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O papa Francisco deixou o Iraque nesta segunda-feira, após a primeira visita na história de um sumo pontífice a este país, abalado por anos de violência, uma viagem na qual ele defendeu a causa da comunidade cristã iraquiana.

A visita do papa de 84 anos, que chegou ao Iraque na sexta-feira (5), aconteceu sem incidentes.

Durante sua estadia, Francisco visitou a capital Bagdá, assim como Mossul e Qaraqosh, duas cidades do norte do país que foram vítimas do terror dos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

Na cidade sagrada de Najaf (sul), o papa se reuniu com o grande aiatolá Ali Sistani, uma referência religiosa para a maioria dos muçulmanos xiitas do mundo.

"O Iraque sempre permanecerá comigo, em meu coração", disse Francisco no domingo à noite, após uma missão em um estádio em Erbil, no Curdistão iraquiano.

O papa estava ansioso para conhecer os cristãos do Iraque (1% da população atualmente, contra 6% há 20 anos) e dedicou a este país de maioria muçulmana sua primeira viagem ao exterior em 15 meses.

Devido à pandemia de Covid-19, com exceção da missa de domingo em Erbil, o pontífice não teve encontros com multidões, algo comum em suas viagens ao exterior.

Ele viajou 1.445 km através do Iraque, principalmente de avião e helicóptero, sobrevoando áreas onde ainda existem células extremistas clandestinas, apesar da derrota do EI em 2017.

No Iraque, o papa denunciou o "terrorismo que abusa da religião", pediu "paz e unidade" no Oriente Médio e lamentou a saída dos cristãos da região como um "dano incalculável".

Também participou em uma oração ecumênica com as diferentes religiões presentes no Iraque na cidade de Ur, local de nascimento, segundo a Bíblia, do patriarca Abraão, pai das três religiões monoteístas.

O papa Francisco concluiu, neste domingo (7), sua visita histórica ao Iraque com uma missa para milhares de fiéis no norte do país devastado pelos extremistas, conclamando os cristãos "a não desanimar".

Depois de rezar pelas "vítimas da guerra" nos escombros de Mossul, que foi a "capital" do Estado Islâmico (EI), o papa celebrou a maior missa de sua viagem, sob estritas medidas de segurança.

"O Iraque sempre estará comigo, em meu coração", disse o papa no encerramento da missa em Erbil, no Curdistão iraquiano.

"Ouvi vozes de dor e angústia, mas também vozes de esperança e consolo", afirmou, diante de milhares de fiéis antes da bênção em árabe.

Em sua chegada, o pontífice de 84 anos apareceu em pé no "papamóvel" diante de milhares de fiéis reunidos no gramado e nas arquibancadas do estádio Franso Hariri.

O papa iniciou a missa em latim, com a peregrineta roxa nas costas e o solidéu branco na cabeça, diante de uma assembleia silenciosa e recolhida no último dia de sua visita ao Iraque, a primeira de um sumo pontífice ao país.

Para Bayda Saffo, uma católica de 54 anos que fugiu dos extremistas em Mossul, "agora sabemos que há alguém pensando em nós e em como nos sentimos". Isso "encorajará os cristãos a permanecer em suas terras", disse à AFP, enquanto no Iraque o número de cristãos caiu em 20 anos de 6% para 1% da população.

- Vigilância reforçada -

Este domingo foi o dia em que os guarda-costas e as forças de segurança estivera mais alertas.

Em sua viagem, os poucos quilômetros que o papa percorreu por estrada foram em carro blindado. A maior parte dos 1.445 km de itinerário percorrido na sexta-feira foi em avião ou helicóptero para sobrevoar as áreas e evitar aquelas onde ainda se escondem células extremistas clandestinas.

E tudo isso em meio a um confinamento total decretado até segunda-feira (dia de sua partida) para enfrentar a covid-19, que registra recordes de casos no país.

Mas, esta tarde, ele conseguiu se aproximar da multidão, primeiro em Mossul, onde lamentou o exílio dos cristãos orientais de um altar construído no meio das ruínas, na ausência de uma igreja ainda de pé.

Lá, o papa, lutando contra a ciática, deu um passeio em um carrinho de golfe sob os aplausos de uma pequena multidão.

- "O dia mais bonito" -

"É o dia mais bonito!", exclamou Hala Raad, que o viu passar. "Agora esperamos viver com segurança, isso é o mais importante", afirmou a mulher cristã, que fugiu de Mossul durante a invasão dos jihadistas.

Depois, em Qaraqosh, perto de Mossul, cidade cristã com uma história mais que milenar, o papa de 84 anos encontrou-se com fiéis que ainda hesitam em regressar definitivamente às suas aldeias.

Sua comitiva foi saudada pelos aplausos dos cristãos que fugiram anos atrás da ocupação jihadista da cidade, vestidos em trajes tradicionais e agitando palmas, constatou a AFP. Ali, ele rezou o Angelus com eles.

"Agora é a hora de reconstruir e recomeçar", encorajou Francisco.

A maioria dos cristãos do Iraque vivia na planície de Nínive, mas muitos fugiram de suas aldeias em 2014 e se refugiaram no Curdistão iraquiano. Desde então, apenas algumas dezenas de milhares deles voltaram.

Muitos dizem temer os ex-paramilitares agora integrados ao Estado e que ganharam espaço com o EI.

As palavras pronunciadas no sábado pelo aiatolá Ali Sistani, grande figura do xiismo que disse ao papa que trabalha para que os cristãos do Iraque vivam em "paz", em "segurança" e com "todos os seus direitos constitucionais", poderiam encoraja-los.

- "Gesto de amor" -

"É uma viagem especial também pelas condições de saúde e segurança", disse Matteo Bruni, porta-voz do Vaticano.

Mas é "um gesto de amor a esta terra e a este povo" que Francisco desejava visitar desde o surgimento do EI em 2014 no Iraque, e "qualquer gesto de amor é sempre um pouco extremo".

O papa deve deixar o Iraque com destino a Roma na manhã de segunda-feira.

"Agora está chegando a hora de voltar a Roma. Mas o Iraque estará sempre comigo, em meu coração", declarou o papa em Erbil.

O Papa Francisco e o principal clérigo muçulmano do Iraque, o aiatolá Ali al-Sistani, tiveram uma reunião histórica neste sábado na cidade sagrada de Najaf, a primeira vez que um pontífice se encontra pessoalmente com um líder xiita.

No encontro, os dois religiosos transmitiram uma mensagem de coexistência pacífica e exortaram islâmicos iraquianos a abraçarem a minoria cristã, alvo de perseguição no país.

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O Aiatolá Ali al-Sistani disse que as autoridades religiosas têm um papel na proteção dos cristãos do Iraque, que devem viver em paz e desfrutar dos mesmos direitos que os outros iraquianos.

O Vaticano informou que Francisco agradeceu a al-Sistani por ter "levantado sua voz em defesa dos mais fracos e perseguidos" durante alguns dos momentos mais violentos da história recente da nação árabe.

Al-Sistani, de 90 anos, é um dos clérigos mais antigos do islamismo xiita e suas raras, mas poderosas, intervenções políticas ajudaram a moldar o Iraque atual. Ele é uma figura profundamente reverenciada no país de maioria xiita e suas opiniões sobre questões religiosas e outras são buscadas por xiitas em todo o mundo.

O encontro histórico na casa de al-Sistani aconteceu após meses de organizações, com cada detalhe meticulosamente discutido e negociado entre o gabinete do aiatolá e o Vaticano.

Na manhã de sábado, o pontífice de 84 anos, viajando em um Mercedes-Benz à prova de balas, parou ao em uma rua estreita de Najaf, que culmina na cúpula dourada do Santuário Imam Ali, um dos locais mais reverenciados no Islã xiita. Ele então caminhou alguns metros até a casa de al-Sistani.

O papa tirou os sapatos antes de entrar no quarto de al-Sistani e foi servido chá e uma garrafa plástica de água. Al-Sistani falou durante a maior parte da reunião. Francisco fez uma pausa antes de sair do quarto de al-Sistani para dar uma última olhada, disse um oficial que testemunhou o evento.

Mais tarde, o pontífice foi à antiga cidade de Ur para um encontro ecumênico no tradicional local de nascimento de Abraão, o patriarca bíblico reverenciado por cristãos, muçulmanos e judeus. Fonte: Associated Press.

O papa Francisco abriu a primeira visita papal ao Iraque nesta sexta-feira, 5, com um apelo para que o país proteja sua diversidade centenária, exortando aos muçulmanos a abraçarem seus vizinhos cristãos como um recurso precioso e pedindo o respeito à comunidade cristã, "embora pequena como um grão de mostarda".

Francisco deixou de lado a pandemia do coronavírus e as preocupações com a segurança para retomar seu papado mundial, após um hiato de um ano com o bloqueio na Cidade do Vaticano. Seu principal objetivo no fim de semana é encorajar a população cristã cada vez menor do Iraque, que foi violentamente perseguida pelo Estado Islâmico e que ainda enfrenta a discriminação da maioria muçulmana, a ficar e ajudar a reconstruir o país devastado por guerras e conflitos.

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"Somente se aprendermos a olhar além de nossas diferenças e nos vermos como membros da mesma família humana, seremos capazes de iniciar um processo eficaz de reconstrução e deixar para as gerações futuras um mundo melhor, mais justo e mais humano."

O papa de 84 anos usou uma máscara durante o voo de Roma e durante todas as suas visitas de protocolo, assim como seus anfitriões. Mas as máscaras foram retiradas quando os líderes se sentaram para conversar, e o distanciamento social e outras medidas de saúde pareceram negligentes no aeroporto e nas ruas de Bagdá, apesar do agravamento do surto da covid-19 no país.

O governo iraquiano está ansioso para mostrar a relativa estabilidade que alcançou após a derrota do "califado" do Estado Islâmico. No entanto, as medidas de segurança eram rígidas.

Segurança

Francisco, que prefere estar com a multidão e em um papamóvel aberto, foi transportado por Bagdá em um BMWi750 preto blindado, acompanhado por fileiras de policiais em motocicletas. Acredita-se que foi a primeira vez que o papa usou um carro à prova de balas - tanto para protegê-lo quanto para impedir a formação de multidões.

Os iraquianos, porém, pareciam ansiosos para dar as boas-vindas a Francisco e à atenção global que sua visita trouxe. Alguns alinharam-se no caminho para animar sua comitiva. Faixas e pôsteres no centro de Bagdá retratavam Francisco com o slogan "Somos todos irmãos".

Algumas pessoas que esperavam chegar perto, ficaram desapontadas com os pesados cordões de segurança.

"Era meu grande desejo encontrar o papa e rezar por minha filha doente para que ela fosse curada. Mas esse desejo não foi realizado", disse Raad William Georges, pai de três filhos de 52 anos que disse ter sido impedido de chegar perto do pontífice, durante a visita à Catedral de Nossa Senhora da Salvação, no bairro de Karrada.

"Esta oportunidade não se repetirá", disse ele com tristeza. "Vou tentar amanhã, sei que não vai acontecer, mas vou tentar."

Abraão

Francisco disse aos repórteres a bordo do avião papal que estava feliz por retomar suas viagens e disse que foi particularmente simbólico que a primeira fosse para Iraque, o tradicional local de nascimento de Abraão, venerado por muçulmanos, cristãos e judeus.

"Esta é uma jornada emblemática", disse ele. "É também um dever para com uma terra atormentada por muitos anos."

Possivelmente incomodando por sua dor no nervo ciático, o papa mancou visivelmente durante a tarde. Ele quase tropeçou ao subir os degraus da catedral e um funcionário teve que ampará-lo.

Em uma reunião repleta de pompa com o presidente Barham Salih em um palácio dentro da fortemente fortificada Zona Verde de Bagdá, Francisco disse que os cristãos e outras minorias no Iraque merecem os mesmos direitos e proteções que a maioria muçulmana xiita.

"A diversidade religiosa, cultural e étnica, que tem sido uma marca registrada da sociedade iraquiana por milênios, é um recurso precioso do qual se pode recorrer, não um obstáculo a ser eliminado", disse ele. "O Iraque hoje é chamado a mostrar a todos, especialmente no Oriente Médio, que a diversidade, ao invés de dar origem a conflitos, deve levar a uma cooperação harmoniosa na vida da sociedade."

Salih, membro da minoria étnica curda do Iraque, ecoou seu apelo.

"O Oriente não pode ser imaginado sem os cristãos", disse Salih. "A contínua migração de cristãos dos países do leste terá consequências terríveis para a capacidade das pessoas da mesma região de viverem juntas."

A visita ao Iraque está de acordo com o esforço de longa data de Francisco para melhorar as relações com o mundo muçulmano, que se acelerou nos últimos anos com sua amizade com um importante clérigo sunita, o xeque Ahmed el-Tayeb. A situação atingirá um novo recorde com seu encontro no sábado com o principal clérigo xiita do Iraque, o Grande Aiatolá Ali al-Sistani, uma figura reverenciada em todo o mundo muçulmano.

O papa Francisco inicia nesta sexta-feira (5) uma visita histórica ao Iraque, com medidas reforçadas de segurança e em plena pandemia, em um país afetado pela violência e onde ele pretende levar palavras de conforto para uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, destruída pelos conflitos e perseguições.

O avião decolou às 6H45 GMT (3H45 de Brasília) de Fiumicino, principal aeroporto de Roma, e deve pousar às 11H00 GMT (8H00 de Brasília) em Bagdá.

O sumo pontífice de 84 anos, que anunciou que fará a primeira visita de um papa ao Iraque como um "peregrino da paz", também levará uma mensagem aos muçulmanos xiitas em um encontro com o grande aiatolá Ali Sistani, a principal autoridade religiosa deste braço do islã.

Durante a visita de três dias por várias cidades, o papa se encontrará com poucas pessoas nas estradas devido ao confinamento total decretado no país, onde o número de casos bateu esta semana um recorde desde o início da pandemia de Covid-19, com mais de 5.000 infectados por dia.

O líder dos 1,3 bilhão de católicos do mundo, que declarou sentir-se "enjaulado" nos últimos meses no Vaticano por causa da pandemia, utilizará um veículo blindado para alguns deslocamentos, "virtual" para os iraquianos que o acompanharão pela televisão. Além disso, o helicóptero e o avião papal devem sobrevoar algumas áreas de refúgios de extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

Em algumas etapas da viagem, Francisco se reunirá apenas com algumas centenas de pessoas, com exceção da missa de domingo no estádio de Erbil, no Curdistão, na qual participarão milhares de fiéis que reservaram suas vagas com antecedência.

O programa papal é ambicioso e inclui Bagdá, Najaf, Ur, Erbil, Mossul e Qaraqosh. Ele percorrerá 1.445 km em um país que na quarta-feira foi cenário de ataques com foguetes, no mais recente episódio das tensões entre Irã e Estados Unidos no Iraque.

A primeira viagem ao exterior do pontífice em 15 meses permitirá a Francisco ir ao encontro de uma pequena comunidade de fiéis na "periferia" do planeta, uma de suas ações preferidas.

Na véspera de sua viagem histórica ao Iraque, o papa Francisco enviou uma mensagem emocionada aos iraquianos, na qual defende a reconciliação nesta terra, berço das regiões, afetada por anos de violência e guerras.

"Vou como peregrino (...) implorar ao Senhor perdão e reconciliação, após anos de guerra e terrorismo (...) e vou entre vocês como um peregrino da paz", declarou o sumo pontífice na véspera de sua viagem de quatro dias (5 a 8 de março) ao Iraque.

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Francisco inicia na sexta-feira (5) uma visita histórica, sob enormes medidas de segurança, a um país confinado pela pandemia e afetado por anos de violência.

"Anseio conhecê-los, ver seus rostos, visitar sua terra, antiga e extraordinária, berço da civilização", afirmou o pontífice argentino, que deseja cumprir o sonho do papa João Paulo II, que não conseguiu viajar ao Iraque.

"Vou como um peregrino da paz em busca da fraternidade, animado pelo desejo de rezar juntos e caminhar juntos também com irmãos e irmãs de outras religiões", ressaltou, em referência a um país majoritariamente muçulmano, onde os poucos cristão que conseguiram permanecer ainda sofrem ameaças e agressões.

Em sua mensagem, Francisco se dirige a muçulmanos, judeus e cristãos, "uma só família", afirma, e os incentiva a "seguir adiante", que não se rendam, para reconstruir e curar feridas.

"A vocês, cristãos, muçulmanos; a vocês, povos como os yazidis, que tanto sofreram; a todos vocês. Vou para a vossa terra abençoada e ferida como um peregrino da esperança", explicou.

"É uma honra encontrar com uma Igreja martirizada: Obrigado por vosso testemunho! Que os muitos, demasiados mártires que conheceram nos ajudem a perseverar na humilde força do amor", acrescentou.

A Igreja "os encoraja a seguir adiante. Não permitamos que prevaleça o terrível sofrimento que viveram e que tanto me entristece".

- Uma viagem arriscada -

O papa fará na sexta-feira a viagem de número 33 de seu pontificado, com o objetivo de transmitir uma mensagem de paz e reconciliação, que ajude a curar as feridas.

Francisco, que deseja entrar para a história por sua defesa dos pobres e da paz, faz a viagem mais arriscada de seus nove anos de pontificado, de acordo com analistas.

A visita papal não representa apenas um desafio do ponto de vista religioso, mas também logístico e sanitário, com um novo pico de contágios de coronavírus de 4.000 casos diários.

O pontífice, que ao lado de seu séquito e dos jornalistas que o acompanham foram vacinados, visitará Bagdá e Erbil, duas cidades que foram cenários recentemente de ataques com foguetes contra alvos americanos.

Apesar dos riscos, Francisco manteve a agenda e declarou que não se pode decepcionar "pela segunda vez este povo", depois de recordar o cancelamento da visita em 1999 de João Paulo II.

O pontífice também tem uma escala programada para Mossul, que foi reduto dos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

A visita do pontífice argentino ao Iraque será marcada pela ausência de multidões e o obrigará a utilizar um automóvel blindado em seus deslocamentos.

Apenas no estádio de Erbil, com capacidade para 20.000 pessoas, ele falará para 4.000 fiéis na missa dominical, segundo fontes locais.

No sábado, o papa visitará Ur, uma etapa com fortes vínculos espirituais, pois a área foi o berço do cristianismo, a terra do profeta Abraão, pai das três religiões monoteístas.

No mesmo dia ele se reunirá na cidade sagrada de Najaf (sul) com o grande aiatolá Ali Sistani, de 90 anos, a principal autoridade para os xiitas no Iraque, um gesto a favor do diálogo com todos os muçulmanos.

O papa Francisco afirmou que mantém a visita história ao Iraque, prevista para começar dentro de dois dias, apesar da violência que afeta o país, cenário de um novo ataque com foguetes nesta quarta-feira contra uma base militar que abriga tropas americanas.

"Depois de amanhã, se Deus quiser, irei ao Iraque para uma peregrinação de três dias. Há muito tempo que quero encontrar com estas pessoas que sofreram tanto", disse Francisco, de 84 anos, durante a audiência semanal.

"Peço a vocês que acompanhem esta viagem com suas orações (...). O povo iraquiano está nos esperando, esperou por João Paulo II, que foi proibido de viajar. Não se pode decepcionar pela segunda vez este povo", completou.

O pontífice argentino deseja cumprir a promessa feita pelo polonês João Paulo II, que teve que desistir em 1999 de uma viagem ao Iraque depois de negociações infrutíferas com Saddam Hussein.

O papa Francisco confirmou a viagem poucas horas depois que pelo menos 10 foguetes foram lançados contra uma base que abriga soldados americanos na região oeste do Iraque. Um civil morreu, vítima de um ataque cardíaco, após a ação.

Na terça-feira, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, explicou que Francisco se deslocará em um veículo blindado durante sua visita ao Iraque, de 5 a 8 de março.

"A segurança é sempre responsabilidade do país que o hospeda", disse Bruni. "Além disso, o papa não se encontrará com multidões", completou.

Praticamente nenhum evento do papa nos três dias de visita reunirá mais de 100 pessoas. A única exceção será uma missa em um estádio de Erbil, no Curdistão iraquiano, onde serão disponibilizadas aos fiéis 10.000 entradas da capacidade de 30.000 do local, explicou o Vaticano.

"A melhor forma de interpretar esta viagem é que é um ato de amor", disse Bruni, ao reiterar que o pontífice deseja que "as pessoas vejam que o papa está ali e está perto delas".

Pela primeira vez na história, um papa visitará o Iraque a partir de sexta-feira (5) para confortar a minoria cristã dizimada pelos conflitos e as dificuldades da vida e estender a mão ao islamismo xiita, em um gesto espetacular.

No berço do Cristianismo, que as guerras deixaram em sangue e que ainda é marcado pela violência do grupo Estado Islâmico (EI), o papa Francisco se encontrará com a mais alta autoridade religiosa de uma parte do mundo xiita, o Grande Aiatolá Ali Sistani, em Najaf, ao sul de Bagdá.

É também a primeira viagem do soberano pontífice desde o início da pandemia de covid-19, após ter sido vacinado, assim como a multidão de jornalistas e eclesiásticos que o acompanham.

Durante sua visita de três dias, o papa argentino de 84 anos visitará uma minoria cristã diversa, mas minimizada, em meio a uma população de 40 milhões de iraquianos exaustos após 40 anos de guerras e crises econômicas.

A agenda do papa é tão ambiciosa quanto a viagem é histórica: até segunda-feira, o pontífice visitará uma catedral que foi palco da tomada de reféns em 2010 em Bagdá, a cidade de Ur, no deserto do sul do Iraque, Najaf e igrejas destruídas pelo EI em Mossul (norte).

- Três dias, 1.650 km -

O papa viajará cerca de 1.650 km, principalmente de avião. Ao longo de seu trajeto, foram expostas mensagens de boas-vindas e apelos de coexistência.

As estradas foram pavimentadas, postos de segurança foram instalados e as obras de renovação foram realizadas em locais que até agora nunca tinham estado nos programas oficiais de visita.

"A mensagem do papa é dizer que a Igreja está do lado daqueles que sofrem", disse à AFP o arcebispo caldeu católico de Mossul e Aqra, Najeeb Michaeel.

"O papa enviará uma mensagem forte mesmo aqui, onde crimes contra a humanidade e genocídio foram perpetrados", disse o prelado, que teve que fugir dos jihadistas em Mossul.

A comunidade cristã no Iraque é uma das mais antigas e diversas, na qual se destacam os caldeus - católicos -, os ortodoxos e os protestantes armênios.

Na época da ditadura de Saddam Hussein (1979-2003) havia cerca de 1,5 milhão de cristãos, cerca de 6% dos iraquianos.

Mas hoje não restam mais de 400.000, 1% da população, estima William Warda de Hammurabi, uma ONG local de minoria.

Antes do exílio, a maioria dos cristãos estava na província de Nínive, cuja capital é Mossul. As vitrines e os livros de orações estão em aramaico moderno.

- Berço de Abraão -

Quando os jihadistas do EI ocuparam Mossul em 2014, o papa Francisco apoiou a campanha militar internacional para reforçar as forças iraquianas. Então, ele disse que queria apoiar os cristãos do Iraque.

Em 2019, o soberano pontífice condenou a repressão sangrenta de uma revolta popular contra o poder que abalou especialmente Bagdá e o sul do Iraque.

É para esta região sul que o papa irá no sábado, para Ur, onde o patriarca Abraão nasceu, segundo a tradição.

Mas o Iraque já estava nos objetivos do Vaticano antes mesmo da chegada do papa Francisco.

Em 2000, Saddam Hussein jogou um balde de água fria nos planos de João Paulo II, que esperava fazer uma peregrinação ao país.

Dezenove anos depois, o patriarca da Igreja Caldeia do Iraque, Louis Sako, obteve do presidente iraquiano Barham Saleh um convite oficial dirigido ao papa para "curar" o país da violência.

A covid-19 atrasou a viagem, mas nem o confinamento, imposto durante toda a duração de sua visita, nem o anúncio de que o embaixador do Vaticano em Bagdá testou positivo para coronavírus mudaram os planos.

- Bento XVI considera a viagem "perigosa" -

O Papa emérito Bento XVI, que vive em um mosteiro do Vaticano desde sua renúncia há oito anos, chamou de "perigosa" a viagem histórica de seu sucessor Francisco ao Iraque em uma entrevista publicada na segunda-feira.

"Acho que é uma viagem muito importante", disse o ex-papa de 93 anos em uma entrevista ao jornal Il Corriere della Sera.

“Infelizmente ele chega em um momento muito difícil que também torna sua viagem perigosa: por motivos de segurança e por causa da ambição. E ainda há a situação instável do Iraque. Acompanharei Francisco com minhas orações”, acrescentou o alemão, que conversou com um fio de voz, segundo o jornalista que o entrevistou.

- "Impacto enorme" -

Várias equipes de segurança do Vaticano visitaram o Iraque, cenário de intensas tensões geopolíticas, para organizar a segurança.

As comissões provinciais estão encarregadas de proteger o circuito do papa. Na manhã de sexta-feira, o avião do papa pousará em Bagdá com cerca de 150 pessoas a bordo, metade jornalistas.

Francisco estenderá mais uma vez a mão ao Islã.

Em 2019, nos Emirados Árabes Unidos, ele assinou com o xeque Ahmed al Tayeb, imã de Al Azhar, a mais alta instituição do Islã sunita, um documento que incentiva o diálogo entre cristãos e muçulmanos.

No Iraque, o papa Francisco irá ao encontro dos xiitas, a maioria no Iraque, mas a minoria no mundo - 200 milhões dos 1.800 milhões de muçulmanos - quando se encontrar com o grande aiatolá Ali Sistani.

Para o governador de Najaf, Louai al-Yasseri, é uma "visita histórica" enquanto Sistani, embora fisicamente ausente, se tornou nas últimas três décadas uma bússola para os xiitas do Iraque e do resto do mundo.

“Fala-se de um líder religioso seguido por 20% da população mundial: sua visita significa muito, seu encontro com o Grande Aiatolá terá um impacto enorme”.

Cinco iraquianos condenados por "terrorismo" foram executados nesta terça-feira (9) na prisão de Nasiriya (sul), o que dá continuidade a série de penas de morte no Iraque, um dos países que mais as aplica no mundo.

No caso desses cinco condenados, a Justiça recebeu também uma confirmação da sentença por parte da Presidência.

Esta assinatura presidencial é indispensável e já ratificou mais de 340 execuções pendentes por "terrorismo ou outros atos criminosos" e, desse modo, mais enforcamentos podem acontecer a qualquer momento.

Esses documentos foram assinados desde 2014, a maioria sob a presidência de Fuad Masum, no auge da ofensiva do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no Iraque. As confirmações continuaram sob o mandato iniciado em 2018 por Barham Saleh, conhecido por ser, a título pessoal, contrário à pena de morte.

O Iraque promoveu em 2019 uma em cada sete execuções realizadas no mundo, o que significa que houve cerca de 100 executados. O país costuma acelerar as penas de morte depois de um atentado que comoveu a opinião pública, como é o caso agora, após o ataque de meados de janeiro em Bagdá, que deixou mais de 30 mortos.

- "Vingança" -

Dezenas de iraquianos se manifestaram em Nasiriya exigindo "vingança" para as famílias dos "mártires" assassinados pelos jihadistas.

O atentado de Bagdá, reivindicado pelo EI, comoveu uma população acostumada a uma relativa tranquilidade desde a derrota militar do grupo jihadista no final de 2017.

Pouco depois, uma série de ataques deixaram uma dezena de mortos entre as filas do exército, ao norte de Bagdá, aumentando a emoção e as tensões no país.

Para os defensores dos direitos humanos, a pena de morte é um "instrumento político" no Iraque para líderes submetidos à pressão de uma opinião pública que pede vingança, e para dispositivos político, judicial e de segurança incapazes de conter os atentados.

Para a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, no Iraque há "frequentes violações dos direitos a um processo justo, uma representação jurídica ineficaz (...) e inúmeras acusações de tortura e maus tratos".

Portanto, a aplicação da pena de morte pode ser considerada no Iraque como uma "privação arbitrária da vida por parte do Estado", afirmou Bachelet no final de 2020.

A comunidade internacional lançou uma campanha em novembro após a execução de 21 condenados, quase todos por "terrorismo", e quando circulavam informações sobre um possível calendário acelerado de execuções no Iraque.

O Iraque é o quarto país a executar mais condenados, atrás da China, Irã e Arábia Saudita, segundo a Anistia Internacional.

Um tribunal iraquiano emitiu, nesta quinta-feira (7), uma ordem de prisão nacional contra o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como parte de uma investigação sobre a morte de Abu Mehdi Al-Muhandis, poderoso comandante dos pró-Irã no Iraque, assassinado no ano passado junto com o general iraniano Qassem Soleimani.

Em junho, o Irã emitiu uma ordem de prisão e exigiu da Interpol a emissão de uma notificação contra Trump pela morte do general Soleimani, procedimento que até agora não teve sucesso.

O drone que atacou os veículos dos dois homens, em 3 de janeiro de 2020 no aeroporto de Bagdá, foi enviado por ordem de Trump que, dias depois, ficou feliz por ter eliminado "dois (homens) pelo preço de um".

O tribunal de investigações de Rusafa, o setor oriental de Bagdá, "decidiu emitir uma ordem de prisão contra o presidente dos Estados Unidos Donald Trump conforme o artigo 406 do Código Penal iraquiano", detalha um comunicado da autoridade judicial.

Este artigo prevê a pena de morte para qualquer homicídio premeditado.

O tribunal afirma ter concluído a investigação preliminar, mas "as investigações continuam para descobrir os outros autores deste crime, sejam iraquianos ou estrangeiros".

Há um ano, os apoiadores do Irã no Iraque não param de acusar o primeiro-ministro iraquiano Mustafa al-Kazimi, nesse momento chefe dos serviços secretos, de cumplicidade nesses assassinatos .

Com as homenagens do primeiro aniversário da morte dos dois homens, o clima político - já tenso pela aproximação das legislativas programadas para junho - se tornou nocivo.

Em 1º de janeiro, quando o mundo deu boas-vindas a 2020, ninguém imaginava que uma doença nova e altamente contagiosa mudaria os hábitos da sociedade e tiraria milhões de vidas. A partir de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia do coronavírus Sars-CoV-2, o tema tomou conta do noticiário e do dia a dia das pessoas, jogando uma sombra sobre os fatos ocorridos antes da crise sanitária. Relembre abaixo alguns episódios da curta era pré-Covid em 2020:

Janeiro

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O ano começou com ventos de guerra após um ataque aéreo ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, matar o poderoso comandante da Força Quds, unidade especial do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica, general Qassem Soleimani, em 3 de janeiro.

O bombardeio ocorreu em Bagdá, no Iraque, onde o militar iraniano participava de reuniões com milícias locais. Quatro dias depois, uma multidão tomou as ruas de Teerã para acompanhar o funeral de Soleimani e pedir vingança, que chegaria por meio de um ataque de mísseis contra bases americanas no Iraque.

Em 8 de janeiro, enquanto o Irã disparava foguetes para retaliar os EUA, um sistema de defesa antiaérea do país derrubou um Boeing 737 da companhia aérea Ukraine Airlines (UIA), matando as 176 pessoas a bordo.

O Irã atribuiu o abate da aeronave a uma série de erros humanos, cujo "elemento-chave" teria sido o ajuste incorreto de um radar militar em alerta contra possíveis mísseis americanos.

Em 11 de janeiro, a China anunciou a primeira morte causada pelo Sars-CoV-2 em Wuhan (ocorrida alguns dias antes), marco zero da pandemia, mas, embora despertasse preocupação, o vírus ainda era visto como um problema restrito ao gigante asiático.

Aquele mês ainda reservaria uma das maiores perdas do ano no esporte: o ex-jogador de basquete Kobe Bryant, morto em um acidente de helicóptero com sua filha, Gianna, na Califórnia, em 26 de janeiro. Outras sete pessoas estavam na aeronave e também faleceram.

No campo político, houve tempo antes da Covid se alastrar para o Reino Unido sacramentar sua saída da União Europeia, em 31 de janeiro, quando teve início o período de transição marcado para acabar no último dia de 2020.

Fevereiro

Em 9 de fevereiro, o filme sul-coreano "Parasita" conquistou quatro estatuetas e foi o grande vencedor da edição de 2020 do Oscar. O longa se tornou o primeiro não falado em língua inglesa a vencer na categoria de melhor filme.

No dia 19 do mesmo mês, nove pessoas morreram em um atentado motivado por xenofobia contra dois bares de narguilé na cidade alemã de Hanau, perto de Frankfurt. O terrorista Tobias Rathjen ainda assassinou sua própria mãe - a 10ª vítima - e se suicidou. Em 29 de fevereiro, quando o coronavírus já se alastrava pela Europa, os Estados Unidos e o grupo terrorista Talibã assinaram um histórico acordo de paz que prevê a retirada das tropas americanas no Afeganistão até a primeira metade de 2021. 

Foto: Pr Ir (via Fotos Publicas)

Da Ansa

O presidente Donald Trump advertiu nesta quarta-feira que irá responsabilizar o Irã no caso de um ataque letal contra americanos no Iraque, ao se aproximar o primeiro aniversário da morte do general iraniano Qassem Soleimani, vítima de um ataque americano.

"Nossa embaixada em Bagdá foi atingida no último domingo por foguetes", tuitou o presidente, citando um ataque que causou danos materiais. "Adivinha de onde vêm: IRÃ", afirmou. "Agora, ouvimos especulações sobre novos ataques contra americanos no Iraque", prosseguiu, antes de dirigir "um conselho saudável e amistoso ao Irã: se um americano for morto, irei responsabilizar o Irã. Pensem bem", advertiu.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, já havia apontado para Teerã, e o chefe das forças americanas no Oriente Médio, general Frank McKenzie, alertou que Washington estava "pronta para reagir" em caso de ataque iraniano, ao se aproximar o primeiro aniversário da morte de Soleimani. Em resposta, o Irã pediu às autoridades americanas que não provoquem tensão.

Washington reduziu recentemente seu quadro diplomático na capital iraquiana e especulações recorrentes envolvendo um fechamento total de sua embaixada ressurgiram nos últimos dias.

Vários foguetes explodiram, neste domingo, perto da embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, um ataque que ocorre pouco antes do primeiro aniversário do assassinato do general iraniano Qassem Soleimani por Washington na capital iraquiana.

Pelo menos cinco explosões foram ouvidas por jornalistas da AFP no leste de Bagdá.

Pouco depois, uma série de disparos rápidos e ensurdecedores foi ouvida por repórteres que viram fumaça vermelha de foguete no céu noturno, indicando que o sistema de defesa C-RAM da embaixada havia sido ativado.

De acordo com um comunicado das forças de segurança iraquianas, o ataque causou danos materiais, mas não vítimas.

Pelo menos três foguetes caíram perto da missão diplomática americana na Zona Verde, enquanto outros dois atingiram bairros residenciais, segundo uma fonte de segurança à AFP.

Um iraquiano que vive em um complexo residencial em frente à embaixada dos EUA disse à AFP que seu prédio foi atingido.

"Todo mundo está gritando e chorando. Minha esposa perdeu a cabeça por causa de todo esse barulho", contou o homem que pediu anonimato.

Um deputado afirmou que sua casa foi atingida por um fragmento de foguete.

A embaixada americana e outros locais militares e diplomáticos estrangeiros foram alvo de dezenas de ataques com foguetes e ataques a bomba desde o outono de 2019.

O ataque deste domingo é o terceiro contra instalações militares e diplomáticas dos EUA desde uma trégua assinada em outubro com facções iraquianas pró-Irã.

No primeiro ataque, em 17 de novembro, foguetes atingiram a embaixada americana e bairros de Bagdá, matando uma pessoa.

Em 10 de dezembro, dois comboios de logística para a coalizão internacional liderada por Washington foram alvos de bombas colocadas em estradas.

Esses ataques foram reivindicados por grupos que as autoridades iraquianas e os Estados Unidos descrevem como fantoches de facções iraquianas pró-Irã.

Mas o ataque de hoje foi condenado por várias facções.

"Ninguém tem o direito de usar armas fora do Estado", tuitou o líder xiita e ex-líder miliciano Moqtada Sadr.

"Bombardear a embaixada (americana) do mal neste momento é considerado inaceitável", condenou igualmente em um comunicado o Hezbollah iraquiano, que havia sido acusado de vários ataques. Ele também denunciou o uso do sistema C-RAM pela embaixada.

Este comunicado pode ser uma tentativa de acalmar as tensões, que são fortes à medida que se aproxima o primeiro aniversário do ataque americano que em 3 de janeiro de 2020 matou o poderoso general iraniano Soleimani e seu tenente iraquiano Abu Mehdi al-Mouhandis.

Autoridades iraquianas e ocidentais disseram à AFP que acreditam que o Irã está tentando manter a calma antes da saída do presidente Donald Trump no próximo mês.

Este último adotou uma política de "pressão máxima" contra o Irã, uma abordagem que também afetou os aliados de Teerã no Iraque.

Diplomatas temem um ataque militar de última hora do governo Trump aos interesses iranianos no Iraque, ou uma escalada por grupos anti-EUA em Bagdá.

A Chancelaria americana já retirou parcialmente alguns de seus funcionários por razões de segurança, segundo informaram autoridades iraquianas à AFP no início de dezembro, citando uma "pequena redução" e garantindo que os laços diplomáticos não foram rompidos.

Centenas de pessoas se manifestaram nesta sexta-feira (11), em frente à sede do governo da província de Suleimaniya, contra as autoridades do Curdistão iraquiano, a quem acusam de corrupção e de ter provocado uma grave crise orçamentária. O protesto na cidade de Suleimaniya, capital da província, foi reprimido pela polícia.

Na semana passada, também houve manifestações nessa província contra o governo regional e os principais partidos desta região autônoma no norte do Iraque, por atrasos nos salários e meses não pagos na função pública.

"Vim me manifestar pelo meu salário e pela vida dos meus filhos. Estamos fartos deste sofrimento", declarou à AFP Fatima Hassan, uma funcionária pública de 25 anos.

Ao seu redor, multidões de manifestantes tentavam bloquear a grande avenida no entorno da sede do governo, antes da chegada do Batalhão de Choque, que não demorou para usar gás lacrimogêneo para dispersá-los, segundo um correspondente da AFP.

Piman Ezzedine, membro do Movimento para a Mudança (oposição) e ex-deputado do Parlamento curdo, indicou que as forças de segurança prenderam cerca de dez organizadores no início da manifestação.

Mais tarde, uma pessoa de seu entorno declarou à AFP que o ex-deputado também havia sido preso.

Desde a queda de Saddam Hussein em 2003, o Curdistão autônomo tentou atrair investimentos de multinacionais da energia enquanto aumentava a folha de pagamento de seu setor público, criando uma grande crise de dívida.

Essas manifestações espontâneas lembram as de outubro de 2019, principalmente em Bagdá e nas regiões de maioria xiita do Iraque.

No Curdistão, os protestos dos últimos dias foram repletos de violência, especialmente nas cidades e aldeias da província de Suleimaniya.

O papa Francisco visitará o Iraque de 5 a 8 de março, sua primeira viagem internacional desde o início da pandemia do novo coronavírus, anunciou o Vaticano nesta segunda-feira.

"Aceitando o convite da República do Iraque e da igreja católica local, o papa Francisco fará uma viagem apostólica a este país de 5 a 8 de março de 2021, durante a qual visitará Bagdá", assim como a região de Ur, cidade em que segundo a tradição nasceu Abraão, e Mossul e Qaraqosh, no norte, que tem uma importante comunidade cristã, informou o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni.

Esta é uma visita histórica, que "representa um gesto concreto de proximidade a toda a população deste país martirizado", afirma o portal de notícias do Vaticano, Vatican News.

As autoridades iraquianas classificaram a futura visita de Francisco de "mensagem de paz para o país e a região" .

O pontífice, que desejava sua primeira viagem ao exterior para um local especialmente afetado pelo coronavírus, escolheu o Iraque "por seu forte simbolismo religioso e como um apoio explícito ao retorno das comunidades cristãs, que fugiram ante a perseguição do (grupo jihadista) Estado Islâmico", explicou a página Religião Digital.

Os Estados Unidos vão reduzir a quantidade de militares no Afeganistão e no Iraque ao seu menor número em 20 anos depois de o presidente Donald Trump se comprometer a pôr um fim aos conflitos do país no exterior, anunciou o Pentágono na terça-feira (17), gerando preocupações de segurança.

Rejeitando o risco de que se destrua o que foi conseguido pelos Estados Unidos na região, o secretário interino da Defesa, Chris Miller, disse que 2 mil soldados vão deixar o Afeganistão em 15 de janeiro. Outros 500 retornarão do Iraque na mesma data, deixando 2,5 mil em cada país.

A retirada reflete o desejo de Trump "de pôr um fim de forma exitosa e responsável às guerras no Afeganistão e no Iraque e trazer nossos corajosos soldados para casa", disse Miller.

O secretário informou que já foi alcançada a meta estabelecida em 2001, após os ataques da Al Qaeda contra os Estados Unidos, de derrotar os extremistas islâmicos e ajudar "seus parceiros locais e aliados a liderar a luta".

O porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, declarou à AFP que a retirada "é um bom passo e é ótimo para os povos de ambos os países", tanto Estados Unidos quanto Afeganistão.

Terminar com as guerras sem fim

A decisão aproxima os Estados Unidos de se desvincularem de conflitos que desde 2001 atravessaram três presidentes e não têm um fim à vista.

O anúncio foi feito faltando dois meses para que o republicano Trump transfira o poder ao democrata Joe Biden em 20 de janeiro.

Diante da observação de que Trump estaria agindo abruptamente após sua derrota eleitoral, o assessor de segurança da Casa Branca, Robert O'Brien, disse que a retirada das tropas estava planejada há tempos.

"Há quatro anos, o presidente Trump fez campanha prometendo terminar as guerras sem fim para os Estados Unidos. Hoje, o Pentágono só anunciou que o presidente Trump cumpriu com a promessa feita ao povo".

Trump "espera que por volta de maio todos tenham voltado sãos e salvos".

Foguetes em Bagdá

A decisão foi divulgada dez dias depois de Trump destituir o secretário da Defesa Mark Esper, que insistia em deixar 4,5 mil soldados no Afeganistão para apoiar o governo de Cabul.

Esper reduziu a quantidade de 13 mil soldados americanos desde o acordo de 29 de fevereiro entre os Estados Unidos e a insurgência talibã.

Os talibãs e o governo afegão iniciaram negociações de paz após um acordo assinado entre Washington e os insurgentes, que envolve a retirada das forças americanas até meados de 2021.

Mas até a destituição de Esper, o Pentágono alegava que os talibãs não tinham cumprido sua promessa de reduzir os ataques violentos contra as forças afegãs e advertiu que estes ataques seriam intensificados com menos tropas americanas.

Sediq Sediqqi, porta-voz do presidente Ashraf Ghani, confirmou por sua vez no Twitter que Ghani falou por telefone com Miller sobre "o contínuo e significativo apoio militar americano às Forças de Defesa e Seguraça afegãs".

No Iraque, a administração Trump anunciou a redução do número de soldados em meio a um ataque com foguetes lançados por grupos aliados ao Irã contra a embaixada americana e bases militares americanas.

Nesta terça, uma salva de foguetes foi disparada contra a Zona Verde de Bagdá, onde fica a embaixada dos Estados Unidos, rompendo uma trégua de um mês nos ataques contra a representação diplomática.

Sob a condição de não ser identificado, um alto funcionário da Defesa minimizou o risco de ressurgimento de grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.

"Os profissionais do serviço militar estão de acordo de que esta é a decisão correta", disse este funcionário.

"A Al Qaeda está no Afeganistão há décadas e a realidade é que seríamos uns tolos se disséssemos que vão embora amanhã", completou.

'Saída humilhante'

Funcionários americanos e estrangeiros advertiram que uma retirada precipitada das tropas poderia ajudar grupos extremistas como Al Qaeda e Estado Islâmico.

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse na segunda-feira que a redução de tropas provocará um fracasso como "a humilhante saída americana do Vietnã", em 1975, e se tornará uma vitória propagandística dos extremistas.

O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, considerou que o Afeganistão pode "voltar a ser uma base para os terroristas internacionais".

O ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, afirmou que Berlim está preocupada pois o anúncio dos Estados Unidos "pode significar que as negociações de paz prossigam", alertando também contra uma "retirada precipitada".

Desde o lançamento das ofensivas militares em 2001 no Afeganistão e no Iraque, dois anos depois, mais de 6.900 militares americanos morreram e mais de 52.000 ficaram feridos nos dois países, segundo o Pentágono.

Ezzat Ibrahim al Duri, que era o número dois de Saddam Hussein e um dos homens mais procurados pelos Estados Unidos após invadir o Iraque em 2003, morreu, anunciaram seu partido e sua filha nesta segunda-feira (26).

Al Duri era procurado, e as autoridades americanas até ofereceram uma recompensa de US$ 10 milhões por sua cabeça após a intervenção do exército americano que acabou com o regime de Saddam Hussein.

Nenhuma das declarações em que foi anunciada a morte do número dois do regime especificou o local ou a causa de sua morte.

"Expresso minhas condolências (...) pelo colega Ezzat Ibrahim", tuitou Raghad Saddam Hussein, filha do ditador que, após ser condenado à pena de morte, foi enforcado em 2006.

O Partido Baaz (nacionalista árabe) publicou um comunicado no qual anunciava a morte do então ex-vice-presidente iraquiano e vice-presidente do Conselho do Comando da Revolução, em 2003.

A possível morte de Duri foi comentada em várias ocasiões nos últimos anos, mas essa informação acabou sendo negada por líderes ou apoiadores do antigo regime.

Após a queda do regime iraquiano em 2003, ex-líderes e oficiais do Baaz desempenharam um papel fundamental na resistência militar contra as tropas americanas, antes de se aproximarem do grupo extremista Estado Islâmico (EI), que foi derrotado militarmente no Iraque no final de 2017.

Em vídeo postado na internet em 2016, Duri qualificava como "heróis" os extremistas do EI que controlavam grande parte do território iraquiano desde junho de 2014.

Ele também manteve vínculos com o Exército dos Homens da Ordem de Naqshbandiyya, um grupo islâmico e pan-árabe formado por ex-militantes do Baaz que participaram da resistência contra a presença militar americana.

Milhares de iraquianos se manifestaram neste domingo (25) em Bagdá pelo primeiro aniversário da "revolução de outubro", desafiando um governo incapaz de se reformar e de oferecer os serviços básicos, assim como a crescente influência das facções armadas iraquianas pró-Irã.

Os protestos de 2019 foram duramente reprimidos, com cerca de 600 manifestantes mortos, 30.000 feridos e centenas de detidos. A repressão foi acompanhada de uma campanha de assassinatos e sequestros de figuras da revolta, liderada por "milícias", segundo a ONU.

Neste domingo, foram registrados incidentes em Bagdá entre as forças de ordem e os jovens manifestantes que queriam chegar da emblemática Praça Tahrir à Zona Verde, um bairro altamente protegido onde estão as sedes do Parlamento e do governo iraquiano, assim como a embaixada dos Estados Unidos.

Os jovens avançaram e colidiram com a polícia nas pontes Al-Jumhuriya, que une Tahrir com a Zona Verde, e Senek, que conduz diretamente à embaixada do Irã.

Cerca de cinquenta policiais e manifestantes ficaram levemente feridos nas trocas de pedradas e gás lacrimogêneo, disseram fontes policiais e médicas à AFP.

Também houve manifestações, até o momento sem incidentes, nas cidades de Nayaf, Hilla, Basora, Kut, Diwaniya, Nasiriya e Amara, afirmaram correspondentes da AFP no sul do país.

Alí Ghazi, que protesta em Nasiriya, bastião de todas as revoltas no Iraque, disse à AFP que participa "para repetir que queremos alcançar nosso objetivo: construir um novo Iraque".

Em outubro de 2019, os manifestantes exigiam uma renovação total do sistema político, o fim da corrupção endêmica e mais empregos e serviços para todos.

Neste ano, o primeiro-ministro Mustafá Al-Kazimi, designado em abril para tentar tirar o país da paralisação, insistiu que ordenou as forças de segurança a não recorrerem às armas ou à força letal.

No entanto, em um país mergulhado em conflitos há décadas e onde os grupos armados continuam exercendo sua influência, as armas são onipresentes, como reconhece Kazimi - também chefe de inteligência externa -, que não conseguiu conter os disparos de foguetes, assassinatos e ameaças de facções armadas.

A revolta popular foi intensificada pelas tensões entre Irã e Estados Unidos, países inimigos e principais potências mais presentes no Iraque, além da pandemia de covid-19. O porta-voz militar de Kazimi pediu aos manifestantes que permaneçam na praza Tharir, o único local "totalmente seguro".

Os manifestantes, que há um ano pedem empregos para os jovens (60% da população), estimam que nada mudou. Alegam inclusive que suas condições pioraram.

Bagdá respondeu oficialmente, nesta quarta-feira (30), à ameaça de Washington de fechar sua embaixada em razão da multiplicação de ataques contra os interesses americanos no Iraque, denunciando uma medida "perigosa" e tentando tranquilizar outros países ocidentais.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, deu um ultimato ao Iraque na semana passada: ou os ataques param - especialmente o lançamento de foguetes contra sua embaixada em Bagdá -, ou Washington fechará sua embaixada e repatriará seus 3.000 soldados e seus diplomatas.

A retirada americana poderia significar o fim da coalizão antijihadista, enquanto o grupo do Estado Islâmico (EI) permanece uma ameaça, segundo temem diplomatas em Bagdá.

O ministro das Relações Exteriores do Iraque, Fuad Hussein, enfatizou que teme que "uma retirada dos EUA possa levar à de outros países" também engajados na luta contra o EI.

Isso seria "perigoso, já que o EI ameaça o Iraque, mas também toda a região", completa o chanceler iraquiano.

Além disso, uma retirada americana pode desferir um sério golpe ao primeiro-ministro Mustafa al-Kazimi, que foi recebido na Casa Branca há apenas dois meses.

Desde que chegou ao poder em maio passado, porém, este ex-chefe de Inteligência com muitos laços internacionais está envolvido em um confronto com os pró-Irã, maioria no Parlamento e armados o suficiente para representar, de acordo com militares ocidentais, uma ameaça maior do que o EI no Iraque.

Após a visita de Al-Kazimi a Washington em agosto, a frequência dos ataques aumentou.

De outubro de 2019 a julho de 2020, cerca de 40 ataques com foguetes visaram à embaixada americana e a bases iraquianas que hospedavam soldados americanos.

- Uma família dizimada -

"Atacar embaixadas é atacar o governo, porque ele é responsável por sua proteção", acrescentou o ministro Fuad Hussein.

Os ataques contra alvos americanos são reivindicados há meses por grupos que afirmam ter como objetivo expulsar o "ocupante americano" do Iraque, por organizações que são espécies de "fantoches de partidos e facções armadas pró-iranianas", presentes na vida política iraquiana desde a queda de Saddam Hussein, em 2003.

Na segunda-feira à noite, um foguete atingiu a casa de uma família que vivia perto do aeroporto de Bagdá, onde os soldados americanos estão posicionados. Como consequência, cinco crianças e duas mulheres morreram.

Embora essa tragédia tenha chocado profundamente a opinião pública iraquiana, a ameaça aos americanos neste país não é proporcional a outras enfrentadas no exterior, observou Hussein.

"Alguns em Washington evocam Benghazi, mas essa análise está errada, assim como a decisão" de uma possível retirada do Iraque, acrescentou, referindo-se à morte de quatro americanos, incluindo o próprio embaixador, em um ataque à representação americana em Benghazi, na Líbia, em 2012.

"Esperamos que os Estados Unidos reconsiderem sua decisão", que por enquanto "não é definitiva", insistiu o chefe da diplomacia iraquiana.

Nenhuma autoridade dos EUA confirmou oficialmente que se decidiu fechar a embaixada, e muitos especialistas estimam que Washington está blefando em plena campanha eleitoral.

Centenas de iraquianos expressaram sua revolta, nesta terça-feira (29), durante o funeral de cinco crianças e duas mulheres de uma mesma família, mortas no dia anterior por um foguete disparado contra o aeroporto de Bagdá, onde soldados americanos estão estacionados.

"Este vilarejo é como um pequeno Iraque. Se o governo não é capaz de protegê-lo, como pode garantir a segurança de todo Iraque?", declarou um dos integrantes do cortejo fúnebre no vilarejo de Al-Bushaaban, a poucos quilômetros do aeroporto de Bagdá.

Esta tragédia representa um novo desafio para o governo de Mustafa al-Kazimi, preso entre seus aliados americano e iraniano, e grupos armados pró-Irã que dizem querer expulsar o "ocupante americano" do Iraque.

Se os ataques com foguetes contra a embaixada americana, comboios de logística iraquianos, ou bases que abrigam soldados americanos são agora quase diários, eles não costumam causar baixas.

Mas o número de vítimas do ataque de segunda-feira à noite é sem precedentes e coloca os grupos armados pró-Irã em uma posição delicada em relação à opinião pública, farta de anos de violência de várias facções armadas no país.

Em um comunicado divulgado na segunda-feira (28), o Exército iraquiano culpou "bandos criminosos e bandos ilegais" que buscam "criar o caos e aterrorizar o povo".

Sinal de que as consequências podem ser pesadas para esses grupos, as contas pró-Irã, que costumam elogiar rapidamente esse tipo de ataque nas redes sociais, permaneceram caladas.

Esse novo ataque aos interesses americanos, o mais recente de uma série desde o início de agosto, ocorre no momento em que Washington ameaça fechar sua embaixada e retirar 3.000 soldados do Iraque, se os foguetes não pararem.

Washington insiste em que Bagdá deve agir contra esses grupos. O Iraque também deve lidar, porém, com seu grande vizinho iraniano, um ferrenho inimigo dos Estados Unidos que arma, financia e apoia várias facções xiitas armadas.

Acompanhado da ameaça de sanções contra personalidades políticas e militares iraquianas, o ultimato dos EUA gerou, esta semana, uma série de comunicados com o objetivo de acalmar a situação.

Em frente à pequena casa de Al-Bushaaban, não muito longe da cratera feita pelo foguete, dos buracos nas paredes deixados por estilhaços e de poças de sangue, dezenas de dignitários tribais recebiam condolências nesta terça.

Vários autoridades e oficiais militares foram ao local para tranquilizar a população. Para as centenas de iraquianos que cercam os caixões, porém, a sensação é que "não estamos em segurança em lugar nenhum" - como afirmaram vários deles em seus relatos à AFP sobre como as crianças morreram, enquanto brincavam na frente de casa.

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