Tópicos | Culpa da crise

Candidato à reeleição, o governador Paulo Câmara (PSB) tem reforçado promessas feitas em 2014, quando foi eleito, mas que não foram cumpridas durante o primeiro mandato. Um dos compromissos anunciados na última campanha que é motivo de polêmicas, vez ou outra nas redes sociais, é a instalação do bilhete único para o transporte público na Região Metropolitana do Recife. Indagado sobre esse assunto em entrevista ao G1 dessa sexta-feira (14), Paulo Câmara reiterou a promessa caso seja eleito. 

“Não deu para cumprir 100%, mas isso é nossa meta para os próximos quatro anos”, sentenciou. Pouco antes, ele explicou porque o bilhete único ainda não foi instalado: "A gente prometeu, em 2014, o bilhete único e tarifa única, e R$ 2,15 era a referência daquele momento em termos de tarifa única. A gente não ia fazer uma tarifa única cobrando o anel mais caro. A gente ia fazer a tarifa única no anel mais barato que, naquele momento, era R$ 2,15. Hoje, nós conseguimos avançar. Hoje, 85% dos nossos passageiros pagam a tarifa mais baixa, que é R$ 3,20 e que, por acaso, é a segunda menor tarifa de ônibus do Brasil, nós só perdemos para o Maranhão, uma questão de centavos”.

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Ainda segundo o governador, no quesito transporte público, houve uma ampliação da gratuidade com a cobertura do Passe Livre Estudantil e as integrações. “Hoje cerca de 66% dos nossos usuários de transporte coletivo só pagam uma passagem e vão para qualquer lugar da Região Metropolitana”, salientou. 

O postulante do PSB ainda culpou a crise pelo atrasou dos projetos que foram prometidos em sua última campanha e reforçou que implantará o 13º salário para os beneficiários do Bolsa Família a partir de 2019.

A crise econômica que atingiu o país nos últimos anos, causando o declínio na taxa de crescimento e milhares de desempregos, causou um impacto diferenciado em cada nível social do eleitorado recifense. Ao menos é o que aponta o novo estudo qualitativo feito pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU, encomendado pelo LeiaJá em parceria com o Jornal do Commércio, divulgado neste domingo (29).

Na avaliação, em que foi verificada a opinião de eleitores recifenses sobre a atual conjuntura do país, houve unanimidade entre os entrevistados quanto à existência da crise, mas as perspectivas de atuação diante dela foram diferenciadas. Para quem é das classes A e B, por exemplo, o fator de declínio econômico “está na cabeça das pessoas” e se perpetua por causa disso.

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“Os entrevistados dizem que a crise atingiu eles em um primeiro momento. Contudo, hoje ela não mais os atinge, pois, decidiram enfrentá-la”, detalhou o cientista político e coordenador do estudo, Adriano Oliveira. Segundo ele, para esta parcela da sociedade “a crise é uma oportunidade para se reinventar”.

Foi o que aconteceu com a administradora Tatiana Veloso, de 42 anos, uma das entrevistadas pelo levantamento. Ela disse que no meio do arrefecer da economia deixou um emprego de 10 anos para empreender e abrir um brechó sustentável. “As pessoas precisam se reinventar na crise e inovar, pois é nela que surgem oportunidades. Hoje mesmo eu estou em um ramo que tem crescido, justamente por causa da crise, que são os brechós. Tem brechó que parece boutique e muitas pessoas optam por eles”, contou. 

Já os eleitores das classes C e D, de acordo com a amostra, registraram um certo “desespero” com a crise e pessimismo com a situação econômica do país, ao ponderar que estavam passando por “um momento muito difícil”.

“Eles salientam que a crise econômica atingiu a todos. Não só os pobres. Mas também os patrões, pois se ‘o pobre não compra, o rico deixa de ganhar’. Ao contrário das classes A e B, eles não afirmam que estão enfrentando a crise, mas que estão sobrevivendo diante dela. A crise econômica tem um impacto muito maior na mente e na vida dos eleitores das classes C e D”, observou o coordenador do estudo. “Quando falam em crise, não fazem referência apenas a crise econômica. Mas a crise da saúde, da segurança pública, da educação”, acrescentou Adriano Oliveira.

Para o levantamento, o Instituto UNINASSAU ouviu três grupos com recifenses das classes A e B (com salários acima de R$ 5 mil), C (entre R$ 2 mil e R$ 4 mil) e D (entre R$ 800 e R$ 1,2 mil) no dia 23  de abril. 

Os culpados pelo declínio econômico 

Se o impacto da crise teve significados diferentes para o eleitorado a partir da sua classe social, a pesquisa sugere que a responsabilidade pela existência dela tem dois culpados: os políticos e o povo. A partir dos argumentos expostos pelos entrevistados, o estudo observa que os eleitores das classes A e B apesar de culparem os políticos, ressaltam a dependência da população pelo Estado e, por isso, responsabilizam também a sociedade. 

“Diversos entrevistados das classes A e B afirmam que no Brasil existe a cultura do Estado. As pessoas estão sempre esperando pelo Estado e não fazem nada… É perceptível que os eleitores das classes A e B fazem questão de ser independentes do Estado. Ao contrário dos eleitores das classes C e D que revelam carência e que precisam do Estado para lhe ofertar bens públicos, como saúde, educação e segurança pública. E culpam, com ênfase, os políticos pela crise”, detalhou Adriano Oliveira.

Segundo Oliveira, durante o levantamento surgiu, inclusive, a menção de que para solucionar a atual conjuntura econômica seria necessária a mudança no quadro político do país, entretanto, "eles [os entrevistados] admitem que quem entra na política, se contamina [com a corrupção], e, por isto, a mudança tão desejada não é possível”. Os eleitores das classes C e D vão além e dizem que “o povo quer mudança, mas na hora de votar vende o seu voto”.

Método da pesquisa

Focada em verificar a opinião dos eleitores sobre o Brasil e a eleição presidencial, o estudo qualitativo feito pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU ouviu um recorte de três grupos recifenses e buscou identificar os sentimentos dos eleitores para com o momento do país.

“A pesquisa qualitativa possibilita que as visões de mundo, desejos e crenças dos eleitores sejam identificados e interpretados. O intérprete da pesquisa qualitativa deve decifrar os significados advindos das verbalizações dos indivíduos. A pesquisa qualitativa tem o poder de apresentar os elementos simbólicos que estão na conjuntura”, esclareceu Adriano Oliveira. 

Provocado, nesta quarta-feira (22), a avaliar numericamente a administração do prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB), o governador Paulo Câmara (PSB) concedeu uma nota oito para a atuação do correligionário. A pontuação, de acordo com Câmara, é um reflexo do cenário critico que vivem o estado e o país.

“Estamos numa crise [econômica] muito grande e ele não está conseguindo fazer tudo o que poderia. Então dez só se tivesse tudo perfeito, fazendo tudo que quisesse fazer. Ele tem restrições financeiras que fazem com que muita coisa, que eu sei que ele gostaria de fazer e tocar na cidade, ele não está fazendo por causa da grana”, justificou. “Se eu fosse me autoavaliar, eu talvez me desse menos que oito”, acrescentou.

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Para Paulo Câmara, a nota dez seria sinônimo de perfeição. “E dez não é bom ninguém ter não, porque se acomoda. É melhor ter oito e buscar ir melhorando”, pontuou, dizendo que Geraldo tem feito um “bom trabalho” dentro das condições atuais. 

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