e, ainda, exerce uma atividade típica da Administração Pública Federal ao fomentar e organizar as atividades desportivas olímpicas no Brasil", explicam na denúncia os procuradores da República integrantes da Força Tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro. "Onde existe verba pública, existe dever de probidade e existe a responsabilidade daqueles que a gerem, podendo, portanto, ser responsabilizados quando atuarem em contrariedade ao que determina a lei", completam.

Segundo os procuradores, Nuzman e Gryner também teriam infringido dever funcional ao conceder desconto, mesmo diante de descumprimento de contrato, do hotel LSH Barra Empreendimentos Imobiliários SA (LSH Barra Hotel). O ex-presidente do COB ainda é acusado de dissimular a propriedade e a origem de 16 quilos de ouro, no valor de R$ 1.495.437,63, mantidos em cofre na Suíça.

O MPF revelou que, em agosto de 2009, pouco mais de um ano após o Comitê Olímpico Internacional anunciar as quatro cidades que concorreriam para sediar os jogos de 2016 e há cerca de dois meses para o anúncio final, Nuzman, Gryner e Cabral se encontraram com Lamine Diack durante o Mundial de Atletismo de Berlim, oportunidade em que o senegalês indicou seu filho para tratar de pagamentos por "patrocinadores".

"No final de agosto, Gryner foi apresentado por Cabral a Arthur Soares, aproximando-os para acertar o pagamento aos Diack. Em setembro de 2009, aconteceu em Paris o episódio que ficou conhecido como "Farra dos Guardanapos", que contou com a participação de vários integrantes da organização criminosa chefiada por Cabral, inclusive Nuzman", explicou o MPF.

Dez dias depois, teria sido feita a primeira tentativa de depósito dos valores acordados entre Cabral, Soares, Nuzman, Gryner e Diack, por meio de transferência bancária feita a partir da conta Matlock, de Arthur Soares. A transferência foi rejeitada pelo banco por não haver razão econômica para o pagamento. No final de setembro, foi feita nova tentativa de transferência do pagamento a partir da conta Matlock, desta vez bem sucedida.

Em 2 de outubro, o Rio foi anunciado como cidade-sede da Olimpíada de 2016 e, em dezembro de 2009, e fevereiro de 2010, Para Diack encaminhou uma série de mensagens para Nuzman e Gryner cobrando o restante dos pagamentos devidos aos seus amigos, o que indica que houve distribuição de vantagens indevidas a outros africanos.

Foram registradas transferências bancárias de outros patrocinadores para Pamodzi Consulting no fim de 2009 e início de 2010. Já em dezembro de 2016, Nuzman e Gryner concedem ao LSH Barra Hotel, da qual Arthur Soares é sócio, o perdão da multa contratual e desconto de 30% sobre o valor que o hotel deveria devolver por ter descumprido acordo firmado como o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016.

Os advogados de defesa do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, protocolaram no Tribunal Regional Federal da 2ª Região um pedido de soltura do seu cliente, que foi preso provisoriamente na quinta-feira (5), acusado de envolvimento num suposto esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI) para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos 2016.

A solicitação é um aditamento do habeas corpus impetrado no mês passado, quando ele foi levado à Polícia Federal para prestar esclarecimentos.

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Além da soltura imediata do presidente do COB, o documento requer também a nulidade da operação. A defesa de Nuzman é assinada pelos advogados Nélio Machado, João Francisco Neto e Guido Ferolla e alega participação abusiva de autoridades francesas na ação em território brasileiro. Eles alegam que o ato se configura crime na França, mas não é tipificado no Brasil.

“O procedimento inquisitorial se revela impregnado de vícios insuperáveis pela notória atipicidade da suposta corrupção privada, figura penal inexistente em nossa legislação, não se podendo ir além da Lei para perseguir-se fora de seus parâmetros”, argumenta a defesa. Os advogados acrescentam que a tipificação de organização criminosa surgiu apenas em 2013, com a lei n.º 12.850/2013 – ou seja, quatro anos após ter ocorrido a suposta compra de votos – e que Nuzman não tinha nenhuma ingerência sobre contratos públicos.

“Como se vê, a única maneira de se ligar o nome do Paciente a orçamentos supostamente superestimados e a percepção de vantagens indevidas por agentes públicos seria a invocação genérica, fugidia, oca, do crime de organização criminosa, que nada define, no que lhe concerne, não se sabendo de nenhum ato concreto, preciso e determinado que se lhe possa afivelar para justificar a pretendida integração típica”.

Os advogados também alegam “estranheza” pelo mesmo fato estar sendo investigado por dois organismos diferentes, o Ministério Público e a Polícia Federal, e o “inusitado” do fato de o  depoimento na quinta-feira ter sido interrompido para os procuradores e delegados darem uma entrevista coletiva à imprensa, “colocando-se o ato que se realizava em patamar secundário e desimportante”, enquanto a defesa e o acusado permaneciam em uma sala ao lado sem poder se manifestar aos jornalistas.

Os advogados anexaram ao pedido a negativa de extradição, pelo governo dos Estados Unidos, do empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, acusado pelo Ministério Público de ter feito os pagamentos para a compra de votos. Segundo a defesa, os documentos apresentados na acusação de Soares teriam sido considerados insuficientes pelo governo norte-americano.

O pedido de habeas corpus também cita como justificativa para Nuzman ser colocado em liberdade a condição de saúde, “em face de seríssima cirurgia de dissecção de sua aorta, a impor cautelas especiais”.

Ontem, o Comitê Olímpico Internacional (COI) suspendeu o COB e Nuzman provisoriamente de suas atividades junto à entidade internacional.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) anunciou nesta sexta-feira (6) que convocou para a próxima quarta uma Assembleia Geral Extraordinária para discutir a decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) de suspender provisoriamente a entidade brasileira. A reunião que vai acontecer às 14h30 na sede da entidade também tem como pauta analisar a atual situação da entidade.

O Ministério do Esporte também convocou o presidente interino do COB, Paulo Wanderley, para esclarecer a retaliação aplicada nesta sexta-feira. A pedido do ministro Leonardo Picciani, o secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, Rogério Sampaio, vai se encontrar para esclarecer a situação e "fornecer informações detalhadas".

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Na declaração, o poder público afirma que "continuará trabalhando para garantir o apoio aos atletas brasileiros e ao esporte de alto rendimento". A entidade optou por permitir que os atletas brasileiros continuem a representar o país nos torneios, prevenindo que as punições aos dirigentes não afetem diretamente estes esportistas.

Peça-chave na denúncia e uma das principais testemunhas na investigação sobre o caso da compra de votos pelo Rio para ser escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, que envolve diretamente Carlos Arthur Nuzman, o brasileiro Eric Walther Maleson defende que o Comitê Olímpico Internacional (COI) faça uma intervenção "imediata" no Comitê Olímpico do Brasil (COB) para resguardar o esporte do País.

Maleson, que hoje vive nos Estados Unidos, procurou de forma espontânea procuradores franceses para dar detalhes do que ele diz ter sido a maneira pela qual Nuzman e a candidatura do Rio compraram votos para ganhar a eleição para sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

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Na condição de presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, Eric Walther Maleson, diz ter sido alvo de uma campanha de Nuzman. Seu caso está na Justiça brasileira.

Confira a entrevista com o denunciante:

O senhor fez diferentes apelos ao COI ao longo dos últimos anos sobre Nuzman. Qual deve ser a posição da entidade internacional neste momento?

O que o COI precisa fazer imediatamente é afastar Nuzman e toda a diretoria do COB do esporte. Existem já provas criminais. São acusações que tem consequências sérias. O COI não pode mais esperar. Na realidade, ele teria de ter feito isso já antes, quando a operação começou no mês passado. Mas eles optaram por não fazer nada.

Mas com que base o COI poderia agir?

A entidade precisa proteger a imagem do movimento olímpico no Brasil e no mundo, além dos patrocinadores. Considerando que não apenas Nuzman, mas todas as peças chaves da direção foram presas, não há outro caminho.

Uma prisão de Nuzman não seria suficiente para que o COB passe por mudanças?

Querer que o COB policie a si mesmo é acreditar em Papai Noel. Tem de haver uma intervenção para que as coisas possam mudar.

A realização de uma eleição no COB seria um caminho?

Não basta. O colégio eleitoral, da forma que é composto hoje, está fechado com Nuzman. É preciso uma intervenção para mudar os estatutos e abrir as eleições a um número maior de pessoas. Democratizar a escolha. Se isso ocorrer, haverá uma chance menor de fraude.

O senhor acredita que o comportamento de Nuzman na direção do COB afetou de forma negativa o esporte nacional?

Ele e seus aliados são os grandes responsáveis pela situação do esporte brasileiro. Ele transformou o COB em uma empresa privada para fazer seu marketing. Transformou a entidade em um balcão de negócios. Seu foco foi fazer eventos, com dinheiro público, e não disseminar o esporte. É dele a responsabilidade.

O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, e o ex-diretor de marketing e comunicação da entidade, Leonardo Gryner, foram presos pela Polícia Federal na manhã desta quinta-feira no Rio de Janeiro. Ambos são investigados na Operação Unfair Play, um desdobramento da Lava Jato que aponta que houve compra de votos para que o Rio fosse escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

A investigação conjunta do Ministério Público Federal (MPF) do Brasil e do Ministério Público Financeiro de Paris, da França, apura a relação entre viagens dos dois dirigentes à África em 2009 e transferências bancárias para o Papa Massata Diack, filhão de Lamine Diack, então presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês).

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Há um mês, o juiz federal Marcelo Bretas decretou o bloqueio de R$ 1 bilhão de Nuzman e dos empresários Arthur Soares e Eliane Cavalcante.

A força-tarefa aponta que "neste grande esquema ganha-ganha" o empresário Arthur Soares direcionou propina que seria destinada ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para Papa Massata Diack, filho do então presidente da IAAF, Lamine Diack. Segundo o Ministério Público Federal, o objetivo era "garantir mais um voto na escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016".

"Cabral determinou que Arthur Soares realizasse pagamento de US$ 2 milhões a representante da Associação Internacional de Atletismo, como forma de obter votos para a eleição da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016", afirmou a procuradoria na época.

"Carlos Arthur Nuzman, como presidente do COB (e, posteriormente, também do Comitê Rio-2016), foi o agente responsável por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares", acrescentou a procuradoria.

Preso nesta quinta-feira acusado de fazer parte de suposto esquema de compra de votos para que o Rio fosse a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e indiciado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, de 75 anos, anos conseguiu transformar uma entidade privada em uma organização multimilionária graças à injeção de dinheiro público.

Foi sob o seu comando que o COB passou a contar, a partir de 2001, com recursos da Lei Agnelo/Piva, que destina parte da arrecadação das loterias federais ao esporte. Se em 2002 o montante dos repassados foi de R$ 50 milhões, esse valor foi se multiplicando ao longo dos anos, com o COB trabalhando com uma estimativa de arrecadar R$ 210 milhões em 2017.

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Mesmo assim, Nuzman não conseguiu fazer do Brasil uma potência olímpica depois de duas décadas no comando do COB. Presidente da entidade desde 1995, o dirigente fracassou ao não atingir a meta proposta por ele mesmo de colocar o Brasil entre os dez primeiros colocados no ranking de medalhas nos Jogos do Rio. Com 19 pódios (sete ouros, seis pratas e seis bronzes), o País ficou apenas na 13.ª colocação.

Enfraquecido politicamente, Nuzman também acumulou derrotas antes da sua prisão nesta quinta-feira. Em abril deste ano, por exemplo, perdeu a eleição à presidência da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). Apontado como favorito, acabou ficando em terceiro - e último - lugar. No mês seguinte, pediu demissão da Organização Desportiva Sul-Americana (Odesur), entidade que presidia havia 14 anos.

Nuzman ganhou destaque no cenário esportivo com uma carreira que chamou atenção pela rápida ascensão. Como jogador de vôlei, defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964. Após abandonar as quadras, com apenas 32 anos assumiu a presidência da Confederação Brasileira de Vôlei em 1975.

Liderou, em 1979, um movimento de oposição ao major Silvio de Magalhães Padilha ao lançar a sua candidatura ao COB, mas acabou derrotado. Em 1990, assumiu a vice-presidência da entidade, sendo eleito presidente em 1995. Com ações de marketing consideradas inovadoras à época, Nuzman fez com que novos grupos de investidores entrassem no esporte e os patrocinadores passaram a ter maior visibilidade na mídia. Após os Jogos do Rio, no entanto, a entidade perdeu o aporte financeiro de várias empresas e agora se vê envolvida num esquema internacional de corrupção.

Os responsáveis pelas investigações que apuram a fraude na escolha do Rio de Janeiro para sede da Olimpíada de 2016 também apuram se, além dos países africanos, a compra de votos atingiu outros continentes. Existe a suspeita de que uma operação de maior dimensão foi realizada para garantir o apoio, principalmente, da América do Sul e da Ásia, com participação decisiva de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Rio-2016.

Na última terça-feira, as procuradorias do Brasil e da França realizaram operação de busca e apreensão na casa de Carlos Arthur Nuzman, que também teve de ir à sede da Polícia Federal prestar depoimento. Na denúncia inicial, reunião em Abuja (Nigéria), em agosto de 2009, foi apontada como um das ocasiões em que teria ocorrido pagamento de propinas.

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Mas os votos africanos representavam cerca de 10% do total do colégio eleitoral do COI e, de acordo com informações coletadas nos últimos dias, as suspeitas apontam que a estratégia não se limitou à África. Ao acumular 66 dos 98 votos para conseguir ser sede dos Jogos, o Rio apostou principalmente nos países em desenvolvimento e também nas economias do Leste Europeu - neste caso, ainda não há indícios de irregularidades.

No governo, uma estratégia de "sedução" também foi criada para convencer votos a migrar para a cidade brasileira. No Itamaraty, um departamento foi criado exclusivamente para oferecer cooperação no setor esportivo, com o aporte de financiamento para programas, envio de material e mesmo de treinadores. Na semana da votação, diplomatas que cuidavam desta área em Brasília foram transferidos para Copenhague, na Dinamarca, local da escolha em 2009.

Agentes que participaram da operação na casa de Carlos Arthur Nuzman admitem que coletaram "muita coisa" e que parecia que ele não esperava ser surpreendido por uma busca. Com o caso já em andamento na França, investigadores acreditavam que o dirigente poderia ter destruído ou escondido parte da informação. "Acreditamos que a compra de votos foi geral. Mas começaremos a ter mais certeza com a análise da documentação apreendida", disse um dos investigadores.

As novas pistas ampliam a tensão entre os membros do COI que, a partir da semana que vem, estarão em Lima para o Congresso Anual da entidade. Investigadores admitiram ao Estado que vão acompanhar de perto membros que eventualmente não viajem, temendo ser questionados ao desembarcar no Peru, um país que vem mantendo uma estreita cooperação judicial com o Brasil. "O timing da realização da operação no Rio dias antes do evento em Lima não ocorreu por acaso", admitiu um dos envolvidos no caso.

Peça-chave na denúncia e uma das principais testemunhas na investigação sobre a compra de votos pelo Rio-2016, o brasileiro Eric Walther Maleson alerta que o caso representa a pior crise no movimento olímpico. "O escândalo é maior que o de Salt Lake City", disse ao Estado. Sua referência é o escândalo de corrupção vivido pelo COI no final dos anos 90, quando descobriu-se que a cidade norte-americana comprou votos para sediar os Jogos de Inverno de 2002.

Eric Walther Maleson, que vive nos Estados Unidos, confirma que procurou o COI em diversas oportunidades desde 2012 para relatar as irregularidades no COB e no Rio-2016. Em uma das ocasiões, diz que chegou a falar por telefone com Dick Pound, na época um dos dirigentes mais poderosos do COI, além de enviar cartas para os presidentes Jacques Rogge e Thomas Bach.

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Sem uma resposta, ele se apresentou aos procuradores franceses para relatar o que sabia de Carlos Arthur Nuzman e da compra de votos.

O Comitê Olímpico Internacional confirmou que, em 2012, foi contactado pela testemunha. Mas, segundo a entidade, o assunto teria sido "um problema entre a Federação de Desportos no Gelo (presidida por Eric Walther Maleson) e o COB". "Naquele momento, o COI pediu a Maleson que entrasse em contato diretamente com o COB para resolver qualquer potencial disputa", explicou, por e-mail.

O COI ainda afirmou que "não tem a capacidade de realizar investigações criminais". Eric Walther Maleson rebate. "Isso não é verdade. Óbvio que falei de minha federação. Mas não foi só isso. Talvez tenham de abrir as gavetas e achar. Está tudo lá".

Além do contato de 2012, em 6 de setembro de 2014 ele mandou a Thomas Bach e à Comissão Judicial do COI carta sobre o "caos no Comitê Organizador Rio 2016". "Eu e outras autoridades brasileiras informamos ao COI pelo menos há dois anos sobre corrupção, fraude em eleição e violação de regras do COI, perpetradas pelo Comitê Olímpico Brasileiro e pela Rio-2016, ambas presididas pela mesma pessoa: Carlos Nuzman", escreveu Eric Walther Maleson.

A testemunha agora coloca em dúvida o papel do COI. "Antes dos Jogos, eu achei que eles não teriam agido para não abalar o evento. Até me responderam, dizendo que a papelada estava na mesa do presidente. Até hoje não entendi como deixaram o Nuzman acumular os cargos do COB e da Rio-2016. Mas, depois dos Jogos, eles também não agiram. Não podem mais ser negligentes", atacou.

Questionado se tomaria alguma medida em relação ao COB ou se considera uma intervenção, o COI se limitou a dizer que seria "prematuro comentar neste momento".

Se os Jogos do Rio-2016 foram exaltados como a chance para o Brasil subir de patamar nos esportes olímpicos, o ciclo que se inicia para a Olimpíada de Tóquio-2020 surge com o temor de que o País dê passos para trás. E passos largos. Não bastasse a diminuição de patrocínios públicos e privados que leva muita insegurança aos esportistas oito meses após o fim da Olimpíada, boa parte das confederações esportivas têm dirigentes enfrentando problemas com a Justiça, com seus pares ou mesmo com os próprios atletas que deveriam representar.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) congrega 30 confederações - há outras 19 vinculadas e três reconhecidas oficialmente, mas de modalidades que não disputam os Jogos Olímpicos. Das 30, pelo menos 10 estão envolvidas com polêmicas em suas atuais gestões, enterradas até o pescoço em problemas.

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Dentre os cenários, há um pouco de tudo. Duas entidades, por exemplo, estão sendo geridas por interventores indicados pela Justiça, enquanto que outras quatro têm ou tiveram seus processos eleitorais questionados judicialmente. Alguns cartolas importantes até bem pouco tempo atrás são acusados de desvios de dinheiro público e na única confederação que trabalha com recursos exclusivamente privados, a CBF, seu presidente está enrolado com a Justiça norte-americana e impedido de deixar o País com possibilidade de ser preso.

Há 11 dias, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, e três diretores da entidade foram presos pela Polícia Federal acusados de desvios que podem chegar a R$ 40 milhões. Mais longevo dirigente do esporte olímpico brasileiro, Coaracy comandou a confederação por 29 anos ininterruptos. Ele havia sido afastado do cargo no mês passado por ordem do juízo da 25.ª Vara Cível do Rio de Janeiro, que entendeu que seu mandato já havia acabado. Desde então, um interventor comanda a entidade.

Outra confederação que está sendo comandada por um interventor indicado pela Justiça é a de taekwondo. Desde janeiro, a CBTKD é dirigida por Carlos Alberto de Carvalho. Ele assumiu o cargo depois de a entidade ficar quatro meses sem um presidente - o anterior, Carlos Fernandes, foi afastado em agosto do ano passado por irregularidades em contratos.

A vacância no cargo trouxe dores de cabeça e de caixa à confederação. Durante os quatro meses em que a CBTKD ficou sem comando, nenhuma prestação de contas foi realizada, o que fez o COB suspender os repasses previstos através da Lei Agnelo-Piva. A documentação ainda não foi regularizada e a entidade segue sem receber.

BASQUETE - A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) também não está recebendo do COB. O motivo, porém, é outro: calote. A entidade não pagou uma dívida - valor não revelado - que tem com a Federação Internacional de Basquete (Fiba) e foi suspensa. Assim, nem a seleção, nem clubes, podem participar de jogos internacionais.

Outro problema comum nas confederações brasileiras diz respeito às assembleias que elegem seus presidentes. Na Esgrima, Levantamento de Peso e Hóquei sobre Grama, os pleitos foram levados à Justiça comum. No Handebol, por sua vez, a reeleição do presidente Manoel Oliveira depende de confirmação do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

No vôlei, a polêmica diz respeito ao esporte propriamente dito. Jogadoras da seleção feminina que atuam em clubes do País foram à Justiça questionar o ranking da CBV que estabelece que cada equipe que disputar a próxima edição da Superliga tenha apenas duas atletas nota 7 (máxima do ranking) e duas estrangeiras. Segundo as jogadoras, isso limita o direito de escolha e de trabalho.

Apesar do menor investimento neste ciclo olímpico, o diretor executivo de Esportes do COB, Agberto Guimarães, espera um desempenho melhor dos atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. "A gente tem que ter habilidade e inteligência para aproveitar o que temos e fazer o melhor e não ficar só reclamando que não tem dinheiro", pontuou. "Pra mim é importante desafiar o atleta".

A meta de medalhas para a próxima Olimpíada não deverá ser tornada pública, diferentemente do que aconteceu com os Jogos do Rio-2016. Em 2014, o COB revelou que o objetivo era o Brasil no Top 10 do total de medalhas. Com 19 pódios, o País acabou em 12.º lugar.

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"A meta provavelmente não vai ser da mesma forma", declarou Agberto Guimarães. A intenção dele é que, publicamente, o COB estabeleça um objetivo de melhora de performance dos atletas. "Se eu conduzir um trabalho com as confederações e tivermos mais finalistas e mais medalhistas, a gente vai melhorar o ranking. Acho que é esse que tem que ser o foco. Quero que nossos atletas tenham uma performance melhor do que tiveram no Rio de Janeiro", comentou Agberto Guimarães.

O diretor também disse que a política de contratação de técnicos estrangeiros será mantida, mas alguns dos treinadores de fora do País que trabalharam no último ciclo olímpico deverão ser trocados. "A troca é sempre saudável. Você fez um ciclo com um treinador e pode trazer outro, principalmente em esportes que dependem muito de uma estratégia de jogo", disse. "O certo é que a gente quer continuar com esse trabalho".

A fase de vacas gordas para o esporte olímpico brasileiro, que marcou o último ciclo, faz parte do passado. Agora, a ordem é apertar o cinto visando os Jogos de Tóquio-2020. Em um ambiente de recessão econômica, com previsão de redução dos repasses públicos e com dificuldades em fechar patrocínios, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) já avisou as confederações esportivas que será necessário um corte de gastos. Algumas delas perderão espaço na distribuição de verbas e a recomendação a todas vai ser simples e objetiva: investir nos atletas com melhor desempenho.

O responsável por arquitetar essa nova realidade é Agberto Guimarães, que assumiu a direção executiva de Esportes do COB há menos de quatro meses. Atleta olímpico na década de 1980 e especializado em gestão esportiva, ele concedeu entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo e foi taxativo: "Vamos ter de fazer escolhas. Não tem jeito".

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No último quadriênio, o COB contou com um orçamento próximo a R$ 1,4 bilhão, com metade do montante oriundo de repasses da Lei Agnelo-Piva e a outra parte de patrocinadores privados. Foi o dobro do investido no ciclo de Londres-2012. Agora, apesar de não apontar valores, a entidade já sabe que os recursos irão diminuir drasticamente.

"O foco do ciclo passado era o Rio de Janeiro e obviamente você tem mais recursos. Todos os patrocinadores estavam interessados em fazer um trabalho com atletas brasileiros porque a exposição de marca quando se compete em casa é muito maior", afirmou Agberto Guimarães. "É fato que vai diminuir o patrocínio".

O dirigente, contudo, não quer que o corte de investimentos sirva como desculpa. "Quando assumi, sabia que teríamos que fazer uma dieta (nos gastos)", disse. "Mas às vezes as pessoas confundem fazer com ter dinheiro. Quando atletas da minha geração competiam, a gente não tinha um quarto das facilidades que se tem hoje. Não tinha os mesmos recursos, equipamentos esportivos e quantidade de competições".

Agberto Guimarães espera que os atletas compreendam a nova realidade e disse que grande parte deles "não pode se queixar" com as condições atuais. "Se a gente conseguia fazer esportes na minha época - e ganhava algumas medalhas também -, você não pode atribuir a evolução e o crescimento do esporte só baseado em recursos financeiros".

GESTÃO - O maior objetivo do dirigente é melhorar a gestão das confederações, muitas delas envolvidas com demandas judiciais ou enfrentando interrupção de repasses públicos por problemas na prestação de contas.

"Apesar de não sermos uma entidade pública, recebemos dinheiro público e somos auditados como se fôssemos uma organização estatal. Isso quer dizer que todas as vezes que a gente passa recursos para as confederações elas têm que fazer uma parte de 'compliance' igual as que a gente tem, de prestação de contas", explicou.

Agberto Guimarães tem se reunido com dirigentes de diferentes confederações para alinhar o planejamento visando os Jogos de 2020. E, apesar de as ações para a Olimpíada de Tóquio se intensificarem só a partir do próximo ano, o aviso já está sendo dado.

"Não dá para investir em tudo. Nem os melhores países do mundo conseguem fazer investimento em todos os esportes, em todas as provas. Ninguém é bom em tudo. É hora de entender em que nós somos bons", afirmou. "Vamos ver onde podemos ajudar as confederações a otimizar os recursos, a ser mais eficaz com os gastos e a fazer as melhores escolhas. Não dá pra fazer tudo ao mesmo tempo".

O presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, reconduzido ao cargo depois de ser afastado pela Justiça de São Paulo, foi multado em R$ 20 mil pelo Tribunal de Contas de União (TCU) por irregularidades na utilização dos recursos obtidos por meio da Lei Agnelo-Piva. O acórdão foi publicado nesta sexta-feira no Diário Oficial da União.

Entre diversas irregularidades encontradas no relatório, que teve como relator o ministro Vital do Rêgo, a que causou a multa a Coaracy diz respeito às "deficiências na realização das pesquisas de preços efetuadas pela empresa Agência Roxy de Turismo". No entender do ministro, a CBDA não estabeleceu parâmetros para a cotação de preços para hospedagem em hotéis do Rio.

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"De forma semelhante, a empresa pesquisou preços para contratação de seguros de viagem junto a três empresas cujas cotações de preços de duas delas não detalhavam as condições oferecidas para que se pudesse avaliar se de fato a empresa contratada ofereceria o mesmo produto das demais pelo menor preço. A mesma prática foi identificada nas cotações de serviços de transporte", escreve Rêgo em seu relatório.

De acordo com o acórdão, funcionários da CBDA informaram que não há verificação das cotações e preços apresentados pela Roxy, que venceu 37 de 42 licitações realizadas pela CBDA entre 1.º de janeiro de 2013 e a data de fiscalização, entre setembro e outubro de 2015.

Rêgo lembra que "O fiscal (do contrato) indicado pelo presidente (Coaracy) é o mesmo funcionário que, ao ser entrevistado durante a auditoria, afirmou que não realizava qualquer conferência nas pesquisas de preço realizadas pela citada agência de turismo".

Essas irregularidades foram encontradas em uma "amostra pontual", de apenas quatro contratos. Além de Coaracy, também foi multado Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga, diretor financeiro da CBDA. "As irregularidades aqui levantadas direcionam a necessidade de a CBDA rever seus controles internos e de adotar medidas para coibir a reincidência dessas ações", finaliza Rêgo em seu voto.

O próximo ciclo olímpico promete ser de dificuldades para os atletas brasileiros. Sem o apelo de ter uma Olimpíada em casa e com a crise financeira atingindo governos e empresas privadas, ninguém mais esconde que o investimento no esporte nos próximos quatro anos será menor. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) corre para tentar fechar novos contratos de patrocínio, e até mesmo as campeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze demonstram receio quanto a isso.

Para os Jogos do Rio-2016, o COB recebeu investimentos na casa de R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos. O País encerrou a competição com 19 medalhas e o 12.º lugar na soma total de pódios - a meta projetada era ser Top 10. Em Londres-2012, o Brasil havia conquistado 17 medalhas. Do montante recebido pelo COB, cerca de R$ 700 milhões vieram em repasses por meio da Lei Agnelo-Piva, e o restante com a injeção de recursos de patrocinadores privados.

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O problema é que, agora, os contratos com empresas privadas estão se encerrando e até os repasses do governo tendem a diminuir. "Os patrocinadores que existem vão até 31 de dezembro, mas a equipe está trabalhando já. Não é um trabalho fácil, todos têm sentido isso. O próprio período não facilita, final de ano, início de ano, férias, mas certamente vamos ter resultados", afirmou o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, nesta quinta-feira.

Mesmo sem demonstrar muita convicção, ele acredita que alguns contratos poderão ser renovados. "O trabalho está sendo feito. Acho que a manutenção daqueles que quiserem é muito importante, porque já conhecem como a gente trabalha, as confederações, os atletas. Nós esperamos que possa seguir, senão já tem muitos que não estiveram e já demonstraram interesse em conversar."

Nuzman, contudo, admite que os valores serão menores. "Não se pode comparar os patamares de Jogos Olímpicos dentro de casa. Nenhum país conseguiu ter o mesmo patamar. Mas eu acho que o importante é que eles existam e que vão crescendo", destacou.

As campeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze também demonstram certa preocupação com patrocínios. "Patrocinador é sempre uma incógnita. Vida de atleta é assim mesmo, a gente nunca sabe como vai ser o dia de amanhã. A gente espera pelo melhor, mas preparadas para o pior", disse Martine.

A dupla também já sente os efeitos da crise. "Deu uma mexida (nos patrocínios). A gente tem a Embratel pelas leis de incentivo, mas por causa da crise eles estão meio indecisos. Ainda não foi aprovada, o que é um pouco ruim", comentou Kahena.

A dupla de velejadoras e o presidente do COB participaram da cerimônia que selou a parceria entre a Confederação Brasileira de Vela (CBVela) e BR Marinas, empresa que administra a Marina da Glória. O local, que sediou a competição de vela nos Jogos do Rio, será sede da confederação a partir de agora.

Como era esperado, Carlos Arthur Nuzman foi reeleito nesta terça-feira para a presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Será a sexta vez consecutiva que Nuzman presidirá o comitê, cargo que assumiu em 1995. Candidato único para o pleito desta terça, ele foi reconduzido para um mandato até 2020 com 24 votos entre 29 possíveis - quatro confederações e a comissão de atletas do COB não enviaram representantes. Na votação, houve três abstenções, um voto contra e um nulo, já que o envelope onde deveria estar a cédula estava vazio.

A chapa de Nuzman tem Paulo Wanderley Teixeira como vice. Presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Teixeira está sendo preparado para comandar o COB após 2020, quando Nuzman não poderá mais concorrer.

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Em seu discurso de posse, Carlos Arthur Nuzman anunciou que Agberto Guimarães, quarto colocado nos 800m rasos em Moscou-1980 e diretor de Esportes do Comitê Rio-2016, será o novo diretor executivo de Esportes do COB, cargo que era ocupado por Marcus Vinicius Freire até a última Olimpíada, na qual o Time Brasil não atingiu a meta de ser Top 10 no número total de medalhas.

"Vamos ter muito trabalho pela frente", afirmou Nuzman. "Não é em pouco tempo que se transforma uma entidade em vencedora", prosseguiu o dirigente que completará 25 anos à frente do COB se concluir o novo mandato, em 2020.

VOTAÇÃO - No início da assembleia, Nuzman pediu um minuto de silêncio em homenagem ao ex-presidente da Fifa João Havelange, falecido em agosto aos 100 anos. Membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) por 48 anos, Havelange renunciou ao cargo em 2011 alegando problemas de saúde em meio a uma investigação do comitê de ética da entidade. O dirigente teve papel ativo na candidatura do Rio para ser sede dos Jogos Olímpicos deste ano.

Das trinta confederações com direito a voto, quatro não enviaram representantes (Desportos no Gelo, Desportos na Neve, Tae Kwon Do e Tiro com Arco). O pleito ainda contou com os votos de três membros natos do COB - incluindo Nuzman. Presidente da Comissão de Atletas do comitê, o ex-jogador de vôlei de praia Emanuel Rêgo enviou carta apoiando a reeleição do dirigente.

Apesar da (quase) aclamação, a reeleição de Nuzman corre o risco de ser anulada pela Justiça. Principal opositor do dirigente, Alaor Azevedo, que preside a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), chegou a ter duas liminares a seu favor deferidas pela Justiça do Rio. Ele entrou com ação questionando o prazo exigido pelo COB - 30 de abril - para o registro de candidaturas numa eleição que ocorreria só no último trimestre. As liminares foram derrubadas em agosto, mas o mérito da ação ainda será julgado.

Menos de duas semanas após encerrar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) anunciou nesta sexta-feira (2) a saída de Marcus Vinícius Freire de sua diretoria executiva de Esportes. O dirigente foi o principal responsável por definir a meta de colocar o Brasil no Top 10 do quadro de medalhas do Rio-2016, mas a equipe brasileira encerrou a competição na 12º colocação, empatada com a Holanda.

Nos Jogos do Rio, o Brasil conquistou 19 medalhas, duas a mais do que em Londres-2012. O resultado ficou abaixo da meta estipulada pelo próprio Marcus Vinícius, que em 2014 considerou que o País precisaria conquistar pelo menos 27 medalhas para ficar entre os dez melhores no número de pódios. No ano passado, esta meta foi revista para 23 medalhas, mas mesmo assim o Brasil não conseguiu alcançar o objetivo.

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Segundo comunicado divulgado pelo COB nesta sexta, a saída de Marcus Vinícius, que estava há 18 anos no comitê, foi realizada "em comum acordo". Na nota, o presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, afirma que "a missão desenvolvida por Marcus Vinícius e sua equipe, na preparação e na condução do Time Brasil, durante os Jogos Olímpicos Rio-2016, foi excelente e cumpriu os objetivos estabelecidos".

Freire também falou em "missão cumprida". O agora ex-dirigente disse que "os resultados foram superiores a todos os anteriormente conquistados em Jogos Olímpicos" e que iria seguir novos caminhos. Marcus Vinícius afirmou que irá tirar um período de descanso e, no início do próximo ano, deverá fazer um curso na Singularity University, no Vale do Silício, nos Estados Unidos.

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