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O mercado do Ver-o-Peso, em Belém, é o palco de realização para muitos empreendedores populares, gente capaz de administrar com simplicidade um serviço geralmente passado de geração em geração, transformando-o em tradição. A maioria das pessoas acha que para ser um empreendedor é preciso de capital amplo, de conhecimento científico e teórico, mas os feirantes provam ter habilidade para empreender com o mínimo de conhecimento. E um detalhe: boa parte do negócio na feira está na mão de mulheres.
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A feirante Maria Fátima da Silva mora em Marituba e sai de casa às 4h50 da manhã com destino ao Ver-O-Peso. A dona da barraquinha “Fátima Lanches” trabalha há sete anos vendendo lanches e café da manhã. As mercadorias são feitas por ela, que as leva sozinha no ônibus. “Só eu e Deus”, disse.
Fátima trabalha de terça a sábado com expediente de cinco da manhã às três e meia da tarde. “Abaixo de Deus, se eu quiser vir eu venho, se eu não quiser, eu não venho, fica fechado”. Apesar de o expediente ser reduzido, se comparado com o de outros feirantes, o dinheiro que ganha dá para ajudar na renda familiar. “Tenho família grande, o que eu ganho aqui ajuda”, disse a feirante.
Fátima garante que nunca sofreu preconceito no local de trabalho e diz que um segredo para atrair clientes é a simpatia. “Quem faz a clientela somos nós mesmos, tratando bem os fregueses.”
A vendedora de maniva (folhas moídas da mandioca) Dinair Barros é também uma empreendedora. Dinair começou como ajudante na barraca de maniçoba (comida regional feita de maniva e carne de porco) e agora já tem o seu próprio negócio. Na sua barraca vende maniva crua (R$ 3,00 o quilo), maniva pré-cozida (R$ 4,00 o quilo) e a maniva cozida (R$ 6,00 o quilo).
A maniva vem principalmente da Alça Viária, estrada que liga a Região Metropolitana de Belém aos municípios do Sudeste e Sul do Pará, e tem grande saída no período do Círio de Nazaré, tradicional festividade religiosa que ocorre em outubro na capital paraense. Fora dessa época, o seu público são os restaurantes que compram em grande quantidade. “Turista não compra, turista gosta de ver, de conhecer; quem compra mesmo somos nós paraenses e os restaurantes, mas eles não tem preferência entre maniva crua ou pré-cozida”, disse a vendedora.
Bellisa Santos é herdeira da “Cabana Zé Raimundo Buá”. Trabalha de sete da manhã às seis da noite vendendo banhos e perfumes feitos artesanalmente. Apesar de a crise financeira ter afetado 75% da venda dos produtos, a feirante diz que consegue se manter. “O movimento caiu um pouco, mas não foi muito. Com o dinheiro daqui dá pra pagar faculdade, carro, celular.”
Os feirantes do Ver-O-Peso afirmam que o serviço é passado de geração em geração. Apesar de alguns contribuírem para o INSS, a maioria se aposenta por idade e não por tempo de serviço.
Por Belisa Nunes, Irlaine Nóbrega e Jamyla Magno.