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O embaixador do Brasil no Reino Unido, Fred Arruda, pediu desculpas à família de Dom Phillips nesta terça-feira, 14, depois de a embaixada informar que o corpo do jornalista havia sido encontrado junto ao do indigenista Bruno Pereira, na Amazônia. Ambos seguem desaparecidos há mais de uma semana. A retratação foi noticiada pelo jornal britânico The Guardian.

A informação incorreta havia sido dada pela embaixada à irmã e ao cunhado de Dom na segunda-feira, 13. Depois, foi negada pela Polícia Federal, em nota oficial, na qual também afirmaram que as equipes de ciência forense ainda estão periciando a área em que desapareceram.

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Arruda escreveu à família de Phillips hoje mais cedo, afirmando que lamenta "que a embaixada tenha passado à família ontem informações que não se mostraram corretas".

Na segunda, a hashtag "Dom e Bruno" chegou ao topo dos assuntos mais comentados no Twitter, no Brasil, com vários internautas pedindo por explicações e respostas quanto ao paradeiro do jornalista e do indigenista. O assunto também teve repercussão internacional.

Dom e Bruno foram vistos pela última vez no dia 5 de junho na terra indígena Vale do Javari, no Amazonas. Equipes de busca encontraram mochila e objetos pessoais que, segundo a PF, pertencem ao jornalista e ao indigenista.

O local onde os pertences foram encontrados é próximo à casa de Amarildo da Costa de Oliveira, em São Gabriel, zona rural de Atalaia do Norte. Ele segue preso e nega à polícia qualquer participação no desaparecimento de Dom e Bruno.

No idioma mayoruna, um jovem alerta por rádio comunicador a presença de "nauas" (não indígenas) no Rio Itaquaí, na Amazônia, dentro de terra indígena. Um kanamari põe no céu um drone e documenta a invasão do território protegido. Em pouco tempo, a polícia terá em mãos o flagrante e a identificação dos caçadores. É a vigilância indígena, que passou a subsidiar a fiscalização oficial e a impor derrotas ao crime dentro da floresta.

Por trás do trabalho de ensinar matises, kanamaris, mayorunas, kulinas e marubos a operar uma parafernália tecnológica que muitos nunca tinham visto está o indigenista Bruno Pereira, desaparecido desde o último dia 5. A pedagogia foi inspirada na técnica de trabalhar com desenhos que os Médicos Sem Fronteiras usam para ensinar procedimentos a tribos da África. "O Bruno ia com a gente pelo mato, ensinava tudo. A gente trabalha aqui no risco, de noite e de dia para cuidar da nossa terra de todos pescadores e de tudo", contou um mayoruna que, por medo da reação de criminosos, pediu para não ser identificado.

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A vigilância começou a ganhar corpo em setembro de 2021 e em pouco tempo os cerca de vinte indígenas treinados já deram resultados. Bruno queria expandir o projeto para o Maranhão. Além de prejuízos financeiros a caçadores e a pescadores ilegais, eles têm subsidiado a fiscalização em Atalaia do Norte, Tabatinga e Manaus (AM). Ao desaparecer, Bruno Pereira levava à Polícia Federal um novo conjunto de diários, fotos, vídeos e informações georreferenciadas feitos pela equipe.

A ideia nasceu de uma demanda conjunta dos povos do Vale do Javari como solução ao arquivamento de denúncias por "falta de informações qualificadas". O monitoramento se mostrou necessário por um motivo vital. Os infratores adentram os territórios preservados em busca principalmente de tracajás, pirarucus e antas para vender no mercado paralelo. "São recursos vitais para os irmãos isolados que vivem ali. Estão vulnerabilizando os parentes marubos e temos informações de que está faltando comida para os Korubos", diz Beto Marubo, principal liderança indígena do Javari, que atua em parceria com Bruno. Como revelou o Estadão ontem, Marubo anda escoltado e está ameaçado de morte.

A equipe de vigilância indígena agora está dedicada a descobrir o paradeiro de Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ontem, a melhor pista era um trecho de mata revirada na calha do Itaquaí. Até o fim do dia, nenhum sucesso. A Polícia Federal periciou o freezer de pescados de uma embarcação, mas não apresentou avanços.

Apesar de toda a movimentação militar, os indícios de atividade ilegal não param no extremo da Amazônia, na fronteira com o Peru. Um irmão do único suspeito de ligação com o desaparecimento tem percorrido as imediações da base móvel da equipe de vigilância. "O Caboclo está aqui, o freezer dele parece estar cheio de pirarucu. Avisa a polícia e pede pra fazer uma revista, ele está perto do furo do Itaquaí", alertou um kanamari.

TESOURO. A riqueza extraída por causa de uma fiscalização deficitária é imensurável. Há muito mais riqueza que peixes, ouro e madeira nos rios e florestas do Vale do Javari. Com recentes descobertas de áreas de nióbio, potássio, manganês e óxido de tântalo em outras regiões da Amazônia, o território indígena no extremo oeste do País onde atua o indigenista Bruno Pereira voltou a atrair a cobiça internacional. Possíveis campos de extração de gás e óleo na reserva de 85 mil quilômetros quadrados foram mapeados ainda nos anos 1980, quando a Petrobras realizou pesquisas de campo.

A ofensiva pelas riquezas do Javari tem outras frentes conhecidas. A atuação de dragas para garimpar ouro, a pesca de espécies raras como o pirarucu, um dos maiores peixes brasileiros, e o comércio de madeira são as mais visíveis delas. Essa cadeia econômica criminosa na região de Tríplice Fronteira tem como liga o tráfico de drogas, que despeja dinheiro e armas pesadas nos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin Constant.

Bruno Pereira esteve envolvido em todas as mais recentes operações contra o crime ambiental nessa região do Alto Solimões. Em 2019, coordenou a missão policial que resultou na destruição de mais de 40 dragas, um duro golpe no mercado do garimpo. Pouco depois, perdeu a coordenação que ocupava na Fundação Nacional do Índio (Funai) e passou a atuar voluntariamente na União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

PASSO A PASSO. A última expedição começou em 2 de junho, uma quinta-feira, quando subiu o Itaquaí para se reunir com a equipe de vigilância indígena, na companhia do jornalista inglês, colaborador do The Guardian que percorre a Amazônia para a produção de um livro. Como os "nauas" não podem entrar no território demarcado, o encontro foi na comunidade do Lago do Jaburu.

No domingo, 5, desceriam o Itaquaí e o Javari com novos dossiês. Tinha uma agenda prevista com a Polícia Federal em Tabatinga. No caminho, parou em uma das comunidades conhecidas por servir de entreposto para narcotraficantes e exploradores para conversar com uma liderança local. E sumiu.

Pouco antes, Amarildo Costa, o Pelado, suspeito preso, passou de barco acompanhando por um outro caçador fazendo intimidações. O Estadão localizou uma das testemunhas que prestou depoimento à Polícia Civil. "Eles levantaram as armas e um deles tinha uma cartucheira na cintura, que não é comum. Eles foram filmados. O Bruno ia levar o vídeo pra PF e agora sumiu tudo", diz a testemunha kanamari.

IDH. O prefeito de Atalaia do Norte (AM), Denis Paiva (PSC), negou vínculo com Pelado, único preso por suspeita de ligação com o desaparecimento. Ele visitou a casa do suspeito após a prisão e o procurador municipal chegou a assumir temporariamente a defesa. "Meu histórico não permite isso, meu caráter não permite isso. Quem me conhece sabe. As pessoas querem induzir, colocar palavras na nossa boca. Eu o conhecia, sim. Se disser que não, estou mentindo. Mas não tinha amizade, de compadre, de ele ir na minha casa e eu ir na casa dele", disse.

Atalaia do Norte tem o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil (IDH) e o pior do estado do Amazonas. A cidade, afastada do Peru somente pelo rio Javari, é pacata, mas tem um entorno conhecido pela intensa movimentação de infratores. Há influência de narcotraficantes brasileiros, peruanos e colombianos, segundo policiais e pesquisadores. O prefeito reclama do desamparo dos órgãos federais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, afirmou, nesta terça-feira (14), que a busca pelo paradeiro do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips prosseguirá até se "esgotarem todas as possibilidades". Os dois desapareceram na manhã do dia 5 de junho quando se deslocavam da comunidade São Rafael para Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas.

"É uma região extremamente complicada, extremamente distante da capital, Manaus. As buscas continuam, desde o primeiro momento o governo federal colocou as Forças Armadas, a Polícia Federal, a própria Funai (para atuarem nas buscas). Os órgãos estão trabalhando em conjunto com os órgãos estaduais", disse Torres nesta terça, após participar da cerimônia de posse do novo superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

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A declaração do ministro veio um dia após o jornal britânico 'The Guardian' publicar relato de familiares de Dom Phillips, segundo os quais diplomatas brasileiros disseram a eles que os corpos de ambos haviam sido localizados na selva. A PF emitiu nota negando a informação.

"As buscas continuam, como eu me comprometi. Eu estive com a ministra do Reino Unido (Vicky Ford) nos Estados Unidos, conversamos sobre o assunto e me comprometi de que tudo que estiver ao alcance do governo brasileiro será feito. Nós não esgotaremos os trabalhos antes de esgotarem todas as possibilidades de busca naquela região", afirmou.

A família do jornalista britânico Dom Phillips divulgou, na manhã desta terça-feira (14), um comunicado com esclarecimentos sobre as informações que recebeu na segunda-feira (13), sobre a suposta descoberta dos corpos do repórter e do indigenista Bruno Pereira, desmentida pela Polícia Federal em seguida.

Assinado por irmãos, esposa, cunhados e sobrinhos de Phillips, o texto diz que a família recebeu uma ligação de Roberto Doring, da embaixada brasileira em Londres, às 8h30 da manhã da segunda-feira, no horário de Londres.

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O ministro-conselheiro teria informado que dois corpos haviam sido encontrados, mas que ainda não havia identificação. O parecer foi compartilhado pela família com jornalistas da emissora Globonews. "No momento, às 8h30 do Reino Unido em 14 de junho, não temos atualização dessa informação e, para complicar nossa situação já angustiante, fomos informados de forma confiável que a Polícia Federal no Brasil está contradizendo isso", diz a nota.

"Só podemos esperar que, com o tempo, entendamos o que aconteceu", afirma o comunicado, divulgado em inglês.

A Polícia Federal divulgou nota negando a localização dos corpos. A corporação disse ter encontrado "materiais biológicos" que foram encaminhados para perícia, como já havia sido comunicado anteriormente. A expectativa é que o resultado da perícia desses materiais seja concluída ainda esta semana.

Vaquinha

Junto ao comunicado, a família de Phillips divulgou uma vaquinha para levantar fundos na ausência do jornalista. "Neste momento trágico, em que essas famílias têm tanto com que se preocupar, o dinheiro não deveria ser mais uma preocupação. Dom, Bruno (Pereira), Alê (Alessandra Sampaio, mulher de Dom), Beatriz (Matos, mulher de Bruno) e seus filhos precisam de nossa ajuda não só para pagar as contas, mas também para cobrir novos custos que vão surgindo à medida que continuam as buscas. Mesmo a menor doação é valiosa. Juntos podemos mostrar que essas almas corajosas não estão sozinhas e que estamos unidos por trás delas."

Leia a íntegra do comunicado

Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram durante uma viagem de pesquisa à região do Javari, na Amazônia brasileira, em 5 de junho de 2022.

Desde então, acompanhamos os desdobramentos, que incluem relatos de achados de objetos pessoais e roupas e agradecemos a todos que participaram da busca, mesmo sob condições difíceis.

Na manhã de segunda-feira, 13 de junho, por volta das 8h30, horário do Reino Unido, membros da família de Dom Phillips residentes no Reino Unido foram contatados por Roberto Doring, da Embaixada do Brasil em Londres, para saber de uma atualização que ele havia recebido de uma fonte oficial brasileira. Fomos informados por telefone que dois corpos haviam sido encontrados, mas que (por ser ainda de manhã cedo no Brasil) nenhuma identificação havia ocorrido.

Neste momento, às 8h30, horário do Reino Unido, em 14 de junho, não temos atualização para essa posição e, para complicar nossa situação já angustiante, fomos informados de forma confiável que a Polícia Federal no Brasil está contradizendo isso.

Só podemos esperar que na plenitude do tempo entendamos o que aconteceu.

Estamos optando por não dar entrevistas à mídia sobre a situação atual e oferecemos esta declaração com a esperança de que explique o que sabemos e mostre os desafios que enfrentamos para entender o que aconteceu.

No devido tempo, ofereceremos nossa perspectiva sobre as vidas corajosas e o trabalho importante desses homens notáveis. Por enquanto, a vida continua para os que ficaram para trás e chamamos a atenção para nosso financiamento coletivo de emergência.

Agradecemos às muitas pessoas que se juntaram a nós para instar as autoridades a intensificar as buscas, bem como àqueles que estenderam a mão com palavras de conforto.

Emitido pelos seguintes membros da família (ligação com Dom Phillips entre parênteses):

Sian Phillips (irmã)

Gareth Phillips (irmão)

Paul Sherwood (cunhado)

Helen Davies (cunhada)

Domonique Davies (sobrinha)

Rhiannon Davies (sobrinha)

O Senado aprovou, na sessão dessa segunda-feira (13), a criação de uma Comissão Temporária Externa para acompanhar as investigações do desaparecimento do jornalista Dom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian, e do indigenista Bruno Araújo Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai). Os dois estão desaparecidos desde 5 de junho na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares.

O pedido de criação da comissão foi feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Segundo ele, a região está entregue a organizações criminosas de garimpo ilegal, de extração ilegal de madeira e também do narcotráfico. “E são essas organizações criminosas no Vale do Javari, contra as quais Dom Phillips, Bruno Pereira e os povos indígenas lutavam”, argumentou o senador.

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O grupo será formado por três integrantes da Comissão de Direitos Humanos, três da Comissão de Meio Ambiente e três da Comissão de Constituição e Justiça. Segundo Randolfe, o objetivo é ir até o Vale do Javari, apurar as causas do desaparecimento e investigar o aumento da criminalidade na Amazônia, considerado por ele uma das causas do desaparecimento do jornalista e do indigenista. O colegiado deverá atuar por 60 dias.

Durante a sessão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) propôs aguardar mais alguns dias antes de criar a comissão. Para ele, pode ser questão de dias o desfecho do caso, com a localização de Phillips e Pereira, considerando os esforços do poder público nas buscas. Pacheco, no entanto, manteve a votação do requerimento de Randolfe. O presidente do Senado entendeu que a missão da comissão externa vai além. O colegiado deverá se debruçar sobre as atividades criminosas praticadas naquela região.

“Eu considero que a criação da comissão externa, além da questão do desaparecimento e do eventual desfecho trágico em relação ao indigenista Bruno Araújo e ao jornalista Dom Phillips, é aquilo que disse no começo desta sessão: existe uma situação hoje, no Estado do Amazonas e em outros estados, onde há a Floresta Amazônica, de crime organizado, tráfico de drogas, tráfico de armas, desmatamento ilegal, extração de madeira ilegalmente, pesca ilegal, garimpo ilegal”.

No início da sessão, Pacheco fez uma longa fala sobre o caso, lamentando o ocorrido. “Nós não queremos precipitar o que de fato aconteceu com o Bruno Pereira e com o Dom Phillips, mas, caso se confirme o fato de terem sido eventualmente assassinados, é uma situação das mais graves do Brasil”. Ele afirmou que o Senado tem o dever de reagir ao que tem ocorrido na Amazônia.

“Portanto, de fato, não por esse acontecimento apenas, mas por todo o contexto de um estado paralelo que se impõe num lugar em que infelizmente o Estado brasileiro não consegue preencher suficientemente, isso é motivo de alerta e de reação do Senado”.

Pacheco também exaltou o trabalho de Bruno Pereira como servidor da Funai, no combate às ilegalidades praticadas em terras indígenas. “Segundo se sabe, o Bruno Araújo Pereira, servidor da Funai, vinha denunciando uma série de irregularidades, de crimes praticados naquela região, de atentados a povos indígenas, de descumprimento da lei, de um estado paralelo ali implantado e que vinha então sendo denunciado por ele”.

Na última sexta-feira (10), a Polícia Federal (PF) no Amazonas, que está à frente das forças de segurança na Operação Javari, informou que equipes de busca encontraram material orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte.

No idioma mayoruna, um jovem alerta por rádio comunicador a presença de "nauas" (não indígenas) no Rio Itaquaí, na Amazônia, dentro de terra indígena. Um kanamari põe no céu um drone e documenta a invasão do território protegido. Em pouco tempo, a polícia terá em mãos o flagrante e a identificação dos caçadores. É a vigilância indígena, que passou a subsidiar a fiscalização oficial e a impor derrotas ao crime dentro da floresta.

Por trás do trabalho de ensinar matises, kanamaris, mayorunas, kulinas e marubos a operar uma parafernália tecnológica que muitos nunca tinham visto está o indigenista Bruno Pereira, desaparecido desde o último dia 5. A pedagogia foi inspirada na técnica de trabalhar com desenhos que os Médicos Sem Fronteiras usam para ensinar procedimentos a tribos da África. "O Bruno ia com a gente pelo mato, ensinava tudo. A gente trabalha aqui no risco, de noite e de dia para cuidar da nossa terra de todos pescadores e de tudo", contou um mayoruna que, por medo da reação de criminosos, pediu para não ser identificado.

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A ideia nasceu de uma demanda conjunta dos povos do Vale do Javari como solução ao arquivamento de denúncias por "falta de informações qualificadas". O monitoramento se mostrou necessário por um motivo vital. Os infratores adentram os territórios preservados em busca principalmente de tracajás, pirarucus e antas para vender no mercado paralelo. "São recursos vitais para os irmãos isolados que vivem ali. Estão vulnerabilizando os parentes marubos e temos informações de que está faltando comida para os Korubos", diz Beto Marubo, principal liderança indígena do Javari, que atua em parceria com Bruno. Como revelou o Estadão ontem, Marubo anda escoltado e está ameaçado de morte.

A equipe de vigilância indígena agora está dedicada a descobrir o paradeiro de Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ontem, a melhor pista era um trecho de mata revirada na calha do Itaquaí. Até o fim do dia, nenhum sucesso. A Polícia Federal periciou o freezer de pescados de uma embarcação, mas não apresentou avanços.

Apesar de toda a movimentação militar, os indícios de atividade ilegal não param no extremo da Amazônia, na fronteira com o Peru. Um irmão do único suspeito de ligação com o desaparecimento tem percorrido as imediações da base móvel da equipe de vigilância. "O Caboclo está aqui, o freezer dele parece estar cheio de pirarucu. Avisa a polícia e pede pra fazer uma revista, ele está perto do furo do Itaquaí", alertou um kanamari.

TESOURO. A riqueza extraída por causa de uma fiscalização deficitária é imensurável. Há muito mais riqueza que peixes, ouro e madeira nos rios e florestas do Vale do Javari. Com recentes descobertas de áreas de nióbio, potássio, manganês e óxido de tântalo em outras regiões da Amazônia, o território indígena no extremo oeste do País onde atua o indigenista Bruno Pereira voltou a atrair a cobiça internacional. Possíveis campos de extração de gás e óleo na reserva de 85 mil quilômetros quadrados foram mapeados ainda nos anos 1980, quando a Petrobras realizou pesquisas de campo.

A ofensiva pelas riquezas do Javari tem outras frentes conhecidas. A atuação de dragas para garimpar ouro, a pesca de espécies raras como o pirarucu, um dos maiores peixes brasileiros, e o comércio de madeira são as mais visíveis delas. Essa cadeia econômica criminosa na região de Tríplice Fronteira tem como liga o tráfico de drogas, que despeja dinheiro e armas pesadas nos municípios de Atalaia do Norte e Benjamin Constant.

Bruno Pereira esteve envolvido em todas as mais recentes operações contra o crime ambiental nessa região do Alto Solimões. Em 2019, coordenou a missão policial que resultou na destruição de mais de 40 dragas, um duro golpe no mercado do garimpo. Pouco depois, perdeu a coordenação que ocupava na Fundação Nacional do Índio (Funai) e passou a atuar voluntariamente na União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

PASSO A PASSO. A última expedição começou em 2 de junho, uma quinta-feira, quando subiu o Itaquaí para se reunir com a equipe de vigilância indígena, na companhia do jornalista inglês, colaborador do The Guardian que percorre a Amazônia para a produção de um livro. Como os "nauas" não podem entrar no território demarcado, o encontro foi na comunidade do Lago do Jaburu.

No domingo, 5, desceriam o Itaquaí e o Javari com novos dossiês. Tinha uma agenda prevista com a Polícia Federal em Tabatinga. No caminho, parou em uma das comunidades conhecidas por servir de entreposto para narcotraficantes e exploradores para conversar com uma liderança local. E sumiu.

Pouco antes, Amarildo Costa, o Pelado, suspeito preso, passou de barco acompanhando por um outro caçador fazendo intimidações. O Estadão localizou uma das testemunhas que prestou depoimento à Polícia Civil. "Eles levantaram as armas e um deles tinha uma cartucheira na cintura, que não é comum. Eles foram filmados. O Bruno ia levar o vídeo pra PF e agora sumiu tudo", diz a testemunha kanamari.

IDH. O prefeito de Atalaia do Norte (AM), Denis Paiva (PSC), negou vínculo com Pelado, único preso por suspeita de ligação com o desaparecimento. Ele visitou a casa do suspeito após a prisão e o procurador municipal chegou a assumir temporariamente a defesa. "Meu histórico não permite isso, meu caráter não permite isso. Quem me conhece sabe. As pessoas querem induzir, colocar palavras na nossa boca. Eu o conhecia, sim. Se disser que não, estou mentindo. Mas não tinha amizade, de compadre, de ele ir na minha casa e eu ir na casa dele", disse.

Atalaia do Norte tem o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil (IDH) e o pior do estado do Amazonas. A cidade, afastada do Peru somente pelo rio Javari, é pacata, mas tem um entorno conhecido pela intensa movimentação de infratores. Há influência de narcotraficantes brasileiros, peruanos e colombianos, segundo policiais e pesquisadores. O prefeito reclama do desamparo dos órgãos federais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Federal (PF) informou na noite desta segunda-feira (13) que as buscas pelo jornalista Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Pereira vão prosseguir e que nada foi encontrado no dia de hoje. 

Pela manhã, após circularem notícias na imprensa de que dois corpos teriam sido encontrados na área de busca, a PF, que coordena as forças de segurança na operação, negou a informação. 

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 "Os órgãos federais e estaduais reforçam que não há nada mais importante do que a busca pelos senhores Bruno Pereira e Dom Phillips e reiteram a esperança de encontrá-los", diz a nova atualização.   

Ontem (12), bombeiros envolvidos na operação encontraram uma série de pertences dos dois desaparecidos. Segundo a PF, os itens encontrados foram: um cartão de saúde, uma calça preta, um chinelo preto e um par de botas pertencentes a Bruno e um par de botas de Dom.   

Na sexta-feira (10), a PF no Amazonas, que está à frente das forças de segurança na Operação Javari, informou que equipes de busca encontraram material orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. Ainda não há informação se a amostra recolhida tem alguma relação com o desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira. 

O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal está fazendo análise pericial do material recolhido, como também fará a perícia em vestígios de sangue encontrados na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como “Pelado”, suspeito de envolvimento no caso e que está preso desde a semana passada. A expectativa é que os resultados laboratoriais saiam ainda esta semana, informou a PF. 

Phillips, que é colaborador do jornal britânico The Guardian, e Pereira, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), foram vistos pela última vez na manhã de domingo (5), há oito dias, na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares. Eles se deslocavam da comunidade ribeirinha de São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte (AM), quando sumiram sem deixar vestígios. 

O indigenista denunciou que estaria sofrendo ameaças na região, informação confirmada pela PF, que abriu procedimento investigativo sobre essa denúncia. Bruno Pereira estava atuando como colaborador da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), uma entidade mantida pelos próprios indígenas da região.

Os servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) decidiram em assembleia na tarde desta segunda-feira, 13, pela realização de uma paralisação de 24 horas a partir das 9h desta terça, dia 14.

Para evitar a que as atividades sejam suspensas, os indigenistas pedem que o presidente da Funai, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, retire declarações feitas contra o indigenista Bruno Pereira. Servidor licenciado da Funai, Ribeiro está desaparecido desde a manhã do domingo passado, dia 5, na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado do Amazonas. Ele estava acompanhado do jornalista britânico Dom Phillips.

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A deflagração da greve foi decidida pelas principais entidades que representam os servidores da Funai: a Indigenistas Associados (INA); a Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef); o Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal (Sindsep); e a Confederação dos Trabalhadores no serviço Público Federal (Condsef).

Além da retratação, os indigenistas querem que o governo federal garanta a segurança de seus servidores, enviando agentes de segurança para as bases remotas do órgão junto às comunidades indígenas no Vale do Javari; e o reforço destas bases com o envio de uma força-tarefa para a região.

Nos últimos dias, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, passou a dizer em entrevistas que Bruno Pereira não tinha as autorizações necessárias para entrar em terras indígenas como a do Vale do Javari - na verdade, Bruno pediu autorização à Coordenação Regional da Funai na região, seguindo as diretrizes do próprio órgão.

Na última sexta-feira, dia 10, a Funai chegou a publicar nota oficial dizendo que Bruno não tinha autorização adequada para visitar o local acompanhado do jornalista britânico. "No caso do indigenista, foi emitida autorização em âmbito regional para que o indigenista ingressasse em terra indígena, com vencimento em 31/05/2022, sem o conhecimento dos setores competentes na Sede da Funai, em Brasília, o que será apurado internamente", diz o texto da Fundação.

Para evitar a deflagração da greve, os indigenistas querem que Marcelo Xavier se retrate publicamente "pela difamação e pelas inverdades presentes em suas declarações públicas acerca do caso de desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips". A retratação pedida "deve admitir os equívocos de falsas argumentações sem nenhum embasamento legal dentro da política indigenista brasileira".

Em nota, os indigenistas dizem ainda que não há qualquer iniciativa para auxiliar os servidores que trabalham nas bases do Vale do Javari e nem para garantir a segurança deles. "Ressalta-se que se passaram mais de uma semana desde o desaparecimento do servidor Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips e tais medidas urgentes não foram sequer iniciadas", diz um trecho.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na manhã desta segunda-feira, 13, que "indícios levam a crer que fizeram alguma maldade" ao jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos na Amazônia. O chefe do Executivo disse considerar improvável que a dupla ainda seja encontrada com vida.

"Os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles, porque já foram encontradas vísceras humanas boiando no rio, que já estão aqui em Brasília para fazer o DNA e pelo tempo, já temos 8 dias, indo para o nono dia, de que isso tudo aconteceu, vai ser muito difícil encontrá-los com vida. Peço a Deus que isso aconteça, que encontremos com vida", afirmou. As declarações foram feitas à rádio CBN Recife.

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Nesta segunda-feira, a Polícia Federal divulgou nota para informar que Pereira e Phillips não foram encontrados até o momento. Segundo o comitê de crise, coordenado pela Polícia Federal no Amazonas, foram encontrados materiais biológicos que estão sendo periciados e pertences pessoais dos desaparecidos.

O presidente ainda criticou o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que o governo adotasse 'todas as providências necessárias' para encontrar a dupla. "É dispensável o senhor Barroso dar uma de 'dono da verdade.' (...) Ele (Barroso) se preocupou apenas com esses. Nós nos preocupamos com todos os desaparecidos no Brasil", afirmou.

Alessandra Sampaio, esposa do jornalista britânico Dom Phillips, disse que o corpo do marido e do indigenista Bruno Araújo Pereira foram encontrados, publicou o jornalista André Trigueiro. A informação ainda não foi confirmada pelas autoridades.

Os dois desapareceram no último dia 5, dentro da Terra Indígena Vale do Javari. Eles deixaram de fazer contato quando chegaram à comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Amazonas.



LeiaJá: Cartão de saúde e roupas de indigenista são encontrados



"Alessandra voltou a fazer contato dizendo que recebeu há pouco ligação da PF informando que os corpos precisam ser periciados. A Embaixada Britânica já havia comunicado aos irmãos de Dom Phillips que eram os corpos do jornalista e do indigenista. Agora todos aguardam a perícia", publicou o repórter.

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Um cartão de saúde, uma calça, um chinelo e um par de botas do indigenista Bruno Araújo foram encontrados pela Polícia Federal no Vale do Javari, no Amazonas, junto com outro par de botas e uma mochila com roupas do jornalista britânico Dom Phillips, nesse domingo (12). O desaparecimento dos dois ocorreu no último dia 5 e vem movimentando a cobrança por uma busca mais minuciosa por eles.

O Comitê de crise coordenado pela Superintendência da PF no estado percorreu o Rio Itaquaí para colher vestígios do paradeiro da dupla, no âmbito da Operação Javari. “Especialmente na área onde foi encontrada uma outra embarcação aparentemente de propriedade de Amarildo da Costa Oliveira, que se encontra com prisão temporária decretada por conta dos fatos”, pontuou, em nota, o Comitê.



LeiaJá também: O que se sabe sobre o desaparecimento de Dom e Bruno

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Na sexta (10), o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu cinco dias para que o governo apresente um relatório com as ações tomadas para encontrá-los, bem como o que foi apurado até o momento.



Três dias antes, ao comentar sobre o desaparecimento na Cúpula das Américas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) classificou o trabalho feito pelos dois em áreas indigenas como uma "aventura não recomendada" e reforçou que as forças de segurança realizam uma "busca incansável".

Uma mochila com pertences iguais aos que eram levados pelo indigenista Bruno Pereira e pelo jornalista Dom Phillips foi localizada por equipes de busca na região do Vale do Javari, neste domingo, 12, quando se completa uma semana desde o desaparecimento de ambos na Amazônia.

O objeto, de cor preta e da marca Equinox, estava preso a uma árvore numa região alagada dos rios que dividem o Brasil e o Peru.

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O item foi localizado por mergulhadores do Corpo de Bombeiros do Amazonas por volta das 16 horas, no horário local (18 horas em Brasília).

Indígenas que acompanhavam os trabalhos de busca no rio e que conheciam Bruno e Dom atestaram que a mochila pertencia a um dos dois.

Trata-se de uma mochila de viagem, grande. Dentro havia vários livros.

O material foi entregue à Polícia Federal para perícias.

"Tivemos a grata satisfação de ter êxito e encontrar uma mochila. Nessa mochila, tinha notebook, todos os pertences, meias, camisas, bermudas", disse um porta-voz do Corpo de Bombeiros, em Atalaia do Norte (AM).

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou neste domingo (12) ter encontrado uma nova embarcação na mesma região em que são realizadas as buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista inglês Dom Phillips. Os dois estão desaparecidos desde 5 de junho na região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares. 

“O que a equipe de busca encontrou foi um possível local onde vestígios, observados na beira de barranco, apontam que uma embarcação poderia ter sido arrastada no local. Essa informação foi repassada às autoridades responsáveis pelas investigações e, por essa razão, o local foi isolado pelas autoridades competentes para que a busca e a perícia sejam realizadas”, diz o informe assinado pelo procurador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo. 

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Ainda segundo o comunicado, nas proximidades do local foi encontrada também uma embarcação que pode ser de propriedade de Amarildo da Costa Oliveira, detido para investigação. "A informação sobre a propriedade da embarcação ainda precisa ser confirmada pelos responsáveis pelas investigações", ressalta o documento. 

Material genético Na última sexta-feira (10), a Polícia Federal (PF) no Amazonas, que está à frente das forças de segurança na Operação Javari, informou que equipes de busca encontraram material orgânico, “aparentemente humano”, em uma área próxima ao porto de Atalaia do Norte. Ainda não há informação se a amostra recolhida tem alguma relação com o desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira. 

O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal é quem vai realizar a análise pericial do material recolhido, como também fará a perícia em vestígios de sangue encontrados na embarcação de Amarildo da Costa de Oliveira, 41 anos, conhecido como “Pelado”. 

Ele é suspeito de envolvimento no caso e teve a prisão temporária por 30 dias decretada na noite de quinta-feira (9) pela juíza plantonista Jacinta Santos, durante a audiência de custódia na Comarca de Atalaia do Norte (AM). O processo segue em segredo de justiça. 

Além dessas perícias, serão analisados materiais genéticos coletados por investigadores de referência de Dom Phillips, em Salvador, e de Bruno Pereira, no Recife. As amostras serão utilizadas na análise comparativa com o sangue encontrado na embarcação.

As buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e pelo especialista indigenista Bruno Araújo Pereira, desaparecidos em uma região remota da Amazônia brasileira, completam uma semana neste domingo (12) em meio a questionamentos e pressões para que o governo redobre seus esforços.

- Os desaparecidos -

Phillips, de 57 anos, é colaborador do jornal britânico The Guardian e trabalha no Brasil há 15 anos.

Apaixonado pela Amazônia, onde escreveu dezenas de reportagens, o jornalista estava na região há vários dias trabalhando em um livro sobre preservação ambiental e desenvolvimento local, com apoio da fundação Alicia Patterson.

Pereira, de 41 anos, é um especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e um conhecido defensor dos direitos indígenas.

Foi coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte, município onde viajava com Phillips quando desapareceram.

Seu trabalho em defesa dos povos indígenas lhe rendeu ameaças regulares destes grupos criminosos.

- As circunstâncias-

Phillips e Pereira foram vistos pela última vez na manhã de domingo, 5 de junho, na comunidade São Gabriel, não muito longe de seu destino, onde navegavam pelo rio Itaquaí.

Haviam viajado até a região de Lago do Jaburu e deveriam retornar à cidade de Atalaia do Norte, a cerca de duas horas de barco.

Pereira acompanhava o jornalista britânico como guia, na segunda viagem da dupla por esta região isolada da Amazônia desde 2018.

- Una zona "complexa" -

O jornalista e especialista indígena desapareceram no Vale de Javari, uma área densa da selva amazônica onde vivem 26 povos indígenas, muitos deles isolados.

As autoridades alertaram para a "complexidade" da área, devido ao fato de que ali operam garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais.

Além disso, o tráfico de drogas tem uma presença cada vez maior nos últimos anos, utilizando a região como um importante corredor para o transporte de drogas produzidas no Peru e na Colômbia, países que fazem fronteira com a região.

Atalia do Norte, uma pequena cidade de 20.000 habitantes, está comovida pelo desaparecimento.

"Infelizmente, vivemos aqui na nossa região de fronteira e o que posso afirmar como cidadã é que não temos uma segurança", disse à AFP Marivalda Rabelo, recepcionista da pousada onde Phillips e Pereira se hospedaram antes de desaparecerem.

"Rezamos, nunca sabemos que imprevisto pode acontecer", acrescentou Rabelo, que teme que, se for um ato criminoso, fique impune em um lugar que já virou manchete por casos não resolvidos.

- A investigação -

Até agora, a busca resultou na prisão de apenas um único suspeito: Amarildo da Costa, de 41 anos, que foi visto por testemunhas em uma lancha seguindo em alta velocidade o barco em que Phillips e Pereira viajavam. Não está clara sua implicação no caso.

A polícia realiza testes em uma mancha de sangue encontrada no barco do detento. Além disso, na sexta-feira, a equipe de busca encontrou material "aparentemente humano" próximo ao porto de Atalia do Norte, que também está sendo analisado.

Até o momento, não há conhecimento de nenhuma pista sobre o paradeiro de ambos ou do barco em que navegavam.

O governo federal tem recebido críticas de ativistas, organizações internacionais e da justiça brasileira pela suposta lentidão e falta de coordenação nas buscas.

Na sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso deu cinco dias ao governo para apresentar um relatório com todas as providências tomadas e os dados obtidos até o momento.

O presidente Jair Bolsonaro, que na terça-feira descreveu a expedição realizada por Phillips e Pereira como uma "aventura não recomendada", disse na Cúpula das Américas que as Forças Armadas e a polícia realizam uma "busca incansável" desde o primeiro dia e pediu a Deus que "sejam encontrados com vida".

O sogro e a sogra do jornalista britânico Dom Phillipps divergem quanto à chance dele e do indigenista Bruno Pereira ainda estarem vivos. Dom e Bruno estão desaparecidos desde domingo passado, dia 5, quando faziam o trajeto entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no Vale do Javari, na Amazônia. A polícia investiga o caso, mas até agora não chegou a nenhuma conclusão.

Para a aposentada Maria Lúcia Farias Sampaio, de 78 anos, mãe de Alessandra Sampaio, que é casada com o jornalista britânico, "ele já não está mais entre nós": "Para ser sincera, não existe mais esperança", afirmou, durante ato promovido na manha deste domingo, 12, na orla de Copacabana, na zona sul do Rio, para cobrar das autoridades que intensifiquem as buscas pelos dois desaparecidos e tomem providências contra as violações de direitos na Amazônia.

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A manifestação foi organizada por amigos e familiares do jornalista britânico, que está no Brasil há 15 anos e morou no Rio, de onde se mudou há um ano para Salvador. "Estamos aqui em homenagem a Dom e Bruno", disse Maria Lúcia.

Já o sogro do jornalista, o aposentado Luiz Carlos Rocha Sampaio, de 80 anos, ainda tem esperanças. "Eu ainda alimento a esperança de encontrá-lo. Peço a Deus que não seja em vão essa nossa luta", afirmou.

O casal tem três filhos - Alessandra, casada com Phillipps, continua em Salvador, de onde acompanha as buscas pelo marido. A irmã dela viajou para Salvador assim que o sumiço foi anunciado, para fazer companhia a Alessandra. O outro irmão, o produtor Marcus Farias Sampaio, de 49 anos, participou do ato na zona sul do Rio.

"A gente sabe que é muito difícil. Enquanto não houver uma resposta definitiva, a gente tem que acreditar. Mas a gente está aguardando o pior, embora tenha muita fé", afirmou.

A atriz Lucélia Santos também participou do ato. "Esse episódio vem escancarar a realidade trágica e horrorosa que está acontecendo no Brasil hoje. Que perseguem e matam as pessoas nessa região já é do conhecimento de todos. O que a gente não podia imaginar é a vulnerabilidade do Exército, de não reunir as condições adequadas para a busca. A sociedade precisa se unir e exigir do governo o esclarecimento do caso. Dom e Bruno não podem simplesmente sumir no interior da floresta", disse a atriz.

O ato começou às 9h na avenida Atlântica em frente ao posto 6, onde Dom fazia aulas de stand-up paddle, quando morava no Rio. Às 10h20, um grupo de aproximadamente 50 pessoas, segurando cartazes com fotos dos desaparecidos, se reuniu para, em coro, gritar "onde estão Dom e Bruno?"

Em discurso na plenária da Cúpula das Américas, em Los Angeles, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que autoridades do País têm trabalhodo "desde o primeiro momento" para localizar o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira. "Desde o último domingo, quando tivemos informação que dois cidadãos desapareceram na região do Vale do Javari, desde o primeiro momento, as nossas forças armadas e PF têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida", disse Bolsonaro.

Reportagem desta sexta-feira, 10, publicada no Estadão mostra que, passados cinco dias do desaparecimento da dupla, o governo federal ainda não enviou para a região do Vale do Javari a Força Nacional de Segurança, ao contrário do que costuma ocorrer em casos que envolvem regiões com pouca estrutura de segurança. Além disso, a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH), Ravina Shamdasani, afirmou nesta sexta-feira, 10, que o governo brasileiro foi "lento" para reagir ao caso.

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O desaparecimento do jornalista e do indigenista na Amazônia foi um foco de tensão na passagem de Bolsonaro pelos EUA. Além do protesto de ativistas na frente do hotel do presidente, parlamentares do partido democrata e ativistas queriam que Biden cobrasse Bolsonaro sobre posicionamento a respeito do caso.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, teve reuniões com o governo americano e britânico sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira na Amazônia. Em Los Angeles, Torres se reuniu com o assessor para meio ambiente do governo Biden, John Kerry, e com diplomatas britânicos. Britânicos e o americano pediram que o Brasil esgote as possibilidades na investigação.

A Organização das Nações Unidas, por meio do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, emitiu uma nota oficial nesta sexta-feira (10) em que cobra o governo brasileiro para intensificar as buscas pelo indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, que desapareceram no dia 5 no Vale do Javari.

"Exortamos as autoridades brasileiras a redobrarem seus esforços para encontrar Phillips e Pereira, com urgência, considerando os riscos reais aos seus direitos à vida e à segurança. Portanto, é crucial que as autoridades nos níveis federal e local reajam de forma robusta e rápida, inclusive usando plenamente os meios disponíveis e os recursos especializados necessários para uma busca eficaz na área remota em questão", diz o texto.

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A nota ainda elogia o compromisso de diversos grupos da sociedade civil, que têm se empenhado nas buscas por toda a região pelos dois.

Ao longo do documento, a porta-voz da agência, Ravina Shamdasani, explica a localidade e as dificuldades da extensa área e ressaltam o trabalho feito por Pereira e Phillips para proteger os povos indígenas locais.

"Phillips e Pereira desenvolvem papéis importantes em levantar questões preocupantes e defender os direitos humanos dos povos indígenas da área, incluindo o monitoramento e reportando atividades ilegais no Vale do Javari", pontua a nota.

A parte final do comunicado faz um alerta da preocupação da ONU com "os constantes ataques e ameaças enfrentadas pelos defensores dos direitos humanos, ambientalistas e jornalistas no Brasil". "As autoridades têm a responsabilidade de protegê-los e garantir que possam exercer seus direitos, incluindo a liberdade de expressão e organização, livre de ataques e ameaças", destaca.

O texto ainda cobra as autoridades para adotar "medidas adequadas" para proteger os povos nativos que vivem "em isolamento voluntário ou contato" com o mundo exterior de "todas as formas de violência e discriminação tanto por atores do Estado ou não".

Após publicar a nota, Shamdasi conversou com jornalistas sobre o assunto e criticou também a demora para que o governo brasileiro iniciasse as buscas. "A resposta foi extremamente lenta, infelizmente, e achamos bom que agora, após decisões judiciais, que as autoridades tenham empregado mais meios para as buscas", acrescentou.

Phillips e Pereira foram vistos pela última vez no domingo e, desde então, associações indígenas, voluntários e grupos da sociedade civil começaram as buscas. O governo, por meio da Marinha e Polícia Federal, entrou nas buscas depois.

Nesta quinta-feira (9), a PF informou que detectou a presença de sangue na lancha do principal suspeito preso até o momento, o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, mais conhecido como Pelado, e os resultados devem sair em até 30 dias.

Pelado era uma das pessoas investigadas e foi preso preventivamente por ter em sua casa munição de fuzil de uso restrito pelas Forças Armadas. Porém, após a perícia, a prisão temporária por possível ligação com o desaparecimento do indigenista e do jornalista foi decretada pela Justiça.

Segundo testemunhas, é dele a lancha vista perseguindo Phillips e Pereira no rio entre a comunidade de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte pouco antes do sumiço dos dois.

Da Ansa

O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi às redes sociais defender a atuação do governo na busca do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, desaparecidos na Floresta Amazônica. "Nossas três Forças, bem como nosso MRE, a Polícia Federal, dentre outros, estão trabalhando desde segunda-feira, 6, de forma intensa na busca dos senhores Bruno Pereira e Dom Phillips. Mais de duas centenas de militares foram mobilizados para solucionar o caso o quanto antes", publicou o chefe do Executivo nas redes sociais.

Bolsonaro ainda afirmou ter instruído auxiliares a "não se distraírem com narrativas midiáticas. Esses oportunistas só querem se promover com o caso. Nós queremos solucioná-lo e levar conforto aos familiares", escreveu o presidente nas redes sociais.

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Em entrevista ao SBT News na última terça-feira, no entanto, Bolsonaro afirmou que Pereira e Philips tinha se envolvido em uma "aventura não recomendável". Os desaparecidos faziam um trajeto entre comunidades ribeirinhas e não foram encontrados desde o último domingo. Pereira sofria ameaças de morte de garimpeiros da região.

A embaixadora interina do Reino Unido no Brasil, Melanie Hopkins, disse, no começo da tarde desta quinta-feira, dia 09, que o governo britânico está "profundamente preocupado" com o sumiço do jornalista inglês Dom Phillips, de 57 anos, e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, de 41 anos. Em nota, ela revelou que seu país apelou ao governo brasileiro para que "faça todo o possível para apoiar a investigação sobre o caso". Os dois estão desaparecidos desde a manhã deste domingo, dia 05, na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado do Amazonas, uma região dominada pelo tráfico de drogas e exploração de garimpo ilegal.

"Entendemos que a localização remota da região impõe desafios logísticos consideráveis e já solicitamos ao Governo Brasileiro que faça todo o possível para apoiar a investigação do caso. Agradecemos a assistência prestada até o momento", afirmou a embaixadora em nota. No comunicado, reproduzido em seu perfil no Twitter, Hopkins disse que o Reino Unido está "profundamente preocupado" pelos dois ainda não terem sido encontrados e ciente de que "esse continua sendo um momento angustiante para suas famílias e amigos". Hopkins é a representante britânica no Brasil desde o começo de março, quando o embaixador anterior, Peter Wilson, voltou ao Reino Unido.

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Em declaração sobre o assunto, o presidente Jair Bolsonaro disse que Bruno e Dom estavam "numa aventura não recomendada". "Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela completamente selvagem é uma aventura que não é recomendada que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser acidente, pode ser que tenham sido executados", disse em entrevista ao SBT na última terça-feira, 7.

Na mesma linha, o presidente da Fundação Nacional do índio, delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier, afirmou que os dois "erraram ao não comunicar os órgãos de segurança sobre a viagem ao Vale do Javari, no Amazonas, e não pedir autorização à Funai para acessar o local". Segundo a entidade Indigenistas Associados (INA), que reúne servidores da Funai, as declarações são "equivocadas", uma vez que a dupla não chegou a entrar na área do Vale do Javari demarcado como terra indígena - portanto, não seria necessário pedir autorização alguma.

Desde o começo da crise envolvendo o desaparecimento do jornalista, esta é a terceira vez que a embaixadora se manifesta sobre o assunto nas redes sociais. No comunicado desta quinta-feira, ela também revelou que o governo britânico está provendo apoio consular à família do jornalista e está "em contato próximo com autoridades do mais alto nível no Brasil para se manter atualizado em relação aos esforços de busca e resgate."

Phillips e Pereira desapareceram no domingo, mas foi apenas na manhã da terça-feira, dia 07, que Exército e Marinha mobilizaram aeronaves para intensificar a busca pelos dois desaparecidos. Os dois sumiram durante uma viagem de barco entre a comunidade ribeirinha de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Como mostrou o Estadão, Pereira foi mencionado em um bilhete apócrifo com ameaças, escrito por pescadores ilegais que atuavam na área e dirigido à entidade para a qual o indigenista trabalhava.

Veterano no jornalismo, Dominic Phillips trabalha hoje como freelancer para o jornal britânico The Guardian e prepara um livro sobre a Amazônia com o apoio de uma fundação de seu país de origem. Ele mora no Brasil desde 2007 e é casado com uma brasileira. Vivendo em Salvador (BA), já escreveu para vários dos principais jornais de língua inglesa, como o Washington Post, o New York Times e o Financial Times.

Pereira é um prestigiado indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e está licenciado para trabalhar diretamente com a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Entre 2015 e 2020, ele comandou na Funai o departamento que cuida das comunidades isoladas dentro do território do Javari. A região reúne o maior número de comunidades isoladas do mundo. Como mostrou o Estadão, Pereira foi exonerado da função na gestão de Sérgio Moro como ministro da Justiça e substituído por um missionário evangélico. O episódio foi o estopim para que pedisse licença do cargo.

Segundo os últimos números divulgados pelo governo brasileiro, as buscas mobilizam atualmente 250 agentes civis e militares de vários órgãos públicos; três drones, 16 embarcações, 20 viaturas terrestres e dois helicópteros. Uma pessoa chegou a ser presa - o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, mais conhecido como "Pelado". Segundo testemunhas, ele teria ameaçado o indigenista e o repórter no sábado, dia 04 de julho. Segundo o secretário de segurança pública do Estado do Amazonas, Carlos Mansur, o pescador não tem relação com o desaparecimento da dupla.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, afirmou nesta quarta-feira (8) em audiência pública na Câmara dos Deputados que “não houve retardo” nas buscas pelo jornalista inglês Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Pereira, desaparecidos desde domingo (5) no Vale do Javari, no Amazonas.

  O jornalista do The Guardian e o servidor da Funai estavam recebendo ameaças de pessoas que atuam ilegalmente na região.  

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O titular da pasta foi questionado pela deputada Vivi Reis (Psol-PA) sobre o possível atraso de 48 horas para que as Forças Armadas enviassem helicópteros ao local. “Nós estamos falando de Atalaia do Norte, estamos falando de um local onde não chega nem avião, não tem campo de pouso. O helicóptero mais perto do Exército sai de Manaus e ele já estava pronto na manhã de ontem para atuar na área. A Marinha, da mesma forma, estava lá no dia anterior”, disse o ministro. 

“Considerando as distâncias, o tamanho da Amazônia e a geografia da floresta e dos rios, pode parecer que houve retardo, mas não houve”, reforçou. Ele acrescentou que hoje atuam nas buscas dois helicópteros, um do Exército e outro da Marinha, além de equipe médica e um efetivo das Forças Armadas. 

"O helicóptero da Polícia Federal deu um problema, por isso é bem provável que a gente tenha que reforçar em termos de aeronaves", acrescentou.  As afirmações foram feitas durante audiência pública promovida pelas comissões de Fiscalização Financeira e Controle; e de Seguridade Social e Família. O ministro foi chamado à Câmara para explicar os motivos da compra de mais 35 mil comprimidos de Viagra e de 9 próteses penianas. 

*Da Agência Câmara de Notícias

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