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No idioma mayoruna, um jovem alerta por rádio comunicador a presença de "nauas" (não indígenas) no Rio Itaquaí, na Amazônia, dentro de terra indígena. Um kanamari põe no céu um drone e documenta a invasão do território protegido. Em pouco tempo, a polícia terá em mãos o flagrante e a identificação dos caçadores. É a vigilância indígena, que passou a subsidiar a fiscalização oficial e a impor derrotas ao crime dentro da floresta.

Por trás do trabalho de ensinar matises, kanamaris, mayorunas, kulinas e marubos a operar uma parafernália tecnológica que muitos nunca tinham visto está o indigenista Bruno Pereira, desaparecido desde o último dia 5. A pedagogia foi inspirada na técnica de trabalhar com desenhos que os Médicos Sem Fronteiras usam para ensinar procedimentos a tribos da África. "O Bruno ia com a gente pelo mato, ensinava tudo. A gente trabalha aqui no risco, de noite e de dia para cuidar da nossa terra de todos pescadores e de tudo", contou um mayoruna que, por medo da reação de criminosos, pediu para não ser identificado.

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A vigilância começou a ganhar corpo em setembro de 2021 e em pouco tempo os cerca de vinte indígenas treinados já deram resultados. Bruno queria expandir o projeto para o Maranhão. Além de prejuízos financeiros a caçadores e a pescadores ilegais, eles têm subsidiado a fiscalização em Atalaia do Norte, Tabatinga e Manaus (AM). Ao desaparecer, Bruno Pereira levava à Polícia Federal um novo conjunto de diários, fotos, vídeos e informações georreferenciadas feitos pela equipe.

A ideia nasceu de uma demanda conjunta dos povos do Vale do Javari como solução ao arquivamento de denúncias por "falta de informações qualificadas". O monitoramento se mostrou necessário por um motivo vital. Os infratores adentram os territórios preservados em busca principalmente de tracajás, pirarucus e antas para vender no mercado paralelo. "São recursos vitais para os irmãos isolados que vivem ali. Estão vulnerabilizando os parentes marubos e temos informações de que está faltando comida para os Korubos", diz Beto Marubo, principal liderança indígena do Javari, que atua em parceria com Bruno. Como revelou o Estadão ontem, Marubo anda escoltado e está ameaçado de morte.

A equipe de vigilância indígena agora está dedicada a descobrir o paradeiro de Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ontem, a melhor pista era um trecho de mata revirada na calha do Itaquaí. Até o fim do dia, nenhum sucesso. A Polícia Federal periciou o freezer de pescados de uma embarcação, mas não apresentou avanços.

Apesar de toda a movimentação militar, os indícios de atividade ilegal não param no extremo da Amazônia, na fronteira com o Peru. Um irmão do único suspeito de ligação com o desaparecimento tem percorrido as imediações da base móvel da equipe de vigilância. "O Caboclo está aqui, o freezer dele parece estar cheio de pirarucu. Avisa a polícia e pede pra fazer uma revista, ele está perto do furo do Itaquaí", alertou um kanamari.

TESOURO. A riqueza extraída por causa de uma fiscalização deficitária é imensurável. Há muito mais riqueza que peixes, ouro e madeira nos rios e florestas do Vale do Javari. Com recentes descobertas de áreas de nióbio, potássio, manganês e óxido de tântalo em outras regiões da Amazônia, o território indígena no extremo oeste do País onde atua o indigenista Bruno Pereira voltou a atrair a cobiça internacional. Possíveis campos de extração de gás e óleo na reserva de 85 mil quilômetros quadrados foram mapeados ainda nos anos 1980, quando a Petrobras realizou pesquisas de campo.

A ofensiva pelas riquezas do Javari tem outras frentes conhecidas. A atuação de dragas para garimpar ouro, a pesca de espécies raras como o pirarucu, um dos maiores peixes brasileiros, e o comércio de madeira são as mais visíveis delas. Essa cadeia econômica criminosa na região de Tríplice Fronteira tem como liga o tráfico de drogas, que despeja dinheiro e armas pesadas nos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin Constant.

Bruno Pereira esteve envolvido em todas as mais recentes operações contra o crime ambiental nessa região do Alto Solimões. Em 2019, coordenou a missão policial que resultou na destruição de mais de 40 dragas, um duro golpe no mercado do garimpo. Pouco depois, perdeu a coordenação que ocupava na Fundação Nacional do Índio (Funai) e passou a atuar voluntariamente na União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

PASSO A PASSO. A última expedição começou em 2 de junho, uma quinta-feira, quando subiu o Itaquaí para se reunir com a equipe de vigilância indígena, na companhia do jornalista inglês, colaborador do The Guardian que percorre a Amazônia para a produção de um livro. Como os "nauas" não podem entrar no território demarcado, o encontro foi na comunidade do Lago do Jaburu.

No domingo, 5, desceriam o Itaquaí e o Javari com novos dossiês. Tinha uma agenda prevista com a Polícia Federal em Tabatinga. No caminho, parou em uma das comunidades conhecidas por servir de entreposto para narcotraficantes e exploradores para conversar com uma liderança local. E sumiu.

Pouco antes, Amarildo Costa, o Pelado, suspeito preso, passou de barco acompanhando por um outro caçador fazendo intimidações. O Estadão localizou uma das testemunhas que prestou depoimento à Polícia Civil. "Eles levantaram as armas e um deles tinha uma cartucheira na cintura, que não é comum. Eles foram filmados. O Bruno ia levar o vídeo pra PF e agora sumiu tudo", diz a testemunha kanamari.

IDH. O prefeito de Atalaia do Norte (AM), Denis Paiva (PSC), negou vínculo com Pelado, único preso por suspeita de ligação com o desaparecimento. Ele visitou a casa do suspeito após a prisão e o procurador municipal chegou a assumir temporariamente a defesa. "Meu histórico não permite isso, meu caráter não permite isso. Quem me conhece sabe. As pessoas querem induzir, colocar palavras na nossa boca. Eu o conhecia, sim. Se disser que não, estou mentindo. Mas não tinha amizade, de compadre, de ele ir na minha casa e eu ir na casa dele", disse.

Atalaia do Norte tem o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil (IDH) e o pior do estado do Amazonas. A cidade, afastada do Peru somente pelo rio Javari, é pacata, mas tem um entorno conhecido pela intensa movimentação de infratores. Há influência de narcotraficantes brasileiros, peruanos e colombianos, segundo policiais e pesquisadores. O prefeito reclama do desamparo dos órgãos federais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, afirmou, nesta terça-feira (14), que a busca pelo paradeiro do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips prosseguirá até se "esgotarem todas as possibilidades". Os dois desapareceram na manhã do dia 5 de junho quando se deslocavam da comunidade São Rafael para Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas.

"É uma região extremamente complicada, extremamente distante da capital, Manaus. As buscas continuam, desde o primeiro momento o governo federal colocou as Forças Armadas, a Polícia Federal, a própria Funai (para atuarem nas buscas). Os órgãos estão trabalhando em conjunto com os órgãos estaduais", disse Torres nesta terça, após participar da cerimônia de posse do novo superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

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A declaração do ministro veio um dia após o jornal britânico 'The Guardian' publicar relato de familiares de Dom Phillips, segundo os quais diplomatas brasileiros disseram a eles que os corpos de ambos haviam sido localizados na selva. A PF emitiu nota negando a informação.

"As buscas continuam, como eu me comprometi. Eu estive com a ministra do Reino Unido (Vicky Ford) nos Estados Unidos, conversamos sobre o assunto e me comprometi de que tudo que estiver ao alcance do governo brasileiro será feito. Nós não esgotaremos os trabalhos antes de esgotarem todas as possibilidades de busca naquela região", afirmou.

A família do jornalista britânico Dom Phillips divulgou, na manhã desta terça-feira (14), um comunicado com esclarecimentos sobre as informações que recebeu na segunda-feira (13), sobre a suposta descoberta dos corpos do repórter e do indigenista Bruno Pereira, desmentida pela Polícia Federal em seguida.

Assinado por irmãos, esposa, cunhados e sobrinhos de Phillips, o texto diz que a família recebeu uma ligação de Roberto Doring, da embaixada brasileira em Londres, às 8h30 da manhã da segunda-feira, no horário de Londres.

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O ministro-conselheiro teria informado que dois corpos haviam sido encontrados, mas que ainda não havia identificação. O parecer foi compartilhado pela família com jornalistas da emissora Globonews. "No momento, às 8h30 do Reino Unido em 14 de junho, não temos atualização dessa informação e, para complicar nossa situação já angustiante, fomos informados de forma confiável que a Polícia Federal no Brasil está contradizendo isso", diz a nota.

"Só podemos esperar que, com o tempo, entendamos o que aconteceu", afirma o comunicado, divulgado em inglês.

A Polícia Federal divulgou nota negando a localização dos corpos. A corporação disse ter encontrado "materiais biológicos" que foram encaminhados para perícia, como já havia sido comunicado anteriormente. A expectativa é que o resultado da perícia desses materiais seja concluída ainda esta semana.

Vaquinha

Junto ao comunicado, a família de Phillips divulgou uma vaquinha para levantar fundos na ausência do jornalista. "Neste momento trágico, em que essas famílias têm tanto com que se preocupar, o dinheiro não deveria ser mais uma preocupação. Dom, Bruno (Pereira), Alê (Alessandra Sampaio, mulher de Dom), Beatriz (Matos, mulher de Bruno) e seus filhos precisam de nossa ajuda não só para pagar as contas, mas também para cobrir novos custos que vão surgindo à medida que continuam as buscas. Mesmo a menor doação é valiosa. Juntos podemos mostrar que essas almas corajosas não estão sozinhas e que estamos unidos por trás delas."

Leia a íntegra do comunicado

Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram durante uma viagem de pesquisa à região do Javari, na Amazônia brasileira, em 5 de junho de 2022.

Desde então, acompanhamos os desdobramentos, que incluem relatos de achados de objetos pessoais e roupas e agradecemos a todos que participaram da busca, mesmo sob condições difíceis.

Na manhã de segunda-feira, 13 de junho, por volta das 8h30, horário do Reino Unido, membros da família de Dom Phillips residentes no Reino Unido foram contatados por Roberto Doring, da Embaixada do Brasil em Londres, para saber de uma atualização que ele havia recebido de uma fonte oficial brasileira. Fomos informados por telefone que dois corpos haviam sido encontrados, mas que (por ser ainda de manhã cedo no Brasil) nenhuma identificação havia ocorrido.

Neste momento, às 8h30, horário do Reino Unido, em 14 de junho, não temos atualização para essa posição e, para complicar nossa situação já angustiante, fomos informados de forma confiável que a Polícia Federal no Brasil está contradizendo isso.

Só podemos esperar que na plenitude do tempo entendamos o que aconteceu.

Estamos optando por não dar entrevistas à mídia sobre a situação atual e oferecemos esta declaração com a esperança de que explique o que sabemos e mostre os desafios que enfrentamos para entender o que aconteceu.

No devido tempo, ofereceremos nossa perspectiva sobre as vidas corajosas e o trabalho importante desses homens notáveis. Por enquanto, a vida continua para os que ficaram para trás e chamamos a atenção para nosso financiamento coletivo de emergência.

Agradecemos às muitas pessoas que se juntaram a nós para instar as autoridades a intensificar as buscas, bem como àqueles que estenderam a mão com palavras de conforto.

Emitido pelos seguintes membros da família (ligação com Dom Phillips entre parênteses):

Sian Phillips (irmã)

Gareth Phillips (irmão)

Paul Sherwood (cunhado)

Helen Davies (cunhada)

Domonique Davies (sobrinha)

Rhiannon Davies (sobrinha)

No idioma mayoruna, um jovem alerta por rádio comunicador a presença de "nauas" (não indígenas) no Rio Itaquaí, na Amazônia, dentro de terra indígena. Um kanamari põe no céu um drone e documenta a invasão do território protegido. Em pouco tempo, a polícia terá em mãos o flagrante e a identificação dos caçadores. É a vigilância indígena, que passou a subsidiar a fiscalização oficial e a impor derrotas ao crime dentro da floresta.

Por trás do trabalho de ensinar matises, kanamaris, mayorunas, kulinas e marubos a operar uma parafernália tecnológica que muitos nunca tinham visto está o indigenista Bruno Pereira, desaparecido desde o último dia 5. A pedagogia foi inspirada na técnica de trabalhar com desenhos que os Médicos Sem Fronteiras usam para ensinar procedimentos a tribos da África. "O Bruno ia com a gente pelo mato, ensinava tudo. A gente trabalha aqui no risco, de noite e de dia para cuidar da nossa terra de todos pescadores e de tudo", contou um mayoruna que, por medo da reação de criminosos, pediu para não ser identificado.

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A ideia nasceu de uma demanda conjunta dos povos do Vale do Javari como solução ao arquivamento de denúncias por "falta de informações qualificadas". O monitoramento se mostrou necessário por um motivo vital. Os infratores adentram os territórios preservados em busca principalmente de tracajás, pirarucus e antas para vender no mercado paralelo. "São recursos vitais para os irmãos isolados que vivem ali. Estão vulnerabilizando os parentes marubos e temos informações de que está faltando comida para os Korubos", diz Beto Marubo, principal liderança indígena do Javari, que atua em parceria com Bruno. Como revelou o Estadão ontem, Marubo anda escoltado e está ameaçado de morte.

A equipe de vigilância indígena agora está dedicada a descobrir o paradeiro de Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ontem, a melhor pista era um trecho de mata revirada na calha do Itaquaí. Até o fim do dia, nenhum sucesso. A Polícia Federal periciou o freezer de pescados de uma embarcação, mas não apresentou avanços.

Apesar de toda a movimentação militar, os indícios de atividade ilegal não param no extremo da Amazônia, na fronteira com o Peru. Um irmão do único suspeito de ligação com o desaparecimento tem percorrido as imediações da base móvel da equipe de vigilância. "O Caboclo está aqui, o freezer dele parece estar cheio de pirarucu. Avisa a polícia e pede pra fazer uma revista, ele está perto do furo do Itaquaí", alertou um kanamari.

TESOURO. A riqueza extraída por causa de uma fiscalização deficitária é imensurável. Há muito mais riqueza que peixes, ouro e madeira nos rios e florestas do Vale do Javari. Com recentes descobertas de áreas de nióbio, potássio, manganês e óxido de tântalo em outras regiões da Amazônia, o território indígena no extremo oeste do País onde atua o indigenista Bruno Pereira voltou a atrair a cobiça internacional. Possíveis campos de extração de gás e óleo na reserva de 85 mil quilômetros quadrados foram mapeados ainda nos anos 1980, quando a Petrobras realizou pesquisas de campo.

A ofensiva pelas riquezas do Javari tem outras frentes conhecidas. A atuação de dragas para garimpar ouro, a pesca de espécies raras como o pirarucu, um dos maiores peixes brasileiros, e o comércio de madeira são as mais visíveis delas. Essa cadeia econômica criminosa na região de Tríplice Fronteira tem como liga o tráfico de drogas, que despeja dinheiro e armas pesadas nos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin Constant.

Bruno Pereira esteve envolvido em todas as mais recentes operações contra o crime ambiental nessa região do Alto Solimões. Em 2019, coordenou a missão policial que resultou na destruição de mais de 40 dragas, um duro golpe no mercado do garimpo. Pouco depois, perdeu a coordenação que ocupava na Fundação Nacional do Índio (Funai) e passou a atuar voluntariamente na União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

PASSO A PASSO. A última expedição começou em 2 de junho, uma quinta-feira, quando subiu o Itaquaí para se reunir com a equipe de vigilância indígena, na companhia do jornalista inglês, colaborador do The Guardian que percorre a Amazônia para a produção de um livro. Como os "nauas" não podem entrar no território demarcado, o encontro foi na comunidade do Lago do Jaburu.

No domingo, 5, desceriam o Itaquaí e o Javari com novos dossiês. Tinha uma agenda prevista com a Polícia Federal em Tabatinga. No caminho, parou em uma das comunidades conhecidas por servir de entreposto para narcotraficantes e exploradores para conversar com uma liderança local. E sumiu.

Pouco antes, Amarildo Costa, o Pelado, suspeito preso, passou de barco acompanhando por um outro caçador fazendo intimidações. O Estadão localizou uma das testemunhas que prestou depoimento à Polícia Civil. "Eles levantaram as armas e um deles tinha uma cartucheira na cintura, que não é comum. Eles foram filmados. O Bruno ia levar o vídeo pra PF e agora sumiu tudo", diz a testemunha kanamari.

IDH. O prefeito de Atalaia do Norte (AM), Denis Paiva (PSC), negou vínculo com Pelado, único preso por suspeita de ligação com o desaparecimento. Ele visitou a casa do suspeito após a prisão e o procurador municipal chegou a assumir temporariamente a defesa. "Meu histórico não permite isso, meu caráter não permite isso. Quem me conhece sabe. As pessoas querem induzir, colocar palavras na nossa boca. Eu o conhecia, sim. Se disser que não, estou mentindo. Mas não tinha amizade, de compadre, de ele ir na minha casa e eu ir na casa dele", disse.

Atalaia do Norte tem o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil (IDH) e o pior do estado do Amazonas. A cidade, afastada do Peru somente pelo rio Javari, é pacata, mas tem um entorno conhecido pela intensa movimentação de infratores. Há influência de narcotraficantes brasileiros, peruanos e colombianos, segundo policiais e pesquisadores. O prefeito reclama do desamparo dos órgãos federais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) decidiram em assembleia na tarde desta segunda-feira, 13, pela realização de uma paralisação de 24 horas a partir das 9h desta terça, dia 14.

Para evitar a que as atividades sejam suspensas, os indigenistas pedem que o presidente da Funai, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, retire declarações feitas contra o indigenista Bruno Pereira. Servidor licenciado da Funai, Ribeiro está desaparecido desde a manhã do domingo passado, dia 5, na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado do Amazonas. Ele estava acompanhado do jornalista britânico Dom Phillips.

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A deflagração da greve foi decidida pelas principais entidades que representam os servidores da Funai: a Indigenistas Associados (INA); a Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef); o Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal (Sindsep); e a Confederação dos Trabalhadores no serviço Público Federal (Condsef).

Além da retratação, os indigenistas querem que o governo federal garanta a segurança de seus servidores, enviando agentes de segurança para as bases remotas do órgão junto às comunidades indígenas no Vale do Javari; e o reforço destas bases com o envio de uma força-tarefa para a região.

Nos últimos dias, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, passou a dizer em entrevistas que Bruno Pereira não tinha as autorizações necessárias para entrar em terras indígenas como a do Vale do Javari - na verdade, Bruno pediu autorização à Coordenação Regional da Funai na região, seguindo as diretrizes do próprio órgão.

Na última sexta-feira, dia 10, a Funai chegou a publicar nota oficial dizendo que Bruno não tinha autorização adequada para visitar o local acompanhado do jornalista britânico. "No caso do indigenista, foi emitida autorização em âmbito regional para que o indigenista ingressasse em terra indígena, com vencimento em 31/05/2022, sem o conhecimento dos setores competentes na Sede da Funai, em Brasília, o que será apurado internamente", diz o texto da Fundação.

Para evitar a deflagração da greve, os indigenistas querem que Marcelo Xavier se retrate publicamente "pela difamação e pelas inverdades presentes em suas declarações públicas acerca do caso de desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips". A retratação pedida "deve admitir os equívocos de falsas argumentações sem nenhum embasamento legal dentro da política indigenista brasileira".

Em nota, os indigenistas dizem ainda que não há qualquer iniciativa para auxiliar os servidores que trabalham nas bases do Vale do Javari e nem para garantir a segurança deles. "Ressalta-se que se passaram mais de uma semana desde o desaparecimento do servidor Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips e tais medidas urgentes não foram sequer iniciadas", diz um trecho.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que o Senado precisa reagir diante do cenário que envolve o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, no Amazonas.   

Em pronunciamento nesta segunda-feira (13), no início da sessão deliberativa do Plenário, ele citou reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, com denúncia de que o crime organizado e um "Estado paralelo" podem estar por trás do que aconteceu, numa trama que envolve tráfico internacional de drogas e de armas, desmatamento e garimpo ilegal e atentados contra os povos da floresta. 

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Pacheco defendeu que senadores das Comissões de Direitos Humanos (CDH), de Meio Ambiente (CMA) e de Constituição e Justiça (CCJ) devem se mobilizar para identificar os reais problemas que assolam aquela região e apresentar ao país propostas para combater o crime organizado, inclusive com o fortalecimento dos órgãos do Estado que atuam diretamente na Amazônia. 

"Caso realmente se confirme o fato de terem sido eventualmente assassinados, é uma situação das mais graves do Brasil. Assim como nós já presenciamos promotores de justiça, no seu munus [encargo] de acusar, sofrendo atentados, e alguns pagaram com a vida; juízes e magistrados julgando a criminalidade organizada, igualmente sacrificados em função disso; crimes políticos de atentados a parlamentares em função de sua atividade política, prefeitos municipais, a jornalistas que, por vezes, perdem a vida em função de seu mister de denunciar, de investigar. Em tudo isso, para além do sentimento humano da vida que se perde num atentado dessa natureza, há uma ofensa ao Estado brasileiro, há uma ofensa às instituições gravíssima", disse. 

Comissão externa Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede Sustentabilidade-AP) apresentou requerimento de criação de uma comissão externa temporária para acompanhar o caso e apurar o que aconteceu com Bruno Araújo e Dom Phillips. Pela sugestão de Randolfe, três senadores de cada comissão integrarão o colegiado.

  Na opinião dele, conforme o desdobramento do caso, será necessário inclusive criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Randolfe Rodrigues afirmou ainda que tudo o que acontece naquela região é consequência da política ambiental do governo do presidente Jair Bolsonaro. 

"O que nós estamos assistindo ao final de quatro anos do governo do senhor Jair Bolsonaro é que a Amazônia foi entregue. Foi entregue a todo tipo de banditismo político ou banditismo organizado. Isso porque foram desmantelados todos os mecanismos e instrumentos que existiam de defesa da Amazônia", denunciou. 

Mas para o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), é preciso cautela para evitar a politização do caso em ano eleitoral. Nesse sentido, ele defendeu que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aceite requerimento dele de criação de uma CPI para apurar o crime organizado em todo o país. 

"Eu quero sugerir ao senhor que a gente faça essa CPI técnica, com apoio da Polícia Federal [...] E que a gente possa desenvolver um trabalho para apurar a expansão do narcotráfico nos estados do Norte e do Nordeste", defendeu. 

Também preocupado com uma possível politização do caso, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que mais de 200 agentes participam da busca de Bruno Araújo e Dom Phillips, fato que desmonta o discurso de que o governo não está se empenhando para solucionar a questão. 

"Essa Casa também tem o papel importante. Eu acho que uma forma de se combater a extração ilegal de ouro, a extração ilegal de madeira, é dar regras mais claras para esses tipos de atividades. Que possa haver a exploração com a responsabilidade ambiental, como acontece em diversos locais, lá em Minas Gerais, por exemplo", sugeriu. 

*Da Agência Senado

Uma mochila com pertences iguais aos que eram levados pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Phillips foi localizada por equipes de busca na região do Vale do Javari, neste domingo, 12, quando se completa uma semana desde o desaparecimento de ambos na Amazônia.

O objeto, de cor preta e da marca Equinox, estava preso a uma árvore numa região alagada dos rios que dividem o Brasil e o Peru.

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O item foi localizado por mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas por volta das 16 horas, no horário local (18 horas em Brasília).

Indígenas que acompanhavam os trabalhos de busca no rio e que conheciam Bruno e Dom atestaram que a mochila pertencia a um dos dois.

Trata-se de uma mochila de viagem, grande. Dentro havia vários livros.

O material foi entregue à Polícia Federal para perícias.

"Tivemos a grata satisfação de ter êxito e encontrar uma mochila. Nessa mochila, tinha notebook, todos os pertences, meias, camisas, bermudas", disse um porta-voz do Corpo de Bombeiros, em Atalaia do Norte (AM).

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou neste domingo (12) ter encontrado uma nova embarcação na mesma região em que são realizadas as buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista inglês Dom Phillips. Os dois estão desaparecidos desde 5 de junho na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares. 

“O que a equipe de busca encontrou foi um possível local onde vestígios, observados na beira de barranco, apontam que uma embarcação poderia ter sido arrastada no local. Essa informação foi repassada às autoridades responsáveis pelas investigações e, por essa razão, o local foi isolado pelas autoridades competentes para que a busca e a perícia sejam realizadas”, diz o informe assinado pelo procurador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo. 

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Ainda segundo o comunicado, nas proximidades do local foi encontrada também uma embarcação que pode ser de propriedade de Amarildo da Costa Oliveira, detido para investigação. "A informação sobre a propriedade da embarcação ainda precisa ser confirmada pelos responsáveis pelas investigações", ressalta o documento. 

Material genético Na última sexta-feira (10), a Polícia Federal (PF) no Amazonas, que está à frente das forças de segurança na Operação Javari, informou que equipes de busca encontraram material orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. Ainda não há informação se a amostra recolhida tem alguma relação com o desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira. 

O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal é quem vai realizar a análise pericial do material recolhido, como também fará a perícia em vestígios de sangue encontrados na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como “Pelado”. 

Ele é suspeito de envolvimento no caso e teve a prisão temporária por 30 dias decretada na noite de quinta-feira (9) pela juíza plantonista Jacinta Santos, durante a audiência de custódia na Comarca de Atalaia do Norte (AM). O processo segue em segredo de justiça. 

Além dessas perícias, serão analisados materiais genéticos coletados por investigadores de referência de Dom Phillips, em Salvador, e de Bruno Pereira, no Recife. As amostras serão utilizadas na análise comparativa com o sangue encontrado na embarcação.

As buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e pelo especialista indigenista Bruno Araújo Pereira, desaparecidos em uma região remota da Amazônia brasileira, completam uma semana neste domingo (12) em meio a questionamentos e pressões para que o governo redobre seus esforços.

- Os desaparecidos -

Phillips, de 57 anos, é colaborador do jornal britânico The Guardian e trabalha no Brasil há 15 anos.

Apaixonado pela Amazônia, onde escreveu dezenas de reportagens, o jornalista estava na região há vários dias trabalhando em um livro sobre preservação ambiental e desenvolvimento local, com apoio da fundação Alicia Patterson.

Pereira, de 41 anos, é um especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e um conhecido defensor dos direitos indígenas.

Foi coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte, município onde viajava com Phillips quando desapareceram.

Seu trabalho em defesa dos povos indígenas lhe rendeu ameaças regulares destes grupos criminosos.

- As circunstâncias-

Phillips e Pereira foram vistos pela última vez na manhã de domingo, 5 de junho, na comunidade São Gabriel, não muito longe de seu destino, onde navegavam pelo rio Itaquaí.

Haviam viajado até a região de Lago do Jaburu e deveriam retornar à cidade de Atalaia do Norte, a cerca de duas horas de barco.

Pereira acompanhava o jornalista britânico como guia, na segunda viagem da dupla por esta região isolada da Amazônia desde 2018.

- Una zona "complexa" -

O jornalista e especialista indígena desapareceram no Vale de Javari, uma área densa da selva amazônica onde vivem 26 povos indígenas, muitos deles isolados.

As autoridades alertaram para a "complexidade" da área, devido ao fato de que ali operam garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais.

Além disso, o tráfico de drogas tem uma presença cada vez maior nos últimos anos, utilizando a região como um importante corredor para o transporte de drogas produzidas no Peru e na Colômbia, países que fazem fronteira com a região.

Atalia do Norte, uma pequena cidade de 20.000 habitantes, está comovida pelo desaparecimento.

"Infelizmente, vivemos aqui na nossa região de fronteira e o que posso afirmar como cidadã é que não temos uma segurança", disse à AFP Marivalda Rabelo, recepcionista da pousada onde Phillips e Pereira se hospedaram antes de desaparecerem.

"Rezamos, nunca sabemos que imprevisto pode acontecer", acrescentou Rabelo, que teme que, se for um ato criminoso, fique impune em um lugar que já virou manchete por casos não resolvidos.

- A investigação -

Até agora, a busca resultou na prisão de apenas um único suspeito: Amarildo da Costa, de 41 anos, que foi visto por testemunhas em uma lancha seguindo em alta velocidade o barco em que Phillips e Pereira viajavam. Não está clara sua implicação no caso.

A polícia realiza testes em uma mancha de sangue encontrada no barco do detento. Além disso, na sexta-feira, a equipe de busca encontrou material "aparentemente humano" próximo ao porto de Atalia do Norte, que também está sendo analisado.

Até o momento, não há conhecimento de nenhuma pista sobre o paradeiro de ambos ou do barco em que navegavam.

O governo federal tem recebido críticas de ativistas, organizações internacionais e da justiça brasileira pela suposta lentidão e falta de coordenação nas buscas.

Na sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso deu cinco dias ao governo para apresentar um relatório com todas as providências tomadas e os dados obtidos até o momento.

O presidente Jair Bolsonaro, que na terça-feira descreveu a expedição realizada por Phillips e Pereira como uma "aventura não recomendada", disse na Cúpula das Américas que as Forças Armadas e a polícia realizam uma "busca incansável" desde o primeiro dia e pediu a Deus que "sejam encontrados com vida".

O sogro e a sogra do jornalista britânico Dom Phillipps divergem quanto à chance dele e do indigenista Bruno Pereira ainda estarem vivos. Dom e Bruno estão desaparecidos desde domingo passado, dia 5, quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, na Amazônia. A polícia investiga o caso, mas até agora não chegou a nenhuma conclusão.

Para a aposentada Maria Lúcia Farias Sampaio, de 78 anos, mãe de Alessandra Sampaio, que é casada com o jornalista britânico, "ele já não está mais entre nós": "Para ser sincera, não existe mais esperança", afirmou, durante ato promovido na manha deste domingo, 12, na orla de Copacabana, na zona sul do Rio, para cobrar das autoridades que intensifiquem as buscas pelos dois desaparecidos e tomem providências contra as violações de direitos na Amazônia.

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A manifestação foi organizada por amigos e familiares do jornalista britânico, que está no Brasil há 15 anos e morou no Rio, de onde se mudou há um ano para Salvador. "Estamos aqui em homenagem a Dom e Bruno", disse Maria Lúcia.

Já o sogro do jornalista, o aposentado Luiz Carlos Rocha Sampaio, de 80 anos, ainda tem esperanças. "Eu ainda alimento a esperança de encontrá-lo. Peço a Deus que não seja em vão essa nossa luta", afirmou.

O casal tem três filhos - Alessandra, casada com Phillipps, continua em Salvador, de onde acompanha as buscas pelo marido. A irmã dela viajou para Salvador assim que o sumiço foi anunciado, para fazer companhia a Alessandra. O outro irmão, o produtor Marcus Farias Sampaio, de 49 anos, participou do ato na zona sul do Rio.

"A gente sabe que é muito difícil. Enquanto não houver uma resposta definitiva, a gente tem que acreditar. Mas a gente está aguardando o pior, embora tenha muita fé", afirmou.

A atriz Lucélia Santos também participou do ato. "Esse episódio vem escancarar a realidade trágica e horrorosa que está acontecendo no Brasil hoje. Que perseguem e matam as pessoas nessa região já é do conhecimento de todos. O que a gente não podia imaginar é a vulnerabilidade do Exército, de não reunir as condições adequadas para a busca. A sociedade precisa se unir e exigir do governo o esclarecimento do caso. Dom e Bruno não podem simplesmente sumir no interior da floresta", disse a atriz.

O ato começou às 9h na avenida Atlântica em frente ao posto 6, onde Dom fazia aulas de stand-up paddle, quando morava no Rio. Às 10h20, um grupo de aproximadamente 50 pessoas, segurando cartazes com fotos dos desaparecidos, se reuniu para, em coro, gritar "onde estão Dom e Bruno?"

A Polícia Federal no Amazonas informou na tarde desta sexta-feira, 10, que equipes de busca que integram a Operação Javari - que tentam localizar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, desaparecidos na Amazônia desde o domingo, 5 - localizaram no Rio Itaquaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte, "material orgânico aparentemente humano", o qual foi encaminhado para perícia no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal.

O mesmo instituto vai periciar as amostras de sangue encontradas na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, cuja prisão temporária foi decretada pela Justiça Estadual nesta quinta-feira, 9.

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Os investigadores ainda indicaram que nesta sexta, 10, houve a coleta de materiais genéticos de referência do jornalista britânico Dom Phillips, em Salvador, e do indigenista Bruno Pereira, em Recife. "Os materiais coletados serão utilizados na análise comparativa com o sangue encontrado na embarcação", indicou a PF em nota.

A corporação indicou que, desde a última atualização na tarde desta quinta-feira, 9, sobre a Operação Javari, as equipes do Comitê de crise, coordenado pela PF, seguiram com a busca fluvial e com reconhecimento aéreo na região do Rio Itaquaí, último local onde Bruno Pereira e Dom Phillips foram vistos.

Horas antes das novas informações serem divulgadas pela PF, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou que o governo adote imediatamente "todas as providências necessárias", usando "todos os meios e forças cabíveis", para localizar o indigenista e o jornalista.

O despacho ordena ainda que sejam identificados e punidos os responsáveis pelo desaparecimento e cobra, do governo, em até cinco dias, a apresentação de um relatório com todas as providências adotadas e informações obtidas no caso. Foi fixada multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.

"Sem uma atuação efetiva e determinada do Estado brasileiro, a Amazônia vai cair, progressivamente, em situação de anomia, de terra sem lei. É preciso reordenar as prioridades do país nessa matéria", registrou o ministro no documento.

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta sexta-feira, 10, que o governo Jair Bolsonaro adote imediatamente "todas as providências necessárias", usando "todos os meios e forças cabíveis", para localizar o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o jornalista britânico Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian.

O despacho ordena ainda que sejam identificados e punidos os responsáveis pelo desaparecimento do indigenista e do jornalista e que seja apresentado ao Supremo, em até cinco dias e em documento sigiloso, um relatório com todas as providências adotadas e informações obtidas no caso. Foi fixada multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.

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"Sem uma atuação efetiva e determinada do Estado brasileiro, a Amazônia vai cair, progressivamente, em situação de anomia, de terra sem lei. É preciso reordenar as prioridades do país nessa matéria", registrou o ministro no documento. Foram intimados do despacho o governo federal, o ministro da Justiça e Segurança Pública, o diretor-geral da Polícia Federal e o presidente da Funai.

A decisão foi proferida a pedido da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que acionou a corte máxima por meio da ação que tratou do plano de contenção da pandemia da covid-19 em terras indígenas. A Apib argumentou que o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Philips ocorreu em área de barreira sanitária determinada no bojo de tal processo, "que tinha por objeto proteger a entrada da Terra Indígena do Vale do Javari".

Segundo a entidade, Bruno Pereira e Dom Philips "desempenhavam, no local, atividades de fortalecimento de proteção territorial contra invasores, em apoio à organização indígena local, dada a insuficiência da atuação estatal, a despeito das decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal".

Ao analisar o caso, Barroso registrou que o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Philips é "fato público e notório", tendo repercutido inclusive no exterior. Além disso, indicou que as "deficiências da atuação da União na proteção à vida e à saúde dos indígenas" é objeto de "reiteradas decisões" por ele proferidas.

O ministro registrou que, no caso, há relatos de que já estão sendo adotadas providências em âmbito local, mas ressaltou que cabe ao Supremo, quando provocado, ‘atuar para resguardar os direitos fundamentais à vida e à saúde dos envolvidos’.

A juíza Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível da Justiça Federal do Amazonas, já havia determinado que o governo federal reforçasse a estratégia de busca e resgate do indigenista e do jornalista inglês.

Na quarta-feira, 8, a magistrada apontou omissão, por parte da União, do dever de fiscalizar as terras indígenas e proteger os povos indígenas isolados e de recente contato. Segundo a juíza, a não identificação do paradeiro de Bruno Araújo Pereira e Dom Philips ‘representa a um só tempo a perda de duas vidas e a perda da chance probatória’.

"É oportuno destacar que, caso as rés (a União e a Funai) tivessem se desincumbido de cumprir obrigação de fazer relativamente à proteção e fiscalização da terras indígenas em constante alvo de invasão por garimpeiros e madeireiros ilegais, é provável que os cidadãos tivessem sido localizados, ainda que não vivos", indicou Jaiza.

Na noite desta quinta-feira, 9, a Justiça do Amazonas decretou a prisão temporária, pelo prazo de 30 dias, de Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, que é suspeito envolvimento no desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Philips.

Pelado foi preso em flagrante na terça-feira, 7, por porte ilegal de munições, mas a prisão temporária foi determinada pela suspeita de envolvimento com o desaparecimento do indigenista e do jornalista.

Em buscas nesta semana, a Polícia Federal (PF) encontrou vestígios de sangue na embarcação dele. O material genético foi enviado para perícia. Uma testemunha também o colocou no centro das suspeitas pelo desaparecimento.

Após 30 anos do desaparecimento do menino Leandro Bossi, em Guaratuba, litoral do Paraná, a Segurança Pública do Estado anunciou, nesta sexta-feira (10), que a ossada do garoto foi identificada. De acordo com a secretaria, o material encontrado tem 99,9% de compatibilidade com o DNA da mãe, Paulina Bossi.

Durante coletiva de imprensa, a Polícia Civil não deu muitos detalhes sobre as investigação, que são comandadas pelo Ministério da Justiça, assim como, não foi informado onde e quando a ossada foi encontrada. Em entrevista ao UOL, o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita, contou que, em 2021, foram enviadas para a Polícia Federal, em Brasília, oito amostras ósseas.

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"Também foi coletado o material genético de três mães, dentre elas, a mãe de Leandro Bossi. Agora tivemos resultado positivo, fazendo o confronto de uma das amostras, indicou a compatibilidade do material genético para a ossada de Leandro Bossi."

O caso

O menino Leandro Bossi desapareceu em 15 de fevereiro de 1992. Na época, ele tinha sete anos e foi visto pela última vez durante um show na cidade onde morava, Guaratuba. Durante muitos anos, a família de Bossi conviveu com a angústia e as incertezas. O inquérito policial sobre o desaparecimento do menino nunca foi concluído. No mesmo ano, em abril, Evandro Caetano, de seis, anos também desapareceu no mesmo município.

Em discurso na plenária da Cúpula das Américas, em Los Angeles, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que autoridades do País têm trabalhodo "desde o primeiro momento" para localizar o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira. "Desde o último domingo, quando tivemos informação que dois cidadãos desapareceram na região do Vale do Javari, desde o primeiro momento, as nossas forças armadas e PF têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida", disse Bolsonaro.

Reportagem desta sexta-feira, 10, publicada no Estadão mostra que, passados cinco dias do desaparecimento da dupla, o governo federal ainda não enviou para a região do Vale do Javari a Força Nacional de Segurança, ao contrário do que costuma ocorrer em casos que envolvem regiões com pouca estrutura de segurança. Além disso, a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH), Ravina Shamdasani, afirmou nesta sexta-feira, 10, que o governo brasileiro foi "lento" para reagir ao caso.

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O desaparecimento do jornalista e do indigenista na Amazônia foi um foco de tensão na passagem de Bolsonaro pelos EUA. Além do protesto de ativistas na frente do hotel do presidente, parlamentares do partido democrata e ativistas queriam que Biden cobrasse Bolsonaro sobre posicionamento a respeito do caso.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, teve reuniões com o governo americano e britânico sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia. Em Los Angeles, Torres se reuniu com o assessor para meio ambiente do governo Biden, John Kerry, e com diplomatas britânicos. Britânicos e o americano pediram que o Brasil esgote as possibilidades na investigação.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi às redes sociais defender a atuação do governo na busca do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, desaparecidos na Floresta Amazônica. "Nossas três Forças, bem como nosso MRE, a Polícia Federal, dentre outros, estão trabalhando desde segunda-feira, 6, de forma intensa na busca dos senhores Bruno Pereira e Dom Phillips. Mais de duas centenas de militares foram mobilizados para solucionar o caso o quanto antes", publicou o chefe do Executivo nas redes sociais.

Bolsonaro ainda afirmou ter instruído auxiliares a "não se distraírem com narrativas midiáticas. Esses oportunistas só querem se promover com o caso. Nós queremos solucioná-lo e levar conforto aos familiares", escreveu o presidente nas redes sociais.

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Em entrevista ao SBT News na última terça-feira, no entanto, Bolsonaro afirmou que Pereira e Philips tinha se envolvido em uma "aventura não recomendável". Os desaparecidos faziam um trajeto entre comunidades ribeirinhas e não foram encontrados desde o último domingo. Pereira sofria ameaças de morte de garimpeiros da região.

A embaixadora interina do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, disse, no começo da tarde desta quinta-feira, dia 09, que o governo britânico está "profundamente preocupado" com o sumiço do jornalista inglês Dom Phillips, de 57 anos, e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, de 41 anos. Em nota, ela revelou que seu país apelou ao governo brasileiro para que "faça todo o possível para apoiar a investigação sobre o caso". Os dois estão desaparecidos desde a manhã deste domingo, dia 05, na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado do Amazonas, uma região dominada pelo tráfico de drogas e exploração de garimpo ilegal.

"Entendemos que a localização remota da região impõe desafios logísticos consideráveis e já solicitamos ao Governo Brasileiro que faça todo o possível para apoiar a investigação do caso. Agradecemos a assistência prestada até o momento", afirmou a embaixadora em nota. No comunicado, reproduzido em seu perfil no Twitter, Hopkins disse que o Reino Unido está "profundamente preocupado" pelos dois ainda não terem sido encontrados e ciente de que "esse continua sendo um momento angustiante para suas famílias e amigos". Hopkins é a representante britânica no Brasil desde o começo de março, quando o embaixador anterior, Peter Wilson, voltou ao Reino Unido.

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Em declaração sobre o assunto, o presidente Jair Bolsonaro disse que Bruno e Dom estavam "numa aventura não recomendada". "Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela completamente selvagem é uma aventura que não é recomendada que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser acidente, pode ser que tenham sido executados", disse em entrevista ao SBT na última terça-feira, 7.

Na mesma linha, o presidente da Fundação Nacional do índio, delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, afirmou que os dois "erraram ao não comunicar os órgãos de segurança sobre a viagem ao Vale do Javari, no Amazonas, e não pedir autorização à Funai para acessar o local". Segundo a entidade Indigenistas Associados (INA), que reúne servidores da Funai, as declarações são "equivocadas", uma vez que a dupla não chegou a entrar na área do Vale do Javari demarcado como terra indígena - portanto, não seria necessário pedir autorização alguma.

Desde o começo da crise envolvendo o desaparecimento do jornalista, esta é a terceira vez que a embaixadora se manifesta sobre o assunto nas redes sociais. No comunicado desta quinta-feira, ela também revelou que o governo britânico está provendo apoio consular à família do jornalista e está "em contato próximo com autoridades do mais alto nível no Brasil para se manter atualizado em relação aos esforços de busca e resgate."

Phillips e Pereira desapareceram no domingo, mas foi apenas na manhã da terça-feira, dia 07, que Exército e Marinha mobilizaram aeronaves para intensificar a busca pelos dois desaparecidos. Os dois sumiram durante uma viagem de barco entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Como mostrou o Estadão, Pereira foi mencionado em um bilhete apócrifo com ameaças, escrito por pescadores ilegais que atuavam na área e dirigido à entidade para a qual o indigenista trabalhava.

Veterano no jornalismo, Dominic Phillips trabalha hoje como freelancer para o jornal britânico The Guardian e prepara um livro sobre a Amazônia com o apoio de uma fundação de seu país de origem. Ele mora no Brasil desde 2007 e é casado com uma brasileira. Vivendo em Salvador (BA), já escreveu para vários dos principais jornais de língua inglesa, como o Washington Post, o New York Times e o Financial Times.

Pereira é um prestigiado indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e está licenciado para trabalhar diretamente com a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Entre 2015 e 2020, ele comandou na Funai o departamento que cuida das comunidades isoladas dentro do território do Javari. A região reúne o maior número de comunidades isoladas do mundo. Como mostrou o Estadão, Pereira foi exonerado da função na gestão de Sérgio Moro como ministro da Justiça e substituído por um missionário evangélico. O episódio foi o estopim para que pedisse licença do cargo.

Segundo os últimos números divulgados pelo governo brasileiro, as buscas mobilizam atualmente 250 agentes civis e militares de vários órgãos públicos; três drones, 16 embarcações, 20 viaturas terrestres e dois helicópteros. Uma pessoa chegou a ser presa - o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, mais conhecido como "Pelado". Segundo testemunhas, ele teria ameaçado o indigenista e o repórter no sábado, dia 04 de julho. Segundo o secretário de segurança pública do Estado do Amazonas, Carlos Mansur, o pescador não tem relação com o desaparecimento da dupla.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, afirmou nesta quarta-feira (8) em audiência pública na Câmara dos Deputados que “não houve retardo” nas buscas pelo jornalista inglês Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Pereira, desaparecidos desde domingo (5) no Vale do Javari, no Amazonas.

  O jornalista do The Guardian e o servidor da Funai estavam recebendo ameaças de pessoas que atuam ilegalmente na região.  

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O titular da pasta foi questionado pela deputada Vivi Reis (Psol-PA) sobre o possível atraso de 48 horas para que as Forças Armadas enviassem helicópteros ao local. “Nós estamos falando de Atalaia do Norte, estamos falando de um local onde não chega nem avião, não tem campo de pouso. O helicóptero mais perto do Exército sai de Manaus e ele já estava pronto na manhã de ontem para atuar na área. A Marinha, da mesma forma, estava lá no dia anterior”, disse o ministro. 

“Considerando as distâncias, o tamanho da Amazônia e a geografia da floresta e dos rios, pode parecer que houve retardo, mas não houve”, reforçou. Ele acrescentou que hoje atuam nas buscas dois helicópteros, um do Exército e outro da Marinha, além de equipe médica e um efetivo das Forças Armadas. 

"O helicóptero da Polícia Federal deu um problema, por isso é bem provável que a gente tenha que reforçar em termos de aeronaves", acrescentou.  As afirmações foram feitas durante audiência pública promovida pelas comissões de Fiscalização Financeira e Controle; e de Seguridade Social e Família. O ministro foi chamado à Câmara para explicar os motivos da compra de mais 35 mil comprimidos de Viagra e de 9 próteses penianas. 

*Da Agência Câmara de Notícias

O governo federal exonerou Cesar Augusto Martinez do comando da Diretoria de Proteção Territorial da Fundação Nacional do Índio, (Funai), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. A diretoria é responsável pela proteção de indígenas isolados, além de tratar de estudos e políticas de apoio a atividades de regularização fundiária, geoprocessamento, identificação e delimitação de terras indígenas. Martinez, que é delegado federal, será substituído por Elisabete Ribeiro Alcântara Lopes, que era assessora da Presidência da Funai.

Carlos Augusto Martinez (diretor exonerado) - Foto: Mário Vilela/Funai

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A troca está publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira (8) em portarias assinadas pela Casa Civil da Presidência da República e ocorre na mesma semana do desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e do indigenista e servidor da Funai Bruno Araújo Pereira na Amazônia brasileira.

Eles desapareceram no Vale do Javari, no Estado do Amazonas, próximo à fronteira com o Peru, no último domingo (5), segundo divulgado pela organização União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O caso ganhou repercussão internacional também pela atuação do servidor em projeto de vigilância de aldeias indígenas contra exploradores e narcotraficantes.

O desaparecimento, que está sendo investigado pela Polícia Federal, preocupa as autoridades por acontecer poucos dias após os dois receberem ameaças. Segundo nota da Univaja, ambos desapareceram quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte.

O presidente Jair Bolsonaro disse, nessa terça-feira (7), que o indigenista e o jornalista inglês podem ter sido executados. Bolsonaro afirmou duas vezes que "tudo pode acontecer" nessa região, classificada por ele como "selvagem", e criticou o que classificou como "aventura" da dupla.

"O que nós sabemos, até o momento, é que no meio do caminho (eles) teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas pela Polícia Federal, estão sendo investigadas. E realmente duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente", afirmou Bolsonaro ontem em entrevista ao SBT News.

Órgãos federais intensificam as buscas pelos dois desaparecidos. Participam do trabalho Polícia Federal, Força Nacional de Segurança Pública, além da Marinha e do Exército.

Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) nos anos 1990 e a maior referência nacional em estudos sobre povos isolados, o sertanista Sydney Possuelo afirma que a região do Vale do Javari, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desapareceram, é marcada há décadas por um conflito com criminosos que vem se recrudescendo nos últimos anos.

Em seus mais de 40 anos dedicado às causas indígenas, Possuelo fez inúmeras vezes o trajeto no qual Pereira e Phillips foram vistos pela última vez. Possuelo avalia que realizar o percurso em apenas duas pessoas e sem a presença de nativos na embarcação é algo extremamente arriscado, mas que pode estar ligado à falta de estrutura e de recursos para as ações de proteção aos territórios. É que os indigenistas sacrificam a segurança para fazer economia de recursos. Quanto menos gente no barco, menor é o consumo de combustível.

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"Algumas vezes eu fiz isso, por questão de economia. Eu me expunha para fazer economia. Não era o certo e acho que não é seguro fazer ainda que seja até Atalaia. É bom ter sempre mais que duas pessoas a bordo para ter um pouco mais de segurança e de conhecimento. Nós brancos pensamos que entramos lá e conhecemos tudo. Na verdade, somos guiados pelos conhecimentos dos povos indígenas. Eles veem coisas que a gente não tem costume, hábito e sensibilidade para ver. Eu estaria em pelo menos em quatro pessoas", afirmou.

Décadas atrás, foi iniciativa de Possuelo erguer uma base da Funai nas imediações dos rios Ituí e Itacoaí. A instalação constantemente é alvo de criminosos, que usam armas de fogo para intimidar lideranças indígenas e servidores da Funai.

Pereira e Phillips desapareceram após partirem da comunidade São Rafael em direção à cidade de Atalaia do Norte, onde teriam outros compromissos. A comunidade é conhecida por sofrer influência financeira de traficantes de drogas, garimpeiros e demais exploradores que invadem o território preservado.

Pereira coordena um trabalho de formação de equipes de vigilância em terras indígenas por meio da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Esse trabalho foi o que o fez agendar uma reunião com um líder da comunidade São Rafael. O homem, identificado como "Churrasco", não estava no local para o compromisso. Segundo pessoas que trabalham com Bruno Pereira, os riscos deram a ele o direito ao porte de arma e ele costumava andar armado.

"Os caçadores entram por ali, por isso tem a base da Funai que coloquei lá. É a porta principal de invasão. Os rios Ituí e Itaquaí levam para o coração da terra indígena. É quase uma área internacional, perto da fronteira. Tem narcotráfico, cocaína. Por lá mora todo um pessoal que tem interesse na terra indígena, principalmente madeireiros, pescadores e caçadores. São esses interesses que levantam aquela economia predatória da região. Todos que estão ali permanecem constantemente ameaçados há anos", comentou.

No retorno esperado a Atalaia, Bruno Pereira tinha um encontro com o também indigenista Orlando Possuelo, filho de Sydney. Foi ele quem primeiro estranhou a demora e se lançou à primeira procura no caminho contrário. "Eu estava no porto de Atalaia às 8 horas esperando. Esperei duas horas, ele não chegou e fomos atrás", disse. "Não tem como ele se perder no rio. Ele sabia dos perigos. De verdade, sendo sincero, infelizmente não tenho mais esperança. Agora é esperar que a polícia pegue os caras certos."

Na avaliação de Sydney Possuelo, as ameaças ao trabalho das equipes que preservam as terras indígenas se aprofundaram a partir de 2019.

"O presidente Bolsonaro é claramente desfavorável à demarcação. Os agressores se sentem mais protegidos e se expõem mais a fazer atitudes como essas", disse.

Histórico

Até outubro de 2019, Bruno Pereira atuava como coordenador-geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. Foi demitido pelo atual presidente do órgão, o delegado Marcelo Xavier. Um mês antes, Maxciel Pereira, colaborador da Funai, foi assassinado em Tabatinga (AM) e até hoje as autoridades não solucionaram o crime.

Agente da Funai, Pereira é um dos maiores especialistas do órgão e é considerado uma espécie de sucessor de Sydney Possuelo. Ele vinha liderando todas as principais iniciativas de proteção aos povos isolados, especialmente os do Vale do Javari. A região do extremo oeste do Amazonas tem a maior quantidade de povos isolados no mundo e é parte mais intocada da floresta.

Após deixar a coordenação-geral, Pereira virou consultor da Univaja e coordenava um trabalho de formação de equipes de vigilância, com os índios, para monitoramento de invasões. Os nativos eram capacitados para operar drones e computadores. Em uma entrevista publicada pela WWF-Brasil em dezembro, o indigenista afirmou que as invasões vinham se intensificando.

"Trabalho lá há 11 anos e nunca vi uma situação tão difícil. Os indígenas dizem que hoje a quantidade de invasões é comparável à do período anterior à demarcação. Por isso, é absolutamente necessário que os indígenas busquem suas formas de organização, montando um esquema de monitoramento capaz de frear conflitos violentos", contou.

O Comando Militar da Amazônia e a Marinha do Brasil mobilizaram nesta terça-feira, dia 7, dois helicópteros para reforçar as buscas pelo indigenista Bruno Pereira, servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), e do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian. Eles desapareceram no Vale do Javari, próximo à fronteira com o Peru, no domingo, depois de receberem ameaças, e ainda não foram localizados.

A procura por eles começou ainda nesta segunda-feira, mas apenas por meios terrestres e por embarcações. As Forças Armadas sofreram críticas por causa de uma nota em que o Exército dizia ser capaz de cumprir uma missão humanitária de busca e salvamento, mas que aguardava instruções superiores para iniciar a operação.

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O envio de aeronaves pelo Ministério da Defesa para reforçar as buscas era um dos principais apelos de amigos e familiares dos desaparecidos, já que o deslocamento em grande parte da região de selva se faz apenas em barco ou por via aérea, forma mais eficaz para realizar uma varredura e mais rápida.

Agentes da Polícia Federal, do Comando de Operações Táticas (COT), a tropa de elite, participaram das buscas na aeronave Jaguar H225M, do 4º Batalhão de Aviação do Exército. Segundo o Exército, as buscas seguem de forma ininterrupta, com combatentes da 16ª Brigada de Infantaria de Selva.

A Marinha também havia informado que um helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste seria deslocado para auxiliar na missão, além de duas embarcações e de uma moto aquática. Os destacamentos da Marinha, da Capitania Fluvial de Tabatinga, já fizeram buscas pelos rios Javari, Itaquaí e Ituí.

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