Depois de meses de acusações e das promessas da Fifa de que a corrupção seria atacada, a entidade conclui que a Copa de 2022 ocorrerá no Catar e que o torneio mais polêmico em décadas vai ser mantido no Oriente Médio. A Rússia, que literalmente destruiu suas provas e não colaborou com as investigações, também foi inocentada no processo para a Copa de 2018.
Mas um amistoso entre Brasil e Argentina no Catar, em 2010, foi destacado como tendo sido organizado para fazer parte de um esquema para transferir dinheiro para a Associação de Futebol da Argentina por parte de um "conglomerado" catariano.
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Sem credibilidade e escondendo cerca de 200 mil páginas do processo, a Fifa espera que a decisão desta quinta-feira encerre de uma vez por todas a crise na entidade. Mas, ao contrário do que tinha anunciado de que o texto era sigiloso, o organismo confirmou à reportagem que enviou para "alguns meios de comunicação" o informe na noite de quarta. Da totalidade do processo, apenas 42 páginas sem os nomes dos envolvidos foi divulgado.
Em uma declaração emitida na manhã desta quinta-feira e depois de dois anos de investigações, o juiz supostamente independente da Fifa, Hans Eckert, apenas cita a necessidade de punir alguns cartolas e fortalecer o processo de seleção a partir da Copa de 2026. Mas não haverá um novo voto para escolher uma nova sede e nem os organizadores do Catar ou Rússia serão punidos.
A Fifa confirma que empresários e cartolas do Catar de fato pagaram cerca de R$ 12 milhões para conseguir apoio. Mas o juiz não recomenda que haja um novo processo de seleção e a entidade não acredita que os incidentes são graves o suficiente para justificar tirar a Copa do país do Golfo Pérsico.
"Assumir que envelopes cheios de dinheiro são dados em troca de votos é ingenuidade", escreveu o juiz. Segundo ele, as quebras nas regras do processo de seleção foram "muito limitadas em sua abrangência".
"A avaliação do processo de escolha das sedes está encerrada para o Comitê de Ética da Fifa", declarou. Segundo ele, as violações que ocorreram não foram suficientes para justificar um retorno ao voto "e muito menos reabrir os processos". Para Eckert, o processo foi "robusto e profissional".
A Fifa, obviamente, comemorou e deixou claro que as especulações de que o presidente da entidade, Joseph Blatter, queria tirar a Copa do Catar não passavam de manipulações na imprensa para tentar limpar seu nome.
"As investigações não encontraram nenhuma violação das regras", declarou a entidade em um comunicado. "Portanto, a Fifa espera continuar o trabalho para a Copa de 2018 e 2022, que estão em bom caminho", declarou.
O investigador que passou dois anos apurando o caso, Michael Garcia, teria ficado profundamente irritado com as conclusões do juiz alemão. Se não bastasse, o anúncio ocorre justamente quando Catar e Rússia estão organizando nesta quinta, em Moscou, um evento conjunto para mostrar a importância de seus países no futebol. A Fifa também chancelou o evento.
No documento, a Fifa apenas acusa cartolas que já não têm relações com o futebol, como Jack Warner, Mohammed bin Hammam, Chuck Blazer e Reynald Temarii. Todos esses já foram punidos no passado. Os atuais dirigentes e outros como Ricardo Teixeira, porém, não têm seus nomes revelados e processos poderão começar a partir de agora.
Um dos pontos centrais da investigação era o papel de Bin Hammam, do Catar. Ex-vice-presidente da Fifa, ele atuava tanto como membro da entidade como também fazendo parte dos planos do país para sediar a Copa.
No informe, a Fifa constata que de fato Bin Hammam distribuiu dinheiro a outros cartolas. Mas a investigação não conseguiu provas suficientes para ligar os pagamentos à compra de votos para o Catar.
No caso da Rússia, a entidade também dá sinal verde. Mas deixa claro que houve uma falha na cooperação. Moscou alegou que seu sistema informático "limpou" todos os e-mails entre os cartolas e dirigentes.
Com a decisão desta quinta, a Fifa fica livre para processar cartolas individuais. Mas encerra o debate sobre onde serão as duas próximas Copas do Mundo.
No caso da investigação sobre a Rússia, os documentos revelam que os organizadores simplesmente destruíram os computadores onde estavam os arquivos e alegaram que não poderiam passar os e-mails enviados porque o Google não havia autorizado.
BRASIL - O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi um dos investigados. Mas, no resumo de 42 páginas do processo, nenhum nome é citado. A Fifa, porém, deixa claro que o amistoso entre o Brasil e Argentina em novembro de 2010 no Catar foi realizado com o objetivo de transferir recursos para cartolas.
Segundo a investigação, uma empresa que pertencia a um conglomerado do Catar "financiou o evento". "Um rico sócio da entidade do Catar organizou o apoio, supostamente para fazer lobby por um investimento no setor do esporte", indicou o informe.
Segundo os organizadores da Copa de 2002, a entidade que pagou pelo evento não tem relação com o torneio da Fifa e nem com a Associação de Futebol do Catar. De acordo com esses dirigentes, "o fundo para organizar o jogo não veio do Catar/2022 e nem da Associação e o total pago para financiar o jogo era comparável às taxas que se pagam por outros jogos envolvendo times de elite".
Apesar da versão dos dirigentes, a investigação indicou que os contratos para o jogo podem ser violações do Código de Ética da Fifa. "O financiamento do evento e sua estrutura contratual levantam, em parte, preocupações em particular em relação a certos arranjos relacionados com pagamentos para a Associação de Futebol da Argentina". Para os investigadores, entretanto, os acordos "não estão conectados com a campanha do Catar para a Copa de 2022".
Naqueles mesmos dias de novembro de 2010, Teixeira assinaria uma extensão do contrato com uma empresa árabe, a ISE, prolongando os direitos da companhia até 2022 para organizar os amistosos da seleção brasileira. Teixeira declarou ainda que votou pelo Catar e era um aliado de Bin Hammam.
INGLATERRA - Se o Catar e a Rússia foram absolvidos, a Fifa não economizou críticas contra a Inglaterra, acusando de não colaborar nas investigações e tendo distribuído presentes, como bolsas, aos cartolas e suas esposas. A candidatura de Portugal e Espanha para a Copa de 2018 também não colaborou com o processo.