O número de mortes e pessoas contaminadas com o vírus COVID-19 aumentou drasticamente nesta quinta-feira (13), depois que as autoridades chinesas mudaram a maneira como registraram os casos, um gesto que deve alimentar especulações sobre a gravidade da epidemia.
A província chinesa de Hubei, epicentro da epidemia, registrou 242 novas vítimas fatais em apenas um dia e com isso elevou a mais de 1.355 o número mortos no país, informaram as autoridades locais.
As autoridades sanitárias chinesas também confirmaram 14.840 novos casos de contágio em Hubei, onde a epidemia foi identificada em dezembro, elevando a cerca de 60.000 o total de portadores da doença.
O salto enorme no número de contaminados ocorre depois que as autoridades locais anunciaram que estavam mudando a forma de diagnosticar os casos do COVID-19.
Em um comunicado, a comissão de saúde de Hubei, que agora inclui na contagem de casos oficiais que foram "diagnosticados clinicamente".
Isso significa que as imagens de pulmão em casos suspeitos podem ser considerados suficientes para diagnosticar o vírus, em vez de testes padrão de ácido nucleico.
Segundo a Comissão de Saúde de Hubei, a mudança significa que os pacientes podem receber tratamento "o mais rápido possível" e ser "consistentes" com a classificação usada em outras províncias.
A entidade acrescentou que havia feito a mudança "à medida que nossa compreensão da pneumonia causada pelo novo coronavírus se aprofunda e à medida que acumulamos experiência em diagnóstico e tratamento".
- Milhões em quarentena -
O governo chinês colocou praticamente 56 milhões de pessoas em uma quarentena gigantesca na província de Hubei, e especialmente na capital, Wuhan, além de restringir os movimentos de vários milhões a mais em várias cidades.
Trata-se de um grande esforço tentar conter a propagação da epidemia.
O presidente da China, Xi Jinping, presidiu na quarta-feira uma reunião com as lideranças do Partido Comunista depois da divulgação de números que indicavam uma redução nos casos confirmados pelo segundo dia consecutivo.
O país não deve, no entanto, "baixar" a guarda nesta "grande guerra", disse Xi, durante a reunião do Partido Comunista, informou a televisão pública da CCTV.
A China recebeu elogios da Organização Mundial da Saúde (OMS) pela transparência na gestão da crise da saúde, mas, no entanto, as autoridades ainda enfrentam um ceticismo por parte da população.
Autoridades sanitárias de Hubei foram severamente questionadas sobre o atraso na resposta aos alertas iniciais sobre a epidemia, e os dois maiores responsáveis foram sumariamente demitidos de seus cargos.
Nesse contexto, a nova metodologia adotada pelas autoridades para definir os casos confirmados alimentaria as suspeitas de que o total de diagnósticos positivos estaria subestimado.
Ainda nesta quinta-feira, a agência de notícias chinesa Xinhua anunciou que o secretário do Partido Comunista em Hubei, Jiang Chaoliang, foi sumariamente afastado do cargo e substituído pelo prefeito de Xangai, Ying Yong.
Zhong Nanshan, um renomado cientista da Comissão de Saúde, estima que a epidemia deve atingir o pico "em meados ou no final de fevereiro".
Em Genebra, Michael Ryan, chefe do departamento de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou horas depois que acreditava "que é cedo demais para tentar prever o (...) fim dessa epidemia".
Já o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que "o número de novos casos relatados na China se estabilizou durante a última semana", mas o dado "deve ser interpretado com extrema cautela". "Essa epidemia pode ir em qualquer direção", alertou Tedros.
- "Repercussão negativa" --
Também nesta quinta, o ministro da Saúde do Japão, Katsunobu Kato, informou que exames laboratoriais confirmaram 44 novos casos de contaminação com COVID-19 entre pessoas em quarentena a bordo de um cruzeiro de luxo que está atracado na costa japonesa.
Kato indicou que foram realizados 221 novos exames de laboratório entre os passageiros do Diamond Princess, sendo que 44 foram diagnosticados com o vírus, elevando a 218 o número de casos de contaminação nessa embarcação que está ancorada perto de Tóquio.
A epidemia ou o temor internacional de contágio levou os organizadores do World Mobile Congress (WMC), salão mundial da telefonia móvel de Barcelona, a cancelar nesta quarta este grande evento do setor, que estava previsto para entre 24 e 27 de fevereiro na cidade espanhola.
"O WMC Barcelona 2020 foi cancelado porque a preocupação mundial com a epidemia do coronavírus, a preocupação sobre as viagens e outras circunstâncias tornam impossível a organização" do congresso, afirmou em nota a GSMA (órgão comercial que representa os interesses das operadoras de redes móveis em todo o mundo), responsável pelo evento.
O cancelamento foi um duro golpe para Barcelona, que contava com receber mais de 110.000 visitantes, faturar 492 milhões de euros e gerar mais de 14.000 empregos.
Mais cedo, a Federação Internacional do Automóvel (FIA) anunciou o adiamento do Grande Prêmio da China de Fórmula 1, previsto inicialmente para ser realizado em 19 de abril, em Xangai.
Em Paris, o estilista chinês Jarel Zhang anunciou o cancelamento de seu desfile em março na Semana de Moda de Paris "para garantir a boa saúde e segurança dos dois países e reduzir o número de contatos".
Dado o peso econômico e a posição da China nas redes de suprimento globais, o vírus está afetando empresas em vários setores ao redor do mundo.
Diversos países proibiram o desembarque de passageiros da China, enquanto as principais companhias aéreas suspenderam voos para esse país.
A Administração de Aviação Civil da China (CAAC) pediu nesta quarta-feira que essas restrições sejam levantadas, apontando seu "impacto negativo" no setor aéreo e na economia mundial, segundo a agência chinesa Xinhua.
A companhia aérea Air China anunciou nesta quarta-feira (12) que cancelará vários voos entre Atenas e Pequim devido à epidemia do novo coronavírus, informou a agência de notícias grega Ana.
As conexões aéreas realizadas três vezes por semana entre as duas capitais serão suspensas durante o mês de fevereiro por razões de "saúde pública", destacou a fonte, acrescentando que serão mantidos apenas dois voos, de 15 e 29 de fevereiro.
Para o mês de março, a empresa informou que realizaria apenas quatro voos.
Além de isolar Hubei, as autoridades chinesas restringiram movimentos em outras cidades distantes do epicentro em seus esforços sem precedentes para conter o vírus.
A economia nacional permanece em grande parte paralisada, apesar do tímido retorno ao trabalho nesta semana. Muitos alunos acompanham as aulas através da internet e muitos funcionários foram orientados a trabalhar de casa.