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Entre Recife e Olinda, numa área de 113 mil m², um espaço que parece ser invisível ao poder público. Inseguro e sem investimentos para transformá-lo em um local de lazer e cultura à população, o parque Memorial Arcoverde segue em abandono e, a cada dia, mais baldio. A reportagem do LeiaJá esteve no local e constatou o que já deixou de ser novidade há muito tempo: equipamentos quebrados, mato crescido, falta de público.
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No ano passado, o parque completou 20 anos e a promessa de aniversário, feita pela Empresa Pernambucana de Turismo Governador Eduardo Campos (Empetur), foi que um projeto de requalificação do espaço já estava em vias de ser implantado. O prazo: abril de 2015. Ao invés de obras, o descaso. Bancos de concreto jogados ao chão, quadra de basquete sem a cesta, equipamentos de malhação destruídos, pista de skate inutilizada.
À noite, passar pelo local é testar a coragem ou a sorte. Pontos de consumo de drogas e assaltos já se tornaram característica do local. “Poderiam iluminar mais aqui para ter mais movimento. O parque é muito esquecido e vive tendo assalto, não se tem segurança. Já foi muito melhor antigamente”, avaliou Jurandir José da Silva, morador da região há 30 anos e que passa todos os dias pelo parque para ir ao trabalho. Os campos de futebol, segundo Jurandir, são os únicos espaços ainda utilizados pela população, principalmente nos finais de semana.
Empetur culpa crise econômica e projeto não sai
Questionada sobre o cumprimento dos prazos sobre o projeto de requalificação do Memorial Arcoverde, a Empetur respondeu, em nota oficial, que a atual situação financeira do Brasil impede a realização das intervenções. Confira, na íntegra, a explicação da entidade:
“Pelo atual momento econômico que o Brasil vive, é prudente reavaliar todos os projetos e ações anteriormente divulgados. No início do segundo semestre, a Empetur irá informar sobre uma possível requalificação do espaço. A Empetur informa, ainda, que as intervenções elétricas, hidráulicas e de construção são periodicamente realizadas. Diariamente, uma equipe realiza limpeza e conservação do Memorial”.
Promessas descumpridas parecem ser comuns no Memorial Arcoverde. Em 2009, o Cirque du Soleil retirou árvores para instalar parte da estrutura do espetáculo. A polêmica chegou até o Ministério Público do Estado, mas o processo foi arquivado em 2012. E o concreto permanece onde, antes, existiam árvores. “Isso é um impedimento muito sério, afinal, é parque ou não? (O poder público) teria que tirar aquele piso e criar arborização ou, por exemplo, pista de ciclismo, que está tão em evidência”, sugeriu a professora de arquitetura e urbanismo, coordenadora do Laboratório de Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Rita Carneiro.
Na concepção da professora, apesar de estar localizado em meio a vias que dificultam seu acesso a pé, o parque “é uma área de respiração, porque é a separação de Recife e Olinda, além de ser um espaço de chegada para Olinda, onde você pode ver a imagem da cidade já dali. Tem que ser preservado”. Ana Rita chegou a orientar um trabalho intitulado “O parque no pensamento de Roberto Burle Marx”, arquiteto responsável pelo projeto inicial do Memorial Arcoverde.
O também professor Jorge Araújo, do departamento de geografia da Universidade de Pernambuco (UPE), tem uma história de militância com o parque. “Ainda na fase do projeto (no final da década de 90), conseguimos embargar a construção de dois campos de futebol que seriam na área do mangue. Através da Associação Pernambucana de Defesa da Natureza, conseguimos um parecer técnico, entramos na Justiça e foi uma vitória. É um parque muito emblemático que está totalmente abandonado. O poder público poderia estabelecer uma agenda fixa com atividades diárias, acadêmicas e culturais”.