Em meio ao sobe e desce de ladeiras, som das orquestras e da alegria compartilhada pelos fantasiados, outro sentimento é quase unânime em relação ao período do carnaval: a insegurança. No sentido oposto dos animados arrastões dos blocos, arrastões para assaltar compõem a face negativa da festa de Momo. Na rua, em pontos de ônibus ou durante os shows, o medo é tanto que muitas pessoas desistem de brincar exclusivamente por conta da violência.
Esta é uma das constatações da pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN), sobre a expectativa do recifense quanto à comemoração. Dos 624 entrevistados, 62,7% não pretendem brincar o carnaval este ano. Deste grupo, 18,5% garantiram que o principal motivo para evitar sair às ruas é a violência característica da época. Questionada sobre o que poderia melhorar o carnaval de Recife e Olinda, mais da metade da população citou “mais segurança” (52,8%) como medida fundamental.
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Moradora do bairro de Guadalupe (forte foco de agremiações durante o período carnavalesco), em Olinda, Patrícia Lins afirma que nem sai de casa. “De casa eu vejo, é muito arrastão, sempre tem confusão. E eu acredito que ainda tem mais problema nas prévias do que nos próprios dias de carnaval”, acredita Patrícia. Aos 15 anos, a estudante Alícia Mucarbel diz que já brincou muito, mas agora fica em casa ou vai à praia. “É muito violento, as pessoas bebem muito e aí tem muita confusão”.
Quando a reportagem do Portal LeiaJá o abordou, o assistente administrativo Marcos Castelo Branco comprava adereços de carnaval, na Rua das Calçadas, centro do Recife; porém, o recifense não confirmou se realmente vai participar do festejo. “Eu mesmo já fui vítima, estava nas Virgens e, quando vi, tinham tirado tudo da minha capanga (um tipo de pochete). Depois encontrei os documentos, mas levaram todo o dinheiro”, disse.
Para a maioria (35,6%) dos moradores da capital pernambucana escutados na pesquisa, o principal resultado do carnaval, para a cidade, é a violência. Número superior àqueles que consideram o turismo, o desenvolvimento econômico ou mesmo a diversão da folia como principais frutos da semana carnavalesca. A professora aposentada Jani Lira é nostálgica. “Antes eu vivia no Galo, nas Virgens, era sadio, não tinha nada disso”. Hoje, a olindense só participa de prévias destinadas à terceira idade.
Segurança pública – Governo do Estado e Prefeitura do Recife não quiseram adiantar quais serão as medidas para combater a violência, a partir do sábado de Zé Pereira (1° de março). Uma reunião, ainda sem data divulgada, será realizada pela Secretaria de Defesa Social do Estado (SDS-PE) para definir as diretrizes aos órgãos de segurança pública.
Na terça-feira (11), foi divulgado o esquema de segurança para as prévias dos dois fins de semana que antecedem o carnaval 2014. Ao todo, serão mobilizados mais de 3 mil policiais militares, civis, bombeiros e peritos da polícia científica.
No carnaval de 2013, o balanço da SDS confirmou o número de 53 mortos em todo o Estado, sendo 20 homicídios na Região Metropolitana do Recife e dez no Recife. Mesmo com uma redução de 15,7% em relação a 2012, o número é alto e afasta muita gente das ruas. A expectativa, tanto para os foliões como para quem não gosta da festa, é uma só: que esse número seja diminuído ao máximo e o carnaval 2014 seja, de fato, um período de alegria e paz.