O Dia do Samba, comemorado nesta quarta-feira (2), é uma celebração para os adeptos do mais brasileiro dos ritmos. A data, instituída na década de 1960, foi uma homenagem à primeira visita do emblemático compositor Ary Barroso (1903-1964) ao estado da Bahia, e é festejada, desde então, em todo o território nacional.
As comemorações que envolveriam shows e a tradicional reunião de sambistas e ritmistas nas quadras das escolas de samba, no entanto, vão ficar para outra oportunidade. Com a chegada da pandemia, pouco tempo depois do último Carnaval, muitas agremiações suspenderam as atividades. Esse que seria um período de ensaios, ajustes e muito trabalho nos barracões Brasil afora, virou incerteza e tirou a alegria de quem vive o samba e celebra a cultura carnavalesca.
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Angústia e saudade na UPM
No bairro suburbano de Padre Miguel, no Rio de Janeiro, nada de comemoração pelo Dia do Samba em uma das mais tradicionais escolas da região. Para o autônomo Leandro Pascoal, 39 anos, diretor de alegoria do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Padre Miguel (UPM), a pandemia trouxe dias de aflição para os entusiastas do Carnaval. Segundo ele, embora a grande maioria da comunidade tenha que ficar fora dos festejos e dos preparativos para os desfiles da agremiação, a distância é a saída em tempos de crise. "Estão sendo dias angustiantes e de muita saudade. Estamos longe do que lutamos e amamos, mas temos a consciência que, mediante a esse vírus, se faz necessário esse sacrifício", declara Pascoal, que ocupa há dez anos o cargo de dirigente da escola des samba carioca.
Ainda segundo o líder, o corpo diretivo da agremiação luta para manter o trabalho de quem tira da folia anual o sustento da família. De acordo com Pascoal, o contingente foi reduzido e os protocolos de saúde são respeitados. "A escola vem mantendo, com muita luta e resistência, poucos colaboradores em seus ateliês e no barracão para não deixar o projeto parado, mas mantemos todas as regras de segurança e prevenção", destaca.
Além disso, o diretor de alegoria da UPM afirma que a comunidade da Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel, foi orientada pela própria escola para manter as normas sanitárias e evitar a Covid-19. "Desde o começo da pandemia, nossa escola procurou orientar e aplicar atividades sociais para diminuir os impactos e manter os colaboradores devidamente antenados e conscientes para as regras básicas de prevenção", explica Pascoal.
De acordo com o diretor de alegoria, a preocupação com a saúde da comunidade é tanta que a UPM inovou e apresentou a eliminatória da escolha de sambas-enredo por uma transmissão ao vivo. "Nossa escola foi pioneira em fazer a primeira live para uma disputa de samba".
Silêncio na Paulicéia
Na cidade de São Paulo, a celebração do Dia do Samba também não vai acontecer como os sambistas gostariam. De acordo com o vigilante patrimonial William Tarso, 26 anos, membro da Harmonia da Unidos de Vila Maria e diretor de alegoria no Morro da Casa Verde, ambas da região norte, a primeira semana de dezembro é sempre especial para as escolas paulistanas. "Hoje estaríamos a todo vapor, entre ensaios, reuniões e nos preparativos para a festa de lançamento dos sambas-enredo das agremiações, que sempre ocorre no 1º sábado do mês de dezembro", lamenta o folião, que tem 12 anos de vivência no Carnaval.
William Tarso é diretor de alegoria no Morro da Casa Verde | Foto: Morro da Casa Verde
Segundo Tarso, para preservar o trabalho dos funcionários e nutrir a força das comunidades, alguns eventos restritos ajudam a manter as escolas de samba em atividade. Além das iniciativas em benefício de moradores dos arredores das sedes, reuniões no ambiente virtual garantem a execução dos planos da agremiação. "Estão sendo feitas ações sociais em datas específicas com todos os cuidados e protocolos de saúde, e também reuniões online entre os setores da agremiação", comenta.
De acordo com ele, além de São Paulo ter recuado nas normas de flexibilização da quarentena, ainda não há perspectiva de normalização relacionada ao Carnaval. Mesmo saudoso do clima e da responsabilidade do trabalho nos desfiles, Tarso prefere manter os cuidados e cumprir as recomendações sanitárias. "Está sendo difícil, pois sinto falta do calor humano, mas o momento requer cuidados e vidas importam. Espero que acabe logo", comenta.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o Carnaval movimentou mais de R$ 8 bilhões na economia brasileira no ano passado.