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As forças israelenses bombardearam os campos de refugiados palestinos na região central da Faixa de Gaza e emitiram ordens para que os moradores evacuassem nesta terça-feira, 26, num sinal de que os militares planejam expandir sua ofensiva terrestre para outra parte do território sitiado. O principal provedor de telecomunicações de Gaza, a Paltel, anunciou outra "interrupção completa" dos serviços.

Uma nova zona de batalha em potencial ameaça trazer mais destruição em uma guerra que, segundo os militares israelenses, durará "muitos meses", pois eles prometem esmagar o grupo terrorista Hamas, que está no poder, após o ataque de 7 de outubro. As forças israelenses têm se envolvido em pesados combates urbanos no norte de Gaza e na cidade de Khan Younis, ao sul, levando os palestinos a áreas cada vez menores em busca de refúgio.

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Apesar da pressão internacional por um cessar-fogo e dos apelos dos EUA por menos vítimas civis, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirma que a luta "não está perto de terminar".

A ofensiva de Israel é uma das campanhas militares mais devastadoras da história recente. Mais de 20.900 palestinos, dois terços deles mulheres e crianças, foram mortos, de acordo com o Ministério da Saúde em Gaza, cuja contagem não diferencia entre civis e combatentes. Na tarde de terça-feira, o ministério informou que 240 pessoas haviam sido mortas nas últimas 24 horas.

"Estamos seriamente preocupados com o contínuo bombardeio da Faixa de Gaza Central pelas forças israelenses, que já causou mais de 100 mortes de palestinos desde a véspera de Natal", disse o escritório de direitos humanos da ONU, observando que Israel ordenou que alguns moradores se mudassem para a área.

Em resposta ao que há muito tempo considera críticas desproporcionais da ONU, Israel disse que não concederia mais vistos automáticos aos funcionários da ONU e acusou o órgão mundial de ser "parceiro cúmplice" das táticas do Hamas. O porta-voz do governo, Eylon Levy, disse que Israel consideraria os pedidos de visto caso a caso. Isso poderia limitar ainda mais os esforços de ajuda em Gaza.

Os moradores da região central de Gaza descreveram uma noite de bombardeios e ataques aéreos que abalaram os campos de Nuseirat, Maghazi e Bureij. Os campos são cidades construídas que abrigam palestinos expulsos de suas casas no que hoje é Israel durante a guerra de 1948, juntamente com seus descendentes. Os campos agora estão lotados de pessoas que fugiram do norte.

"O bombardeio foi muito intenso", disse Radwan Abu Sheitta, um professor, por telefone, de Bureij.

À tarde, os militares israelenses ordenaram que os moradores saíssem de um território com a largura da região central de Gaza, incluindo Bureij, pedindo-lhes que se mudassem para a vizinha Deir al-Balah.

O braço militar do Hamas, as Brigadas Qassam, disse que seus combatentes atingiram dois tanques israelenses a leste de Bureij. Seu relatório não pôde ser confirmado de forma independente, mas seria um indício de que as forças israelenses estariam se aproximando.

O anúncio de interrupção dos serviços de telecomunicações feito pela empresa Paltel repete outras situações similares desde o início da guerra. O NetBlocks, um grupo que monitora interrupções da internet, confirmou que a conectividade de rede em Gaza foi interrompida novamente e "provavelmente deixará a maioria dos residentes sem acesso à internet."

Repercussão regional

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que o país enfrenta uma "guerra de várias arenas" em sete frentes diferentes - Gaza e a Cisjordânia ocupada, Líbano, Síria, Iraque, Iêmen e Irã. "Já respondemos e agimos em seis delas", disse ele ao Comitê de Assuntos Estrangeiros e Defesa do parlamento de Israel.

Durante a guerra, grupos de milícia apoiados pelo Irã em toda a região intensificaram os ataques em apoio ao Hamas.

Milícias apoiadas pelo Irã no Iraque realizaram um ataque com drone em uma base dos EUA em Irbil, no norte do Iraque, na segunda-feira, 25, ferindo três militares americanos, um deles em estado crítico, de acordo com autoridades dos EUA. Em resposta, aviões de guerra dos EUA atingiram, antes do amanhecer, três locais no Iraque ligados a uma das principais milícias, a Kataib Hezbollah.

Um ataque israelense na segunda-feira atingiu um bairro da capital síria, Damasco, matando o general Seyed Razi Mousavi, um conselheiro da Guarda Revolucionária paramilitar iraniana, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. As forças armadas de Israel não comentaram.

Quase diariamente, o Hezbollah e Israel trocam mísseis, ataques aéreos e bombardeios na fronteira entre Israel e Líbano. Cerca de 150 pessoas foram mortas no lado libanês, em sua maioria combatentes do Hezbollah e de outros grupos, mas também 17 civis. Pelo menos nove soldados e quatro civis foram mortos no lado israelense.

No Mar Vermelho, os ataques dos rebeldes Houthi no Iêmen contra navios comerciais interromperam o comércio e levaram a uma operação naval multinacional liderada pelos EUA para proteger as rotas de navegação.

Expansão da ofensiva em Gaza

Mais de 85% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram expulsos de suas casas. Deir al-Balah e Rafah, no sul, na fronteira com o Egito, estão lotadas de pessoas deslocadas, mesmo com os bombardeios de Israel.

As autoridades da ONU dizem que um quarto da população de Gaza está morrendo de fome sob o cerco de Israel, que só permite a entrada de uma pequena quantidade de alimentos, água, combustível, medicamentos e outros suprimentos.

Um ataque na terça-feira atingiu uma casa em Mawasi, uma área rural na província de Khan Younis que Israel declarou ser uma zona segura. Uma mulher foi morta e pelo menos outras oito ficaram feridas, de acordo com um cinegrafista que trabalha para a Associated Press no hospital próximo.

Em resposta, os militares de Israel disseram que não se absteriam de operar em zonas seguras "se identificarem atividades de organizações terroristas que ameacem a segurança de Israel".

Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU solicitou a aceleração imediata das entregas de ajuda a Gaza, mas houve poucos sinais de mudança. A ONU diz que muitas áreas estão isoladas por causa dos combates.

Israel prometeu eliminar as capacidades do Hamas em Gaza após o ataque no sul de Israel em 7 de outubro, que matou cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e fez cerca de 240 outras reféns. Israel pretende libertar os mais de 100 reféns que permanecem em cativeiro.

Israel culpa o Hamas pelo alto número de mortes de civis em Gaza, citando o uso de áreas residenciais lotadas e túneis pelos terroristas.

No posto de fronteira de Kerem Shalom, trabalhadores médicos da ONU e de Gaza receberam um caminhão que transportava cerca de 80 corpos não identificados que haviam sido detidos pelas forças israelenses no norte de Gaza. Eles foram transferidos para as autoridades locais para serem enterrados. Os médicos disseram que o odor era insuportável.

"Não podemos abrir esse contêiner em um bairro onde vivem pessoas", disse à AP o Dr. Marwan al-Hams, diretor do comitê de emergência de saúde em Rafah. Ele disse que os ministérios da Saúde e da Justiça investigariam os corpos por possíveis "crimes de guerra".

No norte, as tropas estão se concentrando no bairro de Daraj Tufah, na Cidade de Gaza, que se acredita ser um dos últimos redutos do Hamas na área, de acordo com relatos de correspondentes militares israelenses, que recebem informações dos comandantes do exército.

Os relatórios dizem que o exército tem como objetivo destruir cerca de 70% da infraestrutura do Hamas, deixando o restante para outras operações durante as fases de menor intensidade dos combates.

Os combatentes do Hamas têm demonstrado resistência. O exército israelense anunciou a morte de mais dois soldados, elevando o total de mortos na ofensiva terrestre para 158. (ESTE CONTEÚDO FOI TRADUZIDO COM O AUXÍLIO DE FERRAMENTAS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E REVISADO POR NOSSA EQUIPE EDITORIAL)

O Egito enviou a Israel e ao grupo terrorista Hamas uma proposta de três fases que poderia acabar com a guerra na Faixa de Gaza. Segundo o plano, os combates no enclave palestino seriam paralisados e os reféns israelenses seriam soltos em etapas. De acordo com relatos da mídia israelense, o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu está disposto a ouvir as ideias propostas pelo país vizinho.

A primeira fase consistiria em uma suspensão dos combates durante duas semanas em troca da libertação de 40 reféns - mulheres, menores de idade e homens idosos, especialmente os doentes.

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Em retorno, Tel-Aviv iria libertar 120 detentos palestinos sob as mesmas condições. Nesta fase, os tanques israelenses ficariam em posições negociadas entre as duas partes e um grande fluxo de ajuda humanitária iria entrar em Gaza.

Segunda fase

De acordo com relatos da mídia israelense, a segunda fase consistiria em um diálogo diferentes facções palestinas como os grupos terroristas Hamas e Jihad Islâmica e o Fatah, que comanda a Autoridade Palestina, organização criada após os Acordos de Olso que governa partes da Cisjordânia.

As conversas seriam intermediadas pelo Egito e levariam a formação de um governo em Gaza e na Cisjordania, que supervisionaria a reconstrução do enclave palestino e prepararia caminho para novas eleições parlamentares e presidenciais palestinas.

Terceira fase

Já a terceira fase incluiria um cessar-fogo mais abrangente, a libertação do restante dos reféns israelenses, incluindo soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI). Um número de prisioneiros palestinos que estão nas prisões de Israel também seriam libertados, inclusive os condenados por crimes terroristas considerados graves.

Nessa fase, Israel retiraria as suas forças da Faixa de Gaza e permitiria que os habitantes de Gaza deslocados do norte do enclave regressassem às suas casas.

O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, retornou no sábado, 23, para o Catar após uma viagem de quatro dias para o Egito, onde conversou com as autoridades sobre possíveis acordos de trégua.

O canal de televisão saudita Asharq apontou que uma delegação do grupo terrorista Jihad Islâmica desembarcou no Cairo neste domingo, 24, para novas conversas.

Reféns

De acordo com o governo israelense, 129 reféns ainda estão na Faixa de Gaza, mas alguns já foram dados como mortos. Em novembro, 105 civis foram libertados pelo grupo terrorista Hamas em meio a um acordo intermediado por Egito, Catar e Estados Unidos, além de negociações específicas para a libertação de cidadãos da Rússia, Filipinas e Tailândia.

Além disso, quatro reféns foram libertados nas primeiras semanas da guerra e uma sequestrada foi libertada pelas tropas israelenses. Corpos de oito sequestrados foram recuperados pelo Exército israelense e três reféns foram mortos acidentalmente por soldados de Israel.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram a morte de 22 pessoas ainda detidas pelo Hamas, citando novas informações e descobertas obtidas por tropas que operam em Gaza.

O grupo terrorista Hamas também mantém os corpos de dois soldados israelenses que foram mortos durante a guerra em 2014, além de dois reféns israelenses que Tel-Aviv acredita que estão vivos e já estavam no enclave palestino desde antes do dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas invadiram o território israelense e mataram 1.200 pessoas.

Um bombardeio russo na região de Kherson, no Sul da Ucrânia, matou quatro pessoas neste domingo, 24, incluindo um homem de 87 anos e sua mulher, de 81, após o prédio onde moravam ser atingido.

O ataque feriu outras nove pessoas, incluindo um jovem de 15 anos, e provocou incêndios em casas, numa instalação privada de saúde e num gasoduto local, disse o chefe da administração militar regional, Oleksandr Prokudin.

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"Não há feriados para o inimigo", escreveu Andrii Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, nas redes sociais. "Eles [os feriados] não existem para nós enquanto o inimigo matar o nosso povo e permanecer nas nossas terras."

O bombardeio em Kherson atingiu o centro da capital da região de mesmo nome. O ataque ocorreu enquanto a Ucrânia se prepara para celebrar oficialmente o Natal pela primeira vez no dia 25 de dezembro, tendo anteriormente comemorado a data em 7 de janeiro.

A população é majoritariamente cristã ortodoxa - crença também majoritária na Rússia - e a religião segue o calendário juliano.

Alguns ucranianos ortodoxos celebraram o Natal em 25 de dezembro do ano passado, em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. A Igreja Ortodoxa Russa comemora o nascimento de Jesus em 7 de janeiro.

O Mosteiro das Cavernas, Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em Kiev, realizou a celebração de Natal em 7 de janeiro deste ano, mas a cerimônia foi realizada em língua ucraniana pela primeira vez nos 31 anos de independência do país.

O presidente Volodymyr Zelensky assinou legislação em julho, transferindo o feriado para 25 de dezembro, embora uma das duas organizações concorrentes da Igreja Ortodoxa da Ucrânia esteja mantendo a data de janeiro ditada pelo calendário juliano.

Para marcar a véspera de Natal, em 24 de dezembro, Zelensky dirigiu-se à nação em vídeo filmado em frente à iluminada Catedral de Santa Sofia, no centro de Kiev.

Ele garantiu aos ucranianos que lutam contra a invasão que "passo a passo, dia a dia, a escuridão está perdendo".

"Hoje, este é o nosso objetivo comum, o nosso sonho comum. E é precisamente para isso que serve a nossa oração comum hoje. Pela nossa liberdade. Pela nossa vitória. Pela nossa Ucrânia", disse Zelensky.

Mais ataques

Kherson não foi a única região da Ucrânia a ser atacada neste domingo. As forças russas lançaram 15 ataques de drones durante a noite, e 14 drones Shahed, de fabricação iraniana, foram destruídos nas regiões de Mykolaiv, Kirovohrad, Zaporíjia, Dnipro e Khmelnytsky, informou a força aérea ucraniana.

Enquanto isso, duas pessoas ficaram feridas durante bombardeio russo contra 20 cidades e vilarejos na região de Kharkiv, no Norte da Ucrânia, disse o governador Oleh Syniehubov.

Na Rússia, um homem ficou ferido na região de Bryansk depois que uma vila perto da fronteira com a Ucrânia foi atacada, disse o governador da região, Alexander Bogomaz. Fonte: Associated Press

Autoridades palestinas da área de saúde informaram neste domingo, 24, que pelos menos 49 pessoas foram mortas num ataque aéreo israelense na região central de Gaza.

Mais cedo, militares israelenses informaram que quatorze soldados foram mortos em combate na Faixa de Gaza no fim de semana, em alguns dos dias de batalha mais sangrentos desde o início da ofensiva terrestre e um sinal de que o Hamas está ainda resistindo, apesar de semanas de guerra brutal. Fonte: Associated Press

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Militares israelenses informaram neste domingo, 24, que 14 soldados foram mortos em combate na Faixa de Gaza no fim de semana, em alguns dos dias de batalha mais sangrentos desde o início da ofensiva terrestre e um sinal de que o Hamas está ainda resistindo, apesar de semanas de guerra brutal.

O crescente número de mortos entre militares israelenses deverá desempenhar um fator importante no apoio público do país à guerra.

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Os israelenses apoiam firmemente os objetivo declarados do país de anular as capacidades governamentais e militares do Hamas e de libertar os restantes 129 prisioneiros. Mas o número crescente de soldados mortos poderá minar esse apoio.

As mortes de soldados são um tema delicado e emocional em Israel, um país com serviço militar obrigatório para a maioria dos judeus.

O conflito já devastou partes da Faixa de Gaza, matou cerca de 20,4 mil palestinos e deslocou quase 85% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza.

O Ministério da Saúde em Gaza controlada pelo Hamas disse que 166 pessoas foram mortas no enclave costeiro no último dia. Fonte: Associated Press.

Sem uma grande árvore de Natal nem um presépio deslumbrante, um clima triste prevalece este ano em Belém, a cidade onde Jesus nasceu segundo a tradição cristã, na véspera de um Natal marcado pela guerra em Gaza.

Na meia-noite deste domingo, espera-se a presença de poucos fiéis e turistas na tradicional missa de Natal nesta localidade, situada no território palestino ocupado da Cisjordânia.

Os turistas fugiram da região desde o início da guerra entre Israel e Hamas em 7 de outubro.

Os cristãos palestinos não têm ânimo para celebrar o Natal ao mesmo tempo em que bombardeiam seus compatriotas em Gaza.

As autoridades municipais de Belém cancelaram a maioria dos eventos natalinos.

"É difícil celebrar algo em um momento em que nosso povo está morrendo", disse à AFP Nicole Najjar, uma estudante de 18 anos entrevistada em uma praça deserta. "Muitos estão morrendo por esta terra", lamenta.

Na Praça da Natividade, que era decorada com uma grande árvore de Natal e um presépio de tamanho humano, foi instalada uma obra de arte que representa Maria e José no meio dos destroços e atrás de arame farpado. É uma referência evidente à tragédia em Gaza.

Em um dos prédios da praça, há uma grande faixa com a mensagem: "Parem com o genocídio, os deslocamentos forçados e suspendam o bloqueio".

O ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas, anunciou no domingo que os bombardeios e incursões terrestres de Israel naquele território palestino causaram 20.424 mortes, a maioria mulheres e menores, desde 7 de outubro.

Quase 1.140 pessoas morreram em território israelense no ataque sem precedentes do Hamas que desencadeou a ofensiva israelense.

Os bombardeios do Exército de Israel também afetaram as igrejas, onde cerca de 1.000 palestinos cristãos buscaram refúgio.

O Patriarcado Latino de Jerusalém denunciou na semana passada a morte de uma mãe e sua filha, atingidas por tiros do Exército israelense, na única igreja católica na Cidade de Gaza.

- "Ninguém virá" -

O Patriarca de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, disse neste domingo, ao chegar a Belém, que "é preciso acabar com as hostilidades, pois a violência só gera mais violência".

"A mensagem de Natal não é a violência, mas a paz. Queremos a paz, principalmente para os palestinos que a esperam há muito tempo", acrescentou.

Durante a manhã, moradores de Belém, tanto cristãos quanto muçulmanos, ergueram uma grande bandeira palestina na Praça do Presépio.

"Ninguém virá. Abrimos porque é Natal e tínhamos que fazer isso", afirma Amir Giacaman, de 29 anos, proprietário de uma loja de presépios e outros objetos de arte litúrgica.

Giacaman lamenta uma queda no número de turistas mais acentuada do que durante a pandemia: "Com a Covid-19, tivemos anos ruins, mas nada comparado a isso".

"Não temos ânimo para celebrações ao mesmo tempo que em Gaza ocorre um genocídio e na Cisjordânia lamentamos jovens abatidos por Israel e detidos todos os dias", reconhece Mitri Raheb, pastor de uma igreja luterana na localidade palestina.

"Belém trouxe Jesus ao mundo. Chegou a hora de o mundo trazer a paz a Belém e a Gaza", acrescenta Raheb.

Com os poucos pertences empilhados em uma cadeeira de rodas ou em uma carroça, milhares de palestinos fugiram na sexta-feira (22) do centro da Faixa de Gaza para o sul do território para escapar dos bombardeios israelenses, que afirmam ser incessantes.

Muitos deslocados procuraram abrigo nos últimos dias no campo de refugiados de Bureij, no centro de Gaza, em busca de um local seguro depois que foram obrigados a fugir diversas vezes desde o início da guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, em 7 de outubro.

Para a nova fuga, alguns usaram carroças puxadas por burros com seus pertences, famílias escaparam com seus bebês em carros e outros ajudavam parentes idosos a caminhar no meio da multidão, protegidos por cobertores para enfrentar o inverno.

"Isto não é vida: sem água, comida, nada", lamentou Wala al Medini, uma mulher que foi ferida em um bombardeio em sua casa na Cidade de Gaza e fugiu em uma cadeira de rodas.

"Minha filha morreu no meu colo e eu fui resgatada dos escombros depois de três horas", disse. "Nossa casa e tudo ao seu redor foram destruídos".

Ela contou que não consegue dormir bem há 40 dias.

"Minha mensagem para o mundo é que olhem para nós, que nos vejam, que vejam que estamos morrendo. Por que não prestam atenção?", questiona.

O Exército israelense emitiu na sexta-feira uma ordem de evacuação do campo de Bureij e ordenou que os moradores seguissem para Deir al Balah, ao sul.

- "Isto está errado" -

Os bombardeios e a ofensiva terrestre de Israel provocaram o deslocamento de 1,9 milhão de moradores de Gaza, segundo os números da ONU, mais de 75% da população deste pequeno território de 362 quilômetros quadrados.

Apenas nove dos 36 hospitais de Gaza estão em funcionamento, mas de forma parcial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

No hospital Aqsa, no centro de Gaza, os funcionários procuram espaço para os pacientes que chegam em macas procedentes de outro campo de refugiados, em Al Maghazi.

No centro de saúde lotado, os médicos atendem uma criança ferida no chão. Um bebê com sangue na testa grita em um berço colocado no chão.

Em alguns pontos da Cidade de Gaza são registrados confrontos nas ruas entre soldados israelenses e combatentes do Hamas.

A guerra começou em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas invadiram o território israelense e executaram um ataque extremamente violento, com quase 1.140 pessoas assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nas informações divulgadas pelas autoridades israelenses.

No mesmo dia, os milicianos do Hamas também sequestraram quase 250 pessoas.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o movimento islamista palestino e iniciou uma campanha de bombardeios, seguida, a partir do fim de outubro, de uma ofensiva terrestre em Gaza.

O Hamas, que governa o território, afirma que os ataques deixaram mais de 20.000 mortos, a maioria mulheres e menores de idade.

Em meio à destruição, os deslocados buscaram refúgio em abrigos ou barracas, enquanto enfrentam dificuldades para encontrar alimentos, combustível, água e medicamentos.

No campo de Bureij, Salem Yusef contou que depois de fugir da Cidade de Gaza ele se refugiou no hospital Al Shifa e, em seguida, passou um mês e meio no campo de refugiados de Nuseirat, no centro do território.

Ele reluta em seguir a fuga para Rafah.

Israel anunciou que os moradores de Gaza devem buscar refúgio em setores do território estreito que afirma que são seguros, mas os bombardeios continuam atingindo estas áreas.

"Eles dizem que é seguro, mas não há lugar seguro", afirmou Yusef.

O palestino tem a esperança de que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, "interrompa os crimes e os massacres de inocentes e pare de reivindicar que atingiu posições (das Brigadas Ezzedin al Qasam, braço armado do Hamas) quando nem consegue alcançá-las".

"Também espero que pare de matar crianças inocentes e de destruir casas", disse.

"Isto está errado, tudo o que Netanyahu faz é errado", concluiu.

Os presidentes da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, estabeleceram recentemente suas prioridades para 2024 em entrevistas coletivas anuais, nas quais apresentaram o balanço do conflito.

Com base nas declarações dos dois governantes, confira uma lista do que podemos esperar no próximo ano de uma guerra que começou em 24 de fevereiro de 2022 com a invasão russa.

- Guerra de desgaste -

Zelensky atribuiu o fracasso da contraofensiva de verão (hemisfério norte, inverno no Brasil) à falta de munições e de superioridade aérea. Duas carências que continuam afetando as forças ucranianas, quando o que surge é uma guerra de desgaste, com as forças russas novamente tomando a iniciativa em alguns pontos.

"Precisamos de apoio, porque simplesmente não temos munições", disse o presidente ucraniano, que não revelou mais detalhes sobre os planos de seu Exército para 2024.

Putin destacou que suas tropas estão "melhorando as posições em quase toda a linha de contato".

O presidente russo admitiu que os ucranianos conseguiram estabelecer uma cabeça de ponte na margem sul do rio Dnieper, mas afirmou que as tropas de Kiev estavam sendo "exterminadas" na área sob o fogo da artilharia de Moscou.

- Cansaço dos aliados ocidentais -

Putin, cuja reeleição em março é algo assegurado, também aposta na erosão do respaldo ocidental à Ucrânia, um tema que provoca divisões na Europa e nos Estados Unidos. Ele afirmou que o apoio político, diplomático, econômico e militar "poderia terminar", e de fato "parece que está acabando pouco a pouco".

Zelensky declarou, no entanto, acreditar que a ajuda continuará sendo enviada e, em particular, que os Estados Unidos "não trairão" a Ucrânia.

Ele, no entanto, reconheceu que teme uma guinada em Washington se Donald Trump retornar à presidência após as eleições de novembro de 2024.

"Se a política do próximo presidente (americano), independente de quem seja, for diferente em relação à Ucrânia, ou seja, mais fria ou menos generosa, penso que isso teria um impacto muito forte no curso da guerra", alertou Zelensky.

- Falta de soldados -

Diante da evidente falta de soldados na frente de batalha, de mais de mil quilômetros, Zelensky mencionou um plano do Exército que pretende convocar "entre 450.000 e 500.000 pessoas adicionais" em 2024, mas não revelou detalhes.

Para amenizar a falta de munições, ele também disse que o objetivo é produzir "um milhão de drones no próximo ano".

Putin considerou que "não é necessária" uma nova convocação depois da realizada em setembro de 2022, que foi muito impopular. Segundo ele, o país conseguiu recrutar 486.000 voluntários para aumentar o número de soldados do Exército em 2023, um esforço que prosseguirá.

Também prometeu seguir reforçando as capacidades militares do Exército, em uma Rússia que tem a economia concentrada no esforço de guerra e que pode ter recebido grandes quantidades de munições da Coreia do Norte.

- Sem negociações à vista -

Putin reiterou que a paz será possível apenas quando Moscou alcançar seus objetivos: "a desnazificação da Ucrânia, sua desmilitarização e o status de neutralidade".

Ele disse que Moscou e Kiev "estabeleceram" os critérios nas primeiras negociações em Istambul, no início do conflito, conversas que foram abandonadas em seguida.

"Há outras possibilidades: alcançamos um acordo ou resolvemos o problema pela força. É o que vamos tentar fazer", disse Putin.

Zelensky insistiu que o objetivo é recuperar o controle de todos os territórios ocupados pela Rússia no leste e sul do país, incluindo a Crimeia, anexada em 2014 por Moscou. "A estratégia não pode mudar", insistiu.

Também descartou qualquer negociação com Moscou. "Hoje não é pertinente. Não vejo que a Rússia esteja pedindo, não vejo em seus atos. E na retórica, eu vejo apenas insolência", afirmou.

- Quando acabará a guerra? -

Em tom firme, Putin prometeu a "vitória" aos compatriotas.

Ele disse que a Rússia acumulou bastante "margem de segurança para avançar". A sociedade russa está "fortemente consolidada" e a economia tem uma "reserva de força e estabilidade".

Zelensky pediu aos ucranianos que mantenham a "resiliência". Ele admitiu que não sabe se a guerra terminará em 2024: "Acho que ninguém tem a resposta".

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quarta-feira, 20, que o país continuará a guerra até o fim, que considera que ocorra quando o Hamas seja eliminado, classificando este cenário como uma vitória.

Em pronunciamento, o dirigente disse: "quem pensa que vamos parar não está ligado à realidade. Não deixaremos de lutar até atingir todos os objetivos que estabelecemos: a eliminação do Hamas, a libertação dos nossos reféns e a remoção da ameaça de Gaza".

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Netanyahu afirmou ainda: "estamos atacando o Hamas com fogo. Em todos os lugares, inclusive hoje. Também atacamos seus assistentes de perto e de longe. Todos os terroristas do Hamas, do primeiro ao último, são mortais. Eles têm apenas duas opções: render-se ou morrer".

Os Estados Unidos emitiram uma carta coletiva assinada junto do alto representante da União Europeia para Negócios Estrangeiros, Josep Borell, do secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jans Stoltenberg, e de um grupo de 44 países, em que condenam a interferência Houthi nas navegações na Península Arábica, principalmente no Mar Vermelho.

O texto afirma que os ataques recentes a embarcações em território Houthi ameaçam o comércio internacional e a segurança marítima. A carta pede que nenhum país se abstenha ou encoraje a atitude dos Houthis.

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"Não há justificação para estes ataques, que afetam muitos países para além das bandeiras sob as quais estes navios navegam", afirma o texto, que pede também a liberação imediata do navio Galaxy Leader e dos 25 membros de sua tripulação, além de exigir a interrupção de novos ataques.

No domingo (17) o Exército de Israel afirmou ter descoberto o maior túnel subterrâneo construído pelo grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, com uma extensão de mais de quatro quilômetros. A descoberta deu mais uma pista sobre a complexa rede subterrânea que tem sido um ponto chave durante a guerra, já que Israel depende da destruição desses pontos - utilizados para articulação do grupo terrorista-, para alcançar seus objetivos militares.

Não se sabe exatamente qual a extensão desses túneis. Quando Israel e o Egito impuseram um bloqueio punitivo a Gaza depois de o grupo terrorista Hamas ter tomado o controle do território em 2007, o grupo terrorista expandiu a construção da rede para contrabandear armas do Egito.

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Embora o Egito tenha posteriormente encerrado a maior parte desses túneis transfronteiriços, acredita-se que hoje em dia o grupo terrorista Hamas tenha uma gigantesca e complexa rede subterrânea que se estende por toda Gaza, permitindo-lhe transportar armas, abastecimentos e combatentes fora da vista dos drones israelenses.

Veja o que se sabe até agora sobre esse sistema, de acordo com o Exército de Israel:

Tamanho suficiente para passar carro

O túnel descoberto no domingo, o maior até então, é largo suficiente para passagem de carros, confirmou um fotógrafo autorizado a entrar à AFP . E está equipado com tubulações, eletricidade, sistemas de esgoto, ventilação e ferroviários.

O Exército disse que a rede de túneis facilitou o trânsito de veículos, pessoas e suprimentos para o ataque terrorista sem precedentes, que matou 1.200 pessoas e desencadeou a guerra.

Esse túnel, de acordo com relatos de militares e jornalistas que visitaram o local, tem o dobro da altura e três vezes a largura de outros túneis encontrados em Gaza - e mergulha 50 metros no subsolo em alguns pontos.

Escondidos em escolas e mesquitas

Os túneis custaram ao Hamas cerca de US$ 3 milhões cada, segundo os militares de Israel. Alguns são feitos de concreto pré-fabricado e ferro e contam com salas médicas para atendimento aos terroristas feridos. Outros têm espaços a 40 metros abaixo do solo, onde as pessoas podem se esconder durante meses. Segundo as Forças de Defesa de Israel, a maioria dos pontos de acesso aos túneis estão escondidos entre escolas, mesquitas, hospitais e outros edifícios civis.

'Teia de aranha'

Yocheved Lifshitz, de 85 anos, foi uma dos primeiros reféns soltos pelo Hamas, em outubro. Para a imprensa, a idosa confirmou as suspeitas de que os militantes colocaram reféns nos túneis. Lifshitz descreveu o sistema subterrâneo como "uma teia de aranha". "Fomos para o subsolo e caminhamos quilômetros em túneis molhados, por duas ou três horas em uma teia de túneis", disse ela.

Essa complexidade do sistema possivelmente dificultaria ataques por Israel. "Quando você entra em um túnel, ele é muito estreito, escuro e úmido, e você rapidamente perde a noção de espaço e tempo", disse Daphné Richemond-Barak, professor da Universidade Reichman de Israel que escreveu um livro sobre guerra subterrânea, à Associated Press. "Você tem esse medo do desconhecido, quem está chegando? … Isso vai ser uma emboscada? Ninguém pode vir e resgatar você. Você mal consegue se comunicar com o mundo exterior, com sua unidade."

O campo de batalha poderia forçar os militares israelenses a tiroteios nos quais os reféns poderiam ser mortos acidentalmente. Armadilhas explosivas também podem detonar, enterrando vivos tanto os soldados quanto os reféns, disse Richemond-Barak.

Túnel de pedras de 150 metros

Em novembro, os militares disseram ter encontrado uma suposta instalação militar do grupo terrorista Hamas sob o Shifa, o maior hospital de Gaza. Um túnel de pedras de 150 metros foi apresentados pelo exército de Israel como o caminho para uma série de bunkers subterrâneos. Alojamentos, localizados no final do túnel, tinham ar condicionado, cozinha, banheiro e duas camas de metal em um cômodo revestido de azulejos brancos. Eles pareciam estar fora de uso. O grupo Hamas e a administração do hospital negaram as acusações de Israel. (Com agências internacionais).

Os EUA e outras nove nações criaram uma nova força conjunta para proteger os navios que transitam no Mar Vermelho após a série de ataques por drones e mísseis balísticos disparados de áreas do Iêmen controladas pelo grupo rebelde houthis. O anúncio foi feito pelo secretário de Defesa americano, Lloyd J. Austin, no Bahrein, país que visitou depois de se reunir com autoridades em Israel nesta segunda-feira (18).

Os houthis, um grupo apoiado pelo Irã, advertiram que irão atacar embarcações que navegarem na costa do Iêmen e tiverem ligação com Israel, em resposta ao conflito em Gaza.

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A gravidade dos ataques, vários dos quais danificaram os navios, levou muitas companhias marítimas a ordenar aos seus navios que se mantivessem no local e não atravessassem o Estreito de Bab el-Mandeb até que a situação de segurança pudesse ser resolvida. A companhia britânica BP se juntou a esse grupo ontem.

Reino Unido, Bahrein, Canadá, França, Itália, Holanda, Noruega, Seychelles e Espanha se juntaram aos EUA na nova missão. Alguns dos países realizarão patrulhas conjuntas, enquanto outros fornecerão apoio de inteligência no sul Mar Vermelho e Golfo de Áden.

Três navios de guerra dos EUA - o USS Carney, o USS Stethem e o USS Mason, todos destróieres da Marinha - têm se deslocado diariamente pelo Estreito de Bab el-Mandeb para ajudar a dissuadir e responder aos ataques dos houthis. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

"Normalmente está cheio de turistas", diz Abood Suboh, em sua loja em Belém. Mas, na véspera dos festejos natalinos, os peregrinos desapareceram da cidade natal de Cristo.

"A guerra parou tudo", avalia este comerciante de 30 anos que vende lenços e bolsas, referindo-se aos bombardeios e aos combates entre o Exército israelense e o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza.

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Os bombardeios israelenses deixaram mais de 18.800 mortos no pequeno território controlado pelo Hamas, autor do massacre sem precedentes de 7 de outubro em solo israelense, com um total de 1.140 óbitos.

Sem sinais de uma nova trégua nos próximos dias, depois da pausa humanitária de novembro, o Natal se antecipa como dias de luto nesta cidade da Cisjordânia ocupada onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo nasceu.

A Igreja da Natividade, Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), normalmente atrai centenas de milhares de turistas todos os anos.

Agora, os carros estão estacionados na praça, onde os peregrinos deveriam estar, e os hotéis se encontram vazios. As autoridades religiosas renunciaram ao anúncio de qualquer celebração "inutilmente festiva", em solidariedade aos palestinos que sofrem em Gaza.

A violência também aumentou na Cisjordânia, com quase 300 palestinos mortos pelas forças israelenses, ou por colonos, desde 7 de outubro, segundo as autoridades palestinas.

- "Como em uma prisão" -

"Fazemos 80% da nossa renda anual neste período", diz Jack Giacaman, que trabalha na produção de artigos religiosos de madeira para uma loja de souvenires. A oficina, no fundo da loja, está vazia, e vê-se algumas estatuetas inacabadas. Por que contratar?

"Belém está totalmente fechada por toda parte", desabafa, ao ser referir aos postos de controle israelenses que restringem o movimento na Cisjordânia.

No ano passado, Giacaman teve de contrair um empréstimo para sobreviver após a pandemia da covid-19. Agora, tem de voltar a fazer as contas.

"Fizemos um cálculo de três anos para cobrir as perdas, mas agora não sabemos como terminar o ano", lamenta ele, diante das ruas vazias do centro histórico dessa cidade, onde cristãos e muçulmanos costumam conviver.

A culpa é da retórica assustadora dos líderes israelenses, afirma Fadi Kattan. Esse chef franco-palestino não suporta o clichê de que "todos os palestinos são perigosos".

"É como se tivesse uma linha invisível que impede os peregrinos de se aventurarem fora dos caminhos marcados", por causa do que dizem os operadores de turismo israelenses, acrescenta, do terraço de uma casa que já pertenceu ao seu bisavô.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou em um discurso que a morte de reféns israelenses baleados por engano por tropas de Israel na Faixa de Gaza partiram seu coração e "partiram o coração de toda a nação". As vítimas levantavam bandeiras brancas e estavam sem camisa quando foram alvejadas.

O primeiro-ministro não indicou, apesar da morte dos reféns, que haverá qualquer mudança na intensa campanha militar de Israel.

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"Estamos empenhados como sempre em continuar até ao fim, até desmantelarmos o Hamas, até devolvermos todos os nossos reféns", disse.

A revolta pelos assassinatos deverá aumentar a pressão sobre o governo israelense para renovar as negociações mediadas pelo Catar com o Hamas sobre a troca de mais cativos restantes.

Um alto funcionário do Hamas, Osama Hamdan, reiterou que não haverá mais libertações de reféns até que a guerra termine e Israel aceite as condições do grupo militante para uma troca. Netanyahu disse que Israel nunca concordaria com tais exigências.

Israel multiplicou seus ataques contra a Faixa de Gaza nesta sexta-feira (15) e advertiu que a guerra contra o Hamas, iniciada há 70 dias, durará "mais que vários meses", apesar da pressão dos Estados Unidos para que reduza a intensidade dos ataques e proteja os civis.

O Ministério da Saúde do Hamas reportou "dezenas de mortos e feridos" em bombardeios em Khan Yunis, a grande cidade do sul do território palestino onde Israel ampliou suas operações terrestres.

A cidade vizinha de Rafah também foi atacada.

"Tudo está destruído, há 70 dias enfrentamos esta guerra e esta destruição", lamentou à AFP um sobrevivente, Bakr Abu Hajjaj.

A guerra entre Israel e Hamas começou em 7 de outubro após o ataque sem precedentes dos combatentes do grupo islamista palestino em solo israelense, no qual morreram cerca de 1.200 pessoas, segundo as autoridades.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, no poder em Gaza desde 2007 e considerada organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel. Mais de 18.700 pessoas morreram na ofensiva israelense na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do movimento islamista.

- "Mais que vários meses" -

Estados Unidos, principal aliado de Israel, começa a demonstrar impaciência ante o alto número de mortes de civis em Gaza.

"Quero que [os israelenses] se concentrem em como salvar vidas civis. Não que deixem de perseguir o Hamas, mas que tenham mais cuidado", declarou o presidente americano, Joe Biden.

Washington deseja que a ofensiva passe a "operações de baixa intensidade" em "um futuro próximo", segundo a Casa Branca.

Ao fim da guerra, não seria "correto" que Israel ocupasse a Faixa de Gaza a longo prazo, estimou nesta sexta-feira o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca Jake Sullivan, em visita a Israel. Segundo ele, o próprio governo israelense "indicou que não tinha intenção de ocupar Gaza a longo prazo e que o controle de Gaza, seu governo e segurança devem voltar para os palestinos".

Apesar dos apelos, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallan, indicou que a guerra vai durar. O Hamas "construiu infraestruturas subterrâneas e aéreas que não são fáceis de destruir. Levará tempo para fazê-lo, mais do que vários meses, mas venceremos e destruiremos o Hamas, declarou.

- "Mais batalhas" -

"Haverá mais batalhas difíceis nos próximos dias", advertiu Daniel Hagari, porta-voz do Exército israelense, que assegurou que os soldados utilizam "novos métodos de combate", como a colocação de cargas explosivas em locais frequentados por combatentes do Hamas.

No total, 117 soldados morreram em Gaza desde o início da ofensiva terrestre em 27 de outubro, segundo o Exército. Esta operação permitiu a Israel tomar o controle de várias regiões ao norte, antes de estender-se a todo o território, incluindo o sul.

Cerca de 240 pessoas foram sequestradas pelo Hamas no dia do ataque contra Israel, das quais 105 foram liberadas durante uma breve trégua de sete dias que expirou em 1º de dezembro.

O Exército israelense anunciou nesta sexta-feira que recuperou os corpos de três reféns na Faixa de Gaza, incluindo dois soldados de 19 anos, Nik Beizer e Ron Sherman, além do refém franco-israelense Elya Toledano. Segundo esta fonte, ainda há 132 reféns nas mãos do movimento islamista e grupos afiliados.

A guerra mergulhou a Faixa de Gaza em uma grave crise humanitária e 1,9 milhão de habitantes (cerca de 85% de sua população) foram deslocados, segundo a ONU. Muitos deles tiverem de fugir várias vezes à medida que os combates se estendiam.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu no Palácio do Planalto nesta segunda-feira, 11, duas familiares do brasileiro Michel Nisembaum, desaparecido em Israel, apontado como um dos reféns do Hamas. Mary Shohat (irmã de Michel) e Hen Mahluf (filha) foram ao encontro acompanhadas do senador Jaques Wagner (PT-BA) - que é judeu e próximo à comunidade israelense.

"Expressei minha solidariedade e falei dos esforços que o governo brasileiro tem feito, junto aos países da região, para a libertação dos reféns", disse o presidente em seu perfil no X, novo nome do Twitter.

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"Acho que a conversa foi muito boa, elas as familiares perceberam que o presidente Lula está completamente inteirado do assunto. Eu diria que a preocupação número um dele é exatamente com os reféns, e particularmente com o Michel por ser o refém que tem a nacionalidade brasileira", disse Wagner depois da conversa.

De acordo com o senador, Michel Nisembaum tem 56 anos e trabalhava como socorrista.

Wagner também disse que Lula aproveitou sua viagem para o Oriente Médio para pedir ajuda a autoridades de países árabes no esforço pela libertação do refém. O Catar, principalmente, tem boas relações com Hamas.

Em uma oficina na sitiada Faixa de Gaza, Ibrahim Shouman conserta pequenos fogões que não eram usados, uma esperança para as pessoas deslocadas e privadas de gás de cozinha.

Com uma pinça, um pavio novo e um pouco de combustível caseiro, Shouman faz uma pequena chama crepitar.

"As pessoas voltaram aos velhos tempos e trazem os seus fogões para serem consertados porque não temos mais gás ou combustível disponível", contou a um jornalista da AFP em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, perto do Egito.

Israel bombardeia o estreito enclave palestino desde 7 de outubro, em resposta ao ataque do Hamas ao seu território, no qual milicianos islamistas mataram quase 1.200 pessoas e sequestraram cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.

Paralelamente aos bombardeios, Israel também realiza operações terrestres na Faixa de Gaza, onde faltam água, alimentos, medicamentos e eletricidade devido ao cerco "completo" ordenado por Israel.

O Ministério da Saúde de Gaza, governado pelo Hamas desde 2007, afirma que a ofensiva já deixou quase 18 mil mortos no território, a maioria civis.

Além disso, centenas de milhares de pessoas fugiram do norte do enclave para se refugiarem no sul. Mas o Exército israelense também ampliou as suas operações a essa parte do território.

- Nem mesmo lenha -

A ONU calcula que cerca de 1,9 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados.

"As pessoas procuram lenha em todos os lugares, mas não há mais", diz Shouman. "Elas teriam que comprar por um preço mais alto e as pessoas têm pouco dinheiro sobrando", explica.

Na sua oficina, os clientes esperam que ele esfregue, dobre e ajuste algumas peças dos pequenos fogões, que esperam reviver.

"Esses fogões de acampamento foram usados há 100 anos, chegamos até aqui", diz Adnan Abu al Aish, de 55 anos, que procura uma maneira de cozinhar suas escassas porções de sêmola e vegetais.

Devido à escassez de querosene, Shouman abastece esses pequenos fogões com uma mistura de óleo de motor e combustível caseiro.

"Temos diesel disponível, mas é muito difícil de encontrar", afirma. "Um litro custa entre 30 e 35 shekels (entre 7,5 e 8,7 euros, ou 39,6 e 46 reais) e é preciso passar um dia inteiro à procura", acrescenta.

"Não tem nem lenha, as pessoas procuram pedaços de papelão jogados no chão", diz.

Mohammed al Malahi também trouxe o seu antigo fogão, que ele diz ter pertencido ao seu tataravô. "O que podemos fazer? Precisamos disso para criar fogo e cozinhar".

Os fogões "fazem o trabalho" nessas circunstâncias, observa ele.

Mais um grupo de brasileiros repatriados da Faixa de Gaza chegou ao Brasil na madrugada desta segunda-feira (11). A aeronave KC-30, da Força Aérea Brasileira (FAB), decolou do Cairo, capital do Egito, às 19h03 (hora local) de domingo (10) e pousou às 3h47 na Base Aérea de Brasília, onde o grupo foi recebido por autoridades brasileiras. Foram cerca de 15 horas de voo.

O grupo é formado por 48 pessoas, sendo 11 com dupla cidadania (Brasil-Palestina) e 37 palestinos, parentes de cidadãos brasileiros. São 27 crianças e adolescentes, 17 mulheres, incluindo duas idosas, e quatro homens adultos. Uma jovem de 22 anos que já estava no Egito se juntou aos resgatados de Gaza e embarcou neste mesmo voo. Ela é filha de uma das integrantes do grupo de repatriados em Gaza.

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No último sábado (9), eles receberam autorização para cruzar a fronteira de Rafah, no sul de Gaza, em direção ao Egito, de onde seguiram de ônibus até o Cairo. Na capital egípcia, foram recebidos por diplomatas brasileiros na capital do país e embarcaram para o Brasil.

Segundo o Itamaraty, da lista de 102 pessoas enviada pelo Brasil às autoridades israelenses, 24 não tiveram autorização para cruzar a fronteira, incluindo sete plaestino-brasileiros. A maioria dos barrados é de homens. O governo brasileiro não soube informar o motivo de eles terem sido impedidos, por Israel, de atravessar a fronteira. No momento, segundo o Palácio do Planalto, não há previsão de novo voo de repatriação.

Foto - Vitor Vasconcelos / Audiovisual / PR

"Em um primeiro momento, eles ficarão de dois a três dias em Brasília. A primeira etapa é do apoio psicológico, de imunização, de estabelecer contato com familiares e parentes e a questão da documentação. Alguns vão para as casas de familiares e amigos. Os que estiverem sem referência serão abrigados no Sistema de Assistência Social em instituições em que tenham todo o apoio de acolhimento e alimentação. Um suporte para reconstituírem a trajetória, já que vêm de situação bastante complexa", afirmou o secretário nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), André Quintão.

Uma das repatriadas que desembarcou em Brasília é Yasmeen Rabee, irmã de Hasan Rabee, que veio antes com a esposa e os filhos em outro voo que trouxe brasileiros de Gaza.

"Bombardearam nossa casa, ficamos sem comida e sem um lugar fixo para morar", disse Yasmenn, que veio agora com a mãe. Perguntada sobre a situação em Gaza, a principal zona de ataques, ela se emocionou. "A situação é terrível, você dorme sem saber se vai acordar. Perdi muitos amigos, minha tia e os filhos dela", relatou.

Foto - Vitor Vasconcelos / Audiovisual / PR

No dia 13 de novembro, após dias de tensão e negociação, os primeiros 32 brasileiros resgatados de Gaza desembarcaram no país, ocasião em que foram recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília.

Voltando em paz

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro, o governo brasileiro já retirou 1.524 brasileiros e palestino-brasileiros da Faixa de Gaza e de cidades israelenses, incluindo 53 animais domésticos. No total, a FAB já realizou 11 voos de repatriação por meio da Operação Voltando em Paz.

Mais um grupo de repatriados da Faixa de Gaza está a caminho do Brasil, informou o governo neste domingo, 10. Segundo o Palácio do Planalto, decolou há pouco do Cairo, no Egito, às 19h03 (14h03 no horário de Brasília), a aeronave KC-30 da Força Aérea Brasileira, com 48 repatriados. A previsão é que a aeronave chegue a Base Aérea de Brasília às 3h20 da madrugada desta segunda-feira, 11.

De acordo com o governo, o grupo conta com 27 crianças e adolescentes, 17 mulheres (duas idosas) e quatro homens adultos. Entre eles, 11 binacionais brasileiro-palestinos e 37 palestinos. "Desde o início do conflito no Oriente Médio, agora são 1.525 passageiros e 53 animais domésticos repatriados em 11 voos da Força Aérea Brasileira, com três tipos de aeronave. Cerca de 150 militares e 37 profissionais de saúde se envolveram na logística. Mais de 3 mil refeições foram servidas em mais de 330 horas de voo sobre 16 países", informou o Planalto.

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A nota afirma ainda que, de uma lista de 102 brasileiros e familiares próximos apresentada aos governos envolvidos para autorização da saída da Faixa de Gaza, 24 tiveram a saída negada, incluindo sete brasileiro-palestinos. Com isso, alguns familiares dos que não foram autorizados também acabaram desistindo. Dos 78 previstos na lista autorizada, 47 cruzaram a fronteira. "Hoje, uma jovem de 22 anos, que havia cruzado a fronteira dias antes com o marido canadense, se juntou aos resgatados que virão ao Brasil. Ela é filha de uma das integrantes do grupo de repatriados em Gaza", disse o Planalto.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta segunda-feira, 4, que seu governo ainda buscará 102 brasileiros que estão na Faixa de Gaza. Ele deu a declaração em Berlim, na Alemanha, onde teve uma reunião com o chanceler do país, Olaf Scholz.

Lula voltou a criticar o formato atual da ONU e disse que a entidade não está cumprindo seu "papel histórico".

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A crítica do brasileiro é principalmente sobre o Conselho de Segurança, controlado por Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia.

O Brasil reivindica uma ampliação do Conselho de Segurança para incluir a si próprio e outros países, como Alemanha e Índia.

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